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O programa Minha Casa, Minha Vida é, na origem um programa econômico que dialoga com os setores da construção civil e imobiliário; sem críticas político-governamentais, o seu objetivo principal não era erradicar o problema da falta de moradias para a população, mas sim, alavancar muitos outros produtos

6 O Programa de Arrendamento Residencial (PAR) é promovido pelo Ministério das Cidades, tendo a CAIXA como agente executor e o FAR – Fundo de

Arrendamento Residencial – como financiador. Foi criado para ajudar municípios e estados a atenderem à necessidade de moradia da população que recebe até R$ 1.800,00 e que vive em centros urbanos.

O PAR é desenvolvido em duas fases distintas. A primeira delas é a de compra de terreno e contratação de uma empresa privada do ramo da construção, responsável por construir as unidades habitacionais. Depois de prontas, as unidades são arrendadas com opção de compra do imóvel ao final do período contratado. Extraído do site

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que dele se desencadearam, bem como impulsionar que o dinheiro circulasse na construção civil. Foi lançado em 2009, como uma medida provisória, apresentado como a nova forma de minimizar crises financeiras e habitacionais.

O programa trazia em sua apresentação uma leitura bem simplista para solucionar o problema habitacional brasileiro, baseando-se em faixas de rendas (1, 2 e 3), recursos dos FGTS. Segundo informações colhidas nas páginas da internet do Ministério das Cidades, Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e Caixa Econômica Federal, os fundos para a obtenção do acesso à casa própria ficaram mobilizados em grupos – de acordo com as faixas de renda. Sem entrar no mérito desta questão, atentando aqui para o recorte que interessa à este trabalho, desta forma a indústria da construção trabalho “organizando” e separando as pessoas de acordo com as demandas do programa. Assim, o que vemos em nossa cidade e, nas demais cidades atendidas em todo o Brasil, são grandes áreas, tentando agrupar homogêneos – de acordo com as faixas de renda, tornando a cidade não uma diversidade e assim viva, mas algo onde as pessoas são agrupadas em castas, de acordo com seu poder aquisitivo. A cidade medieval contemporânea busca agrupar os iguais de acordo com o tamanho de seus feudos.

Desta forma, o que se observa é que nas periferias, onde o valor do terreno não é tão valorizado, as famílias que possuem menor renda são ‘convidadas’ a se deslocar para estas áreas onde não existe infraestrutura. Os vazios urbanos que podem ser preenchidos por habitações de interesse social, trazendo assim a diversidade e a vida para as cidades, são descartados pelos construtores, pois estas áreas onde existe infraestrutura em volta, são área que tem maior valorização pelo mercado imobiliário.

Então assim sendo, o MCMV, cria compartimentos para agrupar as pessoas de acordo não com a latente necessidade de morar, mas sim, a partir da visão capitalista de que quem mais tem, melhor vive. Assim,

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após visitas ao Conjunto Habitacional Terra Nova – que segundo o Programa, deveria acolher as faixas 2 e 3 da população – o que se pode observar é que há ali um grande incentivo ao uso de carros, devido a sua distância do

centro da cidade, ou a qualquer outro serviço necessário ao desenvolvimento diário da vida urbana. A frente de cada unidade encontra-se estacionado (ao menos) um carro, devido ainda, a pouca demanda de transporte público que possa acolher essa população. Em entrevista ao site

Amigos de Pelotas,

no ano de 2013, a

então secretária de Cidades e Mobilidade, Joseane Almeida, constatou: “O Minha Casa, Minha Vida

evoluiu. Se no começo o governo facilitou crédito e injetou muito dinheiro na construção com a finalidade

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social, percebeu que não basta oferecer moradia, é preciso também garantir infraestrutura aos empreendimentos. Do contrário, os residenciais tendem a se tornar ilhas de marginalidade em áreas ermas apartadas do núcleo da cidade”.

Seguindo, em outro trecho nesta mesma entrevista, a então secretária fala da necessidade de que a cidade esteja preparada para receber novos empreendimentos, diz que a habitação social não gera polos de atração como a construção de um aeroporto ou um shopping Center. A infraestrutura necessária para que a vida se desenvolva precisa ser pensada antes de colocar as pessoas fechadas em seus muros bem pintados e com algumas palmeiras à frente do pórtico de entrada. É necessário pensar em conjunto: governo, construtores e moradores, fazendo com que surjam formas de ‘bem-estar’.

Os que podem, vivem em ‘condomínios’, planejados como se fosse uma ermida: fisicamente dentro, mas social e espiritualmente fora da cidade. Supõe-se que as comunidades fechadas sejam mundos distintos. (Bauman, 2000)

O conceito de bem-estar no imaginário urbano ultrapassa uma mera análise mensurável, pois incluí uma dimensão social e uma construção coletiva baseada nas necessidades humanas. Observando o crescimento urbano acelerado e muito focado nas liberdades individuais, temos como resultado centros urbanos lotados de carros, poucos espaços públicos de qualidade e uma escassa atenção à escala humana. Nesse eixo, precisamos refletir a relação entre a sociedade e o espaço, bem como bons exemplos de projetos e estudos de caso que devem repertoriar as novas perspectivas de planejamento urbano e as diretrizes (ou pontos importantes) para um projeto de bem-estar na cidade.

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3.2 Agenciamentos conceituais

Necessário conceituar o espaço, ou a sobreposição dos territórios que aqui vamos observar. Para Henri Lefèbvre o espaço é o todo que abriga as condições da realidade e, na visão da cidade, vai refletir as relações de poder, projetando-as territorialmente como práticas sócio-espaciais que podem programar e condicionar os hábitos.

Entre diversos outros conceitos, podemos destacar os seguintes: espaço público e privado, dentro e fora, perto e longe, global e local, moradia e trabalho, real e virtual, pessoa e cidade. Há, portanto, multifuncionalidade, polimorfismo, passagem e reversibilidade nas formas urbanas. É caminho, também, para demonstrar que não existe “fora” nesse raciocínio que “eu” e “cidade” são partes do mesmo conceito. (Araújo, 2011, p. 29)

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