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O projeto pedagógico como modelo de gestão

No documento GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA (páginas 36-46)

5- A FUNÇÃO DO GESTOR ESCOLAR EM BUSCA DA GESTÃO

5.1 O projeto pedagógico como modelo de gestão

O projeto pedagógico é a chave da gestão escolar. A cada ano ele deve ser revisto e, em alguns casos, reformulado. Só da prática surgem novas idéias, que, por sua vez alimentam novas práticas — e assim sucessivamente. Graças às inovações provocadas pela popularização dos computadores, a escola está deixando de ser apenas o local onde se acumulam conhecimentos, que tem no professor o depositário da sabedoria e no estudo, um fim em si mesmo. Agora, é preciso transformá-la num ambiente voltado à reflexão. Nesse sentido, o papel do educador passa a ser o de mediador e facilitador. Cabe a ele criar situações de aprendizagem que possam servir para o resto da vida do aluno.

Segundo PADILHA (2001, p. 16):

“planejar, em sentido amplo, é um processo que visa a dar respostas a um problema, através do estabelecimento de fins e meios que apontem para a sua superação, para atingir objetivos antes previstos, pensando e prevendo necessariamente o futuro, mas sem desconsiderar as condições do presente e as experiências do passado, levando-se em conta os contextos e os pressupostos filosófico, cultural, econômico e político de quem planeja e de com quem se planeja”.

Partindo desse princípio, a escola precisa da participação da comunidade como usuária consciente deste serviço, não apenas para servir como instrumento de controle em suas dependências físicas. Trata-se de romper com os muros da escola.

E os professores devem reconhecer a importância de romper com as posições pedagógicas cartesianas para fazerem dialeticamente a relação necessária entre as disciplinas que compõem o currículo escolar e a realidade concreta da vivência do aluno, a partir da visão interdisciplinar do conhecimento, daí a importância do ato reflexivo no dinamismo da prática pedagógica através da reflexão conjunta do projeto educativo, em oposição à racionalidade técnica.

O desafio de um novo projeto pedagógico não deve levar em conta o consenso como ponto de partida, mas o conflito que favorece a diversidade numa trajetória construída coletivamente na tomada de decisões.

O resultado do processo do planejamento será influenciar e provocar transformações nas instâncias e nos níveis educacionais que, historicamente, têm ditado o como, o porquê, o para que, o quando e o onde planejar. Num sentido mais específico, PADILHA (2001, p. 22) afirma que: “pensar o planejamento educacional e, em particular, o planejamento visando ao projeto político-pedagógico da escola é, essencialmente, exercitar nossa capacidade de tomar decisões coletivamente”.

Para complementar, segundo GANDIN (2000, p. 32),

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“... o planejamento deve alcançar não só que se façam bem as coisas que se fazem (chamaremos a isso de eficiência), mas que se façam as coisas que realmente importa fazer, porque são socialmente desejáveis (chamaremos a isso de eficácia)”.

Neste contexto, os profissionais da educação são desafiados constantemente pelo desconhecido, e a renovação de suas práticas educacionais torna-se uma questão de sobrevivência da escola. Porém esta renovação é complexa, primeiro porque perpassa todos os aspectos da prática pedagógica; segundo, porque exige abertura dos envolvidos no processo com a vontade política de mudar; e terceiro, porque os meios para concretizar as aspirações devem estar em consonância com o contexto histórico concreto.

Isso será possível pela compreensão da concepção crítico-reflexiva como pressuposto da autonomia a ser construída coletivamente e articulada com o universo ―mais amplo‖ da escola.

A reorganização da escola deverá ser buscada de dentro para fora. O fulcro para a realização dessa tarefa será o empenho coletivo na construção de um projeto político-pedagógico e isso implica fazer rupturas com o existente para avançar.

É preciso entender o projeto político-pedagógico da escola como uma reflexão de seu cotidiano. Para tanto, ela precisa de um tempo razoável de reflexão e ação, para se ter um mínimo necessário à consolidação de sua proposta.

A construção do projeto político-pedagógico requer continuidade das ações, descentralização, democratização do processo de tomada de decisões e instalação de um processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório.

Finalmente, há que se pensar que o movimento de luta e resistência dos educadores é indispensável para ampliar as possibilidades e apressar as mudanças que se fazem necessários dentro e fora dos muros da escola.

CONCLUSÃO

O presente trabalho foi de suma importância, uma vez que deu-me a oportunidade de aprofundar meus conhecimentos em relação a competência e ações do gestor escolar frente a gestão democrática.

Administrar é executar bem suas incumbências e planejar para o futuro, assim como e principalmente apresentar um excelente nível de produção e, neste caso da gestão escolar, a produção do saber, através de um processo ensino aprendizado, cotidiano com a realidade do aluno e do professor, e de todos os que atuam no sistema educacional.

Revela-se, na concepção de gestão democrática, um exercício ampliado de novas concepções assumidas no plano social, principalmente entre os segmentos populares que desejam maior presença nas decisões e elaboração de projetos sociais, tendo como objetivo a garantia de acesso a escola de qualidade a todos.

Porém as propostas de participação popular no âmbito dos processos de gestão das instituições esbarram em alguns movimentos nas relações de poder que se expressam, influenciadas por condicionantes político-ideológicos que se contrapõem ao modelo proposto.

Visto que a escola é um espaço marcado por contradições, relações de poder favoráveis à manutenção dos valores hegemônicos, a busca de construção da gestão democrática perpassa por longos caminhos que precisam ser refletidos numa dimensão acadêmica favorável à sua compreensão. É impossível mudar a escola, promover a gestão democrática mediante discursos demagógicos e populistas, quando não é possível ainda

alcançar um nível de conscientização do papel participativo dos sujeitos e seu comprometimento com o processo de mudanças.

É necessário que se estabeleça na escola uma cultura de organização coletiva do conhecimento, que envolva não só os educandos, mas também os educadores, os funcionários da escola, os pais, enfim, a comunidade onde a escola estiver inserida. A participação desse grupo se torna indispensável quando da elaboração do Projeto Político Pedagógico. Os pais, por exemplo, trazem a realidade de fora para dentro da sala de aula.

Com informações sobre seus filhos, o meio cultural, as relações familiares, as condições e a qualidade de vida proporcionando à escola, meios para encaminhar soluções mais acertadas.

Partilhando a gestão com a comunidade, a escola, se fortalece e vai buscar soluções próprias, adequadas às necessidades dos alunos e de suas famílias. Agindo coletivamente, as chances de encontrar soluções para atender as expectativas da sociedade se multiplicam.

Entende-se que foi a partir da Lei 9.394/96, art.12, inciso I, de Diretrizes e Bases da Educação, que possibilitou certa autonomia da escola para criar o seu projeto pedagógico. Com vistas à melhoria a qualidade do ensino.

Em função disso, nós profissionais atuantes, compreendemos que somente a organização, a participação e as modificações no interior da escola, vinculada ao processo de uma gestão democrática, é que atenderá as perspectivas e desejar da maioria da população articuladas no projeto pedagógico.

É com esse sentido de comprometimento que nos deixa esperançosos e compromissados com a transformação da prática educativa atual, para que resulte no crescimento do homem nos vários aspectos que compõem, para que possa intervir na realidade vigente.

Acredito que a escola é o lugar em excelência para que as crianças e os jovens possam aprender a conhecer, fazer, viver junto com o outro e a ser. Problemas como a indisciplina, a violência, a exclusão, a evasão, poderão ter seus efeitos amenizados a partir dessas práticas.

A democracia na escola poderá ser também experienciada nas escolhas de grupos e líderes que tenha habilidades e empatia para lidar com problemas relacionados às divergências que ocorrem resultantes das relações interpessoais. Esses líderes poderão se tornar ―anjos‖ promotores da paz.

Concluí que apesar das dificuldades impostas ao processo de gestão democrática, é possível se construir um ambiente em que cada membro da comunidade educacional sinta-se parte importante do mesmo. Através da ação verdadeiramente político-pedagógica do gestor escolar, atuando como um incentivador, um líder democrático que ouve, que dá oportunidade a todos os componentes de opinarem e decidirem as soluções adequadas às problemáticas surgidas, pois ao assumir o cargo deve ter a consciência de que a educação brasileira sofre com os mais diversos problemas e carências, portanto tem o dever de realizar uma ação comprometida, crítica e, acima de tudo, democrática.

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