• Nenhum resultado encontrado

O Projeto Terapêutico Singular no CAPS David Capistrano Filho

CAPITULO III A Interdiciplinaridade e a Integralidade no CAPS David Capistrano

3.7 O Projeto Terapêutico Singular no CAPS David Capistrano Filho

Como já apresentamos no item que trata sobre os processos de trabalho desenvolvidos no CAPS, o Projeto Terapêutico Singular como um deles, consiste na prática de agrupar práticas terapêuticas e de forma articulada, apresentá-las ao usuário, levando em consideração nesse processo, os aspectos subjetivos, vínculo com a família e a inserção social do mesmo. Deve resultar da discussão coletiva de todos os profissionais do serviço no intuito de oferecer uma gama de possibilidades ao usuário, o qual vai escolher dentro de opções pré- estabelecidas quais atividades terapêuticas se identifica com a sua particularidade. Se faz importante salientar que esse processo de trabalho não se dá apenas no momento de inserção do usuário no CAPS, após traçado o diagnóstico, o usuário passa a ter metas em seu

tratamento e com ajuda de seu Técnico de Referência e de toda a equipe, esse projeto será desenvolvido. No entanto, o PTS deve ser avaliado coletivamente constantemente a fim de perceber as evoluções no quadro do paciente e caso seja necessário fazer as devidas readequações.

Quando questionados sobre o envolvimento de todos os profissionais da equipe na definição do PTS encontramos, analisando o conteúdo das entrevistas sobre essa questão, uma unanimidade nas respostas dos profissionais. Todos os entrevistados destacam que sempre tentam garantir o envolvimento dos outros profissionais da equipe multidisciplinar nas ações que desrespeito ao PTS. Entretanto, isso não tem acontecido em todos os momentos, visto que o aumento na demanda institucional e dinâmica de trabalho no CAPS não permite.

[...] apesar de todas as dificuldades que a gente tem, vem tendo ultimamente, eu acho que é um exercício que a gente faz sempre de pensar quais as melhores estratégias para o cuidado daquela pessoa, quais são as ações que a gente tem que articular no território junto com a família, o que a gente planeja e o que acha que o usuário vai ter uma outra resposta. Eu acho que isso a gente faz isso todos os dias, todos os momentos, o dia inteiro desde a hora que chega até a hora que sai. (Lúcia) Sim, eu não diria que pra todo usuário todos os profissionais participam, mas corriqueiramente isso acontece. Às vezes quem constrói é somente o usuário, o técnico responsável e a família. (Maria)

Diante dos argumentos apresentados concluímos, com relação a essa temática, que o que inviabiliza que obrigatoriamente todos os profissionais que atuam em determinado turno no CAPS, participem e discutam os processos de definição, construção e avaliação do PTS de cada usuário, seja a demanda institucional. No entanto, percebe-se que em vários momentos da cotidianidade desses profissionais esse diálogo ocorre, principalmente nas reuniões de mini equipe, e é mediado muito pela demanda, isto é, o profissional técnico de referência está com dificuldade em ralação a algum aspecto do PTS de determinado paciente, vai discutir com a equipe e coletivamente irão traçar a melhor estratégia a ser estabelecida.

3.7.1 A participação do usuário no PTS

De acordo com Yasui (2010), o PTS além de ter um caráter singular, apresenta um aspecto múltiplo no que diz respeito ao leque de ações que podem ser desenvolvidas coletivamente. Apesar de carregar a subjetividade de um indivíduo, esse projeto terapêutico não se desenvolve de forma desarticulada das ações coletivas desenvolvidas no CAPS. Ainda de acordo com o autor, a construção do PTS se constitui como um desafio, visto que, no

momento crítico de inserção do usuário no serviço a construção do vínculo deve ser reforçada no momento de acolhimento, recepção e apreensão do mundo do usuário. “Vínculos iniciais são frágeis e demandam uma atenção e um cuidado especial. Um descuido, uma desatenção qualquer, e eles ser rompem, se quebram.” (YASUI, 2010, p. 149).

Nesse sentido, com relação à participação do usuário na definição do PTS no CAPS David Capistrano Filho, a maioria dos entrevistados afirmam que essa prática ocorre na instituição.

Ele participa de tudo. Toda vez que a gente tem que pactuar alguma coisa com o usuário a gente tenta inserí-lo nessa discussão. Então nas nossas intervenções, já está posto que o usuário é fundamental no processo. A família, o usuário, a discussão é feita com todos a quem interessa o PTS, inclusive e principalmente o usuário. Ele é o maior interessado. (Lúcia)

O usuário participa da definição do PTS, como já havia dito, é feito em parceria, usuário, família e técnico de referência. (Marcos)

Entretanto, alguns profissionais apontam que apesar da participação do usuário na definição do PTS, nem sempre isso garante por si só que a subjetividade do usuário esteja sendo considerada. Sobre esse aspecto Yasui (2010) aponta que o que determina a qualidade das ações que venham a ser desenvolvidas no PTS, é o leque de opções dentre as quais o usuário pode escolher. “Isso significa não abrir mão de nenhuma ferramenta.” (YASUI, 2010, p. 149).

O usuário na construção do PTS é chamado e é questionado sobre o que ele gosta de fazer. Claro que o leque de opções não é tão vasto assim, ele escolhe dentro das possibilidades do caps. (Maria)

Diretamente eu não vejo que o usuário consiga expor o que ele quer ou deixe de querer. Ele não tem uma participação direta, o que a gente consegue entender é analisar a resposta do usuário mediante aquele PTS e questionar (porque você não quer vir a uma oficina?) (Jéssica)

A partir de tais colocações concluímos, em relação a essa questão, que a participação do usuário na definição do PTS ocorre na instituição. Contudo, para garantir que a subjetividade de cada usuário seja considerada se faz necessário, para além da atuação dos profissionais, que hajam condições conjunturais, estruturais, físicas e econômicas que viabilizem a implementação das ações ofertadas pelo CAPS.