• Nenhum resultado encontrado

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4. O Quadrilátero Ferrífero

A região do Quadrilátero Ferrífero está localizada na região central do Estado de Minas Gerais, Brasil. É uma das regiões mais mineralizadas do globo, cujos depósitos minerais estão entre os mais bem conhecidos. Além dos vastos depósitos de ferro, o Quadrilátero Ferrífero apresenta diversas

arsenopirita (FeAsS), com as quais a distribuição de As guarda importante associação (BASÍLIO et al., 2005; MELLO et al., 2006).

A região é a mais antiga e importante província aurífera do Brasil, tendo atingido ao longo da história uma produção de mais de 1.300 toneladas de ouro. Em alguns depósitos minerais, a relação As/Au varia de 300 a 3.000 (BORBA et al., 2003). A maioria dos depósitos de ouro do Quadrilátero Ferrífero está hospedada nas rochas da unidade litoestratigráfica denominada Supergrupo Rio das Velhas (BORBA & FIGUEIREDO, 2004).

A região vem sendo explorada desde meados do século XVII e os metais associados vem sendo historicamente liberados para os cursos d’água que drenam a região (MATSCHULLAT et al., 2000).

Desde o início da colonização das terras brasileiras, a tão ansiosa busca pelo ouro foi recompensada precisamente com a chegada dos bandeirantes ao vale do Rio das Velhas, localizado no Quadrilátero Ferrífero, onde batendo o aluvião depositado nos cursos d’água, os paulistas encontraram a tão fabulosa riqueza mineral. Esta área foi ponto de partida para a descoberta de ricos veios auríferos nos morros e no cascalho, em correntes fluviais de outras bacias, como na do Rio Doce e demais afluentes do São Francisco (COELHO, 2002).

O abastecimento público de água na região é feito principalmente com a captação de águas das bacias hidrográficas do alto rio das Velhas e do rio Doce (BORBA et al., 2004).

Figura 4: Localização geográfica do Quadrilátero Ferrífero.

A Bacia do Rio das Velhas, de grande importância social e econômica para a região, está localizada na região central do Estado de Minas

Gerais, compreendendo uma área aproximada de 27.867,2 km2, distribuída em

forma alongada na direção norte-sul entre as coordenadas 17°15’ e 20°25’ S – 43°25’ e 44°50’W. Engloba as sub-bacias dos rios Itabirito, Sabará e Arrudas. Parte de seu percurso está encaixada na região do Quadrilátero Ferrífero

responsável pelo abastecimento de água de uma população de aproximadamente 4,5 milhões de habitantes que se distribui entre a região metropolitana da capital estadual Belo Horizonte e mais 51 municípios, responsáveis por cerca de 42% do PIB do estado mineiro. As altitudes ao longo da bacia variam de 500 m (na sua foz no rio São Francisco) a cerca de 1500 m (verificados na Serra do Jorge, região de cabeceira). A temperatura anual média é de 20° C, com precipitação média de 1400 mm. A vegetação predominante é de campos e cerrado, sendo que 90% da bacia apresenta sua vegetação modificada devido à ocupação antrópica (MORENO & CALISTO, 2004; SANTOS & MAILLARD, 2005;).

O rio das Velhas, maior afluente em extensão da Bacia do Rio São Francisco, abrange cerca de 760 km de extensão, de sua nascente na Cachoeira das Andorinhas, município de Ouro Preto, até a comunidade de Barra do Guaicuí, no município de Várzea da Palma, onde deságua no rio São Francisco (COELHO, 2002; MORENO & CALISTO, 2004). Situado na região central de Minas Gerais, o rio das Velhas é como a espinha vertebral do

Estado. Apresenta uma largura média de 38,3 m e uma vazão de 315 m3 por

segundo (COELHO, 2002). É dividido em alto, médio e baixo curso: O Alto Rio das Velhas compreende a porção que vai da sua nascente na Cachoeira das Andorinhas até a jusante da foz do Ribeirão da Mata, município de Santa Luzia; o Médio Rio das Velhas abrange o percurso desde após a foz do Ribeirão da Mata até a foz do Rio Piraúna; o Baixo Rio das Velhas vai desde a foz do Rio Piraúna até a foz no Rio São Francisco, em Barra do Guaicuí (MORENO & CALISTO, 2004; POMPEU et al., 2005). O Alto Rio das Velhas reúne a maior

Atualmente, a Companhia de Mineração Morro Velho descarrega diretamente no ribeirão Cardoso, em Nova Lima, efluentes resultantes do processamento de ouro, que são fontes significativas de As (AZEVEDO & CHASIN, 2003). Três grandes depósitos de ouro são distinguidos na região do município de Nova Lima, drenados para o Rio das Velhas (BASÍLIO et al., 2005; MELLO et al., 2006). Na Bacia do Rio das Velhas o As é encontrado em águas superficiais em concentrações acima dos limites preconizados para o consumo humano (IGAM, 2003). Níveis elevados de As estão presentes em águas subterrâneas captadas da Bacia do Rio das Velhas e utilizadas para o abastecimento das cidades de Ouro Preto e Mariana. A contaminação de sedimentos foi também reportada (BORBA & FIGUEIREDO, 2004; BORBA et al., 2004). Além de teores elevados de arsênio, sedimentos superficiais do alto da Bacia do Rio das Velhas apresentam, em alguns pontos, concentrações anormalmente altas de metais pesados (PEREIRA et al., 2007).

Outra bacia de grande importância que se apresenta em parte localizada no Quadrilátero Ferrífero é a Bacia do Rio Doce, que compreende uma área de

drenagem de 83.400 km2, dos quais 86% pertencem ao Estado de Minas

Gerais e 14% ao Estado do Espírito Santo. Em termos político-administrativos, a região abrange atualmente 222 municípios, que incluem 461 distritos.

Na bacia do rio Doce, o Ribeirão do Carmo é formado no município de Ouro Preto, região sudeste do Quadriláetro Ferrífero, após a junção dos Ribeirões Tripui e Funil e deságua no rio Gualaxo, que posteriormente se junta ao Rio Piranga para formar o Rio Doce. O ribeirão, cujo nome rende homenagem a Nossa Senhora do Carmo, começou a ser desbravado entre os anos de 1695 e 1696 quando alguns bandeirantes como Salvador Fernandes Furtado descobriram riquíssimas jazidas de metais preciosos. Logo foram

surgindo povoados, para onde afluíram aventureiros a procura desses metais, o que contribuiu para o aparecimento de vários garimpos clandestinos na região, que estão em plena atividade até os dias de hoje (RAMOS, 2005).

Figura 5: Mapa geológico-estrutural do Quadrilátero Ferrífero. Fonte: Silva e Gomes, 2001.

Na Sub-bacia do Rio do Carmo, entre os municípios de Ouro Preto e Mariana, além da presença de diversas minas de ouro abandonadas, a exploração de metais e gemas permanece ativa. Ao longo dos ribeirões Tripuí e do Carmo, atividades garimpeiras clandestinas são ainda desenvolvidas e as marcas da ação antropogênica permanecem visíveis no intenso revolvimento e desgaste dos sedimentos. Estudo desenvolvido por BORBA et al. (2003)

Em alguns locais do Quadrilátero Ferrífero, os níveis de contaminação

de águas superficiais e subterrâneas por As chegam a atingir 2200 µg L-1

(PEREIRA, 2005). A contaminação humana na região foi pesquisada por meio da avaliação dos teores de As em urina de crianças de 7 a 12 anos, tendo encontrado valores para os quais os efeitos tóxicos do arsênio não podem ser excluídos. As principais vias de contaminação seriam pelo consumo de peixes e águas dos rios (MATTSCHULATT et al., 2000; FIGUEIREDO et al., 2007).

Em função das atividades de garimpo desenvolvidas na região ao longo dos últimos 300 anos, elevadas concentrações de mercúrio podem ser encontradas em sedimentos e água na região (RAMOS, 2005; WINDMÖLLER et al, 2007).