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O QUE DIZEM AS PESQUISAS

No documento 2016ThianedeVargas (páginas 31-34)

2 A LEITURA

2.4 O QUE DIZEM AS PESQUISAS

A tradição e o esforço governamental de manter bibliotecas nas escolas não são suficientes para desenvolver comportamentos leitores entre professores e estudantes. Observamos, a todo o momento, notícias e comentários de que os brasileiros leem pouco e, em virtude disso, são realizadas inúmeras campanhas mercadológicas e governamentais em torno da leitura.

Nos últimos anos, testemunhamos uma explosão de projetos para a democratização do acesso à leitura, desenvolvidos pela sociedade civil: bibliotecas comunitárias implantadas em diferentes espaços; expositores ambulantes, livros na padaria, em paradas de ônibus, em estações de metrô, além de pontos de leitura em praças e parques. Eventos literários, por outro lado, extrapolam as capitais e ganham os pequenos municípios. É importante, contudo,

basearmo-nos em fontes confiáveis, para ter uma noção real do nível de leitura dos cidadãos brasileiros.

Desde 1996, o Brasil participa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa)8, desenvolvido e coordenado internacionalmente pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo informações do portal do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)9, o objetivo da pesquisa é produzir indicadores que contribuam para a discussão da qualidade da educação nos países participantes, de modo a subsidiar políticas de melhoria do ensino básico, verificando em que medida as escolas de cada país participante estão preparando seus jovens para exercer o papel de cidadãos, a partir da leitura, na sociedade contemporânea.

De acordo com a pesquisa, em comparação com os resultados de 2009, ano em que também ocorreu um ciclo de avaliação com ênfase em leitura, o Brasil foi um dos países que mais evoluiu no período e que as regiões Centro-sul e Sul foram as que apresentaram crescimento mais consistente na área. Contudo, o Brasil ocupa o 55º lugar entre 65 países no

ranking de habilidade para leitura.

Alguns estudos, embora sem reconhecimento acadêmico, revelam a mesma realidade. Um exemplo é um estudo realizado pela Federação do Comércio do Rio de Janeiro sobre os hábitos culturais em 70 cidades de nove regiões metropolitanas: 70% dos brasileiros não leram um livro sequer no ano de 2014. Telles (2014) afirma que, segundo a pesquisa, o mapa do lazer do brasileiro revela um consumidor sem muito entusiasmo pela arte e literatura. Em 2014, 55% dos brasileiros responderam que não fizeram nenhuma atividade cultural no ano; em 2013, essa porcentagem era de 49%.

A leitura de livros caiu de 35% para quase 30% dos entrevistados; 70% dos pesquisados não leram um único livro neste último ano. O uso da internet, facilitado pelos smartphones, é apontado na pesquisa como um dos responsáveis pela queda na leitura, principalmente entre os jovens. No entanto, em meio à fragmentação e à não linearidade da leitura no hipertexto, percebemos que os equipamentos eletrônicos – smartphones, tablets – têm se constituído como suportes para a leitura e para a leitura literária.

Outros apontamentos foram feitos pela pesquisa Retratos de Leitura no Brasil, promovida pelo Instituto Pró-livro10, com o objetivo principal de fomento à leitura e à difusão do livro. O instrumento, aplicado trienalmente desde 1997, possibilita uma avaliação

8 Informações referentes ao programa podem ser acessadas em: <http://portal.inep.gov.br/pisa/sobre-o-pisa>. 9 Disponível em: <http://portal.inep.gov.br/pisa/sobre-o-pisa>.

consistente sobre o comportamento leitor, segundo a percepção da leitura no imaginário coletivo; o perfil do leitor e do não leitor de livros; as preferências e motivações dos leitores; as influências; os suportes e formas de acesso ao livro. Segundo os dados obtidos, há no Brasil 88,2 milhões de leitores, ou seja, 50% da população – 7,4 milhões a menos do que em 2007, quando 55% dos brasileiros se diziam leitores.

De acordo com Failla (2012, p. 29), que avalia a pesquisa, a

explicação possível sobre a redução no número de leitores em 2011 vem da composição demográfica da amostra de entrevistados. Outras pesquisas já informaram: estamos envelhecendo! Com 7,1 milhões de brasileiros a menos na faixa etária de 5 a 17 anos, temos menos estudantes e, portanto, menos leitores. Mesmo assim, com esse e outros argumentos, o país não avançou como deveria ou como se esperava. Ainda de acordo com Failla (2012), os índices de leitura – 4,7 (2008) ou 4 (2012) livros por pessoa ao ano, incluindo os didáticos – ainda são muito baixos. Ao comparar os dados em relação a outros países, a autora mostra-se preocupada com os resultados quando defende que

se compararmos esses indicadores com os de outros países ibero-americanos – que desenvolveram a pesquisa seguindo a mesma metodologia proposta pelo Cerlalc – percebemos que o Brasil, com 4 livros lidos/ano, está melhor do que o México (2,9) e a Colômbia (2,2), mas lê menos do que a Argentina (4,6); o Chile (5,4) e menos da metade do que se lê em Portugal (8,5) e Espanha (10,3). (FAILLA, 2012, p. 30).

Contudo, a autora afirma que não se podem desprezar os avanços obtidos desde o ano 2000, pois, se olharmos os números a partir desse ano, a melhoria dos indicadores foi significativa.

Quando comparamos a população de mais de 15 anos (conforme amostra da 1ª edição), saímos de 1,8 livros lidos/ano, em 2000, para 3,7 livros lidos/ano, em 2007, e 3,1 livros lidos/ano, em 2011. Esses resultados não podem ser desprezados. Eles não deixaram dúvidas de que os investimentos orientados pelas políticas públicas, se olharmos para os últimos 12 anos, trouxeram bons resultados. (FAILLA, 2012, p. 30).

Segundo as pesquisas, o ritmo de crescimento parece ser mais lento do que o país necessita, contudo é importante ressaltar que transformar comportamentos exige tempo e investimento.

Ao observar os dados das pesquisas e levar em consideração os altos investimentos na compra de livros pelo PNBE, segundo dados do MEC, em 2013 chegou à quantia de R$ 248.055.011,74, há precondições e incentivos para que se fomente a leitura e se criem as condições para o acesso e o interesse pelo livro. Continuar a investir em compra de livros e

formação de bibliotecas é necessário e imediato, porém é tão importante e necessário que o leitor em formação seja cativado e compreenda aquilo que lê. Para isso, é preciso ressignificar os conceitos para identificar os caminhos para a construção de um país de leitores.

Chartier (1999, p. 51) constata que

Aqueles que são considerados não-leitores lêem, mas lêem coisa diferente daquilo que o cânone escolar define como uma leitura legítima. O problema não é tanto o de considerar como não-leituras estas leituras selvagens que se ligam a objetos escritos de fraca legitimidade cultural, mas é o de tentar apoiar-se sobre essas práticas incontroladas e disseminadas para conduzir esses leitores, pela escola mas também sem dúvida por múltiplas outras vias, a encontrar outras leituras. É preciso utilizar aquilo que a norma escolar rejeita como um suporte para dar acesso à leitura na sua plenitude.

Essa declaração precisa ser entendida como um desafio para que pais e professores observem a preferência dos jovens. É importante, igualmente, observar o que as pesquisas revelam. As dificuldades de leitura precisam se transformar em propulsores à escola brasileira, bem como à necessidade brasileira para contribuir com a ampliação dos índices de leitura pela qualificação e diversificação de materiais que possam ampliar o interesse e o gosto pela leitura. Observar que suportes são usados por crianças e jovens assume importância relevante no desenvolvimento da leitura.

No documento 2016ThianedeVargas (páginas 31-34)