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O que informam os professores sobre sua prática de avaliação

Segue a análise das perguntas trabalhadas no questionário : Na sua concepção, o que é avaliação da aprendizagem?

É um processo mediador na construção do currículo e se encontra intimamente relacionada à gestão da aprendizagem dos alunos. Cabe ao professor, observar gradativamente a participação e produtividade do aluno, contudo é preciso deixar bem claro que a prova é somente uma formalidade do sistema escolar e não ser simplesmente usada como o único instrumento avaliativo. Avaliação é todo processo educativo que tem como objetivo principal a aprendizagem. (1ª Educadora)

É muito mais do que avaliar o que foi abordado em sala de aula, é tornar os mecanismos de ensinar e aprender bem mais satisfatório levando assim, o aluno a ter uma aprendizagem de qualidade. (2ª Educadora)

A avaliação é uma forma de você verificar o que o seu aluno sabe sobre determinado assunto, ou mesmo, sobre os fatos que ocorrem em seu cotidiano. 4° Educadora: - A avaliação da aprendizagem implica num componente de ensino/aprendizagem, que envolve vários aspectos, o cognitivo, afetivo e o sócio-cultural, visto que o aluno é um ser completo que tem suas habilidades para determinados conteúdos e dificuldades pra outros, no entanto é necessário considerar o contexto geral. (3ª Educadora)

Na primeira pergunta (Na sua concepção, o que é avaliação da aprendizagem?), para a 1° Educadora, a avaliação é um processo mediador na construção do currículo e cabe ao professor observar gradativamente a participação e produtividade do aluno e a prova é somente uma formalidade do sistema escolar e não deve ser simplesmente usada como único instrumento avaliativo. Desse modo a educadora demonstra indiferença ao instrumento avaliativo prova por ser uma formalidade burocrática da escola. Sobre esse pensamento Hoffmann declara:

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Exercendo a avaliação como uma função [...] burocrática, persegue-se um princípio claro de descontinuidade de segmentação, de parcelarização do conhecimento. Registros e resultados bimestrais, trimestrais ou semestrais estabelecem uma rotina de tarefas e provas periódicas desvinculadas de sua razão de ser no processo de construção do conhecimento (HOFFMANN, 2009, p. 17).

Se o professor desconsidera a importância de um instrumento avaliativo por ser uma exigência da escola e não integra o processo avaliativo com todos os instrumentos, o mesmo está dissociando a prática de ensino da avaliação da aprendizagem, porque ao invés de dar continuidade ao processo revertendo as dificuldades de aprendizagem dos alunos, está interrompendo o processo antes do término. Com essa informação entende-se que a prova está servindo apenas para a reprodução e memorização dos conteúdos e para atribuição de pontos. Sobre essa prática avaliativa, Hofmann faz a seguinte colocação:

Perigosamente, as condições concretas da prática avaliativa atual, autoritária e coercitiva, determinam continuamente situações de sucesso e fracasso escolar com base em exigências de memorização e reprodução de dados pelo aluno. O cotidiano da escola desmente um discurso inovador de considerar a criança e o jovem a partir das suas possibilidades reais. A avaliação assume a função comparativa e classificatória, negando as relações dinâmicas necessárias à construção do conhecimento e solidificando lacunas de aprendizagem (HOFMANN, 2009, p. 62).

A educadora ainda afirma que a prova não deve ser o único instrumento avaliativo usado no processo, ou seja, deduz-se que a mesma utiliza outros instrumentos avaliativos em seu processo de avaliar. Luckesi confirma essa informação:

Para coletar os dados e proceder à medida da aprendizagem dos educandos, os professores, em sala de aula, utilizam-se de instrumentos que variam desde a simples e ingênua observação até sofisticados testes, produzidos segundo normas e critérios técnicos de elaboração e padronização (LUCKESI, 2011, p. 48).

Para a 2° Educadora, a avaliação da aprendizagem é muito mais do que avaliar o que foi abordado em sala de aula, é tornar os mecanismos de ensinar e aprender bem mais satisfatório levando assim, o aluno a ter uma aprendizagem de qualidade. A avaliação vista pelo professor como processo reflexivo da sua prática, torna os mecanismos de ensinar e aprender mais satisfatório, uma vez que adequa a avaliação as necessidades dos aprendizes. Desse modo, Sacristán e Goméz explicam que:

Atualmente, para a teorização didática, avaliar não é só o ato de comprovar o rendimento ou qualidade do aluno/a [...] A avaliação serve para pensar e planejar a prática didática. [...] No caso da investigação na ação, esquema de racionalização dos processos didáticos, em que se ressalta a importância da reflexão sobre o ocorrido, a avaliação é um recurso para melhorar os processos pedagógicos (SACRISTÁN; GOMÉZ, 1998, p. 296, 297).

A 3° Educadora afirma que a avaliação é uma forma de você verificar o que o seu aluno sabe sobre determinado assunto, ou mesmo, sobre os fatos que ocorrem em seu cotidiano. Essa educadora limita a avaliação da aprendizagem apenas a verificação ou investigação da aprendizagem dos educandos sobre os conteúdos. Entretanto, para Cool, Marchesi e Palacios:

[...] A finalidade principal da avaliação é, [...] proporcionar informação útil e relevante para melhorar a eficácia da ação educacional, para conseguir que as aprendizagens sobre os conteúdos escolares que os alunos devem realizar sejam o mais amplos, profundos e significativos possível (COOL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 372).

Para a 4° Educadora, a avaliação da aprendizagem implica num componente de ensino/aprendizagem, que envolve vários aspectos, o cognitivo, afetivo e o sócio-cultural, visto que o aluno é um ser completo que tem suas habilidades para determinados conteúdos e dificuldades pra outros, no entanto é necessário considerar o contexto geral. Desse modo, Sacristán e Goméz, esclarecem que:

[...] A avaliação foi tomando um caráter holístico, de acordo com a homóloga tendência na evolução dos conteúdos curriculares, pretendendo abranger múltiplos aspectos da personalidade e efeitos educativos. [...] Nos procedimentos empregados para refletir e expressar avaliações dos alunos/as aparecem multiplicidade de aspectos que se referem a qualidades sociais, pessoais, hábitos de comportamento, domínio de habilidades [...] (SACRISTÁN; GOMÉZ, 1998, p. 310).

Na segunda pergunta (Quando é realizada a avaliação da aprendizagem?), conforme pode ser observado a seguir, a professoras pontuaram que:

Durante todo o processo de construção do conhecimento. 1° Educadora) A avaliação acontece desde o momento em que o professor considera os conhecimentos prévios dos alunos em um determinado assunto e, se

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estende durante (explanação do conteúdo) e por fim, com a fixação do mesmo (trabalhos, seminários, avaliações). (2° Educadora)

Como se trata de uma atividade formativa ela é contínua.( 3° Educadora) Em todos os momentos o processo de ensino/aprendizagem se desenvolve no contexto integral escolar, não tem como separar os momentos de compreensão/apreensão dos conhecimentos dos alunos, então a avaliação acontece no processo integralmente. (4° Educadora).

Analisando as respostas das 4 (quatro) educadoras, nota-se a semelhança entre as mesmas, pois mencionam uma avaliação contínua, que ocorre durante todo processo de ensino-aprendizagem. Desse modo, Cool, Marchesi e Palacios descreve esse tipo de avaliação da aprendizagem como avaliação formativa:

[...] A avaliação formativa, também chamada às vezes de contínua ou reguladora, tem como finalidade relacionar as informações relativas à evolução do processo de aprendizagem dos alunos com as características da ação didática, à medida que se desdobram e avançam as atividades de ensino e aprendizagem (COOL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 372, 373).

Na terceira pergunta (Qual o retorno desse processo da avaliação da aprendizagem para o aluno?), temos:

Através de discussões individuais e coletivas, notas e observações qualitativas. (1° Educadora)

Infelizmente o nosso sistema educacional exige uma “nota” como meio de avaliar se o aluno aprendeu/assimilou tal conteúdo. Mas, o professor deve ter um olhar bastante observador para analisar até que ponto o “seu jeito de ensinar”, está sendo compreendido ou não pelo aluno. Como também, observar se o aluno está passando por “fatores externos” que possa comprometer a sua aprendizagem. (2° Educadora)

Como ainda se avalia com nota não se pode fugir desse aspecto, mas se faz necessário enaltecer o crescimento tanto intelectual como social do aluno, a nota é consequência. (3° Educadora)

O processo avaliativo se desencadeia considerando a assiduidade, participação, desenvolvimento das atividades, apresentações de seminários,

Pelas respostas dadas verificamos que a 1° Educadora responde: - Através de discussões individuais e coletivas, notas e observações qualitativas. Diante dessa afirmação, interpreta-se que essa educadora avalia o seu aluno por meio de observações, discussões individuais e coletivas, por trabalhos e/ou testes/provas valendo notas, ou seja, tudo que o aluno faz é avaliado. Sobre essa forma de avaliar Hofmann, faz a seguinte colocação:

[…] O 'fazer testes', o 'dar notas', por avaliação é uma atitude simplista e ingênua. Significa reduzir o processo avaliativo, de acompanhamento e ação com base na reflexão, a parcos instrumentos auxiliares desse processo, como se nomeássemos por bisturi um procedimento cirúrgico (HOFMANN, 2000, p. 53).

Já a 2° Educadora sentencia o sistema educacional ao declarar que: - Infelizmente o nosso sistema educacional exige uma “nota” como meio de avaliar se o aluno aprendeu/assimilou tal conteúdo [...]. A respeito dessa declaração, Cool, Marchesi e Palacios atestam que:

[...] Nessa lógica, a avaliação efetua-se em momentos pontuais, normalmente ao final de um processo de ensino e aprendizagem mais ou menos amplo, e trata de medir, em termos quantitativos, as aprendizagens realizadas pelos alunos até esse momento. A ênfase na expressão quantitativa dos êxitos de aprendizagem dos alunos leva, por sua vez, a dar uma atenção especial a aspectos com objetividade e a neutralidade [...] (COOL; MARCHESI; PALACIOS, 2004, p. 375).

A 3° Educadora menciona: - Como ainda se avalia com nota não se pode fugir desse aspecto, mas se faz necessário enaltecer o crescimento tanto intelectual como social do aluno, a nota é consequência. Sacristán e Goméz condizem com essa consciência ao afirmar que:

Reconhecer que o objeto que se avalia e o processo de avaliação são

construídos e que, portanto, ambos são afetados por processos

psicológicos, [...], marcos institucionais e sociais, é importante para fomentar a partir daí uma atitude de autocrítica, de explicitação de valores assumidos, relativizar a “autoridade” das avaliações e desfazer o clima de tensão que produz a realização destas nas relações pedagógicas (SACRISTÁN; GOMÉZ, 1998, p. 307).

Para a 4° Educadora: - O processo avaliativo se desencadeia considerando a assiduidade, participação, desenvolvimento das atividades, apresentações de seminários,

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trabalhos individuais e coletivos, entre outros. Sobre esse modo de avaliar, Perrenoud declara:

[...] o ensino apenas se define como preparação para a próxima prova. As atividades de aprendizagem assemelham-se ao exercício, ao treinamento intensivo, no sentido em que praticam certos esportistas que fazem e refazem os exercícios sobre os quais serão julgados no dia da competição. [...] A avaliação funciona, sob esse aspecto, como um fortíssimo

impedimento. Os professores que tentam se distanciar dos exercícios

escolares mais próximos das provas escritas sabem bem disto: quando se faz os alunos trabalharem em grupos, quando se dá importância às situações de comunicação aos problemas abertos [...] (PERRENOUD, 1999, p. 72).

Quanto a análise dos questionários, a pesquisa demonstra clareza e concordância com os fundamentos teóricos. Desse modo, conclui-se que aspectos da avaliação da aprendizagem como: aplicação do teste/prova meramente por exigência burocrática sem o retorno positivo da aprendizagem para o processo avaliativo, contribui para a retenção escolar, assim como também a falta de informação e estudo sobre a modalidade de avaliação da aprendizagem que a instituição de ensino adota, a atribuição de notas a ações atitudinais dos alunos, a confusão dos docentes com relação ao significado da observação formativa, a interrupção da avaliação da aprendizagem pelo professor quando aplicam instrumentos avaliativos com o intuito apenas de verificar/investigar o conhecimento do aprendiz, o conhecimento reduzido sobre a avaliação da aprendizagem, a falta de consideração quanto a individualidade do aluno sem atender as suas demandas de desenvolvimento e aprendizagem em suas diversas dimensões. São informações declaradas e algumas subtendidas como resposta ao questionário, capaz de demonstrar como os professores agem na sua prática em sala de aula. São fatores prejudiciais a vida escolar do aluno, onde o mesmo é o mais penalizado. Os professores não demonstram muita segurança ao falar sobre a avaliação da aprendizagem, sendo assim presume-se a tamanha insignificância de como a avaliação da aprendizagem ainda é vista pelos profissionais da educação e como a retenção escolar está presente na escola apenas como forma de organização do ensino.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A avaliação da aprendizagem atinge tamanha dimensão e importância na educação, pois dependendo do conhecimento de quem avalia seus aspectos influenciam negativamente ou positivamente a vida dos agentes envolvidos. E mesmo com diferentes concepções da avaliação da aprendizagem, essa mesma ainda é vista como a última etapa do processo educativo, como se fosse algo isolado da prática educacional. Um exemplo claro é o plano de aula do professor que segue uma estrutura organizada, obedecendo um percurso até chegar no produto final ou finalidade do processo, desse modo, o plano de aula é composto por conteúdos, objetivos, metodologia, materiais/recursos e por fim a avaliação, seguindo essa ordem, a própria estrutura do plano de aula pressupõe essa divisão. Diante da pesquisa realizada sobre a temática desenvolvida, com fundamentação no estudo bibliográfico percebeu-se uma alteração quanto ao emprego do termo exame escolar relacionado aos procedimentos de avaliação, para avaliação da aprendizagem. Percebeu-se ainda que mesmo com o passar do tempo a avaliação da aprendizagem nos dias atuais é limitada a exames escolares com base em exercícios de repetição e memorização, que selecionam e classifica os alunos de modo a contribuir para a retenção escolar, pois com base nas observações e questionários dos professores do 5 ° ano do ensino fundamental de uma escola pública da cidade de Caicó-RN, interpretou-se que os docentes ainda não compreendem a avaliação da aprendizagem como um amplo processo no ensino, assim como também o tipo de avaliação que o sistema de ensino adota, e confunde observação formativa com instrumento avaliativo, desse modo, atribui valor ao aluno por qualquer ação dentro da sala de aula. A observação formativa (porque acontece na avaliação formativa) ao invés de orientar e otimizar as aprendizagens sem a preocupação de conceder nota, seleciona e classifica os alunos pelo seu conhecimento. Por conseguinte, a avaliação da aprendizagem é interrompida antes de alcançar o propósito, porque não se investiga com o objetivo de reverter a situação de aprendizagem do aluno, mas de julgá-lo como aprovado ou reprovado.

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