• Nenhum resultado encontrado

Além dos dados referentes às séries de estoque e fluxo de investimentos no exterior, a UNCTAD publica a lista das 100 empresas mais internacionalizadas do mundo e daquelas provenientes de países em desenvolvimento e de economias em

50

transição18. Ao contrário da lista da Forbes das maiores empresas, que leva em

consideração critérios como lucro, ativos, vendas e, principalmente, o valor de mercado da empresa, a lista da UNCTAD classifica as empresas (exceto organizações do setor financeiro) pelo índice de internacionalização, que é resultado do cálculo de média aritmética simples de participação de número de empregados, receita e total de ativos no exterior em relação ao total de cada item deste que a empresa possui (UNCTAD, 2010).

Portanto, a principal diferença entre as duas listas encontra-se no fato de que a Forbes está mais preocupada com o tamanho absoluto da empresa segundo os critérios mencionados, enquanto para a UNCTAD interessam apenas os resultados relativos, ou seja, aqueles obtidos pelas empresas no exterior em relação ao resultado total dos itens enumerados anteriormente, ignorando o setor financeiro. Assim, empresas grandes em termos de vendas, receitas e valor de mercado, mas muito dependentes do mercado doméstico, são consideradas menos internacionalizadas (segundo o critério da UNCTAD) que outras de menor porte, cujo resultado, em relação ao seu próprio tamanho, seja mais intensivo em operações no exterior.

A última publicação referente às empresas de países em desenvolvimento e economias em transição data do ano de 2010 e tem, na dianteira, novamente, a China (incluindo Taiwan e Hong Kong), que aparece com nada menos do que 40 empresas e US$ 360 bilhões em ativos no exterior. É verdade que a maior parte dessas empresas é oriunda de Hong Kong e Taiwan – com 18 e 13 empresas na lista, respectivamente. Porém, mesmo excluindo essas organizações, a China ficaria com a terceira colocação junto com a Rússia, com nove ETNs entre as 100 maiores (atrás apenas dos dois territórios mencionados), e teria US$ 111 bilhões em ativos no exterior, o segundo maior valor da lista, superior aos US$ 70 bilhões das empresas russas (UNCTAD, 2010).

18 A lista das 100 maiores empresas pode ser encontrada no site da UNCTAD, disponível em: <http://www.unctad.org/SearchCenter/Pages/Results.aspx?k=top%20100%20TNCs>. Acesso em: 15 mar. 2012 (UNCTAD, 2010).

51

País sede Número de empresas Ativos no exterior (US$ bilhões)

1

China - Total 40 360,0

Hong Kong, China 18 173,9

Taiwan 13 74,9 China 9 111,2 2 Rússia 9 69,6 3 Cingapura 8 67,6 4 África do Sul 8 50,4 5 Índia 7 60,0 6 Coreia do Sul 6 105,9 7 Malásia 4 55,6 8 México 4 60,4 9 Brasil 3 67,7 10 Kuwait 3 24,9 11 Turquia 2 6,2

12 Emirados Árabes Unidos 2 23,5

13 Argentina 1 7,0

14 Egito 1 8,2

15 Catar 1 18,4

16 Venezuela 1 12,0

Total 100 997,3

Quadro 3 - Número de empresas por país, segundo a lista das 100 maiores empresas de países em desenvolvimento e economias em transição.

Fonte: Elaborado pelo autor, com base nos dados da UNCTAD (2010).

A Coreia do Sul, embora figure com apenas seis ETNs entre as 100 maiores de países em desenvolvimento, apresenta um dos maiores montantes de ativos no exterior, US$ 106 bilhões, e três dessas empresas (Samsumg Electronics, Hyundai Motor Company e LG Corp.) estão presentes entre as 10 primeiras.

Em termos de número de empresas, chama a atenção o desempenho da África do Sul, com oito firmas entre as 100 maiores da lista, número igual ao de Cingapura e superior ao dos indianos, que contam com sete ETNs presentes nesse

52

figura apenas na 25ª colocação da lista (MTN Group Ld, de telecomunicações) e a soma de ativos atinge US$ 50 bilhões, inferior à Índia ou à Malásia, a qual possui metade do número de ETNs da África do Sul.

Os países da América Latina exibem, uma vez mais, desempenho muito aquém dos países asiáticos em termos de ativos no exterior. Além disso, México e Brasil, os mais importantes do continente na lista, somam sete empresas, valor menos representativo que a África do Sul, embora os ativos no exterior dos dois países citados superem a nação sul-africana. Além disso, algumas das ETNs brasileiras e mexicanas aparecem no topo da lista, caso da empresa de cimentos Cemex, terceira maior, e da mineradora Vale.

As duas outras organizações brasileiras da lista são a Petrobrás, 17ª maior ETN, com US$ 15 bilhões em ativos no exterior, e a empresa de produtos de metal Gerdau, cujo montante de ativos localizados fora do Brasil atingiu US$ 14 bilhões na lista mais recente da UNCTAD (2010).

Vale destacar que o valor total dos ativos das empresas brasileiras no exterior, US$ 68 bilhões, é o quarto maior da lista, atrás apenas da China (inclusive Hong Kong e Taiwan) e da Coreia do Sul e Rússia. Mesmo assim, para uma economia do tamanho da do Brasil – a sexta maior do mundo e a segunda maior entre os emergentes19, atrás apenas da China –, é um desempenho muito tímido ter

somente 3% do total das ETNs entre as 100 maiores do mundo emergente.

A comparação entre a lista da Forbes e da UNCTAD ganha especial relevância neste ponto, pois demonstra que, embora em valor de ativos totais ou valor de mercado, o Brasil possua empresas expressivas internacionalmente e de grande porte, seus ativos, funcionários e vendas estão concentrados em operações no mercado interno.

No universo das grandes empresas e das mais internacionalizadas do mundo emergente, o Brasil insere-se, dessa forma, com um número reduzido de ETNs, mais localizadas em setores ligados aos recursos naturais. Ao mesmo tempo, empresas da Ásia – neste caso, até mesmo as ETNs da África do Sul – têm no mercado externo importante reserva para obtenção de receita e atuam em setores diversos, principalmente naqueles difusores de tecnologia.

19 Informações extraídas da base de dados World Economic Outlook (WEO)

– Panorama Econômico Mundial –, do Fundo Monetário Internacional (FMI), referente ao ano de 2011 (FMI, 2011).

53

Se as operações no exterior, como serão demonstradas na discussão da próxima seção, constituem, para as empresas, uma importante maneira para ganhar competitividade, acesso à tecnologia e maior capacidade de inovação, preocupa o fato de poucas ETNs de capital brasileiro figurarem como destaque na lista das 100 maiores ETNs de países em desenvolvimento.