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O regente André conduzindo sua banda e a BMAA na concentração do

(SILVA, 2011).

Geralmente na concentração dos desfiles, a banda fica um longo período à espera de começar a apresentação e, para passar o tempo, muitos repassam os passos coreográficos

como forma de relembrar os movimentos, outros tocam aleatoriamente e outros conversam sobre assuntos do dia a dia. Nos desfiles de bairro, os que antecedem o desfile do dia 7 de Setembro, Lindoaldo tem o hábito de convidar ex-alunos da banda que hoje se tornaram regentes do mesmo projeto para participarem do percurso junto a BMAA. Momentos antes de iniciar o desfile, Lindoaldo também realiza parceria com o ex-aluno André, que hoje rege uma banda de iniciantes do projeto, integrando essa banda aos instrumentistas da Augusto dos Anjos. Lindoaldo passa a batuta ao regente André para reger as duas bandas juntas, organizadas em semicírculo executando música em comum do repertório. Segundo o regente Lindoaldo isso mostra como a música detém o poder de integrar as pessoas numa verdadeira troca de experiência musical.

4.2.8 Os campeonatos: a motivação como elemento facilitador da aprendizagem

Dentre as atividades desenvolvidas na Banda Marcial Augusto dos Anjos, os campeonatos são considerados como a atividade que mais motiva os estudantes a buscarem a aquisição da habilidade instrumental, bem como a conquista de premiações, tornando-se um importante aliado no desenvolvimento da aprendizagem musical. Além da própria competição, existe uma somatória de fatores proporcionados por esses concursos que estimulam a manutenção dessa prática, como por exemplo, a interação social, as amizades e as viagens. De acordo com Lima (2007) os concursos de bandas fazem com que as aulas e os ensaios sejam intensificados em função das competições, viagens e premiações. Dessa forma,

“os alunos costumam relacionar o sentido de sua prática, em aulas e ensaios, a uma ansiedade por troféus” (LIMA, 2007, p. 84). Entretanto, Lima faz uma ressalva de que “não se trata do

troféu apenas (visto no seu aspecto imediato) ou da euforia que ele proporciona, mas da

legitimação da conquista de um lugar social que tem o troféu como aval” (Ibidem).

Essa ansiedade é confirmada pelo regente ao comentar que os alunos fazem

questão em competir, ao dizer com suas palavras: “se eu falar que não vou a um campeonato, eu acho que sou crucificado aqui na escola” 45

. Ainda de acordo com o pensamento do regente, é através desses concursos que os estudantes podem vivenciar a competitividade que encontrarão também na vida cotidiana fora do local de disputa das bandas. O campeonato se configura como um evento onde afloram as mais variadas emoções dos alunos, externando

sentimentos de ansiedade, nervosismo, união, tristezas e alegrias. Com relação a este pensamento do regente, Lima (2007) menciona que:

Trata-se de um jogo (o das competições de bandas) que, uma vez em andamento, provoca movimentos, os quais impulsionam aspectos musicais em torno da idéia de competir. Essa idéia é resultado de uma realidade mais ampla, na qual regentes e jovens adolescentes têm suas vidas transpassadas por disputas e desafios que se dão mesmo fora dos campeonatos. Eles encontram, nesses eventos, as formas de representações de suas lutas diárias por melhores lugares na sociedade (LIMA, 2007, p. 86).

Segundo Lima (2007), “certamente, foi o advento dos concursos que provocou

mudanças em muitas bandas. Em busca de melhores posições, elas passam a executar arranjos mais ousados e, para isso, investiram no aprimoramento dos conhecimentos musicais de seus

participantes” (LIMA, p. 86). Consideramos, então, que os campeonatos representam um

forte elemento de motivação para a aprendizagem da música, contribuindo significativamente no desenvolvimento de habilidades musicais da banda. Essa motivação é planejada ou estimulada pelo professor, porém nas escolas pode ser feita de muitas maneiras e situações:

“As mais comuns são os prêmios escolares, os elogios, os concursos de execução ou

quaisquer outras maneiras que promovam o interesse e o esforço do aluno para conseguir objetivos pré-estabelecidos” (TOURINHO, 2002, p. 169).

No caso específico da Banda Marcial Augustos dos Anjos, o concurso é o pilar motivacional como facilitação para o desenvolvimento da educação musical no grupo, o que tem despertado o interesse e entusiasmo no aluno. Guimarães e Boruchovitch expõem que:

A motivação no contexto escolar tem sido avaliada como um determinante crítico do nível da qualidade e do desempenho. Um estudante motivado mostra-se ativamente envolvido no processo engajando-se e persistindo em tarefas desafiadoras, despendendo esforços, usando estratégias adequadas, buscando desenvolver novas habilidades de compreensão e de domínio. Apresenta entusiasmo e orgulho acerca dos resultados de seus desempenhos, podendo superar previsões baseadas em suas habilidades ou conhecimentos prévios (GUIMARÃES; BORUCHOVITCH, 2004, p. 143).

Nesse sentido, a banda melhora a sua técnica e performance através de um trabalho prático instrumental constante, sem medir esforços para expandir a carga horária destinada aos ensaios, com obras musicais consideradas de elevado nível técnico e interpretativo com vistas a desempenhar um bom papel perante os jurados e o público, e,

consequentemente, obter troféus, que significa conquistar o respeito da escola, comunidade, bem como das bandas estudantis da própria cidade e até mesmo de outros estados.

Na BMAA, além dos desfiles cíveis, os campeonatos – Municipais, Estaduais e Regionais – são considerados, entre outras atividades, os que interferem consideravelmente na rotina e dinâmica da banda. Assim, os ensaios passam a ser intensificados e a performance da banda passa a abranger outros artifícios exigidos nos regulamentos desses concursos, portanto tornando sua execução em grau maior de complexidade.Com as regras estabelecidas pelo regulamento dos campeonatos, tanto os instrumentistas e regente, quanto a linha de frente e o instrutor de dança, devem estar atentos a todas as exigências para obter êxito e um lugar de destaque nos campeonatos. Com isso, uma dinâmica é adotada nos ensaios através do treinamento dos novos parâmetros de performance.

Quanto ao julgamento das corporações musicais, elas são avaliadas por uma banca composta por especialistas na área musical. Os aspectos musicais avaliados são: os técnicos; afinação, ritmo/precisão rítmica, dinâmica, articulação e equilíbrio; os aspectos interpretativos: fraseado, expressão, regência e escolha do repertório; e aspectos específicos da percussão: afinação, ritmo/precisão rítmica, dinâmica, técnica instrumental, equilíbrio instrumental e equilíbrio entre percussão e instrumentos melódicos. No aspecto apresentação, são avaliados itens como a uniformidade, em que é analisada a conservação da indumentária. Também são avaliados a conservação e disposição instrumental, o sincronismo e a marcialidade, o alinhamento correto, o garbo, dentre outros itens específicos. Vale salientar que não só os instrumentistas são julgados nesses eventos, mas toda a banda, o que incluem todos os componentes da linha de frente, inclusive o regente e o instrutor de dança de acordo com as diversas regras. O regulamento pode ser visto no anexo 2, contido neste trabalho.

Para cumprir todos esses requisitos, a Banda Marcial Augusto dos Anjos realiza um trabalho diário constante desenvolvido com seriedade e compromisso e vem obtendo bons resultados. No ano de 2011 participou de três campeonatos, em todos ocupou um lugar de

destaque. De acordo com Vilela (2009), “um aluno motivado demonstra sua motivação por

meio de suas ações, pois tenderá a realizar suas tarefas com maior qualidade, intensidade e

Foto 19: Primeira etapa da II Copa Municipal de Bandas Marciais no ginásio da escola Dumerval Trigueiro.