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CAPÍTULO 2 Compreendendo a banda marcial

2.1 Relato histórico da Banda Marcial

De acordo com os historiadores, o significado de banda marcial já havia sido consenso entre romanos. Provavelmente, a banda marcial foi influenciada pelos gregos os quais tinham como preceitos o garbo na formação militar, como também a sensibilidade artístico-musical (LORENZET; TOZZO, 2009).

Os tambores e cornetas são instrumentos empregados na banda marcial. Esta também pode ser denominada como banda de Tambores ou Corneteiros. Robert Fux11 afirma que o tambor, é o mais antigo instrumento de música que teve acentuada penetração na Grécia, chegando a ser muito conhecido nos países da Europa por meio das Cruzadas (REIS, 1962). Segundo Carvalho (2006), as Cruzadas foram o maior movimento militar ocorrido na Idade Média. Tudo indica que, nessa época, a música não era empregada no campo de batalha, apesar de estar presente nas cortes e igrejas da Europa. A música só foi inserida no campo de batalha pelos Cruzados, assim que estes estabeleceram contato com seus inimigos, os Sarracenos12. Dentre as funções que a música detinha na comunidade Sarracena, era a de transmitir ordens e designar formações de combate, causar pavor e medo nos inimigos e ânimo nos soldados. O povo Sarraceno dispunha dos instrumentos anfil, espécie de corneta possante; o tabor, tambor pequeno, e os naker, tipo de percussão utilizada em pares. Inspirados nos Sarracenos, os Cruzados quando regressaram para a Europa levaram consigo os instrumentos citados acima e a ideia de seus inspiradores de implementá-los nos combates. Devido à absorção de muitos homens pelos exércitos feudais, a prática da música marcial foi rapidamente difundida. Com isso, músicos passaram a assumir o papel de conduzir as tropas tocando em campanhas e durante as marchas vitoriosas (CARVALHO, 2006).

São diversos os tipos de tambores existentes, como a caixa de rufo, caixa de guerra, caixa surda, a qual compreende vários tipos entre os quais: surdo-mor, surdão, surdo-

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Robert Fux – Dicionário Enciclopédico da Música e Músicos (REIS, 1962).

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Sarraceno é a denominação de um indivíduo que pertencia a um povo nômade, pré-islâmico, que habitavam os desertos entre a Síria e a Arábia. Nos primeiros séculos e império Romano era um termo usado para designar uma tribo árabe do Sinai (VIDE). Mais tarde foi estendido a todos os árabes. Depois, particularmente na época das Cruzadas, o seu uso estendeu-se a todos os mulçumanos. http://www.dicionarioinformal.com.br (Acesso em 05/08/2011).

gigante e outros, bem como o bombo. Dentre esses, o surdo-mor, o surdão e o surdo gigante, costumeiramente são utilizados nas bandas marciais. No decorrer do tempo o bombo passou a ser utilizado, principalmente para dar reforço ao ritmo. Dentro da organização estética da banda marcial, comumente os tambores são posicionados à frente das cornetas e geralmente são apresentados em número igual (REIS, 1962).

Alguns instrumentos como o pífaro - caracterizado como pequena flauta de madeira, desprovida de chaves - a gaita escocesa, os pratos e a lira (marcial), podem ser incluídas na banda, proporcionando o aumento do interesse não apenas pela originalidade de seu aspecto, mas também, pela variedade de seus timbres. A denominação de Mor é atribuída ao chefe da banda marcial. Esse chefe, de modo geral, é um corneteiro (Ibidem).

As imagens a seguir representam algumas variações de organização das bandas marciais. O quadro precedente às imagens com número e instrumentação correspondente servirá para a identificação dos instrumentos nas figuras.

Instrumento Numeração Instrumento Numeração

Pífaro 9 Caixa surda 29

Gaita escocesa 10 Bombo 30

Corneta 26 Pratos 31

Tarol 27 Chefe 34

Caixa de guerra 28 Mor 35

Quadro 1 – Lista de instrumentos para identificação das figuras de1 a 5, a seguir. Fonte: (REIS, 1962).

Figura 1 – Mor (35); Caixa surda (29); Caixa de guerra (28); Tarol (27); Corneta (26). Fonte: (REIS, 1962).

Figura 2 - Mor (35); Caixa surda (29); Caixa de guerra (28); Tarol (27); Corneta (26). Fonte: (REIS, 1962)

Figura 3 - Mor (35); Bombo (30); Caixa surda (29); Caixa de guerra (28); Tarol (27); Corneta (26). Fonte: (REIS, 1962)

Figura 4 - Mor (35); Lira (32); Bombo (30); Caixa surda (29); Caixa de guerra (28); Tarol (27); Corneta (26); Pífaro (9). Fonte: (REIS, 1962)

Na figura 1, a banda marcial está disposta em sua forma mais tradicional. Os instrumentos de percussão estão posicionados na primeira fileira e são constituídos por uma caixa surda, duas caixas de guerra e um tarol. As cornetas são em número de quatro e ficam ordenadas na segunda fila. O Mor fica a frente do grupo, que além de conduzir a banda, exerce também o papel corneteiro.

Nas figuras 2 e 3, a instrumentação é organizada igualmente a primeira figura, porém, com uma quantidade maior de instrumentos de percussão e cornetas e o acréscimo de um bombo na figura 3. Já figura 4 representa um modelo de banda marcial com instrumental mais abrangente, abarcando além das cornetas, caixas de guerra, caixas surda, bombos, taróis e Mor, os pífaros e a lira.

“A banda marcial executava principalmente música funcional para tarefas de

campo - conduzir sinais e ordens, auxiliar a manutenção da cadência da marcha e os movimentos da tropa -, além de tomar parte nas cerimônias militares, como paradas e

banda marcial correspondia ao que conhecemos atualmente como banda militar, porém, hoje a banda militar não exerce a função de comando de guerra e a variedade e quantidade de instrumentos é bem maior. No cenário brasileiro, a terminologia banda marcial existe em algumas corporações militares a exemplo da Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais pertencente à Marinha do Brasil, formada aproximadamente por 120 músicos militares que, tradicionalmente, realizam apresentações públicas e desfiles com grande desenvoltura performática em suas evoluções.

A Banda Marcial do corpo de Fuzileiros Navais, considerada uma das maiores bandas marciais do mundo, está estabelecida na Fortaleza de São José na Ilha das Cobras, situada no interior da baía da Guanabara, pertencente ao Estado do Rio de Janeiro. O diferencial é a utilização de gaitas de fole escocesas em sua instrumentação que foram presenteadas pela Marinha Americana. Esse fato ocorreu em 1951 quando o navio americano nomeado de Cruzador Tamandaré foi integrado à Marinha Brasileira, e essa ofertou a bandeira brasileira ao navio. Em agradecimento, a Marinha Americana presenteou a Banda Marcial brasileira com 16 gaitas escocesas.13

A Banda Marcial detém forte tradição e tem divulgado a Marinha do Brasil e o Corpo de Fuzileiros Navais. A banda é bastante solicitada para apresentar-se em todo o território brasileiro, devido à sua aprimorada técnica nas evoluções executadas por seus componentes, causando grande entusiasmo ao público apreciador. Essa prática tem influenciado a criação de fanfarras nas escolas brasileiras, considerando a banda marcial um modelo e exemplo para as bandas escolares. Além disso, essa prática tem contribuído para a manutenção da tradição de bandas nas cidades e principalmente no interior14.

13 https://www.mar.mil.br/cgcfn/cfn/marcial.htm (Acesso em 02/09/2011) 14 Ibidem.

Figura 5- Chefe (34); Bombo (30); Pratos (31); Caixa surda (29); Caixa de guerra (28); Tarol (27); Corneta (26); Gaita escocesa (10); Pífaro (9). Fonte: (REIS, 1962)

A figura 5 compreende a organização da histórica Banda Marcial do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha do Brasil, que mantém a mesma estrutura e instrumentação da sua constituição original, até os dias hoje. É importante destacar que além do Mor, a banda possui outro chefe representado na figura pelo número 34. Além dos bombos, caixas de guerra, caixas surda e cornetas, a banda marcial tem o diferencial de incluir os pratos, as gaitas escocesas e os pífaros, conferindo uma maior riqueza timbrística.

Em fins da década de 1950, no Brasil, as bandas marciais se transformaram ganhando novo contexto e outra conotação voltada para o ensino de música nas escolas brasileiras. Essas bandas surgiram em substituição ao projeto encabeçado por Villa-Lobos que incluía a formação de banda de música. Segundo Holanda Filho (2010), o instrumental das bandas marciais era constituído por um grande número de instrumentos de percussão e cornetas. Os seus integrantes eram jovens estudantes dos educandários, dos quais não era solicitado pré-requisito de possuir formação musical para compor a banda. O repertório era

constituído somente de “marchas batidas” (as músicas clássicas e populares eram excluídas)

para ordenar os passos dos alunos componentes, pelos logradouros, em ordem unida.

O surgimento das bandas marciais tem uma estreita relação com a indústria musical, pois o incentivo dado pelos fabricantes de cornetas e instrumentos de percussão às bandas – com o objetivo de participarem de festivais e concursos –, fazia com que a corporação consumisse cada vez mais seus produtos. Consta-se que em cada apresentação eram gastos em média trinta peles de bombo, surdos e taróis, pois o desgaste dos instrumentos, ocasionado pelas constantes pancadas fortes dos instrumentistas, acabava por perfurá-los. A indústria do fardamento também se insere na lista dos produtos que são consumidos pelas bandas, uma vez que a cada ano as vestimentas são renovadas (HOLANDA FILHO, 2010).

As bandas marciais – idealizadas numa formatação educacional para a prática musical nas escolas públicas e também privadas –, ganham notoriedade a partir dos concursos promovidos inicialmente pela Rádio Record e, num momento posterior, por várias outras organizações em nível nacional, estadual e municipal, que mobilizam músicos instrumentistas, regentes, balizas, coreógrafos e outros, na busca por premiações e reconhecimento perante a comunidade. Esses campeonatos são o reflexo do fomento ao aprendizado instrumental com vistas à formação de bandas nas instituições de ensino.