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Aspetos dinâmicos e Modelação estatístico-dinâmica

4.2 Dinâmica dos regimes de DEA

4.2.3 O Regime SREG

O único regime identificado para o período de Verão (Maio–Setembro) tomou como prefixo a letra S (Summer). Neste regime, tanto o campo médio diário de MSLP como o de T500 indiciam que as condições de instabilidade atmosférica têm causas regionais (REG). Assim, tal como no regime regional de Inverno (WREG), também a este regime de Verão se adicionou o sufixo REG, ficando apelidado de SREG (summer regional regime).

Através da Figura 4.9 podemos analisar o comportamento dos campos médios diários da

MSLP e do vento (à esquerda), bem como da HGT500 e T500 (à direita). Esta figura (à esquerda) mostra dois núcleos de pressões muito intensos e em oposição. Por um lado, temos o anticiclone dos Açores posicionado no seu local de origem e a estender-se em crista para as Ilhas Britânicas, formando uma barreira às linhas de corrente de oeste. Por outro lado, temos um centro depressionário invertido, localizado no Norte de África e a expandir-se para norte em direção a PTC.

A PI nesta época do ano apresenta valores elevados de temperatura do ar na baixa troposfera, devido ao mais rápido e forte aquecimento da superfície continental e à advecção de massas de ar provenientes do Norte de África. Os processos de convergência e convecção são comuns no interior da PI. Ora, se essas condições na baixa troposfera são fruto do aquecimento da superfície e da advecção de massas de ar vindas do quadrante sul, nos níveis mais elevados o favorecimento da instabilidade deve-se à intrusão de ar frio na média troposfera, como mostra a Figura 4.9 (à direita). O compósito da média diária de T500 dos 186 dias do regime SREG mostra que sobre PTC os valores se situam entre –14º C e –13º C. No entanto, este compósito revela também um núcleo frio localizado no norte do país, com valores de temperatura ainda mais baixos, entre –16º C e –14º C. O compósito da média diária de HGT500 mostra igualmente valores mais baixos sobre a PI, que se situam entre 5 750 gpm e 5 800 gpm.

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Fig. 4.9 – Compósito de 186 dias do regime SREG.

À esquerda: MSLP (hPa) e linhas de corrente. À direita: HGT500 (gpm) e T500 (ºC).

A Figura 4.10 apresenta o compósito da PV500 para os 186 dias do regime SREG. Como podemos ver, a distribuição espacial da vorticidade potencial desta figura assemelha-se muito à distribuição espacial apresentada na Figura 4.2 do regime WREG. Verificam-se valores mais elevados de PV500 perto de PTC (regime regional) e que identificam a posição média da “gota fria”, situada na costa oeste de PTC.

Fig. 4.10 – Compósito de PV500 (PVU) dos 186 dias do regime SREG.

Os 186 dias pertencentes ao regime SREG e que registaram atividade elétrica ≥ 25 DEA dia-1 apresentaram as características descritas pela Figura 4.9, ou seja, um contraste térmico elevado entre a baixa e a média troposfera, com temperaturas elevadas à superfície e intrusão de ar frio aos 500 hPa; uma depressão fria e cavada do tipo “gota fria” em altitude; uma

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depressão de origem térmica, com convergência de ar muito quente proveniente do interior da PI e do Norte de África. Os Cb que se desenvolveram nesses dias derivaram dessas depressões térmicas que se instalaram no interior da PI.

Fig. 4.11 – Distribuição espacial cumulativa das ocorrências de DEA (DEA km-2)nos 186 dias do regime SREG.

A Figura 4.11 apresenta a distribuição espacial do total de descargas que ocorreram em PTC no regime SREG. Fica evidente que este regime, além de ser o que agrupa um maior número de dias no calendário de DEA ≥ P50 (186), é também o que revela maior atividade elétrica diária, com uma média de 682 DEA dia-1. Quanto à distribuição espacial deste regime, verifica-se que o grosso das DEA ≥ P50 ocorreu no interior do país de uma forma dispersa, mas sobretudo nas imediações de zonas montanhosas e bacias hidrográficas, onde os máximos acumulados nesses locais atingiram valores superiores a 1,6 DEA km-2. Percebe-se que assim seja, porque os fatores que favorecem o desenvolvimento de Cb encontram-se precisamente nessas regiões. É no interior do país, distante da brisa marítima, que a temperatura do ar é mais elevada e as zonas montanhosas impulsionam com relativa facilidade as massas de ar quentes na vertical.

A Figura 4.12 apresenta a situação de um dia típico com ocorrências de DEA ≥ P50 no regime SREG. Típico do regime em que se insere, mas atípico quanto ao número de ocorrências diárias de DEA que registou. O dia 10/09/2007 apresentou-se como um dia bastante quente, com elevadas temperaturas, que originaram o aparecimento de uma depressão de origem térmica. A distribuição espacial das DEA ≥ P50 neste regime depende essencialmente da

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localização das depressões térmicas, muito embora o efeito da orografia tenha também um papel importante. Assim, com este tipo de situação meteorológica no regime SREG, é comum registarem-se muitas ocorrências de DEA no interior do país, principalmente nas zonas montanhosas.

Esta é uma situação que ocorre particularmente nos meses quentes de Verão e que gera elevada instabilidade atmosférica. Não obstante, essa instabilidade normalmente apresenta curta duração (6 a 12 horas), já que se trata de um mecanismo largamente forçado pelo ciclo solar diário.

A convergência de massas de ar quentes provenientes da bacia do Mediterrâneo e do interior da PI provocam uma profunda convecção e podem originar a formação de nuvens de grande desenvolvimento vertical, formando com frequência TowerCumulus e Cb. A carta de análise

apresentada na Figura 4.12 mostra a depressão térmica instalada no interior da PI e uma linha de instabilidade que se estende desde o norte de África até ao território nacional.

Fig. 4.12 – Análise às 00h00 UTC (carta do MetOffice modificada) e distribuição espacial das ocorrências diárias de DEA (DEA dia-1), no dia 10/09/2007

Comparativamente com os dois regimes de Inverno, o regime de Verão (SREG) é de longe aquele que apresenta maior atividade elétrica, tanto em número de dias como em número de ocorrências diárias de DEA ≥ P50. O exemplo apresentado na Figura 4.12 corresponde ao dia em que se registou maior atividade elétrica em todo o período deste estudo (2003–2009), com um total diário de 4 952 descargas elétricas.

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Na descrição individual dos três regimes de DEA atrás identificados (WREG, WREM e SREG) já se descreveram as características dinâmicas determinantes em cada regime. No entanto, nas secções seguintes é efetuada uma análise mais profunda, sustentada em imagens de satélite e de radar, que descrevem em detalhe a situação sinóptica verificada nos dias considerados mais ativos quanto ao número de DEA em cada regime.

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