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O relacionamento entre os autodenominados marxistas e os tenentistas

1.2 O general Waldomiro Lima e o Partido Socialista Brasileiro de São Paulo

1.2.1 O relacionamento entre os autodenominados marxistas e os tenentistas

Ao mesmo tempo em que o PSB-SP se organizava em torno da interventoria do general Waldomiro Lima e elementos oficialistas e oportunistas procuravam ganhar destaque, outros, originalmente socialistas e que tinham mais afinidade com o marxismo e alguma experiência com o movimento operário, também se apresentavam em público. Um dos primeiros manifestos de sua lavra, já com o Partido organizado, foi o lançamento da efêmera revista quinzenal Socialismo, dirigida pelo imigrante Francisco Frola.

Francisco Frola nasceu em Torino, em 1886, em uma família abastada. Desde jovem se aproximou dos socialistas e de sua militância, o que lhe rendeu sérios problemas familiares, fazendo com que imigrasse para a “América” e trabalhasse como operário. Em 1911, retornou ao país e se filiou ao PSI e passou a militar na imprensa partidária. Durante a I Guerra Mundial, foi convocado, o que lhe gerou muitos problemas com o Exército. Em 1919 foi eleito deputado, não conseguindo sua reeleição em 1924. Fugiu para a França em 1925, devido à perseguição movida pelos fascistas89.

Veio ao Brasil em 1926, a convite de Antonio Piccarolo, então principal personagem socialista na luta antifascista dentro da colônia italiana em São Paulo, para dirigir La Difesa. Piccarolo alegou problemas pessoais para continuar na direção do jornal. Segundo João Fábio Bertonha, Piccarolo não conhecia Frola. Este aceitou e veio, sofrendo dificuldades para desembarcar no Brasil, já que o governo italiano insistiu para que ele fosse impedido de fazê-lo. Essa situação gerou uma campanha antifascista renovada e a favor de Frola, inclusive na imprensa brasileira. Começando a trabalhar, Frola imprimiu à La Difesa um ritmo totalmente diferente de Piccarolo: seu jornalismo é de combate exacerbado, “quase grosseiro”; ele participou de reuniões, deu palestras e conferências; participou em comícios inclusive em associações operárias e fez isso por quase todo o Sul e Sudeste atuais do país.

Embora também fosse um socialista reformista que valorizava as liberdades democráticas e criticasse o comunismo por sua ditadura, não era anticomunista ferrenho como Piccarolo, o que o fez abrir as portas de La Difesa aos comunistas, libertários e socialistas mais radicais que haviam rompido com Piccarolo. Isso tudo desgostou Piccarolo e seu grupo. A concepção de Frola, segundo Bertonha, era reformista, mas ele

89 BERTONHA, João Fábio, Sob a sombra de Mussolini: os italianos de São Paulo e a luta contra o

considerava que deveria haver momentos decisivos para a construção do socialismo, através da conquista de espaços dentro do Estado pelas classes trabalhadoras e a promoção de reformas pacíficas. Piccarolo era excessivamente moderado e não tinha qualquer perspectiva da construção do socialismo para breve.

Segundo Bertonha, Frola considerava o fascismo como o inimigo principal a ser combatido, visto como uma expressão do domínio de classe da burguesia, o qual deveria ser combatido sem tréguas. Piccarolo considerava o fascismo como um “acidente histórico” que cairia por sua própria degenerescência. A Internacional Comunista considerava o fascismo como expressão do imperialismo, o que Frola e Piccarolo não compartilhavam.

Frola foi um dos fundadores do PSB-SP e, com o Partido, publicou a revista

Socialismo que se propunha quinzenal, mas que em 1933, editou apenas dois números.

A “Apresentação”, publicada em seu primeiro número, de 10 de março de 1933, é a melhor forma de conhecê-la.

O redator, o próprio Frola, declara, na “Apresentação”, escrita em 7 de março de 1933, que o socialismo fazia parte do momento e que o recrudescimento do fascismo era prova disso. “Quando a luta entre o proletariado e o capitalismo passa da fase da predicação para a da realização, aí então, as forças da reação unem-se e criam milícias armadas para a defesa de seus privilégios”90. Logo na abertura, demonstra a intenção de

ampliar o debate do regionalismo para assuntos internacionais prementes, relacionando- os com o próprio socialismo e o combate ao fascismo, que será uma das principais bandeiras de luta do PSB-SP entre o segundo semestre de 1933 e a repressão desencadeada com a derrota da insurreição comunista-aliancista de novembro de 1935.

Em relação à economia, a própria situação internacional de imersão na Grande Depressão – “a crise econômica internacional” – exigia que se tomassem iniciativas enérgicas para detê-la e revertê-la. E essas iniciativas não podiam ser tomadas pelos próprios capitalistas dentro dos marcos de seu sistema. De forma resumida, considerava que a crise nada mais era que o descompasso gritante entre a “produção e o consumo que se refletia no desmoronamento do crédito”. Sua pior conseqüência social era o desemprego que ameaçava “ofuscar” a “civilização”, com o aumento vertiginoso da miséria das classes populares. Frola condena o protecionismo nacional que suscitava tensões políticas entre os países e aprofundava a crise do comércio internacional. Todas

as iniciativas dos defensores do capitalismo – até ali – resultaram ineficazes para debelar a crise provando-se, com isso, a incapacidade do sistema em promover o bem- estar geral. A solução para a ruína geral estava em se “eliminar a causa principal: o regime capitalista”.

A tarefa da revista Socialismo era diagnosticar todos os males do sistema e aqueles provocados por seus administradores incapazes. Deveria ainda cultivar a “esperança” pela instauração de um “sistema de melhor equação econômica, de maior solidariedade social, de mais firme justiça e da mais segura liberdade”91.

O proletariado, ao mesmo tempo em que lutava contra o capitalismo, devia desenvolver formas para “afrontar a crise” e minorar seus sofrimentos e privações. Uma dessas formas defendida por ele era o cooperativismo.

Paralelamente à luta contra a crise, os partidos socialistas deviam sustentar a “luta para a conquista do poder político” esse objetivo se justificava pela “interferência entre economia e política”. Da mesma forma, essa luta exigia ainda maior solidariedade entre o “socialismo e a democracia internacional”. O capitalismo, com sua miopia expressa na busca incansável pelo lucro, privava os homens de suas liberdades efetivas e se opunha como “obstáculo ao desenvolvimento da personalidade individual”. Nesse ponto, Frola insere valores liberais e talvez, até libertários, na sua concepção de socialismo e marca a defesa das liberdades democráticas como um dos pontos máximos do Partido. Ele esclarece a importância da luta insistente pelo socialismo dentro dos marcos democráticos, como um processo lento de conquistas. Cita Kautsky sem referência:

“A revolução social é uma profunda transformação de todo o edifício social, feita justamente com a fundação de uma nova forma de produção. É este um longo processo que pode durar dezenas de anos e para o encerramento do qual não se pode estabelecer limites fixos”92.

Frola fixa dois pressupostos básicos para os princípios socialistas que são o reconhecimento da existência da luta de classes e a essência das propostas de socialização dos meios de produção e troca. Os partidos socialistas deviam desenvolvê- los conforme as realidades e particularidades em diferentes países. Nesse ponto, encontramos um elo entre o tenentismo que se preocupava com as formas nacionais para a resolução das crises e problemas de cada país, no caso do Brasil, e a social-

91 Idem, p. 2. 92 Idem, p. 2.

democracia defendida por Frola. Notemos ainda que se fala em Revolução, mas não em sua ênfase política, senão na da transformação social e econômica. A conquista do poder político era uma questão e organização socioeconômica e de vitória político- eleitoral para esses socialistas, o que poderia demorar décadas. “O socialismo não vem por milagres”, mas “gradualmente, por sucessivos desdobramentos”.

Esses socialistas juntamente com elementos de origem tenentista e, ou, apoiadores do tenentismo e os representantes do oficialismo parecem ter trabalhado sem atrito até as eleições de maio de 1933 e mais, até a demissão do general Waldomiro Lima da Interventoria de São Paulo. Uma prova disso foi a “Reunião de Propaganda do Partido Socialista Brasileiro” no salão Cervantes, na capital do Estado.

“(…)

Nessa reunião, a que compareceu grande número de socialistas e proletários da capital, foram discutidos importantes problemas sociais, políticos e econômicos, principalmente sob o ponto de vista nacional e em face da organização do novo regime, para o qual o país caminha com a aproximação do pleito eleitoral para a Constituinte”93.

Nesse encontro a palavra foi usada pelo Dr. Passos Cunha, Alcântara Tocci – importante quadro da Legião Cívica 5 de Julho e personagem próximo ao general Miguel Costa – Carmelo S. Chrispino, Eugênio Polichetti e Francisco Frola, que homenageou o socialista italiano Filippo Turatti. Paulo Tacla esteve presente na composição da mesa, sendo citado como oficial de gabinete do general Waldomiro Lima. Tomando por referência o que a reportagem indica, tanto os socialistas reformistas, quanto os tenentistas expuseram suas idéias e seus programas de formas complementares, já que a discussão de problemas econômicos e sociais era fundamental aos reformistas e enquadrá-los dentro do “ponto de vista nacional” o era para os tenentistas e oficialistas, como indicado na análise da documentação.

Outro elemento de ligação entre o socialismo reformista de corte social- democrata com o tenentismo foi o discurso proferido por Celso Barroso94 durante o Congresso do PSB-SP na noite de 20 de abril de 1933, no Teatro Municipal de São Paulo, ao qual esteve presente o próprio general Waldomiro Lima.

Nesse documento de treze páginas, encadernado na forma de livreto, o médico do serviço de saúde pública de São Paulo e ex-representante paulista no Congresso

93 A Platéa, 10/04/1933, p. 6.

94 Discurso do Dr. Celso Barroso proferido no Congresso do Partido Socialista, no Teatro Municipal, na

Revolucionário do Rio de Janeiro95, Celso Barroso, conclama os “cidadãos congressistas” que, no meio do discurso chamará repetidas vezes de camaradas, a lutarem pelo Partido com afinco e em termos militares caros ao tenentismo.

Vós representais, neste momento, entre as organizações partidárias reconhecidas pelo Estado, a ala esquerda, o setor mais avançado da frente de batalha da política nacional. Sois, para o programa de vosso partido, os batedores que, embora ainda oscilantes e medrosos, hão de abrir caminho às reivindicações do proletariado, rumando assim, no sentido das modernas concepções históricas e sociais96.

O autor declara que os representantes do PSB-SP eram os “guerreiros incansáveis na luta entre o capitalismo reacionário agonizante” auxiliado pela

“Internacional Capitalista” [sic] e as “massas trabalhadoras guiadas pelas leis naturais

do materialismo histórico e pelas razões inamovíveis das forças econômicas”. Barroso usa fartamente metáforas militares em sua exposição, assim como menções ao materialismo histórico e ao materialismo dialético, dentro do viés do economicismo determinista e de influências ditas naturalistas à teoria da Evolução das Espécies.

Segundo o autor, a agonia do capitalismo decorria de “séries de erros” e de suas contradições expressas pela crise que se manifestava através da injusta distribuição de riquezas e anárquica circulação de bens. Chega mesmo a usar termos liberais para condenar o protecionismo e as barreiras alfandegárias.

Barroso denuncia a apresentação da solução fácil da “Internacional Capitalista” para a crise: “a Guerra”. E ela era o recurso próprio e fundamental do imperialismo. Todos os recursos utilizados pelas classes dominantes e seus doutores, segundo ele, não só eram inúteis ao combate à crise econômica, como até agravavam-na. Nesse sentido, a vitória do socialismo era certa e tinha o respaldo da própria “evolução” da economia e da sociedade:

Camaradas, a vitória do socialismo e das novas doutrinas econômicas e sociais baseadas na melhor distribuição da riqueza para o bem-estar coletivo, vós bem o sabeis, nem depende de nós, nem depende do Brasil ou de qualquer outra nação, porque está assegurada pelo próprio materialismo histórico e pelo próprio desenvolvimento natural da economia, de acordo com as leis da dialética marxista97.

95 A Platéa, 21/04/1933, p. 6.

96 Discurso do Dr. Celso Barroso proferido no Congresso do Partido Socialista, no Teatro Municipal, na

noite de 20 do corrente, p. 3. APESP, DEOPS, Pront. n.º 5.159.

Esse conceito apresentado acima tem características positivistas na forma do cientificismo que era próprio do ambiente intelectual brasileiro, como afirma Leandro Konder, e foi relativamente comum em muitas formulações da Segunda Internacional, especialmente na década que antecedeu a I Guerra Mundial, como afirma o mesmo autor98. No que toca ao PCB, afirma que a combinação de elementos positivistas com o stalinismo que chegava “maciçamente” ao Brasil no começo dos anos 1930, serviu aos jovens militares que aderiam ao partido por conta da aproximação de Prestes dos comunistas através de suas declarações públicas99. Poderíamos especular que isso também serviu para atrair militares tenentistas ao socialismo tenentista, mas enfrentaríamos alguns problemas, uma vez que somente o PSB-SP apresentou esse discurso abertamente, estando ele ausente dos discursos da Legião Cívica 5 de Julho de São Paulo e da Bandeira dos Dezoito. Notaremos que João Cabanas, o expoente máximo do tenentismo nas fileiras do PSB-SP, não proferiu discursos do mesmo quilate e nem com os mesmos elementos.

Mas, a despeito dessa certeza “científica” da vitória do “novo” sobre o “velho”, do esclarecimento da natureza do capitalismo e da eclosão da crise como consequência, as oligarquias a negavam. Inclusive, negavam até mesmo a “questão social” explicitada no país pela atuação do proletariado. Celso Barroso chegou a recorrer às figuras de Tiradentes, Frei Caneca, Patrocínio, Luiz Gama considerando suas histórias como provas da ancestralidade da luta de classes no Brasil.

O programa do PSB-SP, aprovado desde o Congresso Revolucionário do Rio, representava um avanço à esquerda do Governo Provisório na compreensão das questões acerca da crise econômica e suas conseqüências sociais no Brasil. Nesse mesmo congresso, os representantes paulistas e paranaenses formaram a “primeira linha de combate” na discussão sobre as reivindicações proletárias. Com essa atuação conjunta conseguiu-se a aprovação da sindicalização livre e o direito de greve. “Votamos lá, em matéria de legislação social e assistência o que há de mais avançado nesse assunto. No que se refere à mulher grávida proletária, chegamos a lhe conferir os mesmos direitos que lhe concede o regime soviético russo”100.

98 KONDER, Leandro, A derrota da dialética: a recepção das idéias de Marx no Brasil até o começo dos

anos 30. São Paulo: Expressão Popular, 2009, 2.ª Ed.

99 Idem, pp. 218-225.

100 Discurso do Dr. Celso Barroso proferido no Congresso do Partido Socialista, no Teatro Municipal,

Esses representantes paulistas e paranaenses lutaram e conseguiram a aprovação de reivindicações sobre a extinção dos latifúndios; instituição do sistema cooperativista; manutenção do Estado leigo e instituição do divórcio à vínculo. “No que se refere à educação, higiene e saúde pública, então o nosso programa é inteiramente socialista, com diretrizes definidas, com finalidades francamente marxistas”101.

Para Barroso, o programa do PSB-SP consiste na síntese do programa do general Waldomiro Lima em conjunto com as teses aprovadas no Congresso Revolucionário do Rio. “Certo é que, em alguns pontos, o partido adota um socialismo moderado. Mas, também é certo que, em algumas partes fundamentais, este toma rumos marxistas”.

Evidentemente, o marxismo referido por Barroso era a social-democracia européia e em parte, a ortodoxia kautskyana. Essa tendência se aprofundou mais entre o segundo semestre de 1933 e o primeiro do ano seguinte.

Malgrado ao marxismo afirmado, o próprio autor admite que o Partido ainda estava afastado das massas proletárias e isso era um grande problema na medida em que a persistência desse afastamento poderia desviar a organização para a direita e levá-lo à negação de sua essência. Urgia, portanto, corrigir essa situação, aproximando-se mais das organizações dos trabalhadores e atuando com elas e dentro delas.

No que se refere à escolha dos candidatos do Partido às eleições para a Constituinte, marcadas para maio daquele ano, Barroso concitava os delegados a escolher os mais cultos e preparados para defenderem o programa partidário perante a burguesia. Evidentemente, referia-se a si próprio, já que seu discurso estava repleto de metáforas cientificistas, médicas e militares e dava a entender que o autor era perito em história, economia e dominava conceitualmente o materialismo histórico, havendo diversas citações do nome de Marx. Dever-se-iam esquecer para a escolha, motivo do congresso, amizades e outros vínculos pessoais e se pensar apenas no fortalecimento do Partido. Esse fortalecimento dar-se-ia através da defesa clara e competente de seu programa na tribuna da Constituinte e na imprensa. E, cada militante devia fazer o mesmo cotidianamente em seus meios sociais e profissionais.

Em seguida, Barroso expõe uma tendência política que se acentuou cada vez mais: a crítica aos rumos que a Revolução de 1930 estava tomando.

“Camaradas revolucionários, é, na verdade, profundamente lamentável termos que afirmar, leal e sinceramente, que a revolução vitoriosa de 30 não soube ou não pôde tomar um rumo seguro, um caminho certo que nos pudesse, pelo menos, dar, pela

bravura de seus atos, pela solidez e segurança na ação, a certeza de que não recuaríamos, não contra-marcharíamos jamais, por ser sempre a de avançar, de avançar para a esquerda, a palavra de ordem. Entretanto, talvez por temor, por heterogeneidade de comando e da tropa, pela mentalidade de ação e principalmente – por que não dizê-lo [?] – pela falta de princípios e de diretrizes, não temos vivido senão em continuadas oscilações, em freqüentes recuos, cedendo sempre, quase nunca avançando”102.

Tanto a valorização da Revolução de 1930 e o louvor à luta contra as oligarquias, quanto a crítica ao desvio e aos recuos que ela sofria, eram temas caros ao tenentismo. Principalmente para a ala que começava a se posicionar à esquerda do Governo Provisório. Os desvios e recuos eram as concessões às oligarquias que participaram da composição da Aliança Liberal e até mesmo àquelas vencidas em 1930 e, novamente, na guerra civil paulista de 1932.

Barroso termina afirmando que a crise que assolava o Brasil era reflexo da crise internacional, já que o país era capitalista e ligado intimamente às economias inglesa e norte-americana. Dessa forma, não era possível sair da crise com “simples medidas de caráter local”. De qualquer forma, o país precisava se dirigir para uma forma republicana mais justa, “moldada nas novas concepções econômicas e sociais”. Urgia vencer “pela evolução ou pela revolução”, pois afinal, os trabalhadores brasileiros não passavam até então de “vencidos”103.

Esse é um discurso ambíguo, no qual se tem a garantia da vitória do ideal proposto independentemente da ação dos homens, assim como a resolução da pesada crise econômica que assolava o país independia das ações nacionais, e, ao mesmo tempo, lamentava que soluções não estivessem sendo tomadas para resolver, ou minorar os efeitos da crise sobre o povo. A despeito da certeza “científica” da vitória futura, longínqua do socialismo, conclamava os socialistas e o proletariado em geral à luta. Apelaria à força, se a reforma social fosse obstaculizada.

Pelo exposto acima, vemos a aproximação e atuação conjunta entre socialistas reformistas, tenentes e seus simpatizantes dentro do PSB-SP. Não podemos deixar de notar também, certa contradição com a orientação política mais ligada ao tenentismo em tratar os problemas brasileiros dentro de uma ótica nacional ou nacionalista. As divergências que eram pouco importantes se tornariam maiores no ano de 1934. E, pelo que pudemos notar na reportagem sobre o Congresso, o discurso do Dr. Celso Barroso

102 Idem, p. 12. 103 Idem, p. 13.

foi o mais importante da noite, mesmo estando presentes eminentes personagens do Partido, como João da Costa Marques, capitão Stoll Nogueira e Paulo Tacla104.

1.2.2 As eleições de 3 de maio de 1933 para a Constituinte

Para as mais diversas forças políticas brasileiras, o evento mais importante desde a derrota militar dos “revolucionários constitucionalistas” paulistas eram as eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, marcadas desde antes do conflito, para 3 de maio de 1933. A própria organização de partidos socialistas e social-democratas a partir da fundação do PSB, no encerramento do Congresso Revolucionário do Rio de Janeiro, em fins de novembro de 1932, se deu em função desse pleito eleitoral. Conseqüentemente, o foco do PSB-SP era eleger o máximo de representantes nessas eleições.

Os motivos político-ideológicos socialistas contavam para que seus militantes se empenhassem duramente na campanha, mas mais ainda, os objetivos políticos da Interventoria do general Waldomiro Lima, que apoiava e influenciava sobremaneira o Partido. Havia uma séria disputa entre as forças políticas oligárquicas paulistas, derrotadas militarmente em 1932, mas não politicamente e as forças vitoriosas nos