PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
2.1. O RIGENS DO TERMO
Para Hibbing (1988), a institucionalização legislativa é um dos nomes dado à mudança
institucional. Esse conceito tem recebido diversas variações, mas a idéia geral é de que as
organizações mudam com o tempo, perdendo e adotando certas características e qualidades.
Imagina-se que o tempo e a experiência as tornem mais complexas, autônomas, coerentes,
adaptáveis e universalistas. Acredita-se que a institucionalização seria o processo pelo qual o
corpo legislativo, nesse caso, adquire uma forma definida para realizar suas funções.
Ao realizar outro estudo, Hibbing (1999) chega à conclusão de que o ponto principal
para se analisar, compreender e tentar generalizar os padrões de mudança sofridos pelos
corpos legislativos, deve levar em conta as respostas encontradas pelos estudos sobre
mudança institucional:
[...] Scholars disagree about the primary source of institutional, and therefore legislative, change. At the risk of oversimplification, some see the shape of legislatures as being determined primarily by the legislators themselves. Others see the shape of legislatures as being determined primarily by external forces – technological changes, alterations in the public mood, the activities of the other institutions, etc.(Ibid.,p. 154).
Para o autor, existem estudos sobre a mudança institucional focados na influência das
forças internas, que geralmente partem dos pressupostos da Escolha Racional12. Ou seja, adotam o pressuposto de que os indivíduos são maximizadores de suas preferências,
moldando o corpo legislativo de modo a alcançar seus interesses, independentemente de quais
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A Teoria da Escolha Racional baseia-se no individualismo metodológico, visão de que as teorias sociais devam basear-se nas atitudes, crenças, decisões e comportamentos dos indivíduos. O comportamento individual explica os fenômenos sociais. Admite-se os seguintes pressupostos para os indivíduos: 1) são capazes de ordenar suas preferências de maneira transitiva; 2) fazem suas escolhas de modo a maximizar sua satisfação; 3) possuem racionalidade instrumental e buscam a maximização de status, poder, dinheiro ou ideologia. Diante dessas premissas, os indivíduos optam pelo melhor meio de conquistar seu objetivo (ou satisfação). O modelo ainda prevê que o número de alternativas é finito e reconhece que existem limitações de tempo e de informações, bem como a possibilidade de erro nas escolhas individuais. Além disso, sabe-se que os indivíduos tomam decisões em ambientes de incerteza e risco. Para mais detalhes ver Shepsle e Boncheck (1997).
forem. Entretanto, não há consenso sobre quais objetivos seriam: fazer o bem, distribuir
benefícios para lograr reeleição, ganhar status, poder, dentre outros. Hibbing descreve: “This
disagreement is disconcerting” (Ibid, p. 155).
Apesar disso, uma das vantagens da utilização dos pressupostos e da metodologia da
Escolha Racional é que o foco da análise incide sobre as coerções e as limitações impostas
aos atores. Sendo assim, a ação individual é considerada uma adaptação ótima a determinado
ambiente institucional e se sustenta pela interação dos indivíduos, uma vez que, segundo a
teoria, as instituições determinam o comportamento humano. Portanto, a vantagem da análise
estaria na clareza teórica e no raciocínio dedutivo (TSEBELIS,1998).
No entanto, há outros estudos que focalizam a interação entre o ambiente e a
organização. Baseiam-se na idéia de que o ambiente pode mudar a forma com que os
indivíduos alcançam suas preferências, levando-os a alterar as instituições. Para esse ponto de
vista Hibbing (1999) é direto: “If this is true, however, legislators become mere automatons
and the real variable of interest becomes the environment” (Ibid., p.155).
O pressuposto de que a organização é moldada pelo ambiente em que opera provém da
teoria organizacional aplicada à evolução legislativa:
[...] As it is usually conceived, institutionalization is actually a subspecies of organization theory. For reasons not always specified, institutionalization assumes environmental factors tend to push organizations in a certain direction; specifically, toward greater complexity, boundedness, and standardization. So, in the tradition of organization theory, environmental changes lead to institutional changes. What makes institutionalization distinctive, however, is that it specifies a directionality that is lacking in organization theory. Whereas with basic organization theory the institution in question could move in any direction depending upon changes in the environment, institutionalization implies a process in which the environment is moving in a particular direction (…). Institutionalization allows assumptions to be made about environmental movement. (Ibid., p. 156).
O estudo sobre institucionalização deve ser focado na interação entre as estruturas do
corpo legislativo e os determinantes externos. Entretanto, definir o ambiente externo e o
Diferentemente da visão do velho institucionalismo, as instituições não são vistas
como endógenas, ou seja, criadas e transformadas devido ao ambiente interno da organização,
a exemplo da visão de Weber sobre o racionalismo burocrático. A questão principal é que as
instituições sofrem também influências externas, não operando no vácuo. Ressalta-se,
portanto, a importância do contexto e da balança de poder político, que podem promover
mudanças institucionais (STEINMO, THELEN e LONGSTRETH, 1992).
Segundo a visão de Sison (1973), a noção de institucionalização surge do pensamento
moderno, que considera fenômenos como a mobilização social, a diferenciação de estruturas,
as especificidades funcionais dos papéis sociais e, mais importante, a existência da ação
voluntária – concepção do ser como manipulador e participante das relações sociais. Trata-se
da teoria sobre a mudança social. Então, o conceito é influenciado por essa teoria que explica
a idéia de escolha com o aumento da complexidade da organização social. Além disso,
associa ao conceito a capacidade da ordem pública para manter ou criar as instituições, ou
seja, criar a ordem civil.
Os autores apontam para a mesma direção, a de que a institucionalização é um
processo pelo qual a organização evolui, segue determinada direção. Segundo a análise de
diversos estudos sobre o tema, nota-se que os autores definem padrões, variáveis e
mensuração de diferentes medidas, conforme o foco de seus estudos e a definição usada para
conceitualizar institucionalização. O debate sobre o tema da evolução institucional traz
diversas abordagens, produzindo pressupostos que levam a diferentes conclusões.
Alguns exemplos podem ser encontrados na literatura sobre a força institucional na
América Latina. Segundo Murillo e Levitsky (2006), os pressupostos de força institucional
trazidos das experiências dos países industrializados não podem ser aplicados onde há
apresentam falhas, pois não consideram a verdadeira realidade mas, sim, abordam questões
teóricas e normativas13.
Dentro da ótica da evolução institucional há diversas linhas de estudo. Uma delas é o
path dependence, que admite que as instituições encorajam certos tipos de relação entre elas e
as organizações, incentivando habilidades específicas e identidades políticas e sociais
particulares. Segundo essa visão, o custo para sair desses arranjos é grande, de forma que os
mecanismos acabam por se reproduzir. Assim, o path depencence explica a resistência a
mudanças das instituições, o que não parece ser aplicado em instituições estáveis e fracas
como muitas existentes na América Latina (MURILLO e LEVITSKY, 2006).
Outra tentativa de entender as mudanças institucionais baseia-se na noção de
isormofismo institucional. Powell e DiMaggio (1991) apontam uma homogeneidade nas
formas e nas práticas organizacionais, pois se encontram em determinados campos que
delimitam o grau de interação entre as organizações, provocam o surgimento de estruturas
padronizadas, a disseminação de informações e o desenvolvimento de interesses comuns.
Dessa forma, as organizações se estruturam conforme seu campo organizacional, onde a
tendência segue o isomorfismo, ou seja, a semelhança de uma com as outras. Essa semelhança
não se deve apenas à competição de mercado, mas também às disputas por poder político e à
legitimidade institucional. Assim, monta-se uma teoria que explica as mudanças institucionais
que levam a um resultado: a homogeneização das instituições em razão dos campos
organizacionais.
Essas duas visões de mudança institucional são exemplos de como podem ser tratadas diferentemente as mudanças dentro de uma organização. Há uma grande dificuldade na definição do processo de mudança, das variáveis principais e dos seus resultados. Portanto, a
13
Segundo os autores, muitas regras formais não são impostas e, em alguns casos, até evitadas. Ademais, existem instituições que são contestadas e que não se enraizaram. Os pressupostos de que as regras levariam à cooperação e à previsão de comportamento dos atores estariam errados porque estas regras se regem sob um contexto de incerteza. Outro debate trazido pelos autores é o motivo pelo qual as instituições seriam fracas, ou se é intencional, ou seja, se são feitas para parecerem legítimas e não funcionam, ou se não são intencionais, são criadas para surtir tal efeito, mas não são bem-sucedidas.
metodologia de estudo de caso pode ajudar a compreender tal fenômeno, apontando o que ocorre em cada contexto diferenciado.