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SUBTERRÂNEAS

As ações humanas sempre põem em risco a qualidade das águas subterrâneas. A detecção do processo contaminante das águas subterrâneas, apesar desses aqüíferos serem vulneráveis à poluição, em geral não é imediata, acarretando muitas vezes situações irrecuperáveis dessas águas. SOUZA (2002), apud CARBONELL et al. (1993) ; resumem isso em duas asserções:

* toda água subterrânea é vulnerável;

* toda avaliação de vulnerabilidade é inerentemente incerta;

o que é óbvio podendo tornar-se mascarado e o que é sutil resultar indistinguível. Quando há excesso de poluentes ou de infiltração, os poluentes podem atingir rapidamente o aqüífero; entretanto as propriedades naturais do solo, através dos processos de degradação, oxidação e adsorção que são realizados nas camadas do solo e da zona vadosa, atuam como filtro na depuração dos percolados, fazendo com que a qualidade das águas subterrâneas sob o ponto de vista bacteriológico e químico seja, em geral, muito melhor do que a das águas superficiais. Na sua maioria, a água captada dos aqüíferos subterrâneos dispensa qualquer tratamento antipoluente, excetuando-se apenas os casos de águas subterrâneas em regiões semi-áridas, zonas costeiras e aqüíferos rasos nas áreas altamente urbanizadas. Isso ocorre devido ao fato de que quanto mais raso o aqüífero, maior a possibilidade de ser afetado por contaminantes. Se os meios permeáveis à água, pela troca de materiais com o solo e a rocha, já estão altamente contaminados ou contêm elementos naturais tóxicos, a água pode se tornar contaminada.

O poluente mais comum na água subterrânea é o contaminante dissolvido na água que se desloca à medida que ela se move. Os solutos se precipitam de acordo com o pH. Se for baixo, facilita a precipitação de bases, se for alto, a precipitação de ácidos.

Devido à água subterrânea apresentar um fluxo laminar impedindo que haja uma mistura longitudinal e lateral, a água poluída infiltrada no solo passa a

mover-se segundo uma corrente bem definida, chamada pluma de contaminação. O movimento da pluma poluente influencia também na sua forma. Se existe uma fonte continuada de poluição num sistema de fluxo regional, a pluma assume o formato aproximado de um charuto. Se for, no entanto, uma fonte intermitente, a forma torna-se segmentada, em porções ao longo do seu percurso. Neste caso torna-se mais difícil detectar a extensão da poluição, mesmo porque ao se alocar um poço de monitoramento e o mesmo estiver entre as porções segmentadas, nada será detectado.

SOUZA (2002), apud FEITOSA E FILHO (1997) identificaram mais de 40 compostos orgânicos em águas subterrâneas contaminadas por

chorumes oriundos de plásticos e outros materiais sólidos industriais, em um

aqüífero arenoso nos Estados Unidos.

Como a fiscalização não é muito eficiente, em muitos depósitos de resíduos urbanos o chorume contém substâncias tóxicas provenientes de resíduos industriais líquidos jogados nesses locais, nesse caso contribuindo para maior probabilidade de contaminação do lençol subterrâneo.

Com o passar dos anos, se a destinação do resíduo estiver sendo realizada em locais situados sobre materiais permeáveis, como, por exemplo, areias, cascalhos ou rochas fissuradas, a migração do chorume pode produzir contaminação das águas subterrâneas ao longo de áreas muito maiores do que a ocupada pelos resíduos. Existem relatos na literatura de mapeamento de pluma de chorume com extensão superior a 3 km e mais de 50 m de profundidade.

As águas subterrâneas também podem sofrer contaminação por gases provenientes da degradação do lixo, como o metano, que é formado por atividade microbiológica em aterros municipais que recebem resíduos ou outra matéria orgânica degradável. O metano tem a capacidade de carregar consigo outros gases e em contato com o oxigênio forma uma mistura explosiva chamada grisu. O cloreto de vinila, resultado da degradação bacteriana e oriundo do tricloroeteno (produto utilizado como anestésico e solventes em geral) é perigoso pelos efeitos cancerígenos e se encontra em aterros, dissolvido junto com o metano. (Souza, 2002)

No processo de degradação bacteriana da matéria orgânica são produzidos também compostos sulfurados, conhecidos como mercaptanos, que podem

contaminar o lençol freático, e compostos não sulfurosos como o 2-butanol e o butanoato de etila. São gases fétidos e isto ajuda na sua localização.

Os lençóis subterrâneos também podem sofrer contaminação por material sólido quando esse é transformado em material particulado e sofre percolação da água. Nesse caso, os materiais são normalmente objetos de tamanho grande que estão associados geralmente a aterros de resíduos urbanos. As reações envolvendo as partículas sólidas ocorrem em função da sua superfície específica, e como a área de superfície é inversamente proporcional ao diâmetro da partícula, quando temos partículas sólidas porosas a poluição é maior, devido a essas partículas apresentarem áreas de superfícies bastante grandes.

Os sólidos geralmente se dissolvem quando sob ação da água, mas algumas partículas sofrem absorção pelo solo. Absorção é um fenômeno físico onde moléculas de um gás, líquido, substância em solução ou partículas aderem à superfície de uma substância sólida. Também pode ocorrer a adsorção, nesse caso, temos a assimilação da molécula por outra substância sólida ou líquida com formação de solução ou composto. Ás vezes, o termo sorção é designado para indicar ambos os fenômenos. Os sólidos poluentes raramente deslocam-se para lugares distantes de onde foram primariamente depositados. Infiltração, adsorção, coagulação e precipitação, dentro do meio poroso, remove-os da água. De uma maneira geral as maiores fontes de contaminação de água subterrânea por metais pesados são as altas concentrações de lixos sólidos, resíduos industriais, rejeitos de minas, resíduos de processamento e concentrações de minérios e bacias de decantação de águas usadas das minerações.

Como nosso enfoque se dá em relação aos resíduos sólidos urbanos, a contaminação dos lençóis subterrâneos ocorre se na disposição do lixo no solo não houver a construção de uma barreira de contenção. A importância da preservação das águas subterrâneas da contaminação decorre, do fato de que a recuperação desses aqüíferos é praticamente impossível, devido ao seu pequeno poder de depuração e ao custo altíssimo da regeneração dessas águas.

Em 26 de março de 2001 a Shell contaminou chácaras vizinhas à fábrica de agrotóxicos em Paulinía. Os moradores do Recanto dos Pássaros (local contaminado) realizaram, por conta própria, exames na Clínica Ohswald, em Campinas (SP). Os resultados dos testes de onze pessoas, incluindo duas crianças

de 8 e 12 anos, indicaram a presença de metais pesados, como arsênico, chumbo e titânio, no sangue dos moradores.

Depois destas denúncias, foi “redescoberto” um documento feito a pedido da Cyanamid pela empresa ERM Consultoria em 04 de novembro de 1993, onde estes casos já eram relatados, o que prova que a diretoria da Shell já tinha conhecimento da existência destes aterros clandestinos.

Ela encomendou um laudo técnico sobre contaminação do lençol freático fora da área da empresa. A amostragem em 5 chácaras foi efetuada pela empresa ERM – Environmental Resources Management Inc. e as análises químicas foram realizadas nos laboratórios Lancaster, nos Estados Unidos e do Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.

Os resultados dos dois laboratórios diferem, o Instituto Adolfo Lutz não detectou a presença de materiais orgânicos, incluindo Dieldrin e Endrin, detectados entretanto pelo Laboratório Lancaster em concentrações de até 0.25 ppb e 0.35 ppb respectivamente onde foi possível constatar a presença destes acima dos valores permitidos.(SUASSUNA, 2001)

3.6 IMPORTÂNCIA DO MONITORAMENTO NO ATERRO

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