• Nenhum resultado encontrado

O Sindicato como associação de classe ou fração de classe (a especificidade da

Capítulo I. Teoria da Ação Sindical

4. O Sindicato como associação de classe ou fração de classe (a especificidade da

classe)

Em todas as sociedades cindidas por distinções de classe, houve manifestações de resistência por parte dos produtores diretos, desde formas mais individualizadas até as manifestações coletivas mais agudas como motins, greves, rebeliões e revoluções. Enquanto que nas sociedades pré-capitalistas não se observava a existência de organizações estruturadas que ensejassem movimentos reivindicatórios estáveis, nas sociedades capitalistas, essa resistência tomou uma forma coletiva, organizada e estável com o surgimento de organizações sindicais (Boito Jr., 2001).

A não constatação de que sindicatos são mais do que organizações de interesse, configurando-se em organismos de resistência da classe trabalhadora enquanto classe assalariada inserida na lógica capitalista de produção, tem levado a interpretações inconsistentes ou, no mínimo incompletas, sobre as estratégias sindicais bem como sobre as funções das entidades.

O que pode explicar que teorias insuficientes consigam realizar análises aparentemente consistentes?

Parte do processo de dominação ideológica das classes subalternas dá-se através do processo de “equalização” dos desiguais, organizado pelo Estado Capitalista que destrói o coletivo de classe em prol de uma concepção, segundo a qual, a sociedade seria formada basicamente por indivíduos/cidadãos iguais entre si, seja no plano do status político como, em teoria, no plano das relações econômicas, indivíduos esses que agiriam a partir de uma lógica auto-interessada segundo cálculos racionais e não em termos de classe.

A difusão de uma ideologia que se fundamenta na equiparação do desigual e que obscurece as classes sociais, tende a gerar um ambiente no qual trabalhadores agem não enquanto classe, mas enquanto indivíduos isolados e auto-interessados. É devido à difusão desses pressupostos ideológicos que uma teoria baseada numa concepção que desconsidera a existência de classes sociais pode ser capaz de dar respostas consistentes em contextos específicos.

Porém, a dominação ideológica não se dá sem resistência, e dessa forma, também não se dá por completo. Existem momentos de maior e de menor difusão da ideologia burguesa no interior das classes subalternas e isso depende, em grande medida, do próprio grau de organização dessas mesmas classes, o que se reflete na correlação de forças entre elas e no nível de consciência de seus membros. Como resultado, as teorias que não levam em consideração a existência de classes sociais antagônicas apresentam limitações importantes como ferramenta analítica capaz de dar conta da diversidade das práticas e estratégias sindicais.

As análises marxistas, por sua vez, ao considerarem as classes sociais e a relação de antagonismo entre elas, têm o potencial de cobrir as lacunas que as abordagens anteriores deixam escapar.

Marx e Engels não vivenciaram o período em que o sindicalismo havia se “tornado um fenômeno típico das sociedades capitalista”, tendo conhecido apenas o sindicalismo de

ofício, cujas características estão muito distantes da estruturação, institucionalização,

grandeza e enraizamento do sindicalismo do século XX (Alves, 1992). Logo, as análises realizadas por esses autores sobre a questão sindical são, em certa medida, limitadas, porém isso não significa que elas não sejam importantes ou que devam ser desconsideradas.

Na obra de Marx, há uma tensão constante entre os limites do sindicalismo e suas possibilidades. No contexto em que escreviam e orientados pela perspectiva política de destruição do Capitalismo, Marx e Engels concebiam o sindicalismo como instrumento de organização da classe trabalhadora para seus fins econômicos/corporativos, que por isto relegava a ação e organização dos trabalhadores aos marcos do possível, delimitado pelo sistema capitalista, sendo este o grande limite do sindicalismo. Ao mesmo tempo, os sindicatos poderiam servir de instrumento de organização da classe trabalhadora para seus fins políticos: a organização dos trabalhadores enquanto classe na perspectiva de emancipação da mesma através da destruição do capitalismo. Esse “valor dos sindicatos” é resultado do fato de que é ele quem realiza a unificação das forças de trabalho em oposição ao Capital unificado. Nas palavras de Marx: “A unificação das forças individuais, que até certo ponto tem sido criadas pela classe operária através de suas lutas econômicas, deve servir também de plataforma para sua luta contra o poder político de seus exploradores” (Marx apud Alves 1992:116) para isso, é fundamental que o sindicato transcenda a ação corporativa/economicista adotando a perspectiva de classe, colocando os interesses de classe acima dos interesses corporativos, ou, os interesses políticos da classe (que a unifica) acima dos interesses econômicos da classe (que a divide) (Alves, 1992).

De modo geral, nas análises de Marx e Engels, e podemos dizer também, em algumas análises leninistas mais conhecidas, existe uma separação muito clara entre interesses políticos e interesses econômicos de classe, bem como uma definição objetiva desses mesmos interesses. Essas análises procuram salientar a necessidade de extrapolação da luta meramente corporativa, que seria limitada às reivindicações econômicas, através da articulação entre interesses econômicos e políticos de classe, o que significa o afastamento

do pragmatismo que rege o sindicalismo “economicista” e adesão à estratégia revolucionária.

Os interesses da classe trabalhadora, para esses autores, são objetivos: a redução da exploração capitalista e, por fim, a sua emancipação. Notemos que os autores não trabalham com a idéia de interesse coletivo de trabalhadores ou assalariados, mas de um coletivo específico: a classe. No entanto, os trabalhadores não se identificam enquanto parte de uma classe de forma espontânea, essa identidade de classe deve ser construída na interação com as lideranças. No processo de construção dessa identidade – que alguns autores marxistas entendem como sendo a passagem da classe em si para a classe para si através da consciência de classe – os interesses individuais e corporativos egoístas devem ser superados pelos interesses de classe. Cabe ressaltar, porém, que esse processo não é linear e nem inexorável, e que se faz necessária, para que ocorra, uma ação orientada para esse sentido por parte das lideranças.

Em segundo lugar, com a compreensão de que há uma separação estanque entre interesses econômicos e interesses políticos, pode-se perder de vista que a luta por “interesses econômicos”, como por aumento salarial e por melhorias nas condições de trabalho, traz em si uma dimensão política que pode ou não ser percebida e elaborada pelas lideranças sindicais. Mais do que uma simples articulação entre interesses econômicos e políticos entendidos de forma separada, é a articulação das dimensões políticas e

econômicas dos interesses que deve ser buscada. Em outras palavras, a ação grevista por

aumento salarial não deve apenas ser articulada com a luta pela abolição das classes, mas deve fazer parte da prática sindical a explicitação do caráter político de uma luta por

aumento salarial ou redução de jornada que são parte da luta pela redução da extração da mais-valia num sistema capitalista.

As abordagens marxistas posteriores a Marx e Engels, com o objetivo de entenderem a realidade e especificidade do sindicalismo no século XX e XXI, incorporaram, reelaboraram ou descartaram alguns dos pressupostos marxianos.

Offe e Wiesenthal(1984), em um trabalho entitulado “Duas Lógicas da Ação Coletiva: anotações teóricas sobre classe social e forma organizacional”, procuraram realizar uma crítica das análises sobre a questão sindical baseadas nas teorias da ação coletiva, em especial as de Pizzorno, buscando ao fim, apresentar uma teoria marxista da lógica da ação sindical.

Offe e Wiesenthal afirmam que a ausência de considerações sobre diferenças de poder mais do que uma simples falha das teorias de “grupos de interesse”, é de fato, uma opção declarada e que “o conceito político de “interesse de grupo”, como produto de uma certa “lógica da ação coletiva”, inespecífica em termos de classe, e forma neutra que pode igualmente ser preenchida por “interesses” heterogêneos, desempenha a mesma função de obscurecimento da categoria de classe social, através da prática intelectual de equiparar o desigual” (Offe e Wiesenthal,1984:61).

Sindicatos de trabalhadores e organizações patronais, embora possam apresentar propriedades formais de organização semelhantes como, por exemplo, “a adesão voluntária, uma estrutura mais o menos burocrática de tomada de decisões, dependência de recursos materiais e motivacionais, esforços para alterar favoravelmente os ambientes respectivos” (Offe e Wiesenthal,1984:62), não podem ser equiparados se pretendemos analisar de que maneira cada uma das duas “consegue alcançar o poder através da organização” (idem).

Há diferenças substancias entre os dois tipos de organização que devem ser considerados em qualquer análise sobre a ação desses dois sujeitos coletivos, essas diferenças são tributárias das relações antagônicas de classe.

Offe e Wiesenthal anunciam uma primeira diferença entre ambos os coletivos de classe: o fato de que os sindicatos não são organizações primárias dos trabalhadores, mas sim organizadores secundários, por existirem apenas como contrapeso à empresa capitalista, esta sim organizadora primária dos trabalhadores em um coletivo11. Qualquer tipo de associação dos trabalhadores é uma resposta defensiva ao poder do organizador primário do trabalho. As associações patronais, por sua vez, são respostas à organização própria dos trabalhadores.

No entanto, não é exatamente do fato em si dos sindicatos serem organizadores secundários e as empresas, organizadores primários, que decorre a maior diferença de poder entre eles, mas sim do fato de que a heterogeneidade da força de trabalho, competitividade e a sua individualidade insuperável12 contraposta à centralização do capital no interior da empresas, garantem maior poder aos proprietários de capital do que aos proprietários exclusivamente de força de trabalho.

11 Offe e Wiesenthal entendem que no interior da empresa capitalista, “a forma atomizada do trabalho vivo, que entra em conflito com a forma integrada ou líquida do trabalho “morto”, cria uma relação de poder: o capital (trabalho “morto”) de cada firma está sempre unificado, desde o começo, enquanto que o trabalho vivo esta atomizado e dividido pela competição. Trabalhadores não podem fundir-se, no máximo conseguem associar-se para compensar parcialmente a vantagem de poder que o capital usufrui da forma de liquidez do trabalho “morto””(pg. 65). Disso decorre que, sem que haja associação por parte dos trabalhadores, esses não têm nenhuma condição de melhorar as condições de trabalho ou salário dado que são, individualmente, substituíveis e despossuídos de poder na relação que estabelecem com os proprietários.

12 Individualidade insuperável dada aqui no sentido de que uma força de trabalho não pode ser somada a outra resultando numa força de trabalho única que os unifique. A inseparabilidade da força de trabalho de seu portador garante a impossibilidade da fundição concreta de duas ou mais “forças de trabalho”, as quais se opõem a unidade do Capital que desta situação retira seu poder frente àquelas.

Da heterogeneidade entre os trabalhadores e do fato de que a força de trabalho é inseparável do portador dessa mesma força de trabalho (indivíduo/trabalhador), decorre que os interesses em jogo na relação trabalhista do ponto de vista do trabalhador englobam interesses diversos para além do salário, enquanto que, do ponto de vista dos capitalistas, englobam apenas aqueles referente ao lucro. Há, portanto, uma dificuldade particularmente superior para a organização dos interesses dos trabalhadores, devido à heterogeneidade de interesses dentro da classe, fração de classe ou mesmo categoria, e também, entre aqueles referentes aos diferentes papéis assumidos pelos indivíduos, em comparação à organização dos interesses capitalistas, na qual os interesses dos membros são facilmente reduzíveis a um denominador comum e monetário: o lucro.

Como elemento complicador da heterogeneidade dos interesses a serem organizados pela associação sindical dos trabalhadores ocorre que há uma relação assimétrica entre a dependência do trabalho com relação ao capital e a dependência do capital com relação ao trabalho. A primeira é substancialmente superior à segunda, logo, “a coletividade dos trabalhadores precisa paradoxalmente estar mais preocupada com o bem-estar e a prosperidade do capitalista do que, inversamente, este último se preocupa com o bem-estar da classe operária. Disso decorre que, entre os interesses a serem conciliados pelos sindicatos, inevitavelmente estão presentes aqueles relacionados ao bem-estar e prosperidade capitalista” (Offe e Wiesenthal, 1984). O mesmo não ocorre com as associações capitalistas, sejam elas empresas discretas ou associações empresariais que mantêm a sua pauta de interesses consideravelmente mais restrita.

Dada a correlação de forças apresentada até aqui, como entender que aqueles que estão em posição inferior, os trabalhadores, podem aumentar seu potencial de modificar as

relações de trabalho através de associações dado que essa correlação de forças “provavelmente também não será mudada dramaticamente por essa coletivização do conflito”, segundo a contribuição Olsoniana? (Offe e Wiesenthal,1984).

Utilizando-se dos pressupostos de Pizzorno já apresentados aqui, Offe afirma que “aqueles em posição de poder inferior somente podem aumentar o seu potencial de mudança por meio da superação dos custos comparativamente mais altos da ação coletiva, apenas através da mudança dos padrões de acordo com os quais esses custos são

subjetivamente avaliados dentro de sua própria coletividade. Somente na medida em que

essas associações dos relativamente sem poder conseguirem formar uma identidade coletiva, de acordo com padrões nos quais os custos de organização estão subjetivamente esvaziados, poderão elas esperar mudar a relação de poder original. Por outro lado, somente aqueles que estão relativamente sem poder é que terão razões para agir em termos não individuais, na base da noção de identidade coletiva, simultaneamente gerada e pressuposta por suas associações” (Offe e Wiesenthal,1984:70).

A incorporação, feita por esses autores, de parte da teoria de Pizzorno, e ao mesmo tempo da idéia de conflito e diferenças de classes – proveniente do marxismo –, resulta na constatação de que, mesmo quando se tem um objetivo puramente utilitaristas, as “organizações operárias se vêem forçadas a confiar nas formas não utilitaristas da ação coletiva, que estão baseadas na redefinição de identidades coletivas” (Offe e Wiesenthal,1984:71) dada a sua condição na correlação de forças com o Capital. O paradoxo da ação sindical está dado pelo fato de que “interesses só podem ser defendidos na medida em que são parcialmente redefinidos” pelas próprias organizações sindicais. Dito de outra forma, “organizações nas quais a ação coletiva dos relativamente destituídos de

poder tem lugar precisam sempre ser construídas de modo que simultaneamente expressem e definam os interesses dos membros” (Offe e Wiesenthal,1984:71).

Outro elemento de diferenciação entre associações sindicais e patronais, deriva da necessidade das primeiras gerarem a disposição para agir enquanto que, no caso das associações empresariais, busca-se prioritariamente a geração de disponibilidade para pagar13.

A disposição para agir, necessária à ação sindical, é inevitavelmente abalada caso haja um processo de burocratização resultante de um crescimento exagerado da associação. Esse processo distancia a base das lideranças, que por sua vez, ganharão um grau de liberdade na interpretação dos interesses das bases com a conseqüente perda da sua mobilização. A associação sindical deverá, portanto, procurar otimizar o número de membros ao invés de maximizá-lo, procurando atingir um ponto ótimo de equilíbrio entre força institucional, advinda do crescimento da estrutura, e potencialidade de mobilização, advinda da preservação da democracia interna. Como resultado, os sindicatos serão sempre “forçados a manter um equilíbrio precário entre (...) tamanho e identidade coletiva e entre burocracia (que lhes permite acumular poder) e democracia interna (que lhes permite exercer o poder)” (Offe e Wiesenthal,1984)14.

13 Além de um poder maior nas relações trabalhistas, as associações empresariais ainda possuem um outro “trunfo” que as diferencia das associações dos trabalhadores: a dependência indireta do Estado com relação do capital, que garante a elas uma vantagem de partida e anterior a qualquer ação coletiva, nas buscas dos objetivos políticos dessas associações.

14 A mesma problemática não se aplica às associações empresarias, que obtém a sua força da maximização dos recursos financeiros para a ação advindo do crescimento da estrutura. Dado que os interesses das associações empresariais, muito mais homogêneos, podem ser dados em termos de lucro, não é fundamental a existência de democracia interna. Muito mais importante é a existência de um corpo profissional burocrático capaz de, através de análise pragmática, decidir a ação ótima para a obtenção de lucro.

Dadas as diferenças até aqui apresentadas, Offe caracteriza duas lógicas diferentes de ação coletiva, que de certa forma, possuem paralelo com as “lógicas de ação coletiva” apresentadas por Pizzorno, no entanto, mais do que uma opção, a adoção de uma lógica ou de outra, ou mesmo de um híbrido entre as lógicas, segundo Offe e Wiesenthal, é tributária da localização dos membros potenciais da associação dentro do sistema produtivo, ou seja, depende da classe a qual pertence os membros que representa.

Segundo Offe e Wiesenthal, as duas lógicas seriam: “o padrão instrumental- monológico de ações coletivas contra o padrão dialógico. No primeiro padrão, a associação quase que exclusivamente agrega e transmite interesses: debates sobre os objetivos adequados da organização somente ocorrem, ao nível da liderança. No segundo padrão, a organização desempenha um papel ativo na definição e transformação dos interesses dos membros; a comunicação sobre objetivos é, portanto, pelo menos ocasionalmente estendida às bases (Essa dicotomia descreve as diferenças estruturais entre organizações do capital e do trabalho, na medida em que as organizações do capital podem se dar ao luxo de seguir

exclusivamente a primeira alternativa, enquanto as últimas precisam conciliar ambos os

padrões no interior das organizações)” (Offe e Wiesenthal,1984:81).

Além das críticas até aqui apresentadas às chamadas “teorias dos grupos de interesse”, Offe e Wiesenthal, criticam também a noção de “interesse” defendida por essas teorias.

Como já salientado, Olson e Pizzorno, bem como as correntes de pensamento as quais pertencem, partem do pressuposto de que “o interesse é, do início ao fim, sempre estritamente empírico. Não há outro meio de descobri-lo senão pela observação” (Bentley apud Offe e Wiesenthal, 1984:82). Tomando por interesse real, genuíno, aquele que é expresso, não há sentido nenhum, segundo esses autores, na utilização de conceitos como

interesses “objetivos” ou “verdadeiros”. A imputação de qualquer grau de validade ou de não validade a um interesse expresso carregaria em si, implicações totalitárias.

No entanto, a mera observação empírica seria suficiente para desacreditar essa idéia, segundo Offe e Wiesenthal, devido a não rara manifestação por alguns indivíduos de objetivos contrários aos seus interesses devido à manipulação, auto-engano, impacto da força, ou mesmo a articulação falha de interesses por parte do indivíduo devido a elementos, como, por exemplo, falta de oportunidades e conhecimento dos mesmos15.

Novamente, a crítica de Offe e Wiesenthal apoia-se na ausência da consideração, por parte dos teóricos em questão, sobre as diferenças estruturais de classe, principalmente aquelas de poder entre elas. Há sempre uma possibilidade substancialmente maior de que os trabalhadores venham a expressar interesses “falsos”, do que os capitalistas. Isso se deve à articulação de dois fatores: 1) A busca do interesse capitalista, o lucro, é legitimamente aceito, quando não, estimulada dentro da sociedade; 2) isso se dá porque o interesse capitalista é apoiado pelo Estado, devido à dependência estrutural desse último do processo de acumulação e, portanto, do êxito do Capital em realizá-lo; 3) “para que seja “verdadeiro” seu interesse, o capitalista individual não precisa dialogar com outros capitalistas, a fim de alcançar um entendimento comum e um acordo compartilhado quanto ao que sejam seus

15 Embora não ignorem essa possibilidade, alguns autores contrários a qualquer valoração de interesses, acreditam que o efeito do “falso interesse” é anulado pelas instituições democráticas que têm como principal finalidade, justamente “assegurar a convergência razoavelmente integrada entre interesses expressos e interesses reais” (Bachrach apud Offe e Wiesenthal,1984:84). No entanto, interesses não se limitam àqueles inseridos no plano político e que são passíveis de qualquer tipo de intervenção corretiva” de instituições democráticas, e os que não se limitam à ele “provavelmente terão repercussões substanciais no planto político” (Offe e Wiesenthal,1984:85).

Mesmo no caso de “falsos interesses” não serem anulados através das instituições democráticas, alguns teóricos poderiam supor “que a probabilidade de uma conceptualização equivocada de interesses esteja equitativamente distribuída entre as classes” (Offe e Wiesenthal,1984:86) o que resultaria numa soma zero anulando os efeitos da distorção de interesses.

interesses. Nesse sentido, seu interesse é monológico” (Offe e Wiesenthal,1984:87)16. Do