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Não havendo a delegação de poderes a órgãos comunitários, no âmbito do Mercosul, a aplicação do Direito da Integração é regida pelos princípios do Direito Internacional Público, assim, inexiste um sistema de vinculação direta dos Estados às decisões e normas de direito emanadas do Mercosul.

Como explica Gomes, as decisões do bloco são tomadas por consenso, na presença de todos os representantes de governo dos Países-parte e, para a vigência das normas do bloco, é necessário sua respectiva internalização na ordem jurídica dos Estados, os Estados-membros são obrigados a transpor essas regras para as ordens jurídicas nacionais74, pois todos os poderes soberanos destes encontram-se preservados e todas as decisões são tomadas com base na coordenação de entendimentos.75

Os Estados se vinculam pelos princípios do pacta sunt servanda, previsto na Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados76, e de reciprocidade. Todavia, estes mecanismos, não constituem medidas realmente coercitivas e de sanção pelo descumprimento das normas decorrentes de um tratado, pois carecem de princípios do direito comunitário (primado; aplicabilidade e efeito direto, uniformidade na interpretação e

73 RIO GRANDE DO SUL. Poder Judiciário do Rio Grande do Sul, Processo n 01197608241, sentença de 13 de janeiro de 1998.

74 VENTURA, op. Cit., p. 138.

75 GOMES, op. Cit., p. 136.

aplicação), dependendo, desta forma, da sua vigência na ordem interna de cada país membro. 77

Assim ocorre que, na falta de um organismo fiscalizador e sancionador, capaz de garantir a aplicabilidade das normas internacionais, as resoluções das controvérsias ficam a cargo das instituições intergovernamentais e “não representam, efetivamente, os interesses do bloco econômico, que em verdade são os interesses dos próprios Estados-partes”.78

77As penalidades previstas ao Estado infrator é a “sujeição às sanções estabelecidas no próprio instrumento internaci

a possibilidade do Estado infrator sofrer medidas de efeito equivalente.77. Como um exemplo Gomes cita que no Merc Estados- parte aplicam ao Estado infrator medidas compensatórias como a suspensão de concessões ou equivalentes, visando obter o cumprimento do laudo arbitral.

CONCLUSÃO

A mutabilidade do Direito Internacional tem se posicionado positivo à busca de uma normatização de cunho transnacional. Cada vez mais os Estados soberanos visam elaborar e coordenar sistemas jurídicos que transpassam as fronteiras físicas de seus territórios.

Todavia, todo este processo de unificação merece cuidados especiais para que não sofra interferências de todos os lados em prol de interesses particulares, pois nascerá um círculo vicioso no ordenamento proposto.

O processo legislativo para a regulamentação de normas "supranacionais" com alcance num mundo globalizado deveria ser feita de forma imparcial e de forma que a regulamentação transnacional se torne efetiva.

Com efeito, a ordem jurídica comunitária, assim como a comunidade de direito dela dependente, só sobrevivem na medida em que o seu respeito e a sua garantia sejam garantidos. Isso é possível a partir do princípio da aplicabilidade direta do direito comunitário e o seu primado sobre o direito nacional. Estes princípios salvaguardados pelo TJCE contribuíram de forma definitiva para a aplicação uniforme do direito comunitário em todos os Estados-membros da CE. Apesar das lacunas ainda existentes neste direito, ele constitui instrumento característico da realidade globalizada.

A questão do clássico conceito de soberania, que surge ao se tratar de organizações e instituições de integração de caráter supranacional, naturalmente é transformado e surge um moderno conceito de soberania no Direito Internacional Público, moldado à realidade dos processos integracionistas. A soberania antes tida como uma, indivisível, inalienável e imprescritível torna- se mais flexível e vista como uma soberania compartilhada, cujo primado é a consecução dos interesses comunitários e o bem estar comunitário, pois o próprio bem estar está relacionado com o desenvolvimento comunitário.

Para este desenvolvimento, o estabelecimento de instituições supranacionais que garantam a efetividade do direito comunitário é necessário e o sucesso destas instituições

jurídicas supranacionais depende do sucesso do processo de unificação dos Direitos, interno e externo, para a garantia destes direitos e deveres.

A evolução dos meios de produção e de comunicação enfatizou a globalização (regionalização, por exemplo) e intensificou a demanda, além de leis internas que possibilitem a integração, dos processos mais eficientes e seguros de solução de controvérsias, seja entre os estados, seja entre os particulares. Assim, em se tratando do movimento de formação de blocos regionais, a efetividade das normas jurídicas tornou-se um importante elemento de integração.

Por esta razão os Estados, em processo de integração econômica, através de tratados internacionais, vêm atribuindo competências jurídicas sobre determinadas matérias a órgãos e tribunais supranacionais regidos por um direito comunitário, fundado na harmonização e uniformização da legislação.

Desta forma, esta unificação é o resultado do exercício da soberania interna. Insistir na afirmativa de que está havendo a “alienação da soberania” dos Estados é retroceder aos primórdios do Direito Internacional, quando os aspectos internos da soberania, que privilegia as relações internas dos Estados, era priorizado e criava barreiras para a realização dos modernos processos de integração. Trata-se da flexibilização do conceito de soberania. Esta flexibilização torna possível a aplicação de normas externas ao regimento interno dos Estados e, também, a incorporação de Tratados na legislação nacional.

A criação de instituições supranacionais permite uma manutenção da soberania compartilhada e a vigência de um equilíbrio entre os Estados. Tendo em conta a abertura das fronteiras possibilitando maiores liberdades e, para que este espaço de liberdade, de segurança e de justiça tenha verdadeiro significado, é necessária a articulação de um sistema eficiente que garanta o pleno exercício destas liberdades dentro dos limites estabelecidos.

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