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3 ABORDAGEM TEORICA: UMA INTERFACE ENTRE TEORIAS

3.3 O Sociofuncionalismo

No Brasil, a interface teórico-metodológica entre a Sociolinguística Laboviana e o Funcionalismo vem recebendo a denominação de Sociofuncionalismo. Esta vertente de análise da língua, por sua vez, não constitui uma teoria, mas uma nova abordagem, voltada para os aspectos discursivos da variação.

Segundo May (2009), embora haja pontos conflitantes entre estes dois postulados teóricos – funcionalismo e sociolinguística – tal aproximação torna-se necessária, na medida em que uma perspectiva pode ampliar “os horizontes da outra, fazendo surgir uma terceira proposta, mais ampla, que nos oferece ainda mais ferramentas para que cerquemos nosso objeto satisfatoriamente.” (MAY, 2009, p. 70). Seria, portanto, injusto considerar que o estudo somente pelo viés da sociolinguística ou do funcionalismo não fosse capaz de abarcar a complexidade do objeto estudado, mas sim que o casamento desses dois estudos com pontos de vista ora convergentes ora divergentes só tem a enriquecer a análise do estudo pretendido.

E apesar da existência de princípios teóricos divergentes entre a Sociolinguística variacionista e o Funcionalismo, no que diz respeito não só a definição do objeto de investigação científica (regras (in)variáveis versus motivações funcionais), mas ao método de análise, é possível a realização de pesquisas linguísticas que correlacionam e convirjam essas duas abordagens de análise da linguagem no estudo de um determinado fenômeno linguístico, como será o caso da pesquisa aqui desenvolvida sobre as formas de referência à segunda pessoa. Porém, Tavares (2003) alerta que, em virtude de características comuns e divergentes destas vertentes linguísticas, todo diálogo que houver entre elas deverá ser pautado na diferença.

Segundo Tavares (2003), tanto o Funcionalismo quanto a Sociolinguística tem como escopo de análise a língua em uso, cuja natureza heterogênea abriga a variação e a mudança; o

corpus de estudo é constituído por situações reais de comunicação entre falantes que

interagem entre si; a mudança linguística é vista como um processo contínuo e gradual, difundido ao longo do âmbito linguístico e do social, com alterações contínuas em termos de frequência; a língua é analisada a partir da complementariedade entre dados sincrônicos e diacrônicos; e “a maioria das inovações é passageira. Apenas algumas são repetidamente reutilizadas e, caso aceitas pela comunidade de fala, podem ser cada vez mais difundidas”. (TAVARES, 2003, p. 17-18).

No que diz respeito às diferenças existentes na forma de compreender o objeto analisado, Tavares (2003) aponta alguns aspectos dessemelhantes entre essas duas abordagens como: no funcionalismo, os aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos são compreendidos como discursivos, uma vez que só ganham existência no discurso proferido; na sociolinguística, não há uma atribuição notória aos elementos constitutivos do discurso e/ou pragmáticos no escopo da análise.

Tanto no funcionalismo como na sociolinguística a frequência das ocorrências é um fator importante para o estudo da difusão linguística e social da mudança. Porém, para o funcionalismo, ela indica o estabelecimento e a manutenção da gramática, enquanto que, nos estudos sociolinguísticos, há uma necessidade de recorrência das formas para a análise e comparação através do instrumental estatístico. Quanto à relação entre os fenômenos

linguísticos e a sociedade que usa a língua, no funcionalismo, de acordo com Tavares (2003,

p. 117),

(a) a mudança espalha-se de forma gradual ao longo do espectro social; (b) costuma haver diferença entre falantes mais velhos e mais jovens, no caso de mudança em progresso; (c) forças sociais atuam no surgimento de inovações e em sua disseminação sociolinguística. Inspiração na sociolinguística variacionista para os itens (a) e (b), empregando seus conceitos e mesmo termos. Ampliação dos preceitos da sociolinguística no item (c).

A Sociolinguística comunga das mesmas concepções do funcionalismo quanto aos itens (a) e (b), dispostos acima, pois ela foi a vertente da Linguística, pioneira nos estudos dos aspectos sociais dos fenômenos de variação e mudança, principalmente em incorporar restrições sociais às regras variáveis (cf. TAVARES, 2003). A seguir, apresentaremos um quadro sintético (cf. TAVARES, 2003) que resume os principais pontos díspares entre o casamento do funcionalismo com a Sociolinguística, com o objetivo de atentar-se para os aspectos teórico-metodológicos mais peculiares de cada vertente teórica, como também lançar um olhar mais detalhado para os pontos conceituais, em que tais diferenças chegam a estreitar-se pelas opções metodológicas e em outros momentos alargarem-se cada vez mais.

Quadro 4 - Síntese das características divergentes entre funcionalismo e sociolinguística (cf. TAVARES, 2003, p. 117-120).

FUNCIONALISMO SOCIOLINGUÍSTICA

ü O termo mudança envolve o surgimento das inovações e difusão social destas;

ü O termo mudança refere-se à difusão social das inovações e analisa o grau de difusão através das distribuições sociais dos elementos linguísticos;

ü Os mecanismos de mudança envolvem a reanálise, analogia, metáfora, metonímia, dentre outros;

ü Não destaca mecanismos de mudança;

ü As camadas de um domínio possuem a mesma função;

ü As Variantes de uma variável possuem o mesmo significado referencial;

ü A variação é decorrente da mudança; ü A mudança decorre da variação; ü As especializações das camadas de um

domínio são manifestadas através de preferências de uso, condicionadas por contextos sociolinguísticos;

ü Análise do condicionamento de grupos de fatores linguísticos e sociais sobre o uso das variantes; o que revela o quadro de distribuição de cada uma delas quanto aos contextos sociolinguísticos. Detém-se com mais rigor na investigação dos contextos prediletos de cada variante, buscando detalhar a ação combinada dos diversos fatores sobre cada situação de uso;

ü As situações de estratificação tendem a ser solucionadas com o passar do tempo. Uma situação em que uma função gramatical é expressa por duas ou mais formas linguísticas tende a mudar para uma em que a função é expressa por apenas uma forma;

ü Situações de variação tendem a ser solucionadas com o passar do tempo, do que deriva que as regras variáveis tendem a se tornar categóricas;

ü Soluções possíveis para situações de estratificação:

(a) especialização por generalização; (b) especialização por especificação;

ü Soluções possíveis para situações de variação:

(a) uma variante prepondera sobre as demais; (b) as variantes assumem papéis diferentes;

ü Tratamento empírico dos dados, com quantificação estatística.

Vale-se de frequências.

Não possui instrumental estatístico específico;

ü Tratamento empírico dos dados, com quantificação estatística.

Vale-se de frequências e pesos relativos;

ü Dados coletados em diferentes corpora (conversação, jornais, revistas etc.). A postura mais defendida é o emprego de dados provindos de fontes diversas;

ü Dados coletados preferencialmente em entrevistas sociolinguísticas, para a obtenção de um grande número de ocorrências, difíceis de serem extraídas da fala cotidiana, mas necessárias para a aplicação do

instrumental estatístico;

ü A função a que serve a gramática é prioritária e determinante de seu uso pelos falantes. A gramática é um processo em andamento, sempre emergindo rumo a sua constituição, mas nunca chegando a constituir-se de fato, pois sofre constantes alterações por conta das características do manancial de onde deriva e onde existe: seu uso por falantes;

ü A prioridade é a estrutura. A língua - e, por tabela, a gramática - é tida como um sistema regido por regras (in)variáveis;

ü Não destaca regras formais. Focaliza relações de diferentes graus entre funções e formas. Cabe ao estudioso buscar estratégias recorrentes de organização do discurso, mapeando, dessa forma, as regularidades;

ü Destaque para regras formais abstratas, que descrevem formalmente a inter-relação sistemática entre os condicionamentos internos e externos à língua;

ü As estruturas tendem a refletir e a ser alteradas por causa da pressão exercida por motivações funcionais (entendidas como cognitivas, comunicativas e sociais).

ü As motivações consideradas relevantes são as estruturais e as sociais. A função não exerce motivação significativa sobre a constituição da estrutura ou sobre a variação e a mudança.

FONTE: Adaptado de Tavares (2003).

Correlacionando os pontos em comum e os pontos divergentes entre as duas propostas expostas acima, obtém-se um novo campo de estudo, convergido dos princípios variacionistas e funcionalistas, sob o codinome de Sociofuncionalismo. Esta nova área é guiada pelos parâmetros de estudo linguísticos mais aprofundados e desenvolvidos tanto da sociolinguística como do funcionalismo. Há momentos em que a conversa na diferença entre estas vertentes linguísticas é mais consensual na convergência para o Sociofuncionalismo, como no trabalho voltado para a língua em uso, na análise de trechos reais de conversação entre sujeitos, na percepção da mudança como um ciclo ininterrupto e progressivo e na observação dos dados tanto no eixo sincrônico como diacrônico (adotando principalmente, do paradigma funcionalista, a observância do processo de gramaticalização em andamento, através das faixas etárias).

Há outros momentos em que o nível consensual do diálogo vai diminuindo, mas sem impedir, é claro, a existência deste. No caso, por exemplo de análise das variáveis estruturais da língua (fonológicas, morfológicas, sintáticas e semânticas), o Sociofuncionalismo adota o

contexto discursivo de suas realizações, para melhor compreender as motivações da variação e analisa a frequência de uso das ocorrências dessas variáveis como um fator fortalecedor para o estabelecimento e manutenção da gramática da língua, como também para averiguar os estágios de gramaticalização, princípios estes, todos advindos do Funcionalismo.

E para investigar com maior profundidade a relação entre língua e sociedade, o Sociofuncionalismo baseia-se nos estudos pioneiros da teoria da variação na associação de fatores sociais a regras variáveis, como também no tratamento empírico dos dados a partir de análise quantitativa operada sobre o valor estatístico de frequências e pesos relativos. Tais mecanismos são utilizados com o intuito de verificar os rumos da mudança na língua.

Porém, nem sempre o encontro entre os pressupostos teórico-metodológicos do Funcionalismo e Sociolinguística se adequam, segundo Tavares (2003), como componentes de um quebra-cabeças, pois o Funcionalismo e a Sociolinguística possuem foco bem diferenciado no que diz respeito ao objeto central de estudo sobre a língua. Assim no Funcionalismo a prioridade é o estudo da função, ao investigar relações de “diversos graus entre funções e formas no processo de re-sistematização constante da língua e ao considerar motivações funcionais (e também estruturais) como subjacentes à organização da gramática” (TAVARES, 2003, p. 122), isto é, ao processo de variação e mudança linguística. Por outro lado, a Sociolinguística variacionista define como

objeto central a estrutura linguística, buscando estipular regras estruturais variáveis que incorporam os condicionamentos linguísticos e sociais que influem na seleção das formas variantes e considerando motivações estruturais e sociais como subjacentes à organização da gramática, à variação e à mudança. (TAVARES, 2003, p. 122).

Convém aqui ressaltar o que Pires (1999) argumentou, ao referir-se a este casamento realizado na linguística: “o conhecimento se constrói na conversa na diferença, sem que com isto seja necessário supor um mesmo projeto em comum” (PIRES, 1999, p. 314). Poderíamos dizer que as diferenças existentes entre esses dois pontos de vista não eliminam a possibilidade de um diálogo pacífico e produtivo para a análise do objeto em estudo, assim como contribuições científicas significativas na área investigada poderão ser dadas. Para Paiva (1998), essa agregação da ferramenta quantitativa variacionista a uma visão de língua como instrumento de interação permite

incorporar na análise de fenômenos gramaticais nuances semânticas das variantes e o pressuposto de que a forma linguística sofre restrições impostas pela necessidade de adequação discursiva e pragmática. Faz ressaltar, assim, a importância de aspectos textuais (como distribuição de informação), interacionais e cognitivos (como iconicidade) na distribuição das formas linguísticas. Depreende-se, dessa

forma, o que para muitos críticos do variacionismo constitui a condição essencial de existência do sistema linguístico: a distintividade entre as formas. Se uma forma está disponível no sistema linguístico, ela só garante a sua sobrevivência sob a condição de dizer algo que não pode ser dito por uma outra. (PAIVA, 1998, 91-92).

Sendo assim, é possível postular a existência de variações entre as formas de tratamento do Português Brasileiro e, ao mesmo tempo, observar as restrições funcionais de alternância entre elas, pois embora constituam formas diferentes, na fala, para a referência ao mesmo estado de coisas, esta alternância entre as formas pode representar tarefas comunicativas distintas, intenções diferenciadas e práticas linguísticas diferenciadas. É por isso que, para Givón (1993), tais formas em variação estariam a serviço da forma como o falante, dependendo de sua intenção comunicativa, organiza a informação para o seu ouvinte, levando em conta o tipo de situação comunicativa, cujos pólos extremos e opostos são representados pela “formalidade e informalidade” dessa situação (cf. GIVÓN, 1993, p. 264).

Porém, não é recente a percepção de que fatores semânticos, discursivos e pragmáticos podem motivar a escolha entre uma ou outra forma linguística disponível na gramática do falante, para dizer ou representar o mesmo estado de coisas. Lavandera (1977) em crítica à postura teórico-metodológica de Labov (1972), sobre a pergunta norteadora dos estudos sociolinguísticos labovianos, por que alguém diz algo, argumenta que tal pergunta poderia ser interpretada como um “para quê32?”, isto é, “para quê alguém diz algo33?” (LAVANDERA, 1977, p. 171) e desta forma situaria a pesquisa sociolinguística dentro de um marco funcionalista, o que segundo a autora contribuiria para melhor se captar os tipos de informações que as diferentes formas linguísticas podem comunicar.

Por isso, para Lavandera, expandir o conceito de regra variável a níveis de análises morfológicas e sintáticas, utilizando os mesmos métodos desenvolvidos na variação fonológica, como feito em Labov e Weiner (1977) no tratamento de diferentes construções sintáticas do inglês (ativa e passiva), tratadas com equivalência semântica, como em um par de postulados sinônimos “o armário de bebidas foi arrombado34 versus eles arrombaram o armário de bebidas35” limita significativamente a noção de significado referencial. Para a

autora, na Fonologia, seria mais convincente aplicar o conceito de regra variável proposto por Labov, como sendo duas formas referencialmente existentes para designar a mesma coisa, do que quando tal forma de análise expande-se, por exemplo, para a sintaxe, como nos exemplos acima citados.

32 No original: “what for”

33

No original: “what does anyone say anything for?” 34

No original: “the liquor closet got broken into”. 35 No original: “They broke into the liquor closet”.

Por isso, Lavandera (1978, p. 174) questiona o conceito, proposto por Labov (1972), para variantes de uma variável linguística, pois para o autor “a variação social e estilística pressupõe a opção de dizer ‘a mesma coisa’ de maneiras diferentes”, isto é, as variantes são idênticas em valor de verdade ou referencial, mas se opõem em sua significação social e/ou estilística. Contrapondo-se a este conceito, Lavandera (1978), argumenta que Labov (1972) não opera as devidas modificações teóricas ao modelo, quando aplica a mesma concepção de variante, empregada aos estudos fonológicos, no campo da variação sintática.

Quero mostrar que é inadequado para o estado atual da investigação sociolinguística estender a outros níveis de análise de variação a noção de variável sociolinguística originalmente desenvolvida com base em dados fonológicos. Os estudos quantitativos de variação que lidam com alternância morfológica, sintática e lexical sofrem com a falta de uma teoria articulada de significados36. (LAVANDERA, 1978, p. 171- tradução nossa).

A crítica desenvolvida por Lavandera (1978) direciona-se ao fato de que é impossível, no campo da sintaxe, manter o conceito de variável sociolinguística como duas formas estruturalmente diferentes e opcionalmente disponíveis, significarem a mesma coisa, em um mesmo contexto comunicativo, pois em unidades morfológicas e sintáticas não há a manutenção do mesmo referente, haja vista que tais categorias gramaticais, já carregam por definição um significado referencial, diferente do ocorrido com os fonemas, que carregam consigo uma referência constante, conforme a autora. Esse é o caso deste trabalho que aborda sobre as formas de referência à segunda no PB, tu você e o(a) senhor(a). Embora convenha esclarecer aqui que acreditamos que podemos lidar sim com variáveis morfológicas, seguindo o conceito laboviano, porém a análise destas críticas torna-se pertinente nesta tese, para compreendermos melhor o crescimento da proposta variacionista laboviana.

Por isso, Lavandera (1978) afirma que “estamos perdendo em estender de modo abrangente o conceito de variável para "cada vez que o falante possuir várias opções37", pois não se deve abandonar na análise sociolinguística, o significado referencial das formas em alternância. (LAVANDERA, 1978, p. 173 – grifos nosso).

Não considerar as diferenças de significado entre as formas alternantes de fato caracteriza uma das polêmicas levantadas por Lavandera (1978), pois as variáveis fonológicas sinalizam significação estilística e social e não necessitam ter significado referencial,

36

No original: “I want to show that it is inadequate at the current state of sociolinguistic research to extend to other levels of analysis of variation the notion of sociolinguistic variable originally developed on the basis of phonological data. The quantitative studies of variation which deal with morphological, syntactic, and lexical alternation suffer from the lack of an articulated theory of meanings.” (LAVANDERA, 1978, p. 171).

37

No original: “I think we are losing in extending so comprehensively the concept of variable to "whenever the speaker has to option”.

enquanto que as variáveis não fonológicas se definem de tal modo que quando tem significado social e estilístico, possuem também significado referencial, o que para a teoria da variação “é considerado o mesmo para todas variantes38” (LAVANDERA, 1977, p. 176). Esta posição teórico-metodológica, segundo Lavandera (1977), descartaria todas as nuances de possíveis significados referenciais existentes entre tais formas, e necessitaria-se então da existência de uma teoria referencial, isto é, do significado, para ancorar tais análises. O que Lavandera (1978) questiona é se

esse fundamento de clara equivalência semântica pode ser abandonado para se realizar o mesmo tipo de estudo de variação com unidades sintáticas e morfológicas para os quais é necessário ser comprovado que significam "a mesma coisa" para serem tratados como evidência da variabilidade, e, além disso, se a equivalência semântica deve de fato ser uma exigência39. (LAVANDERA, 1978, p. 175 – grifos do autor – tradução nossa).

Para a autora, além da interferência de fatores sociais e estilísticos na escolha entre diferentes formas em alternância, tais formas linguísticas explicitam também uma motivação funcional do falante, coordenadas pelos seus propósitos comunicativos. Porém em resposta a todas estas críticas tecidas por Lavandera (1977), Labov (1978) reconceitou as variantes de uma variável linguística, como sendo representadas pelo mesmo “estados de coisas” (LABOV, 1978, p. 7), foi o que Bühler (1934), citado por Lavandera, chamou de “significado representacional”. Segundo Labov (1978) “dois enunciados que se referem ao mesmo estado de coisas têm o mesmo valor de verdade” (LABOV, 1978, p. 7). É nesse ponto que se torna perceptível a inserção dos instrumentos e aparato teórico-metodológico da sociolinguística laboviana para além do nível fonológico da língua e admite-se a inserção de fatores pragmático-discursivos nas análises quantitativas variacionistas.

Labov (1978), ao reconhecer que uma variável pode ser constituída também por formas alternantes que não apenas indicam na língua o mesmo significado literal em todos os contextos interacionais comunicativos, mas apenas o mesmo ‘estado de coisas’, mesmo que as formas apresentem aspectos semânticos, pragmáticos interacionais distintos ou semelhantes na fala, se ainda assim convergirem para o mesmo referencial ou estado de coisas, isto é, a mesma função comunicativa (não necessariamente o mesmo significado), podem-se tornar formas variantes de uma mesma variável.

Para Labov (1978), uma análise de regra variável não é apresentada como uma

38 No original: “referential meaning is held to be the same for all variants”.

39 No original: “What I will be questioning is whether that ground of clear semantic equivalence can be abandoned to carry out the same kind of study of variation for syntactic or morphological units which have to be proven to mean 'the same' to be treated as evidence of variability, and furthermore, whether semantic equivalence must in fact be a requirement at all”.

descrição da gramática, mas um dispositivo para descobrir sobre a gramática. Então, é claro que alguns resultados suportaram o modelo inicial de pesquisa e análise e outros desacreditaram. Segundo o autor, Lavandera (1978) estaria correta em dizer que o resultado de uma análise da variação sintática em si não é um achado interpretável. É a explicação das restrições variáveis que levam a conclusões sobre a forma da gramática.

Portanto, a partir deste estudo empreendido por Labov (1978) em resposta a Lavandera (1978) tornou-se possível, dentro do enfoque sociolinguístico, incluir novos pontos

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