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2 A ROÇA DA ESTÂNCIA

2.2 CENAS HISTÓRICAS

2.2.1 O Sul em Movimento: o gado e as primeiras estâncias

No século XVI, quando da chegada dos europeus nas terras Sul americana, sua parte mais meridional foi palco de disputas pela ocupação do território entre portugueses e espanhóis. Um tratado assinado em 1492, o tratado de Tordesilhas, demarcava as partes de ambos os reinos.

De um lado os portugueses esforçavam-se para manter o domínio da costa do Atlântico Sul. De outro, os espanhóis concentravam-se a margem da foz do Rio da Prata, chegando a navegar pelo rio Paraná e Paraguai, estabelecendo vilas e feitorias até Assunção. Restava o interior para ser explorado e dominado. A maior dificuldade encontrada pelos exploradores portugueses foi o contato com os contrafortes da Serra Geral. Essa formação de relevo abrupto e de considerável altitude interrompia o contato simples, de uma rota direta, entre a costa e o interior do continente. A solução era chegar por “trás” da elevação, vindo da bacia do Rio Uruguai, ou tentar “abrir” uma picada por onde houvesse a possibilidade de “subir” ou “descer” a serra e estabelecer uma ligação direta. Talvez, naquele momento fosse o gado, o maior fomentador, para estabelecer uma rota segura entre o mar e a serra.

Foi a capitania de São Vicente, doada a Martin Afonso de Souza que, em 1538, recebeu as primeiras cabeças de bovinos trazidos para o Brasil e que, supostamente deveriam ser a origem do gado riograndense. “Do rebanho resultante daqueles animais pioneiros, foram vendidas, em 1555, algumas cabeças destinadas ao Paraguai onde, já por volta de 1600, constituíam apreciável rebanho” (FORTES, 1981, p. 53).

Os padres jesuítas, juntamente com os espanhóis, chegaram ao Sul da América e se empenharam em catequizar os índios:

Com o fim de alimentar os milhares de índios aldeados nas reduções, os jesuítas, por sugestão do padre Cristóvão de Mendoza, resolveram adquirir, no Paraguai, uma tropa que viesse a ser a base do rebanho a desenvolver na região missioneira, entre as reduções. Foi assim que, em 1634, o

próprio padre Mendoza conduziu, desde as estâncias paraguaias, uma tropa de 1500 cabeças, originárias do gado vicentino. Esta tropa foi distribuída pelas diferentes missões onde, rapidamente, se multiplicou. (FORTES, 1981, p. 53).

No século XVII, as investidas dos bandeirantes vicentistas, no processo de captura e apresamento dos índios aldeados, levaram, porém, a maior parte deste rebanho a se dispersar pelos campos e matas gaúchas, tornando-se assim semisselvagens, sendo chamado “gado chimarrão”. Foram aos missionários jesuítas, os responsáveis pela introdução de gado na província riograndense, com o objetivo de introduzir a pecuária na região das Missões.

Ainda no século XVII, em 1680, Portugal lançou-se ao empreendimento da fundação da Colônia do Sacramento, na margem esquerda do Rio da Prata, em frente ao reduto espanhol de Buenos Aires, fundada no século XVI. Para tanto, a fundação da Vila de Santo Antônio dos Anjos da Laguna, assim como o povoamento do litoral do Rio Grande do Sul, ocorre em “virtude da necessidade de apoio à colônia do Sacramento e de estabelecer ligação entre a costa e as estâncias do interior” (PIAZZA, 2003, p. 37).

Em 1684, o português Domingos de Brito Peixoto iniciou a fundação de Laguna. É a partir dessa povoação que os portugueses lançam-se a conquista dos territórios mais ao Sul, como é o caso dos campos de Viamão. “Na ocasião, muitos habitantes da região de Laguna, por determinação do Governador de São Paulo e atraídos pela criação de gado, dirigiram-se para as terras riograndenses, passando assim a povoar os pampas” (PIAZZA, 2003, p. 55).

Por essa época era comum o transporte ser feito via mar. O território continuava pouco conhecido e as rotas terrestres ainda eram diminutas. Por isso se dava a ligação das vilas portuárias como Laguna e Rio Grande mais ao Sul da província de São Pedro. Só com as instalações das estâncias no interior, principalmente a das proximidades dos campos de Viamão é que se deu a necessidade de abrir uma rota terrestre.

No Rio Grande do Sul a posse da terra e do gado, segundo Sandra Pesavento (1990, p. 15), “foi definida pelo regime de sesmarias, o qual possibilitou o início do estabelecimento das estâncias por volta de 1730”. As sesmarias, terras medindo em tese 3 léguas por 1 légua (cerca de 13.000 hectares), eram concedidas como retribuição a serviços militares

prestados, não sendo exigido aos beneficiados, futuros estancieiros (ex- tropeiros ou militares que haviam dado baixa), a disponibilidade de recursos econômicos, “dado que diferenciava o processo de concessão realizado na Província de São Pedro do praticado no Nordeste, por exemplo” (PESAVENTO, 1990, p. 15). Ainda segundo Pesavento (1990, p. 15), a doação de terras em forma de sesmarias foi iniciada, no Rio Grande do Sul, “na região que se estendia de Tramandaí aos campos de Viamão, passando por Gravataí e um pouco mais ao Sul, acompanhando o caminho dos tropeiros no exíguo Rio Grande português da época”.

Uma Carta Régia de 1722 chegava a São Paulo, determinando a abertura do “Caminhos do Sul”. A intenção era fazer uma ligação das estâncias sulinas, próximas à lagoa dos Patos com a feira de Sorocaba para o transporte do gado. O primeiro caminho a ser aberto foi o “Caminho dos Conventos” – que subia a serra – em 1730, sob o comando de Souza e Faria.

Para as primeiras Estâncias:

Coube ao lagunista João de Magalhães o papel pioneiro de implantar, no Leste riograndense, as primeiras estâncias. A fundação da Colônia do Sacramento tornou aconselhável a criação de núcleos que, ao longo do litoral Sul, constituíssem verdadeiros pontos de apoio às novas povoações do rio da Prata. Tendo sido fundada em 1684 a povoação de Laguna, recebeu Francisco de Brito Peixoto, seu Capitão-Mor, a incumbência de criar condições que assegurassem a linha de comunicação terrestre com a Colônia, impedindo, ainda que os espanhóis se fixassem no litoral riograndense. Desincumbindo-se de sua trabalhosa missão, mandou Brito Peixoto, em 1725, que seu genro, João de Magalhães, alcançasse as terras riograndense, pelo litoral, percorrendo-as até o Sul. Assim procedeu Magalhães e acompanhado de mais trinta lagunistas, chegou até o canal do Rio Grande. De seus companheiros destacou-se Cristóvão Pereira, que se tornou hábil tropeiro, campeador das coxilhas Gaúchas e que sugeriu, em 1727, a construção do caminho do Morro dos Conventos. Por esse caminho seria levado, para o Norte, o abundante gado das campinas do Sul. Foram os

tropeiros que, ao longo da faixa litorânea, instalaram os primeiros fogões, isto é, as primeiras estâncias do Rio Grande, que se transformariam, com o correr dos anos, em vilas e cidades. Magalhães alcançou a região de Viamão, em cujos arredores se fixaram alguns de seus companheiros, iniciando o estabelecimento de estâncias para o gado. Outros porém, prosseguiram rumo ao Guaíba, em cujas margens localizaram seus domínios. Nasce daí a cidade de Porto Alegre a partir da doação de três sesmarias. (FORTES, 1981, p. 54).

O caminho dos conventos unia o caminho terrestre “dos gados” próximo ao litoral, com o caminho da serra, no alto planalto, aberto por vicentistas e tropeiros, ainda no século XVII, que chegava à Sorocaba, o grande mercado de bovinos.

Os lagunistas conheciam bem os caminhos do Rio Grande desde a origem de sua vila. A contar em 1715, pelo menos, os homens de Francisco de Brito Peixoto iam ao Sul para domar gado selvagem (possivelmente aqueles oriundos das missões jesuíticas), e trazê-lo para os campos de Laguna, onde formavam avultados rebanhos. Sobretudo depois de 1721, data em que Brito Peixoto recebeu o título oficial de Capitão-Mor de Laguna, com jurisdição até o “Rio Grande de São Pedro”, os lagunistas ampliaram seu trânsito em direção ao Sul. As idas e vindas tornaram-se quase contínuas depois que alguns lagunistas criaram estâncias nos campos de Tramandaí e Viamão.

Quanto aos paulistas, começaram a chegar nos idos da década de 1730. Em 1728 o sargento-mor Francisco de Souza Faria, por ordem do governo de São Paulo, abriu a estrada dos conventos:

que escalava a Serra Geral no vale do Araranguá. Em 1732, Cristóvão Pereira de Abreu melhorou esse acesso pelo planalto. A partir de então, transitaram [na região] de Torres vários grupos de SP e até MG, descendo a serra em Araranguá e de aí tomando a via praiana para o Sul. Na volta passavam com tropas de centenas de cabeças de gado equino para levar a feira de Sorocaba, SP. (RUSCHEL, 1995, p. 29).

Entre os tropeiros que, constantemente, através do “Caminhos do Sul”, demandavam aos campos de Viamão, encontrava-se Antônio Corrêa Pinto. Corrêa Pinto sugeriu a fundação de uma vila no alto da serra. Seus argumentos, para a fundação da vila, estavam relacionados “não só com a proteção das habitantes da região, mas com o desenvolvimento da agricultura e das fazendas de gado e também como elemento estratégico contra as investidas dos espanhóis” (PIAZZA, 2003, p. 57). A povoação foi assentada numa colina próxima ao rio das Caveiras. Foi elevada à categoria de vila em 1771 com o nome de Nossa Senhora dos Prazeres das Lages.

Nesses dois primeiros séculos de povoamento europeu na porção de terra que vai de Laguna ao Rio Grande, nota-se a necessidade de assegurar as terras, distribuindo-as a militares e a pessoas que detinham atribuições próximas dos interesses da Coroa quanto ao reconhecimento e defesa do território. Neste caso, a abertura de uma via terrestre era de extrema importância. Percebe-se a partir de então que a abertura de estradas apenas próxima ao litoral ou no alto da serra não era suficiente, mas também, nesse caso a ligação dessas duas porções se fazia necessária, sendo o Caminho dos Conventos o primeiro a fazer a ligação entre a serra e o litoral atravessando os vales da encosta.

Figura 01 – Serra Geral

Planalto Brasileiro – Serra Geral Fonte: Wikipédia, biblioteca livre, 2012 █ Planície Litorânea e Pampa

Durante boa parte do Brasil colonial, além das atividades implantadas no litoral que visavam os pescados, o transporte e a defesa territorial, o Caminho do Sul foi fundamental para a implantação das primeiras fontes econômicas sustentadoras da instalação e permanência das pessoas e o povoamento no interior da região. Foi a partir dela que

outras rotas foram abertas e muitas vilas foram fundadas. Os espanhóis e portugueses continuaram sua expansão territorial, posteriormente o que valeu para essa questão fronteiriça foi a posse das terras, daquele a quem chegou primeiro. Foi consagrado, a princípio e a partir da ideia do direito romano do uti possidetis, ita possideatis (quem possui de fato, deve possuir de direito). Até o ano de 1822 os portugueses continuaram com as concessões de sesmarias por toda a região interiorana da província do Rio Grande, uma tática para possuir e garantir as terras disputadas.

Com a chegada dos estancieiros nos campos de cima da serra almejou-se ainda mais a necessidade de abrir rotas seguras que conduzissem até o litoral. De fato procurava-se vencer as barreiras naturais das encostas da serra, mas não era um trabalho simples de fazer. Os costões íngremes, a precariedade dos caminhos, os indígenas e a mata densa fizeram dessa empreitada um grande desafio, pouco registrado em documentos. Segundo o historiador Walter Piazza (2003, p. 80), a integração litoral-planalto, durante o primeiro reinado do Brasil Império, tornou-se de tal forma difícil, que foi “alvo de reclamação por parte do primeiro Presidente da Província, quando assumiu em 1824. Só a instalação de colônias ao longo do trajeto é que vai permitir, após 1829, a ligação do litoral, de São José a Lages”. O que para essa pesquisa, a roça da estância (como será demonstrado no capítulo seguinte), possivelmente, demonstrou ser uma forma estratégica e importantíssima de ligação entre o planalto pecuarista com o litoral, perpassando com seus caminhos rudimentares as encostas e vales da Serra Geral. Esse envolvimento entre os locais da roça e da estância, separados geograficamente, gerou a permanência de grupos populacionais nessas localidades, ao qual, a roça fazia-se uma possibilidade. E essa é a novidade introduzida por essa pesquisa, a de pensar no trânsito, nas movimentações que essa microeconomia promoveu, favorecendo em certos aspectos, a permanência de famílias nos vales da Serra geral.

Antes disso, a política de incentivo à colonização do Sul do Brasil teve seu início em 1748 quando famílias açorianas chegaram à Ilha de Santa Catarina. Na Província de São Pedro, ocuparam os campos de Viamão e Porto Alegre e as duas margens da Lagoa dos Patos. A grande atividade econômica desenvolvida inicialmente foi a pesca e a ocupação do território foi caracterizada pela concentração populacional ao invés da procura de grandes extensões de terra.

Não alcançando grandes êxitos com os açorianos, em 1828, o governo central ordenava ao presidente da província de Santa Catarina que instalasse os colonos alemães recém-chegados. O local para o

estabelecimento da colônia foi escolhido pelo sargento mor Silvestre José dos Passos. A escolha recaiu no sertão acima da Vila de São José, as margens do rio Imaruí. A Colônia de São Pedro de Alcântara, “como núcleo populacional, surgiu dentro da política de integrar o litoral ao planalto, no sentido de dar apoio socioeconômico à região e servir de base a qualquer operação militar” (PIAZZA, 2003. p. 81).

No segundo reinado, inaugura-se uma nova página da construção da nação brasileira. A partir da segunda metade do século XIX, começam a chegar as grandes levas de imigrantes europeus em busca de terra e trabalho. Promovidos em partes pela política imperial, os novos recém- chegados colonos, em sua maioria, foram dirigidos para as províncias do Sul, a fim de povoar essas terras e iniciarem um novo sistema econômico que tinha como base a agricultura.

Também é durante o segundo reinado que vai se desenvolver um novo ciclo no processo colonizador brasileiro. Na década de 1840 algumas medidas foram tomadas, embora de forma ainda tímida. Uma delas surgiu através da Lei Geral Nº. 514, de 1848, onde ficou estipulado, entre outras questões relevantes, que “o Governo Geral cedeu a cada uma de suas províncias 36 léguas quadradas de terras devolutas com o fim exclusivo da colonização” (HERÉDIA, 2001, p. 01).

A década de 1850 caracterizou-se por grandes transformações na política colonizadora do Brasil Imperial. A partir daí apresentou-se uma colonização já mais organizada em vistas das primeiras, sem a improvisação até então sentida. O grande triunfo da política renovadora ficou consubstanciado na Lei nº. 601, de setembro de 1850, conhecida como “Lei de Terras” onde a colonização estrangeira passou a receber primordial atenção. Esta lei dispunha sobre as terras devolutas no Império e estabelecia os critérios para a estruturação das colônias agrícolas. Nota- se que nesse momento as colônias recebiam verdadeira atenção por ter a pretensão de dinamizar a agricultura no Sul. Havia um foco que era com a relação da regularização do trabalho, o que passava pela questão da regulamentação das terras ainda não ocupadas, que estivessem vagas, chamadas de terras devolutas. Em seu artigo primeiro, a Lei de Terras determinava: “Ficam proibidas as aquisições de terras devolutas por outro título que não seja o de compra”. Era um contexto no qual a vinda de imigrantes europeus para o Brasil e a crescente pressão pelo fim da escravidão apontavam para uma complexidade social. Em outras partes da lei, o texto, em relação a colonização concedia “que as terras devolutas fossem vendidas por um justo preço, segundo os interesses da

colonização”13, determinando a medição, demarcação e a utilização para

a colonização.

Em 1850, na região do rio Itajaí-Açu foi fundada a sede do estabelecimento colonial que mais tarde viria a se chamar de Blumenau. Após seguiu a instalação de novas colônias, tais como a “colônia Dª Francisca (1851)” em Joinville, a “colônia de Itajaí – Brusque (1860)”, “A Colônia Nacional Angelina (1860)”.

A partir de 1875 começaram a chegar grandes contingentes de imigrantes da Itália. Instalou-se na bacia do rio Itajaí, quer na colônia Blumenau, às margens do Itajaí-Açu, a partir de 1875, quer na colônia Brusque, junto ao Itajaí Mirin e seus afluentes. Daí eles espalharam-se pelo vale do rio Tijucas e alcançaram, também, as margens do rio Luis Alves, onde fundaram a Colônia do mesmo nome.

A movimentação de colonos italianos prosseguiu em direção ao Vale do rio Tubarão, a partir de 1877 (com a fundação de Azambuja) e daí para outros vales do Sul catarinense, como o vale do Rio Urussanga, do Rio Mãe Luzia e, finalmente, do Rio Araranguá, em 1891 é fundado a colônia Nova Veneza. Entre 1921 a 1931, imigrantes italianos tomam posse das terras que hoje corresponde ao município de Jacinto Machado e Turvo no extremo Sul catarinense, localidades muito próximas de Praia Grande (SC).

Por volta de 1876, o Governo Imperial passou a preocupar-se com o Sul da província de Santa Catarina, até então fracamente povoado. A partir daí, novas levas de colonos foram estendendo-se pelo vale do Rio Urussanga, surgindo ali uma rede secundária da colônia. Seguiram-se outras como Pedras Grandes, Treze de Maio, Acioli Vasconcelos (hoje Cocal do Sul) e Criciúma. Das localidades próximas aos Aparados da Serra, São Francisco de Cima da Serra foi elevado a condição de município no ano de 1878, Araranguá no ano de 1883 e São Domingo das Torres (atual município de Torres) em 1890.

No Rio Grande do Sul, em 18 de julho de 1824 chegou a Porto Alegre a primeira leva de 39 imigrantes alemães. Foram então enviados para a desativada Real Feitoria do Linho Cânhamo, localizada à margem esquerda do Rio dos Sinos, aonde chegaram em 25 de Julho de 1824. A seguir foram chegando outras levas e foi tentada a criação das colônias de Três Forquilhas e São Pedro de Alcântara das Torres, outras

13 Documento encontrado em: SMITH, Roberto. Propriedade da Terra e

Transição: Estudo da formação da propriedade privada da terra e transição para o capitalismo no Brasil. São Paulo: Ed. brasiliense, 1990. p. 311.

localidades próximas aos Aparados da Serra. Entre 1844 e 1850 chegaram mais dez mil imigrantes, e entre 1860 e 1889 outros dez mil. Entre 1890 e 1914 chegaram mais 17 mil alemães14. Conhece-se a

respeito disso uma curiosidade:

Quando os alemães chegaram em Torres, não se cogitava de localizar quaisquer deles no Vale do Três Forquilhas. [...] Naquele fim de ano de 1826 choveu muito. O rio Mampituba alagou suas margens e a demarcação atrasou. Os imigrantes acampados em Torres começaram a ficar impacientes; alguns quiseram voltar a São Leopoldo ou Porto Alegre. Só no verão de 1827, meses depois, é que se efetuaram as demarcações. (RUSCHEL, 1995, p. 61).

Os alemães inicialmente ocuparam o vale do Rio dos Sinos, durante a Revolução Farroupilha alguns se deslocaram para Santa Maria, buscando se afastar dos combates. Depois de terminada a Revolução, os colonos se espalharam fundando colônias nos vales dos rios Taquari, Pardo e Pardinho, fundando Santa Cruz do Sul, a Colônia Santo Ângelo e a Colônia de Santa Maria do Mundo Novo. Às margens da Lagoa dos Patos fundaram São Lourenço do Sul15.

No alto das serras sulistas nasceu um Brasil peculiar. Os índios (principalmente da etnia Kaingang) que habitavam a região foram expulsos de suas terras para dar espaço à chegada dos italianos. Ali, os imigrantes criaram vilarejos que remetem àqueles encontrados no norte

14www.ibge.gov.br

15 A partir de 1875, de Piemonte e Lombardia, e depois do Vêneto na Itália,

chegaram os primeiros grupos e instalaram-se nas colônias Conde d'Eu (atualmente a cidade de Garibaldi), Dona Isabel (atualmente a cidade de Bento Gonçalves) e Caxias do Sul. Ali eles passaram a viver da plantação de milho, trigo e outros produtos agrícolas; porém, a introdução do cultivo de vinho na região tornou a vinicultura a principal economia dos colonos italianos. De 1875 a 1914, entre 80 a 100 mil italianos foram introduzidos no Rio Grande do Sul. A colonização italiana foi efetuada no alto das serras, pois as terras baixas já estavam ocupadas pelos alemães. No decorrer do século XX, houve grandes migrações dentro do estado do Rio Grande do Sul. Muitas famílias italianas abandonaram as serras e espalharam-se por todo o Estado.

da Itália. Nas regiões altas do Sul, surgiu um Brasil com influência italiana.

Em Santa Catarina, por exemplo, como era de se esperar, a partir da fundação de colônias, a população da província cresceu. Após a vinda de imigrantes começou um novo processo de urbanização e dinamização da lavoura. Assim como “a industrialização só foi possível graças à formação de capital necessário ao empreendimento industrial que foi resultante do comércio exportador de produtos coloniais” (PIAZZA, 2003, p. 135). Em pouco mais de meio século as terras “incultas” ocupadas pelas colônias passaram a se tornar referência industrial. Todo