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SUMÁRIO

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.3. O TDAH em Adultos e Idosos

2.3.1. Persistência do Quadro e Diagnóstico Tardio

Por muito tempo acreditou-se que o TDAH fosse um transtorno principiado na infância, que com a chegada da fase adulta entrava em remissão parcial ou completa. Desta forma os sintomas até então impactantes, extinguiam ou reduziam consideravelmente seus efeitos sobre o funcionamento e prejuízos decorrentes. Entretanto os resultados de estudos longitudinais sobre o transtorno vieram a demonstrar que crianças com TDAH ao se tornarem

adultas continuavam a apresentar os mesmos sintomas da infância ou permaneciam com sintomas de desatenção (ASHERSON et al., 2016; FARAONE et al., 2006).

A identificação da sintomatologia passou a requerer atenção para alguns pontos. O primeiro ponto refere-se à observação da continuidade e evolução dos sintomas ao longo do tempo. Em adultos com TDAH são frequentemente relatados persistência dos sintomas de desatenção e amenização ou extinção dos sintomas de hiperatividade e impulsividade. Os quadros de TDAH que apresentam tais características podem dificultar o processo diagnóstico. Isto porque os sintomas de desatenção do TDAH muitas vezes se mostram mais gerenciáveis do que os sintomas de hiperatividade e impulsividade de maneira que as manifestações se tornam discretas e difíceis de identificar. Este fato pode conduzir ao diagnóstico falso-negativo (BIEDERMAN et al, 2000). O segundo ponto refere-se ao conceito de remissão utilizado durante processos diagnósticos. Existem três tipos de conceitos que constantemente embasam os estudos sobre o TDAH em adultos. O primeiro conceito está relacionado à remissão sindrômica e refere-se à perda da sintomatologia completa, o segundo está relacionado à remissão sintomática e refere-se à perda da sintomatologia subliminar, e o terceiro conceito está relacionado à remissão funcional e refere-se à perda da sintomatologia subliminar apresentando recuperação da funcional. A referência de remissão sintomática é recomendada como referência para o diagnóstico em adultos, pois muitas vezes há redução no número dos sintomas com o aumento da idade, mas os impactos decorrentes destes sintomas persistem (FARAONE et al., 2000).

Frequentemente o diagnóstico do TDAH ocorre de forma tardia e somente na fase adulta o transtorno é identificado. O diagnóstico tardio ao que tudo indica é consequência de algumas condições pessoais que interferem na detecção do TDAH. Estas condições podem influenciar a expressão dos sintomas, curso do quadro e o quanto o TDAH será percebido.

Entre as condições estão habilidades intelectuais, funções executivas bem desenvolvidas, ambientes estruturados (lar e escola), práticas parentais adequadas. As pessoas que dispõem destas condições possivelmente desenvolvem estratégias compensatórias na infância, porém quando se tornam adultos os contextos de vida mudam, desestabilizando sua estrutura de funcionamento. Dessa maneira o manejo dos sintomas do TDAH pode se mostrar mais difícil e o quadro se torna perceptível (ASHERSON et al., 2016).

Outro ponto relevante sobre a identificação do TDAH é que atualmente existem estudos que cogitam o surgimento do quadro na adolescência (após os 12 anos) e fase adulta.

Nesse caso o transtorno tem sido denominado TDAH de início tardio (CAYE et al., 2016).

Conduto, os diagnósticos do referido TDAH tardio enfrentam dificuldade para se sustentar

quando os critérios do DSM-5 são exigidos rigorosamente. Esses critérios estão relacionados à presença de prejuízos em vários contextos de vida devido aos sintomas, ausência de outras causas que melhor justificariam os sintomas (abuso de substâncias ou outro transtorno mental) e 12 anos como idade limite para início sintomas (ASHERSON et al., 2016). Moffit e colaboradores (2015) também acrescentam que o TDAH com início tardio conflitaria com a inclusão atual do quadro dentro do grupo dos Transtornos do Neurodesenvolvimento, o que consequentemente aventaria a existência de caracterização própria, talvez com causas diferentes e consistiria em uma síndrome adquirida. Portanto para estes autores, os dados de introdução à ideia do TDAH tardio são muito recentes e é necessário aguardar por mais estudos sobre o tema para maiores conclusões.

2.3.2. O TDAH e o Envelhecimento

O TDAH em idosos, assim como em adultos, enfrenta dificuldades para caracterização. São poucas as pesquisas com esta população e consequentemente o conhecimento sobre apresentação nessa idade é restrito. Além disso, com a chegada da velhice o diagnóstico pode se tornar ainda mais complexo porque os sintomas do TDAH podem se confundir com característica do envelhecimento normal (senescência) ou sinais de envelhecimento patológico (senilidade) (IVANCHAK, 2011).

Idosos que apresentam frequentes déficits de atenção decorrentes de quadros de TDAH que se prologam até a velhice podem ser diagnosticados com doenças neurodegenerativas, uma vez que o quadro raramente é investigado nessa fase (IVANCHAK et al., 2012). Muitas vezes a suspeita de presença do TDAH no idoso surge após filhos ou netos serem diagnosticados com o transtorno. É a partir da identificação de sintomas semelhantes aos dos membros da família que o TDAH no idoso é reconhecido (KOOIJ et al., 2016).

O rastreio do TDAH nessa fase da vida demanda considerações sobre as nuances da idade avançada. Avaliar o TDAH no idoso exige conhecimentos aprofundados não só sobre o transtorno, mas também sobre as características do processo de envelhecimento. Tal base de conhecimentos faz-se importante para avaliar adequadamente alterações de comportamento, déficits cognitivos e características psicológicas, sociais e afetivas. De maneira que a observação das particularidades destes pontos dará maior acurácia ao diagnóstico, favorecendo a diferenciação de outros transtornos (KOOIJ et al., 2016).

De acordo com o que foi exposto anteriormente, a identificação do TDAH em outros membros familiares pode se mostrar muito útil para a invetigação do TDAH em idosos.

Identificar e verificar os sintomas de familiares pode ser uma via interessante, especialmente se os mesmos estiverem em idade que a expressão do TDAH pode estar mais acentuada e perceptível. Buscar por compatibilidades entre os sintomas dos membros familiares e sintomas relatados pelo idoso de quando este tinha a mesma idade é uma forma de dar consistência às informações levantadas através da revisão de vida em outras fases – vida adulta, infância, adolescência – sob o respaldo da herdabilidade. Além dos sintomas é importante atentar para relatos de fragilidades devido à presença do TDAH e estratégias compensatórias desenvolvidas ao longo da vida a fim de melhor caracterizar a severidade do quadro (BENKENDORF; SAKAE; XAVIER, 2010).

Até que haja o diagnóstico do TDAH no idoso e que providências sejam tomadas, os efeitos da longa convivência com o quadro sem assistência adequada podem ter levado a prejuízos significativos. Estudos apontam que o TDAH, quando presente nesta fase da vida, causa mais problemas de relacionamento, sensação de solidão, diminuição da qualidade de vida e aumento de custos financeiros. A razão disso seria o encontro entre as dificuldades ocasionadas pelo TDAH e as exigências adaptativas que o envelhecimento impõe. A junção entre as duas condições pode tornar mais complicada a convivência com o transtorno (KOOIJ et al., 2016). Outra questão importante é que a expressão do TDAH sofre influência das condições pessoais e circunstâncias externas, assim mesmo que se apresente com sintomatologia completa mostra características muito particulares em cada pessoa. Na velhice pode ocorrer dificuldade para desenvolver redes de apoio e estratégias compensatórias, o que pode conduzir a busca por alívio através do uso excessivo de álcool e cigarro ou vício em jogos (GOODMAN et al., 2016).