• Nenhum resultado encontrado

O TEMPLO NA HISTÓRIA

No documento Download/Open (páginas 75-78)

Desde os primórdios, o homem sempre reservou um espaço para proteger- se ou proteger o que lhe parecia mais sublime. Desde a “grande quantidade de rochedos, de pedras furadas” (ELIADE, 1970, p. 435), aos retiros espirituais, leitura bíblica; na atualidade, a relação homem e templo é sempre fecunda.

Entra, nesta discussão, o estado natural das coisas, mas precisamente a natureza. Ela, a natureza, orienta o homem a si sintonizar com o cosmo, que passa a servir ao homem como instrumento de inúmeras interpretações acerca de sua formação da vida de comunidade. Eliade (1970, p. 435) diz que:

Entre os indígenas, nunca o lugar sagrado se apresenta isoladamente ao espírito. Ele faz sempre parte de um complexo em que entram as espécies vegetais ou animais, que aí abundam em certas estações, os heróis míticos que aí viveram, vaguearam, que aí se celebram periodicamente e, enfim as emoções suscitadas por este conjunto.

Em primeira mão, o homem elege o cosmo como um templo76. É nele que se

encontram as cratofanias77 e hierofanias78 que lhes são peculiares. No entanto,

sente-se na insegurança de estar na amplidão do cosmo, busca lugares que passam a ter para si representações, isto é, um espaço que lhe proteja das pestes, do inimigo, do frio, do calor, da chuva, do medo, da solidão, da incerteza, do caos, buscando, enfim, a fortaleza, o conforto interior, as respostas para questões do dia- a-dia, a harmonia com o sobrenatural79, a proteção da colheita, a saúde e a fertilidade da terra e de si próprio.

O templo é o ‘centro do mundo’, é um espaço sagrado, em dado momento, o templo é lugar onde os reis dominavam pelo seu poder absoluto e silencioso e em outros lugares de agitação política-econômica-religiosa de onde se projeta a salvação e condenação da humanidade. Em qualquer das situações, o templo sempre emanou uma mística sedutora a todos os homens.

76 Esta questão é mencionada de um ponto de vista que o primeiro habitat do homem foi o cosmo, o

universo, por exemplo, o mito de Adão e Eva, ver nota de rodapé n. 91.

77 “Encontramos freqüentemente a noção de força ou de eficiência junto à hierofania; denominamo-la

cratofania, precisamente porque nos falta demonstrar o sagrado” (ELIADE, 1970, p. 48).

78 “Algumas hierofanias tem um destino local; há outras que têm, ou adquirem, valências universais.

Os indianos, por exemplo, veneram uma árvore chamada Açattba; simplesmente, para eles a manifestações do sagrado nesta espécie de vegetal é transparente, pois só para eles a Açattba é uma hierofania e não uma árvore” (ELIADE, 1970, p. 25).

79 “[...] a idéia de sobrenatural, tal como entendemos, é recente: ela supõe, com efeito, a idéia de que

é negado e que não tem nada de primitivo. Para que se pudesse dizer, de determinados fatos, que são sobrenaturais era preciso ter já o sentimento de que existe uma ordem natural das coisas [...] Uma vez que se chegando a esse princípio, tudo aquilo que transgride essas leis deveria aparecer, necessariamente, como não fazendo parte da natureza e, por conseguinte, da razão” (DURKHEIM, 1989, p. 57).

Esse aspecto denota a idéia de que o homem se refere ao templo como sua morada, lugar que possa garantir-lhe o encontro com algo sagrado, oferecendo-lhe condições para a sua mística. Mesmo em condições de poder político, o templo exerce fascínio e redobrados cuidados, levando até às últimas conseqüências para ser preservado, é o caso, por exemplo, da Basílica de São Pedro em Roma, das Pirâmides do Egito na Grécia e dos Lugares Santos em Jerusalém.

O muro ou círculo de pedras que encerram o espaço sagrado contam-se entre as mais antigas estruturas aquitectônicas conhecidas no domínio dos santuários. Aparecem já nas civilizações proto-indianas e egeias. O muro ou vedação não implica e não significa apenas a presença continua de uma cratofania ou de uma hierofania no interior do recanto; ele tem, além disso, por objetivo preservar o profano do perigo a que se exporia se ali penetrasse com os devidos cuidados. O sagrado é sempre perigoso para quem entra em contato com ele sem estar preparado, sem ter passado pelos ‘movimentos de aproximação’ que qualquer ato de religião requer. ‘Não te aproxima daqui - diz o Senhor a Moisés - tira os seus sapatos, porque o lugar onde estás é terra santa’. Daí, os inúmeros ritos e prescrições (como é o caso dos pés nus) relativos à entrada no templo, atestados freqüentemente entre os Semitas como entre os povos mediterrâneos (ELIADE, 1970, p. 439).

O homem, ao longo dos séculos80, descobriu os elementos da natureza e

sentiu que ela era merecedora de proteção, daí surgem os ambientes mais fechados onde estes elementos eram representados em forma de desenhos, totem e imagem e neles a hierofania acontecia, o sagrado sempre o seduziu, sendo protegido do profano, capaz de, na fala de Eliade, impedir que o sagrado fosse manifesto, por isso a razão do templo.

Ao mesmo tempo em que o acesso ao espaço sagrado, ao templo, pareça fácil pelo uso da gama de ritos, símbolos e mitos que são construídos e o habitam, estes elementos possuem características peculiares a cada unidade de tempo em sua diversidade, isso implica dizer que cada cultura religiosa81 constrói e preserva seus elementos ritualistas, simbólicos e mitológicos ao longo dos séculos.

80 Refere-se ao início da história da humanidade em que o homem manteve uma relação de profundo

respeito aos elementos da natureza: “Não existe aspecto da natureza que não seja capaz de despertar em nós aquela sensação aterradora de infinito que nos envolve e nos domina. Nessa sensação teriam derivado as religiões” (DURKHEIM, 1989, p. 110).

81 A reflexão de cultura quando se fala de cultura religiosa é apoiada na seguinte afirmação: “Assim

para Geertz, todos os homens são geneticamente aptos para receber um programa, e este programa é o que chamamos de cultura [...] a criança esta apta ao nasce a ser socializada em qualquer cultura existente” (LARAIA, 1988, p .63).

Seguem-se a representação do templo em alguma religiões ditas por universais e da comunidade-campo com o intuito de localizar a sua força libertária e opressora, ritual, simbólica e mitológica, portadora da força de resistência e defensora de seus valores e crenças religiosas, valendo-se do que lhe é peculiar, a religiosidade.

No documento Download/Open (páginas 75-78)