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SUMÁRIO

9. ANEXOS E APÊNDICES

2.3. O Teste de Fotos de Profissões (BBT-Br)

O BBT-Br constitui-se num método projetivo de avaliação psicológica elaborado por Martin Achtnich na década de 1970, na Suíça (Achtnich, 1991). Sua base teórica, originada nos princípios da Teoria de Personalidade de Szondi (1975), admite a existência de variáveis que influenciam e compõem os interesses e as escolhas humanas, determinados pelas estruturas de inclinação motivacional e personalidade de cada indivíduo. Estas variáveis se combinariam de diferentes maneiras em cada pessoa, interferindo e orientando suas escolhas ocupacionais. Este instrumento apresenta amplas possibilidades de utilização nos processos de orientação profissional e recolocação de carreira, por ser capaz de investigar dados relevantes acerca da personalidade e dos interesses do orientando (Melo-Silva & Jacquemin, 2001).

Com base nestes princípios e em sua vasta experiência clínica e empírica com Orientação Profissional, Achtnich (1991) desenvolveu o Teste de Fotos de Profissões, originalmente Berufsbilder Test, de onde advém sua sigla BBT. Seu autor elaborou princípios teóricos para classificar e avaliar interesses, expressos em estruturas de inclinação motivacional, pautadas por uma combinação de oito fatores (chamados dimensões ou radicais de inclinação). Segundo o autor, esses oito radicais de inclinação existiriam em proporções variáveis em cada indivíduo e seriam justamente as intensidades de prevalência de determinados fatores que influenciariam, internamente, o comportamento de escolha profissional para busca de satisfação de determinadas necessidades psíquicas.

A manifestação dessas necessidades ocorre na forma de interesses por atividades e por determinados ambientes dentro do mundo real, favorecendo seleção específica de contatos com determinados instrumentos e objetos, com objetivos delineados pelas motivações internas. Desta forma, para Achtnich (1991), uma atividade profissional pode ser descrita por cinco aspectos fundamentais: as atividades que permite exercer; os instrumentos utilizados em seu exercício; os objetos sobre os quais se trabalha; os locais onde a atividade é exercida e os objetivos que se pretende alcançar.

A estrutura motivacional (de preferências e de rejeições) seria composta por uma combinação específica dos oito radicais de inclinação motivacional propostos por Achtnich (1991). Estes radicais passam a ser, resumidamente, descritos, de modo a fundamentar seus significados gerais em termos de motivações e de interesses implícitos.

- Fator W: relativo a atividades relacionadas ao toque, à sensibilidade, à necessidade de estar em contato com outras pessoas de forma amável e afetuosa. O indivíduo sinaliza preferência

por trabalhar com objetos suaves, o tato, a água, artigos de higiene e outros desta natureza. Seu ambiente de trabalho caracteriza-se por apresentar possibilidades de contato, relacionados principalmente a servir e a cuidar diretamente das pessoas. Achtnich (1991) relaciona o fator W à feminilidade.

- Fator K: relacionado às atividades que envolvem utilização de força física, agressividade, perseverança, objetividade, domínio sobre os outros. Utiliza prioritariamente objetos resistentes (metal, aço, ferro, entre outros), objetos a demolir, o próprio adversário dominado. Seu ambiente de trabalho apresenta estes elementos agressivos e rudes. Relacionado por Achtnich (1991) à masculinidade.

- Fator S: relativo a necessidade de atuar em atividades sociais. É subdividido em duas vertentes: Sh e Se. A vertente Sh relaciona-se ao interesse em cuidar, ajudar o outro. Utiliza prioritariamente objetos relacionados ao salvamento ou à cura. Seu ambiente favorece ações de ajuda. Já a vertente Se é referente ao interesse em atividades que envolvam movimento, mudança, liderança. Relaciona-se à energia psíquica, ao dinamismo. Utiliza prioritariamente objetos que envolvam dificuldades, impondo desafios e decisões rápidas. Seu ambiente favorece a mudança e o inesperado.

- Fator Z: relacionado à necessidade de mostrar a si ou a sua obra, de ser valorizado e apreciar o que é esteticamente belo. Utiliza prioritariamente objetos relacionados a formas estéticas e embelezamento; objetos que possam ser exibidos e aprovados. Seu ambiente favorece a exposição de si ou de seu trabalho.

- Fator V: relativo à necessidade de objetividade, da razão, do senso de realidade, da precisão. Utiliza prioritariamente objetos relacionados a números, registros, regras, planejamento. Seu ambiente de trabalho envolve geralmente espaços fechados (escritórios, laboratório, por exemplo), onde existe boa organização dos elementos que o compõem, de forma lógica e prática.

- Fator G: relaciona-se a atividades que envolvem imaginação, intuição, criatividade, pesquisa. Utiliza prioritariamente objetos facilitadores do exercício da criatividade, inesperado, originalidade e espontaneidade. Seu ambiente de trabalho abarca geralmente locais fechados (laboratório, ateliê, escritórios, entre outros), mas que também envolva contato interpessoal para o desenvolvimento de raciocínio abstrato e busca de conhecimentos. - Fator M: relativo a necessidade de trabalhar com matérias (substancias químicas, dinheiro, terra, limpeza), de modo constante e persistente, atividades rotineiras e busca pelo passado. Utiliza prioritariamente objetos relacionados à matéria bruta em si: terra, barro, argila, produtos de limpeza, dinheiro. Seu ambiente de trabalho envolve geralmente situações em que

se necessita de limpeza, asseio, constância, meticulosidade; ou locais que envolvam o manuseio de substâncias, como a terra.

- Fator O: relativo a necessidade de atuar oralmente, dividido em duas vertentes: Or e On. A vertente Or relaciona-se ao interesse em falar, comunicar, negociar, traduzir. Utiliza prioritariamente objetos que permitam amplo contato social, com possibilidades de comunicação oral. Atua em ambientes favorecedores do contato social. Já a vertente On representa o interesse em alimentar, nutrir, cozinhar. Utiliza prioritariamente objetos relacionados à nutrição (bebidas, comidas) quanto relacionados a descanso e bem-estar. Atua geralmente em locais de preparação de alimentos ou que favoreçam o contato com o outro por meio da alimentação.

O Teste de Fotos de Profissões (BBT) busca “clarificar tendências inconscientes que

direcionam ou bloqueiam a escolha de certas áreas profissionais e favorecer a busca de informações sobre o mundo das profissões” (Noce, 2008, p. 115). É um instrumento eficiente

para uso em processos de Orientação Profissional/Vocacional (Jacquemin & Pasian, 1991). Uma das primeiras tentativas de adaptar o BBT para outro país foi realizada por Foulon (1981), com um estudo de validade de conteúdo na Bélgica. Para tanto, as fotos do BBT foram apresentadas para 10 moças e 10 rapazes, estudantes do ensino médio, com idades entre 16 e 19 anos. Foi solicitado que cada um deles descrevesse as 96 fotos do instrumento. As 1920 descrições (20 para cada uma das 96 fotos) foram entregues a três juízes independentes, que deveriam interpretar e codificá-las de acordo com os oito radicais de inclinação de Achtnich (1991), confirmando se as fotos de fato representavam o radical a elas associado teoricamente. Os resultados confirmaram o radical de inclinação primário para 40 das 96 fotos do BBT para o contexto belga, confirmando a necessidade de adaptação do instrumento para contextos socioeconômicos diferentes do contexto original, na Suíça.

Também na Bélgica, Lievyns (1987) realizou estudo onde aplicou a versão masculina do BBT em 506 estudantes (289 moças e 217 rapazes), com idades entre 17 e 24 anos. Esses estudantes eram clientes do serviço de Orientação Profissional/Vocacional (OPV) e Re- orientação Profissional da Université Catholique de Louvain, sendo a amostra dividida em quatro grupos (mulheres em OPV, mulheres em re-orientação, homens em OPV e homens em re-orientação). A autora buscou averiguar evidências de validade interna e consistência interna das fotos do BBT em seu contexto sócio-cultural. Para a avaliação da validade interna, esta autora considerou que deveria ocorrer uma correlação positiva significativa entre a foto e o radical de inclinação de Achtnich (1991), utilizando-se a correlação de Pearson, com índice de corte 0,20. Já para avaliar a consistência interna, foi realizado o teste de Kuder Richardson.

Os resultados apontaram correlações de 0,26 a 0,87, na amostra masculina, e 0,16 a 0,76, na amostra feminina. Em relação à consistência interna, os índices variaram de 0,69 até 0,89 para a amostra masculina, e 0,59 a 0,71 para a amostra feminina. Ambos os resultados foram considerados, pela autora, como bons índices de validade e fidedignidade do BBT no contexto sócio-cultural estudado.

Em Portugal, Leitão (1993) estudou evidências de validade preditiva e de conteúdo do BBT. Para tanto, aplicou este método projetivo de avaliação psicológica, individualmente, em 40 adolescentes (20 homens e 20 mulheres), com idades entre 14 e 15 anos. Os dados obtidos foram analisados por quatro juízes independentes, seguindo a tabela de profissões de Achtnich (1991). Os resultados apontaram alto índice de acordo entre os juízes (92,0% nos dados femininos e 87,3% nos dados masculinos) e a confirmação do radical de inclinação primário em 53 fotos da versão feminina e 52 fotos da versão masculina. Diante destes resultados, a autora apontou a necessidade de adaptação deste instrumento de avaliação psicológica aos contextos sócio-culturais onde seria utilizado, incluindo Portugal.

No Brasil, a implantação do BBT foi realizada por Jacquemin (1982), que iniciou as pesquisas de validação e adaptação do método para o contexto brasileiro. Em artigo sobre o histórico e pesquisas desenvolvidas com o BBT no Brasil, Pasian et al. (2007) descreveram sucintamente as pesquisas nacionais com este instrumento, publicadas até o momento, sugerindo novas áreas de investigação com este método projetivo. Dentre estas pesquisas, destacaremos as que envolveram questões de validação do instrumento e que são mais recentes, por se tratar do foco deste trabalho, apresentadas em sequência cronológica a seguir.

Jacquemin (1989) pesquisou a validade interna do BBT masculino realizando sua aplicação individual em 80 alunos, de ambos os sexos, da segunda e terceira séries do ensino médio de Ribeirão Preto (SP). Os resultados apontaram que as descrições das fotos realizadas pelos participantes confirmavam o radical de inclinação proposto em cerca de metade das fotos. Também analisando a validade interna do BBT, dessa vez da forma feminina, Jacquemin e Nunes (1990) aplicaram o instrumento em 40 alunas do ensino médio de Ribeirão Preto (SP). As descrições dadas pelas participantes também indicaram a necessidade de reformulação de algumas fotos deste método projetivo, visando manter o radical de inclinação proposto teoricamente por Achtnich (1991).

Confirmada a necessidade de reformulação das fotos, foram realizados novos estudos visando a adequação das fotos ao contexto brasileiro. Dessa maneira, foram reformuladas 42 fotos do BBT Masculino e 47 do BBT Feminino e aplicadas em estudantes brasileiros (Jacquemin, 1995; Jacquemin et al., 1998, Jacquemin, 2000; Jacquemin et al., 2000;

Jacquemin et al., 2001; Jacquemin et al., 2003; Okino et al., 2003). Esses pesquisas deram origem aos manuais do BBT adaptados para o contexto brasileiro, agora renomeado como BBT-Br, Jacquemin (2000 - forma Masculina) e Jacquemin et al. (2006 - forma Feminina).

Sbarderlini (1997) investigou o BBT como instrumento de re-opção de curso universitário e a capacidade preditiva da técnica na adaptação à nova escolha profissional. Para tanto, a autora entrevistou 299 universitários que haviam solicitado re-opção de curso em uma universidade federal brasileira, aplicando o BBT individualmente em 19 desses participantes. A análise das estruturas de inclinação motivacional permitiu à autora investigar a concordância ou não do perfil motivacional dos participantes em relação ao curso em que se encontravam, elaborando diagnósticos favoráveis ou desfavoráveis a respeito da satisfação das necessidades profissionais no novo curso solicitado. Cerca de dois anos depois da primeira aplicação, os participantes do estudo foram procurados novamente e questionados sobre sua situação no curso universitário de reopção, constatando-se que 90% dos casos confirmaram o diagnóstico realizado por meio do BBT, fortalecendo o caráter preditivo desse método projetivo.

Em outro trabalho sobre a validade do BBT, Bernardes (2000) investigou, por meio de estudo longitudinal, a validade preditiva do instrumento como prognóstico de escolhas profissionais. Neste estudo, a autora aplicou, em um primeiro momento, o BBT em um grupo de dez adolescentes, com idades entre 16 e 20 anos, do terceiro ano do ensino médio. Após aproximadamente três anos, ocorreu a segunda aplicação do instrumento, juntamente com um questionário e realização de uma entrevista clínica, visando obter relatos de vida e de interesses ocupacionais. Os dados possibilitaram levantar informações bastante positivas acerca da eficiência do BBT como instrumento prognóstico.

Noce (2003) realizou trabalho visando agilizar os procedimentos de aplicação e interpretação do BBT-Br masculino, mantendo a validade e qualidade das informações adquiridas. Elaborou uma versão reduzida da técnica, totalizando 64 fotos e igualando o total de fotos (oito) para cada radical de inclinação de Achtnich (1991). Segundo essa autora, as 16 fotos representativas dos radicais de inclinação S, Z, V e G poderiam ser reduzidas a oito fotos cada, eliminando a necessidade de ponderação e diminuindo consideravelmente o tempo de utilização e interpretação do BBT-Br, uma vez que esse número discrepante de fotos nestes fatores acrescenta poucos elementos relevantes à interpretação. Para realizar a redução das fotos foram utilizados dois critérios de seleção: proporção de escolhas e rejeições na amostra de normatização do BBT-Br e análise por juízes independentes. Pela análise desses critérios, a autora selecionou as oito fotos mais representativas dos radicais de inclinação S, Z, V e G,

elaborando a versão reduzida da técnica, para a qual foram elaborados padrões normativos pela aplicação coletiva em 345 estudantes do ensino médio da região de Ribeirão Preto. Finalmente, a autora comparou sua versão reduzida com o BBT-Br masculino original, aplicando ambas as técnicas em 33 jovens estudantes do ensino médio público de Ribeirão Preto. Os resultados apontaram aparente equivalência entre as duas versões da técnica, indicando a possibilidade da aplicação da versão reduzida do BBT-Br, com resultados válidos e confiáveis, sendo sugeridos também, a realização de estudos para a elaboração de versão reduzida da forma feminina deste método de avaliação psicológica. Entretanto, a autora ressalta a importância da continuidade de estudos que avaliem e aprimorem não só o BBT-Br, mas também os demais instrumentos de avaliação psicológica para buscar o atendimento da diversidade sócio-cultural existente na realidade do Brasil.

Pode-se observar que esforços vêm sendo empreendidos na adaptação e na validação do BBT-Br para o contexto sócio-cultural brasileiro. Estas pesquisas realizadas com o instrumento buscaram aumentar seu rigor científico, garantindo-lhe confiabilidade e eficiência em sua utilização clínica. É importante destacar, também, que a utilização do BBT-Br deve ser agregada a outras técnicas de avaliação psicológica, de modo a alargar o campo observacional relativo a inferências sobre o comportamento humano e seus construtos internos, foco a seguir explorado brevemente.