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O Trabalho da Mulher e a Mulher na Agricultura

2. REVISÃO DE LITERATURA

2.5 O Trabalho da Mulher e a Mulher na Agricultura

No livro Mulheres Trabalhadoras (PENA, 1981) a autora explica que a participação da mulher é significativa na organização familiar, nos movimentos sociais, na política ou no trabalho coletivo. A sujeição da mulher ao homem não se originou no capitalismo, apenas tornou-se mais visível e devastadora neste contexto. Nos escritos antigos há clareza quanto a culpabilidade da mulher; subjugada em sua sexualidade, tornou-se agente reprodutora e realizadora do trabalho doméstico. O capitalismo não permitiu que essa identidade se perdesse; assim ela se torna duplamente útil como mãe/esposa e realizadora do trabalho de produção (PENA, 1981).

Historicamente, os braços femininos e infantis que estão nas fábricas com a revolução industrial também estiveram no campo, desde a escravatura e, após, com os migrantes espanhóis e italianos, o que comprova que a economia agrícola também é mantida pela mulher (SILVA, 2007).

A posição social da mulher não lhe propicia condição de reivindicar salários iguais; na América Latina a história demonstra que nas atividades agrícolas a força de trabalho feminina é amplamente utilizada, o mercado de trabalho informal constitui para a mulher de estratos sociais mais baixos a opção de uma remuneração, enquanto o serviço público constitui uma opção para aquela mediamente escolarizada (ABREU, 1978).

A mulher transfere para o domínio do trabalho funções que as relações de reprodução determinaram para ela (HIRATA, 2002) tais como: prestação de serviços pessoais, cuidado aos doentes e educação de crianças, o que caracteriza as profissões na área assistencial com perfil, na maioria, feminino.

utilizar, em seu proveito, a dominação que o homem impunha a mulher dentro da organização familiar da classe trabalhadora e que lhe impunha o trabalho reprodutivo (PORTELLA et al, 2004).

O reconhecimento da cidadania feminina, no Brasil e o direito ao voto foi concedido após 1930; desde o código civil de 1916, o caminho feminino ao trabalho foi sempre obstruído, pois o código legitimou o poder masculino (SALLES, COSTA, 1996). Entre as ocupações do trabalho feminino, as carreiras que se enquadram foram as sociais, representadas por enfermeiras, professoras do ensino infantil, assistentes sociais, entre outras (MORENO, 2004).

Quanto ao papel da mulher no contexto da divisão sexual do trabalho, as atividades mais precárias estão reservadas as mulheres e o setor de serviços é o que mais absorve essa força de trabalho, com atribuição de tarefas monótonas, repetitivas e estressantes. A divisão sexual do trabalho nos países capitalista é desfavorável para a força de trabalho feminina, já que a inserção da mulher no mundo do trabalho acontece, prioritariamente, nos espaços de empregos precários e de baixos salários (NOGUEIRA, 2009).

Historicamente eram as mulheres dos camponeses que mais atuavam com seus maridos na agricultura e eram responsáveis pelas tarefas domésticas (NOGUEIRA, 2009). Engels explica que o bem estar e o desenvolvimento de uns acontece ás custas da dor e da repressão de outros (ARENDT, 2008).

Na Antiguidade as atividades do homem estavam voltadas a caça; a mulher era responsável pela agricultura e pela transformação dos alimentos e ambos compartilhavam o cuidado dos filhos e os rituais religiosos. Nos séculos da Era Cristã a mulher torna-se responsável pelos cuidados dos filhos e do marido, situação que contribuiu para o homem exercer as atividades produtivas e remuneradas. Ela passou a ter então, suas atividades laborais não reconhecidas (COSTA, 2005). O trabalho feminino dividiu-se em categorias por idade, as solteiras teciam, as mães cuidavam das crianças, as mais velhas cuidavam da cozinha e também atuavam na agricultura (OLIVEIRA, BARRETO, 1997).

A revolução francesa é o marco na história de vida laboral das mulheres, pois em meados de 1789 a participação política e as reivindicações sobre a melhoria das condições laborais e de vida fizeram-se presentes quanto ao direito de igualdade. Porém com o surgimento do capitalismo e após a Revolução Industrial, nos séculos XVIII e XIX, houve a inserção feminina no mercado de trabalho, mais

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propriamente nas fabricas, nos meios de produção, de forma precária e insalubre (SCOTT, 1994).

Acidentes graves, mutilações, e outros agravos passaram a afetar principalmente mulheres e crianças, preteridas por receberem salários mais baixos. As greves surgem como fator de melhoria e em 8 de março de 1857, enquanto um grupo de mulheres tecelãs reivindicam seus direitos, a polícia coloca fogo na fábrica e mata-as carbonizadas (Ibidem).

No século XIX, o Brasil pós escravatura insere a mulher imigrante no campo, tendo um diferencial em relação à escravizada: ela não é mais negra e escrava insere-se no campo junto com outras raças e outras culturas (Ibidem).

As lutas operárias marcaram todo século XIX e conquistas inquestionáveis, demoraram a acontecer, como a redução para o tempo de trabalho de mulheres e crianças (1879-1892). Só a partir do fim do século são obtidas leis sociais pertinentes à saúde dos trabalhadores (DEJOURS, 1992).

A Primeira Guerra Mundial focaliza em seu contexto um grande passo para a produção industrial como o desfalque ocasionado por feridos e mortos no reservatório de mão de obra. O taylorismo ganha força dentro da organização do trabalho exigências de tempo e ritmo, colocam o trabalhador em um sistema que o separa do trabalho intelectual, pois dissocia a atividade mental da intelectual. Na Segunda Guerra Mundial o taylorismo prevalece e acontecem conquistas como a institucionalização da medicina do trabalho e previdência social (Ibidem).

No século XIX, as famílias de colonos instalavam-se nas terras de grandes fazendeiros e as mulheres e crianças também eram mão de obra produtiva. As mulheres garantiam o cuidado e zelo pela mão de obra, ao terem dupla jornada pelos cuidados de marido e filhos (Silva, 2007). A Constituição de 1934, organizada pela CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas) cria o salário mínimo e a industrialização cresce a custa da indústria têxtil (SZMRECSANYI, 1990).

Na região de Ribeirão Preto (SP) as mulheres aparecem presentes na agricultura, junto aos seus maridos colonos, também como moradoras nas próprias fazendas, que antes de café passam a produzir também tomate e a cana-de-açúcar (SILVA, 2007).

Na década de 60 vivia-se no Brasil a era da Ditadura Militar. A modernização impõe novo sistema com programas voltados ao plantio e cultivo de cana; as mulheres perdem seu espaço como moradoras nas fazendas e vêm para

cidade, tornando-se mão de obra fragilizada para o corte da cana (SILVA, 2007). Com a entrada da mulher na era da industrialização, no mercado de trabalho, sua rotina diária constitui-se em dupla jornada. A mulher é inserida no contexto capitalista em dupla jornada, pois o cuidar da família gera fatores não positivos ao seu perfil no mercado de trabalho; além disso, recebe um salário menor que dos homens (SILVEIRA, 2005).

O contingente maior de mulheres passou a integrar o mercado de trabalho com o decorrer dos anos. Em 2001, as mulheres alcançam o posto de 41,9% da população ativa no país e ocuparam quase 80% dos rendimentos obtidos (Sead, 2005). Em 2003 a participação delas era de 43%; pesquisa realizada nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, de 2003 até 2010, mostrou que a participação delas na população ocupada passou de 45,1%, em 2009, para 45,3%, em 2010 (BRASIL, 2011).

Estudo que investigou o sexo feminino e abordou os acidentes de trabalho ocorridos e atendidos em um Hospital Escola da região de Ribeirão Preto (SP) encontrou, dentre seus sujeitos, trabalhadoras rurais como vitimas de tais acidentes (SILVEIRA, 2005).

O contexto atual dentro da organização do trabalho rural diverge do sistema do início da era industrial, em que a mulher foi colocada como mão de obra necessária ao capital, inclusive por ser mais ágil e receber menor remuneração. Empregadores rurais têm dado maior preferência a pessoas mais jovens com maior disposição física e do sexo masculino por entenderem que os trabalhadores devem ter maior disposição física para realização de atividades exaustivas e repetitivas (SYDOW et al, 2008)..

A dominação masculina é fator de prevalência da produtividade do capital. A mulher foi praticamente banida do corte de cana (SILVA, 2007), porém ela consegue se perpetuar, apesar de ser minoria.

O aumento da meta do corte da cana causou grande diminuição no número de mulheres que realizam esse trabalho. Além disso, a dupla jornada (obrigação com o trabalho na cana, com o serviço em casa e com o cuidado e educação dos filhos) significa um esforço muito maior para as mulheres que, mesmo com todas as dificuldades, enfrentam o trabalho bruto. Mas as usinas restringem esse trabalho com a exigência adicional de que as mulheres sejam

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impossibilitadas de ter filhos (SYDOW et al, 2008).

A reordenação das vertentes históricas e a modernização devido aos novos cenários políticos e econômicos gera novos rumos à produção agrícola, que remanesce do café e encontra-se deslocada das moradias rurais. O trabalhador rural procura seu espaço nas cidades (PEREIRA; RUMIM, 2008). No caso da cana de açúcar, o trabalhador articula todo seu processo produtivo para o corte desta cana, a sua situação geográfica potencializa a sua dedicação ao que o mercado oferece. Quando esta localização geográfica não mais lhe favorece, este trabalhador desloca-se para regiões propicias ao seu trabalho, acontecendo o fator conhecido como migração.

Estudiosos dispuseram-se a entender as vivências da mulher na agroindústria canavieira. Em pesquisa com nove mulheres as entrevistadas argumentaram a dicotomia existente entre o trabalho que gerava autonomia, mas as distanciavam da educação formal, porém podiam, ao mesmo tempo, aproximar os filhos desta educação, já que elas almejavam desconstruir este espaço para os filhos. Alegaram que o pagamento por produção condicionava a sua sobrevivência ao que produziam. Ainda que a qualidade de cana de açúcar colhida também era considerada na composição do salário, o bom cortador era aquele que cortava mais; a reduzida articulação entre a vivência subjetiva e o engajamento da produção determinou a percepção do desgaste mental em virtude da aplicação das potencialidades laborativas como instrumento da produção alienada (PEREIRA, RUMIM, 2008).

Um dos estudos voltados à mulher rural foi realizado no Estado do Maranhão, sendo a palmeira de babaçu comum naquela região. A pesquisa objetivou analisar as relações de gênero, descrevendo, em seu ponto de partida, a experiência histórica e cotidiana destas mulheres e a atividade da extração que é realizada principalmente pelas trabalhadoras rurais. Elas assumem a identidade de quebradeiras de coco e enfrentam conflitos para preservação dos babaçuais; mulheres com características afro-descendentes, que estiveram diretamente envolvidas em disputas de terras pela luta para a preservação foram assassinadas, situação agravada pela legislação que respaldava a privatização das terras públicas e incentivava projetos agropecuários, excluindo as famílias rurais do acesso a terra (BARBOSA, 2008).

gênero feminino ganharam maior visibilidade a partir dos anos de 1980 e são marcados pela produção de pesquisadoras feministas sobre o trabalho feminino e sobre o trabalho das mulheres na área rural. A ação coletiva das mulheres rurais foi novidade no cenário político, bem como as lutas pelos direitos a terra e reforma agrária, o acesso aos benefícios sociais previdenciários, a participação sindical, seja como associadas ou como diretoras, com inclusões de reivindicações notórias na Constituição de 1988, como extensão de direitos trabalhistas para homens e mulheres trabalhadores rurais (CORDEIRO, SCOTT, 2007).