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2. REVISÃO DE LITERATURA

2.4 O Trabalho Rural no Nordeste Paulista

O presente estudo foi realizado na região de Ribeirão Preto situada no nordeste do Estado de São Paulo, uma das mais ricas extensões territoriais do Brasil, particularmente devido ao cultivo da cana de açúcar.

A situação social, econômica e política desta região encontram-se extremamente vinculada ao processo histórico da formação do capitalismo agrário no país. A região norte/nordeste do Estado de São Paulo tem aspectos geográficos favoráveis com rios, serras, clima e vegetação.

A divisão eclesiástica abrangia a região de Ribeirão Preto incluindo São Sebastião do Paraíso (Estado de Minas Gerais) quando a Igreja Católica cuidava dos interesses civis e fundiários. Esta região, cuja passagem das bandeiras é registrada em livros históricos recebeu um dos desbravadores mais famosos, Bartolomeu Bueno da Silva (LAGES, 1995).

Com a descoberta do ouro em Goiás, povoados foram surgindo e no território paulista investe-se no garimpo, porém em 1750, o Tratado de Madri revoga o tratado de Tordesilhas e define a figura territorial que o Brasil tem hoje. Os paulistas constituíam-se nos melhores sentinelas na fronteira do Sul; assim, o direito de posse defendido por Alexandre Gusmão desde 1720 é defendido pelo tratado de Madri (CHIACHIRI, 1986).

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economia) tomou uma série de medidas como criação de novas vilas, reanimou o cultivo da cana de açúcar, que havia prosperado mais em Pernambuco com a proximidade maior de um porto para exportação. O açúcar valoriza a região norte e nordeste da capitania e inclui em sua produção o gado de corte e de novas culturas agrícolas (CIONE, 1994).

A região de Minas Gerais entra em decadência ocorrendo a ruralização da economia na região em que se explorava o ouro; as populações dirigem-se para a região do nordeste paulista, migraram de Minas Gerais e povoaram Franca, São Simão, Caconde, Casa Branca, Batatais. As cidades mais importantes nascidas na época são Franca, Batatais, São Simão, Casa Branca e Araraquara (Ibidem).

Antes de 1870 a agropecuária domina a região, passando a produzir café depois de 1870; São Simão foi produtora de café, até ter suas terras desmembradas e Ribeirão Preto torna-se importante produtora, devido a boa terra roxa, tornando-se o café o ramo principal da economia (BRIOSCHI, 1991).

Os escravos constituíam-se na mão de obra dos grandes latifundiários; com a proibição do trafico em 1852 surgem os imigrantes europeus, que assumem o trabalho nas lavouras. Este imigrante, proveniente de culturas mais avançadas criou uma versão cultural em Ribeirão Preto e região; na atualidade, a cidade mostra sobrenomes, em sua maioria, oriundos da miscigenação (DANTAS, 1976).

Com a crise de 1929 na Bolsa de Nova Iorque os reflexos mundiais são sentidos pela cultura do café, empobrecimento e retalhamento de propriedades. Esta situação foi amenizada com o impulsionamento da cultura do algodão que reanimou a economia no Estado (MONBEIG, 1984).

O trabalho agrícola era manual ou de tração animal, tratores eram raros. Com o passar dos anos, a mecanização e a aplicação de agrotóxicos foram diminuindo a existência do pequeno agricultor (CIONE, 1994). Na década de 40, com a Segunda Guerra Mundial, a agricultura é tipicamente alavancada pelo algodão, café, arroz e milho (BIAGI, 1988).

A cana de açúcar chega de forma monocultural na década de 70, mas desde 1963 estabelece-se na região de Sertãozinho (SP) e caracteriza um novo contexto geográfico e físico. Em 1966 o governo cria leis de intervenção; em 1975 o Pró-Álcool objetiva o aumento de produção do álcool como combustível e na década de 80 o Brasil disputa com a Índia o mercado de açúcar (SILVA, 2007).

milho, característica diferente do contexto brasileiro. O trabalhador rural quando era imigrante, apresentava características de colono e morava na terra; ao sair do campo e ir para a cidade, os campos repletos de cana de açúcar necessitavam de mão de obra que acabou sendo oriunda do nordeste, como as mulheres trabalhadoras, que não fixam suas raízes, muitas vezes e após as safras, voltam para sua terra natal (SILVA, 2007). Muitos desses trabalhadores (tanto homens como mulheres) são originários de regiões quilombolas, como em cidades do Maranhão, porém alguns já fixaram suas raízes no Estado de São Paulo tentando se aproximar de uma melhor qualidade de vida para família, como acesso a saúde, por exemplo.

O agronegócio passa por reconhecida visão do desenvolvimento sustentável (STEFANELO, 2002) e é um dos negócios que mais colabora para a balança comercial do país (IPEA, 2005). Conforme as projeções de 2010/11 a 2020/21, os produtos mais dinâmicos do agronegócio brasileiro deverão ser o algodão, a soja, a carne bovina, a carne de frango, o açúcar, o papel e a celulose. Esses produtos são os que indicam maior potencial de crescimento da produção e das exportações nos próximos anos (BRASIL, 2011).

Para ser colhida de maneira mais fácil, a cana de açúcar, antes, precisa ser queimada; a mecanização é um processo de aumento gradativo para as empresas devido ao contexto ambiental; a mão de obra do trabalhador rural sem qualificação, possivelmente vai ter pouco espaço na atual conjuntura econômica.

O desemprego no campo gerado pela mecanização confronta com o modelo americano de modernização agrícola caracterizado com uma pratica especulativa para o cultivo continuo de produtos com maiores níveis de rentabilidade (SILVA, MARTINS, 2009).

Assim, na região Nordeste do Estado de São Paulo há atualmente trabalhadores oriundos, em sua grande maioria, de outros estados brasileiros particularmente do norte e nordeste; essas pessoas são contratadas por safras (particularmente no caso da cana de açúcar); não residem nas lavouras mas em pequenas cidades conhecidas como “dormitórios”; muitas vezes vêm com suas famílias e residem em habitações coletivas; estão sendo substituídos, gradualmente, pela mecanização das lavouras porque leis de proteção ambiental determinam, por exemplo, a não realização da queimada da cana de açúcar antes do início de seu corte (Ibidem).

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Conforme já foi descrito anteriormente, está previsto um calendário para redução gradual, até 2017, da queimada da cana-de-açúcar em áreas onde a colheita é mecanizada. O plantio também se encontra proibido na Amazônia, no Pantanal, na Bacia do Alto Paraguai e em áreas com cobertura vegetal nativa (BRASIL, 2012).