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1.5 Educação e reabilitação da criança com PC – trabalho em rede

1.5.2 O trabalho em rede – conceito e aplicação para PC

É visto que o termo trabalho em rede tem origem nas áreas sociais, no entanto tem sido utilizado para falar das relações entre Instituição e escola. Nesse aspecto, tenta superar a fragmentação dos saberes e das políticas para atender as pessoas de forma integrada em suas necessidades, as redes são uma alternativa de articular todos que estão envolvidos.

Compreende-se por rede:

[...] aquela que articula intencionalmente pessoas e grupos humanos, sobretudo como uma estratégia organizativa que ajuda os atores e agentes sociais a potencializarem suas iniciativas para promover o desenvolvimento pessoal e social (65, p.14).

A sociedade busca trabalhar em rede, desenvolvendo o trabalho em conjunto entre os indivíduos, tornando as relações mais simples. Logo, esse tipo de estrutura seria um modo de reproduzir as inter-relações e conexões como uma “sociedade- rede”, articulando-se em parcerias (65, p. 9). Para Gonçalves e Guará (65, p. 4), “construir redes significa apostar em relações humanas articuladas entre pessoas e grupos que, no debate das diferenças, possam ajustar intenções mais coletivas e produtivas para todos”.

Quando se cria uma rede, as interações ocorrem entre os diferentes atores. Dessas interações surgem propostas e novos subsídios para enriquecer os debates a respeito da inclusão. Quando se busca eficiência e efetividade, isso requer um aprofundamento e um domínio sobre o campo em que se deseja atuar. Logo, a

construção de uma rede demanda a contribuição de todos e também uma certa flexibilização para se adequar às mudanças que caso possam ocorrer. Gonçalves e Guará (65) reforçam afirmando que a rede se fortalece na medida em parcerias internas e externas são estimuladas, ampliando o grau de adesão entre todos.

Sendo assim, percebe-se que há a necessidade da criação de uma equipe formada por profissionais da educação e saúde, trocando informações e realizando um trabalho em rede, de forma a efetivar a inclusão do aluno com PC, sempre buscando proporcionar avanços neste processo.

2 JUSTIFICATIVA

Conforme a Lei n.13.146, de 6 de julho de 2015, capítulo IV art. 27 que diz respeito ao aluno com deficiência:

A educação constitui direito da pessoa com deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais, intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de aprendizagem (13).

Portanto, a legislação reconhece a importância da inclusão escolar desde os primeiros anos de vida da criança como forma de garantir seu desenvolvimento em potencial. Contudo a forma como ela vem sendo organizada no sistema de ensino brasileiro nem sempre contempla a prática do trabalho em rede que estabeleça as parcerias entre Instituição de reabilitação, família e escola de forma a compreender a criança em sua totalidade.

Diante das dificuldades vistas em relação à inclusão escolar e social de crianças com PC faz-se pertinente buscar alternativas para os problemas que permeiam esse processo. Sendo assim, a implementação do trabalho em rede é um dos caminhos para que se faça a inclusão escolar possibilitando o encontro interdisciplinar entre saúde e educação e o trabalho com as famílias das crianças com PC que estão sendo incluídas na escola.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral

Caracterizar aspectos de uma experiência de trabalho em rede (família, escola, Instituição) ao longo do processo de inclusão escolar e social de crianças com diagnóstico de PC, que são assistidas na Associação dos Deficientes Físicos de Poços de Caldas (ADEFIP), Minas Gerais.

3.2 Objetivos específicos

 Caracterizar o trabalho em rede em termos de conceitos, contribuições, dificuldades e propostas de aprimoramento, dos diferentes participantes desse trabalho, a saber:

- pais/responsáveis pelas crianças participantes; - professores de AEE;

- profissionais da instituição.

 Compreender os sentimentos, ideias e comportamentos das mães, dos professores e da equipe profissional de saúde e educação da Instituição de reabilitação multidisciplinar.

4 MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo utilizou a abordagem qualitativa, ou seja, pretendeu-se conhecer as vivências dos pesquisados e suas experiências. De acordo com Turato (66), no contexto da metodologia qualitativa aplicada à saúde, emprega-se a concepção trazida das Ciências Humanas, segundo a qual não se busca estudar o fenômeno em si, mas entender seu significado individual ou coletivo para a vida das pessoas.

A pesquisa qualitativa, de acordo com Minayo (67), dá atenção a atitudes, significados e motivos das relações humanas. O interesse do pesquisador volta-se para a busca dos significados das coisas, porque este tem um papel organizador nos seres humanos. Num outro nível, os significados que eles ganham, passam também a ser partilhados culturalmente e assim organizam o grupo social em torno destas representações e simbolismos.

As entrevistas semiestruturadas feitas com as mães, os professores da sala de recursos e os profissionais do Centro de Reabilitação Multidisciplinar, descrevem e caracterizam o serviço em rede oferecido e sua participação na inclusão escolar, por meio de vivências e representações.

Esse método, conforme afirma Minayo (67), é um instrumento privilegiado de coleta de informações para as Ciências Sociais, por revelar condições estruturais, de sistemas de valores, normas e símbolos, e ao mesmo tempo transmitir, as representações de grupos determinados em condições históricas e socioeconômicas específicas.

4.1 Participantes

Foram participantes deste estudo: mães de crianças com PC, professores da sala de recursos e profissionais da saúde e educação que atuam como terapeutas no Centro de Reabilitação da Associação dos Deficientes Físicos de Poços de Caldas (ADEFIP). A partir da seleção das crianças, foram realizadas entrevistas com as respectivas mães, os profissionais da educação (professores da sala de recursos) e profissionais do Centro de Reabilitação que atendiam essas crianças. Na equipe da Instituição foram incluídos médico fisiatra, enfermeira, assistente social,

fisioterapeuta, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, fisioterapeuta, psicólogo, pedagogo e psicopedagogo.

Foram critérios de inclusão: a) crianças que estivessem matriculadas na Educação Infantil ou Fundamental I, na faixa etária de 4 a 10 anos, com diagnóstico de PC; b) aceitação na participação no projeto, com assinatura do TCLE, dos pais/responsáveis legais dessas crianças (Anexo IV); c) aceitação na participação na pesquisa, com assinatura do TCLE, do professor da sala de recursos e dos profissionais da Instituição, que atuavam com a criança (Anexo V).

Foram feitos convites e o conjunto de participantes ficou completo quando se obteve a aceitação de pais e profissionais relacionados a cinco crianças.

Os critérios de exclusão foram: a) crianças fora dos requisitos para inclusão; b) recusa de participação na pesquisa e de assinatura do TCLE de qualquer um dos participantes do estudo.

Todas as informações sobre as características dos participantes foram obtidas nos prontuários existentes no Centro de Reabilitação Multidisciplinar.

No Quadro 1, encontram-se as informações das características dos participantes do estudo segundo o nome fictício, idade, escolaridade, distribuição topográfica da paralisia cerebral/classificação, mobilidade, funcionalidade do membro superior e desenvolvimento cognitivo e linguístico.

Quadro 1 – Características dos sujeitos (crianças) Nome fictício Idade * Ano Escolar Distribuição topográfica da paralisia cerebral /classificação Meio(s) de mobilidade Funcionalidade do membro superior Desenvolvimento cognitivo e linguístico C1 Alex

4a0me Jardim I Diparesia espástica nível II Marcha comunitária Realiza Preensão de forma funcional com soltar ativo. Uso de lápis. Comunica-se por gestos. Tarefas escolares: atenção e identificação de figuras, dificuldades com agrupamentos e sequências (pouco tempo nas tarefas). C2

Roberto

5a0me Jardim I Atáxico nível I Marcha comunitária Realiza Preensão de forma funcional com soltar ativo. Uso de lápis.

Comunica-se por gestos.

Tarefas escolares: agrupa cores (não nomeia), identifica figuras (por exemplo animais), tem dificuldades com sequências.

C3 Rafael

8a5me 2ºano Tetraparesia coreoatetóide nível III Cadeira de rodas (cotidiano) e marcha terapêutica com andador Preensão primitiva, soltar não é ativo e padrão não funcional acarretado pela movimentação involuntária (discinesia). Uso de alfabeto móvel (letras grandes) e tablet. Comunica-se por gestos e utiliza bem a

prancha de

Comunicação Suplementar Alternativa.

Desempenho na escola de acordo com a faixa etária.

C4 Silvia

9a10me 3ºano Tetraparesia espástica nível IV Cadeira de rodas Preensão primitiva em garra, soltar ativo, o padrão espástico favorece a manutenção da preensão. Uso de alfabeto móvel (letras grandes) e tablet. Comunica-se por gestos e iniciou uso da

prancha de

Comunicação Suplementar Alternativa.

Tarefas escolares: reconhece seu nome e letras do alfabeto, conta até 9.

C5 Irene

10a11me 4ºano Hemiparesia esquerda nível II Marcha comunitária Utiliza o membro preservado para preensão apresentando padrão compatível a sua idade. Uso de lápis Fala fluente. Desempenho na escola de acordo com a faixa etária.

Observa-se que os participantes da pesquisa são cinco crianças com idade entre quatro a dez anos, alunos de escolas regulares da educação infantil e fundamental I, tipos de PC e classificações variadas, meios de mobilidade diversificados que vão desde a marcha comunitária, a marcha terapêutica e ao uso de cadeira de rodas. Funcionalidade do membro superior com e sem realização de preensão e desenvolvimento cognitivo e linguístico diferente uns dos outros, onde a maioria comunica-se por gestos e apenas C5 possui fala inteligível. C1, C2 e C4 apresentam dificuldades nas tarefas escolares, C3 e C4 fazem uso de Comunicação Suplementar e Alternativa e C3 e C5 apresentam desempenho na escola de acordo com a faixa etária.

A caracterização dos pais participantes da pesquisa encontram-se no Quadro 2.

Quadro 2 – Caracterização da família Identificação Faixa etária em anos Escolaridade da mãe Escolaridade do pai Rendimento familiar – faixa salarial Número de filhos M1 26-30 Ensino Médio completo Ensino Fundamental completo 2-3 SM 1 M2 21-25 Ensino Médio completo Ensino Médio completo 2-3 SM 1 M3 21-25 Ensino fundamental incompleto Ensino fundamental incompleto 1-2 SM 1 M4 31-35 Ensino médio completo Ensino Médio Completo 2-3 SM 1 M5 31-35 Ensino médio completo Ensino Médio Completo 3-4 SM 2

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Observa-se, pelo Quadro 2, que a idade das mães varia entre vinte e um e trinta e cinco anos. A maioria dos pais possui Ensino Médio completo, com exceção da mãe e do pai da C3 que possuem Ensino Fundamental Incompleto e do pai da C1 com Ensino Fundamental Completo. O rendimento familiar foi indicado por unidades do salário mínimo, predominava uma faixa entre dois e três salários. A maioria das famílias optou por um filho, com exceção da família C5.

A caracterização das professoras de Atendimento Educacional Especializado (AEE) encontram-se no Quadro 3.

Quadro 3 – Caracterização das professoras de AEE Identificação Formação especializada Faixa

etária

Tempo de atuação no serviço

P1 Atendimento Educacional Especializado e Educação especial e Psicopedagogia

35-39 3 anos P2 Atendimento Educacional Especializado 25-29 4 anos P3 Atendimento Educacional Especializado e

Psicopedagogia

29-33 5 anos P4 Atendimento Educacional Especializado e

Psicopedagogia

40-44 8 anos P5 Atendimento Educacional Especializado 35-39 3 anos

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Os profissionais da educação que atuam com as crianças na escola semanalmente foram caracterizados no Quadro 3. Observa-se que todos os professores apresentam especialização em AEE e a maioria com mais de uma especialização na área. A faixa etária varia entre 25 e 45 anos e foi observado que eles trabalham há mais de três anos nas escolas com educação inclusiva.

A caracterização dos profissionais da saúde que atendem as crianças estudadas na presente pesquisa encontra-se no Quadro 4.

Quadro 4 – Características dos profissionais da saúde Profissionais da saúde Formação profissional Crianças atendidas Faixa etária Tempo de atuação no serviço Enf - T1 Enfermagem C1, C2, C3, C4, C5 25-29 4 anos Fis1 - T2 Fisioterapia C2, C4 35-39 8 anos Fis 2 - T3 Fisioterapia C1, C2, C3, C4 35-39 7 anos FO - T4 Fonoaudiologia C1, C2, C3, C4 29-33 3 anos Md Medicina Fisiátrica C1, C2, C3, C4, C5 35-39 2 anos Pd -T5 Pedagogia C3, C4, C5 25-29 2 anos Pp -T6 Psicopedagogia C1, C2 29-33 7 anos Psi - T7 Psicologia C1, C2, C3, C4, C5 29-33 3 anos SS - T8 Serviço Social C1, C2, C3, C4, C5 45-50 7 anos TO1 - T9 Terapia Ocupacional C3, C5 35-39 8 anos TO2 - T10 Terapia Ocupacional C1, C2, C4 25-29 5 anos

Fonte: dados da pesquisa, 2015.

Os profissionais de diferentes áreas da saúde e educação que atuam com as crianças no Centro de Reabilitação Multidisciplinar, incluídos médico fisiatra, enfermeira, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicopedagoga, pedagoga, psicóloga e fonoaudióloga nos diferentes campos profissionais encontram-se caracterizados no Quadro 4. A maioria possui especialização nas áreas de

reabilitação e inclusão escolar.

4.2 Aspectos éticos

Os entrevistados foram informados sobre os objetivos da pesquisa e realizada a leitura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (Anexos IV e V). Assim, quando de acordo, foram coletadas as assinaturas dos participantes.

A pesquisa foi realizada no Centro de Reabilitação Multidisciplinar da ADEFIP, onde ocorreram todas as entrevistas. O primeiro contato com as mães foi realizado por telefone e nos dias em que levavam seus filhos para os atendimentos. O contato com os professores foi realizado nos momentos de assessoria escolar, com agendamento para as entrevistas. Os profissionais da saúde foram convidados em reunião de equipe multidisciplinar na Instituição.

No momento do convite, os participantes foram esclarecidos sobre os objetivos da pesquisa, assim puderam optar em participar do estudo ou não, também ficaram livres para desistir em qualquer momento. Estando de acordo com a proposta, procedimentos e objetivos da pesquisa, os participantes assinaram o Termo de Consentimento livre e Esclarecido (TCLE).

Os procedimentos descritos nesta pesquisa foram analisados e aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com número CAAE: 46844615.7.0000.5404.