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CAPÍTULO 4 – ELEMENTOS DA FUNÇÃO INTERPRETATIVA CONSTITUCIONAL PARA O

4.2 O USO DE TÉCNICAS INTERPRETATIVAS ESPECÍFICAS NA PRINCIPIOLOGIA

O uso de técnicas interpretativas específicas é bastante discutido nas esferas constitucionais. Esses recursos devem levar em conta não só o equilíbrio do contexto constitucional do país como um todo, mas igualmente oferecer respostas em situações que vêm se tornando comuns, referentes à de colisão de princípios constitucionais de mesmo peso para normas daquela ordem. Esse tipo de decisão embute as percepções dos intérpretes que carregam para a solução do conflito seus valores individuais. Essa consideração é importante, quando se observa a natureza política que assume o intérprete, no momento em que se torna detentor da função de julgar e capaz de, mediante sua decisão, influenciar o comportamento em um segmento administrativo, ou adoção de medidas de política pública, especialmente nas relevantes e recentes questões ambientais.

É possível renovar a idéia de sistema na interpretação constitucional, admitindo uma índole hierarquizante na consideração de princípios, regras e valores constitucionais. É também possível admitir que

ao hierarquizarmos prudencialmente os princípios, as normas (no sentido de regras) e os valores constitucionais, devemos fazer com que os princípios ocupem o lugar de destaque ao mesmo tempo situando-os no ápice e na base do sistema, vale dizer, tomando-os na prática como fundamento e cúpula do mesmo175.

A interpretação sistemática favorecerá a eliminação de antinomias e a hierarquização de princípios, normas e valores poderá proporcionar uma saudável mutação constitucional, mediante a interpretação no caso concreto, útil à evolução do direito e sua adaptação ao tempo e mudanças sociais. Só recursos como a ponderação permite, em detrimento da subsunção, esta postura constitucionalista de mudança e atualização interpretativa.

175 FREITAS, Juarez. O intérprete e o poder de dar vida à constituição: preceitos de exegese constitucional. In: GRAU, Eros Roberto. GUERRA FILHO, Willis Santiago. (orgs.) Direito constitucional. Estudos em homenagem a Paulo Bonavides. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 226-248.

A técnica utilizada para conhecer qual o direito prevalecente em cada caso concreto que envolva o choque entre princípios está no campo da ponderação. Restringir um direito em proveito do outro requer uma análise da questão por completo. O uso da ponderação permite, buscando o intérprete o distanciamento epistemológico de seu objeto e a busca da consciência ética, a adoção de escolhas interpretativas com elevado grau de objetividade.

Robert Alexy tem defendido com muito fervor a adoção desta técnica, tendo estabelecido inclusive uma metodologia própria para a sua utilização. Segundo esse autor, a ponderação está intimamente relacionada ao principio da proporcionalidade, com seus sub-princípios que destacam sua característica de mandamento de otimização do direito. “Como mandamentos de otimização, princípios são normas que ordenam que algo seja realizado em medida tão alta quanto possível relativamente às possibilidades jurídicas e fáticas.”176 A denominada Lei da Ponderação é resumida no preceito segundo o qual “Quanto maior é o grau de não-cumprimento ou prejuízo de um princípio, tanto maior deve ser a importância do cumprimento do outro” e é aplicada segundo três passos, a saber: a comprovação do grau do prejuízo de um dos princípios em detrimento do outro; a comprovação da importância do cumprimento do princípio no sentido contrário e, finalmente, se a importância do cumprimento de um dos princípios justifica o não cumprimento do outro, de sentido oposto.177 O cenário da aplicação da lei da ponderação, certamente, será comumente os dos Tribunais Constitucionais.

O controle das técnicas de ponderação aplicadas à Constituição deve favorecer a possibilidade de que não possa existir jamais a opção por um ou outro

176 ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Livraria do

Advogado, 2007, p.156.

princípio, sob pena de inconstitucionalidade da decisão, mas tão somente o sopesamento do princípio no caso, para eleição do menos danoso ao rol de direitos e garantias postos sob análise na situação concreta. É importante ressaltar que a ponderação enquanto técnica interpretativa pode ser considerada tanto em concreto – com aplicabilidade imediata em situações submetidas em juízo – como em abstrato.178 Sem dúvida, a ponderação está intimamente relacionada ao discurso, que fornecerá a fundamentação necessária na argumentação das decisões.179

Acredita-se que o critério primordial em busca da objetividade na ponderação é reforçado pela premissa de não quebrar jamais o princípio, pois estaria nesse caso o intérprete violando o sistema, mas a busca constante da harmonização e a preservação máxima do sentido abarcado pelo princípio constitucional. Eis a importância de conhecermos a síntese histórica que permeou a valorização do princípio enquanto norma.

Essa é uma das características do movimento teórico conhecido na atualidade por neoconstitucionalismo. Logo, acredita-se ser necessário, para reforçar a relevância da hermenêutica principiológica, traçar um panorama evolutivo que elevou o princípio, de referência interpretativa ao patamar de norma impositiva.

178 BARCELLOS, Ana Paula de. Alguns parâmetros normativos para a interpretação constitucional. In:

BARROSO, Luís Roberto. (Org.) A nova interpretação constitucional. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 60-61. A autora ressalta que “a ponderação poderá se desenvolver, primeiramente, em abstrato, quando, pela análise de fatos típicos ou conhecidos e pelo estudo da metodologia própria do direito, a doutrina poderá construir, respectivamente, parâmetros gerais e particulares para a ponderação. Esses parâmetros servirão de modelos de solução para o intérprete diante do caso concreto.”.

179 Daí a expressão constitucionalismo discursivo utilizada por Robert Alexy. ALEXY, Robert. Constitucionalismo discursivo. Trad. Luís Afonso Heck. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007,

4.3 A TRAJETÓRIA E EVOLUÇÃO NORMATIVA DOS PRINCÍPIOS NA TEORIA