• Nenhum resultado encontrado

O valor da cultura num contexto internacional

Capítulo VI. Análise das entrevistas

6.5 Estratégias para inverter a baixa da noticiabilidade

6.7.1 O valor da cultura num contexto internacional

Através da análise realizada percebemos que a cultura ocupa um espaço reduzido na televisão portuguesa, com esta variante de análise pretendemos perceber se o mesmo acontece num contexto internacional. Temos como certo que não existem dados concretos. Os depoimentos dos artistas, todos eles feitos pessoalmente, confirmam que a tendência é a mesma. O ator espanhol, sem hesitações afirma que “a nossa presença como artistas de teatro não

saímos em nenhum meio de comunicação”. (Ator espanhol, Daniel Carreras).

Carlo Boso, a propósito desta questão salienta que “em Itália a tendência é a mesma a cultura nos noticiários pura e simplesmente não existe, é praticamente nula, não estava nas linhas de interesse do Governo de Berlusconi e toda esta comunidade de pessoas que destruíram o estatuto económico e social italiano. Gente que rouba dinheiro de todos, é normal que o primeiro a fazer é a eliminar a cultura, e nos estamos a viver numa ditadura dos media e a cultura é perigosa tanto para a televisão como para o Governo”. Face a isto questionamos o encenador acerca de uma outra questão, será que a culpa também é do público? A resposta do italiano perante a questão enunciado é que: “o público é seguro que esta interessado na transmissão de cultura. Se o público não participa culturalmente é porque não há vontade política. A estagnação da cultura não se deve ao público pois este claro que se interessa, só não é um ator cultural por falta de vontade política.

Portugal, Espanha, e Itália registam a mesma tendência para noticiar a cultura, talvez por isso e por muito outras questões decidi entrevistar uma artista brasileira, residente na Alemanha, de forma a perceber como é que a cultura está representada numa das grandes cidades europeias, Eleonora Aira conta-nos que Berlim é uma cidade europeia com muito espaço para a cultura, a Europa é muito mais cultural que a América, são financiados muitos mais projetos culturais e apoiados mais grupos quer de teatro, como de música, dança, pintura, desta forma há mais dinheiro destinado à cultura. Em Berlim a cultura ocupa um espaço significativo mas lá está existe disparidade, pois no teatro de sala há definitivamente divulgação mas isto porque existe dinheiro à mistura, mas se é teatro de rua não há divulgação, pois não há interesse para a televisão, pois não gera dinheiro. Porém a nível de divulgação não é nada como as pessoas pensam, a cultura não é muito divulgada pelos meios de comunicação”, acrescenta Eleonora.

Entrevistamos Mauro Wolynski, artista argentino e perguntamos-lhe como é que a cultura era valorizada na argentina, sem duvidas o artista respondeu-nos que “ a televisão na argentina assenta numa lógica comercial, há poucos programas interessante, e acima de tudo sensacionalistas e baseados numa política negativista (violência). Por outro lado existem os programas que são transmitidos envolvem sempre mulheres com pouca roupa, muita violência, muita propaganda, ou seja, tudo em volta de cativar as audiências. É mais fácil fazer um programa falando da vida pública (vedetas), tais como acontece nas “revistas cor de rosa”, ou seja, os programas baseiam-se em polémicas. Isto acontece porque são programas muito baratos e têm muito raiting. Para a televisão as audiências e a publicidade são muito importante pois envolvem muito dinheiro, e mais que isso geram dinheiro”, acrescenta o humorista. O argentino, considera que o trabalho enquanto artista não é detentor de tal divulgação: “o meu trabalho como artista não é valorizado na televisão, começamos pelo facto de não haver divulgação do nosso trabalho enquanto arte, o facto de não gerar dinheiro para as televisões e por fim não é vantajoso estimular o público a nível cultural, pois convém aos meios de comunicação programas fáceis de digerir, que não envolvam grandes gastos e que consigam atingir picos de audiência. Se o pensamento não mudar, a cultura nunca irá ter o merecido destaque”.

Entrevistamos uma atriz de teatro de rua argentina, mas neste momento sediada em Espanha, a artista refere que, “não vejo televisão porque não me interessa esse canal de informação, então o que vejo em relação a arte é que é notícia se houver envolvido dinheiro, se não há dinheiro não há divulgação dos grupos de teatro. A televisão é puro entretenimento, apenas comercial. Quando confrontada com a questão se na Europa há mais espaço para a cultura, Ayelén Cantini considera que “na Argentina existem muitos artistas que são valorizados, mas essa divulgação é quando se trata das vedetas, onde a polémica é o fator chave, sendo esta a realidade televisiva da argentina, e eu não quero ver o meu trabalho de anos passar numa televisão que de cultural não tem nada, somente quer vender. Vim para a Europa ver como a cultura era em outro continente, e o que constato é que há mais dinheiro destinado para a cultura, há festivais culturais. E o que mais me fascina é como

a cultura é valorizada e acima de tudo produzida, a Europa sem dúvida tem mais condições para albergar a cultura mais que o meu país Natal. Na minha opinião, França e Alemanha são os países que mais valorizam e proporcionam espaço à transmissão de cultura”.

O humorista argentino mostra-se bastante descontente com a televisão argentina e afirma que “a cultura é perigosa para a televisão, uma vez que a cultura questiona sempre alguma coisa da sociedade, a cultura oferece sempre a possibilidade de dizermos tudo o que pensamos mas que não podemos dizer de forma coletiva, pois a televisão nunca vai transmitir tudo o que pensamos, vai dizer o que eles querem que pensemos ou que seja dito, logo há um controlo descontrolado. Eu penso que o reduzido espaço da cultura é para ter controlada as pessoas, transmitem pouca cultura, ou seja, não estimulam o prazer pela cultura, de forma a ter mais controlada toda a sociedade. É mais fácil (e rentável) que as pessoas vejam programas fáceis, generalistas, que não possuem o limiar mínimo de cultura. É mais fácil e custa menos fazer um programa de entretenimento, e com estes programas têm muitas audiências, é fácil e a televisão não quer pagar e não quer gastar dinheiro com a cultura”.