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2 Serviço de Apoio Domiciliário

2.1 Objectivos do Serviço de Apoio Domiciliário

2.1.1 Objectivos de natureza individual

Existe consenso, na literatura consultada (Benjamin, 1999; Cox & Ory, 2000), de que a planificação e implementação do SAD deve ser fundamentada nas necessidades dos utentes. Estas necessidades, que podem ser de natureza diversa, física ou psicossocial, mudam permanentemente, assim como o contexto das mesmas. Mesmo que os utentes tenham condições ou diagnósticos semelhantes, os objectivos individuais podem assumir natureza diversa. Contudo, o seu objectivo principal será sempre o de contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seus beneficiários (Benjamin, 1999).

O conceito de qualidade, encarado como qualidade de vida, está normalmente associado ao grau de excelência. Segundo Bracco (1999), este conceito deriva de um estado global de bem-estar, relacionado com as capacidades funcionais, ou de nível cognitivo, psicológico, social e económico. Para que se possa falar em Qualidade de Vida, sendo que esta pode apresentar-se em níveis altos ou baixos, importa atentar na dimensão subjectiva do conceito. Wade (1992, citado por Mozley 2004), refere que, para

medir ou definir qualidade de vida, se deve ter em conta a cultura, as expectativas, as crenças e os próprios desejos do indivíduo. Também na perspectiva de Szalai (1980, citado por Mozley 2004), o conceito de qualidade de vida deriva de uma interacção entre determinantes objectivas e subjectivas. O estado funcional, o bem-estar, ou a satisfação com a vida são determinados por factores exógenos e da sua própria vida, conjugados com a percepção que o indivíduo tem desses factos e de si próprio. Em suma, trata-se de um conceito envolto numa imensa carga subjectiva, dependente do nível sócio-cultural, da faixa etária e das aspirações pessoais do indivíduo.

Nesta perspectiva, os objectivos individuais, isto é, aquilo que o indivíduo define como prioridade e considera importante para o seu bem-estar, vai ser essencial na determinação do tipo de serviço a prestar pelo SAD.

Tendo por base a literatura consultada, o SAD procura corresponder a um conjunto de objectivos de natureza individual, dos quais se destaca:

(i) Melhorar ou manter a saúde. Pretende-se, com a prestação do SAD, a prevenção da doença, fazendo o seu diagnóstico em tempo oportuno, proporcionando tratamento que cure a doença, retirando a dor, ou aliviando os sintomas. Deverá permitir também a reabilitação das condições físicas, para restaurar o mais possível as capacidades funcionais (Cox & Ory, 2000). A possibilidade do idoso ser “monitorizado”, permite aos cuidadores a identificação de problemas e a intervenção necessária de modo a prevenir consequências mais gravosas para o idoso (Kane, 1999a). De um modo geral, pode afirmar-se que o SAD como que educa os idosos e os seus cuidadores, induzindo uma actuação preventiva, alertando para problemas de saúde, antes que estes possam atingir outra dimensão (Benjamin, 1999);

(ii) Promover conforto e desaparecimento da dor. A dor e o desconforto constituem indicadores do estado de saúde do indivíduo. Este objectivo ganha especial importância quando se trata de idosos com doenças terminais, que beneficiam de cuidados paliativos. Torna-se evidente que o controle destes sintomas constitui, nestes casos, o objectivo principal para os utentes, mas também para os seus cuidadores (Kane 1999a);

(iii) Melhorar ou reduzir a deterioração das capacidades funcionais. Constitui outro objectivo do SAD a colaboração na recuperação das capacidades do indivíduo em se auto-cuidar, bem como na recuperação de outras capacidades (Cox & Ory, 2000). Uma atitude de reabilitação é pertinente sobretudo nas pessoas que terminam um período de internamento hospitalar ou que recuperam de um período de doença. É necessário dar especial atenção às dificuldades visuais, de

locomoção, de medicação em curso, e às condições ambientais, já que todos estes factores conjugados influenciam as capacidades funcionais do idoso, necessitando da intervenção de profissionais da área. Melhorar ou manter as capacidades funcionais requer, também, uma atitude, por parte dos profissionais, de encorajamento ao utente para que ele realize tarefas dele e para ele, dentro dos seus desejos e das suas possibilidades. Esta atitude de encorajamento aplica-se também aos doentes com pouca esperança de vida, no sentido de que mantenham algum sentido de vida nesta fase (Kane 1999a). Em suma, é possível e aconselhável maximizar as capacidades funcionais do idoso, pois existem áreas em que este deve ser capaz de desempenhar algumas tarefas. Neste sentido, são várias as formas de melhorar a autoconfiança, seja aumentando a capacidade de desempenho, seja providenciando tecnologias de apoio/assistência humana e alteração ambiental como a minimização de barreiras (Benjamin, 1999);

(iv) Melhorar a capacidade de cuidar de si próprio (auto-cuidado). O SAD pretende que o indivíduo saiba lidar com as suas próprias incapacidades. Mais do que ficar a depender permanentemente de terceiros, deverá ser desenvolvido trabalho que promova ensinamentos de modo a que o indivíduo possa ser auto-suficiente, sempre que possível (Kane, 1999a);

(v) Melhorar o bem-estar psicológico. Estados depressivos e de ansiedade podem surgir entre os idosos, originados muitas vezes pelos motivos que justificaram o recurso ao serviço, designadamente a presença de doença e/ou ausência de rede social/apoio social. A prestação do SAD, por si só, pode contribuir para a redução desses sintomas de depressão ou ansiedade, atendendo às novas relações que são, então, estabelecidas. Contudo, a prestação do serviço pode, por seu lado, exacerbar estados emocionais, nomeadamente através de comportamentos menos adequados dos profissionais, como seja infantilizar o próprio idoso. Como tal, é fundamental que os profissionais envolvidos estejam atentos ao estado psicológico dos utentes e que contribuam efectivamente para o bem-estar dos mesmos (Kane, 1999a);

(vi) Melhorar o bem-estar social. Este conceito pode ser dividido em envolvimento social, entendido como actividades sociais, e relações sociais, seja com a família e amigos. Tal como o bem-estar psicológico, também o bem-estar social é encarado como um dos objectivos do SAD. Deste modo, este serviço deve disponibilizar meios, ao nível da assistência funcional, que permitam que o indivíduo participe em actividades do seu interesse, e com indivíduos à sua escolha. Contudo, aquilo que se entende por bem-estar social, é algo que só ao indivíduo diz respeito. Por vezes,

verifica-se uma tendência em considerar que os indivíduos socialmente isolados devem ser integrados em programas comunitários. No entanto, se para alguns esta solução pode ser vantajosa, para outros, tal solução pode ter efeitos indesejáveis. Segundo Easterbrook (1999, citado por Nolan 2001), é fundamental que, esta procura de dar sentido à vida, esteja associada com a participação e manutenção das relações pessoais, de acordo com os desejos do indivíduo;

(vii) Dar sentido à vida. É frequente encontrar utentes do SAD que, por razões associadas ao seu estado de saúde, em muitos casos totalmente dependentes, consideram que as suas vidas já não fazem sentido, desenvolvendo sentimentos de auto- vitimização. Nestes casos, é importante que cada utente encontre um sentido para a sua vida, cabendo aos serviços reforçar e colaborar na solidificação desse sentimento (Kane, 1999a). Sobre este assunto é pertinente a referência ao conceito de profilaxia da velhice, que defende que a pessoa idosa não deve sentir-se como um elemento passivo, mas deve ser responsável pelo processo do seu envelhecimento, tal como fez ao longo da sua vida (Bracco, 1999). A este propósito, Farell et al. (1999, citado por Nolan, 2001) referem a importância da atitude positiva que deve ser estabelecida com o idoso, bem como da capacidade que os profissionais devem possuir para serem capazes de tratar o idoso com respeito, nunca deixando de o ouvir.

(viii) Maximizar a independência e autonomia do idoso. Indivíduos com limitações físicas graves podem continuar a dirigir a sua própria vida, determinando, inclusivamente, aquilo que pretendem que os cuidadores realizem (Emlet et al., 1996). Neste contexto, os programas de SAD deverão contribuir para uma mudança de atitude dos utentes, de modo a que os mesmos façam as suas próprias escolhas e refiram as suas preferências. O alcance da independência é uma consequência da maximização das capacidades funcionais. Contudo, a independência não implica somente a não-institucionalização, mas requer também uma mudança de atitude por parte do indivíduo, de modo a que, ainda que dependente de assistência técnica ou humana, possa ao mesmo tempo, ser autónomo, ou seja, capaz de formar a sua vontade e opinião, efectuando escolhas de acordo com as suas preferências. Estes serviços devem, assim, promover assistência funcional, em simultâneo com uma aprendizagem activa, treino de capacidades e facilitação de oportunidades para uma maior participação na comunidade. O mote é viver uma vida completa e produtiva (Benjamin, 1999).

(ix) Permitir que o idoso permaneça na sua casa. Se a generalidade dos idosos considera a sua casa como o local onde preferem manter-se, esta evidência pode

traduzir-se numa mais valia de grande peso para este serviço. Trata-se efectivamente de uma resposta que permite a concretização deste objectivo e que acaba por ter efeitos também ao nível da sociedade, uma vez que esta permanência dos idosos no domicílio vai permitir algum alívio na ocupação de camas hospitalares, bem como dos próprios lares de idosos (Benjamin, 1999).

Figura 1 - Objectivos ao nível individual do SAD.

Objectivos

Processos

Resultados

Adaptado de Thomé et al. (2003).

• Promover/manter qualidade de vida

• Optimizar estado funcional • Facilitar a independência

Serviço de Apoio Domiciliário

Acções preventivas • Avaliação preventiva • Recomendações • Follow-up Cuidado dirigido às necessidades individuais • Físicas • Psico/sociais • Sociais • Cognitivas Acções depois da alta • Avaliação • Planificação • Implementação • Follow-up

Melhoria significativa do estado funcional • AVD’s

• IAVD’s

• Estado Cognitivo

Melhoria/manutenção da Qualidade de Vida • Bem-estar

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