• Nenhum resultado encontrado

2 Serviço de Apoio Domiciliário

2.3 Tipologias e Finalidades do Serviço de Apoio Domiciliário

2.3.1 Reabilitação

A reabilitação traduz-se numa intervenção interdisciplinar com o objectivo de melhorar a função de um indivíduo que, independentemente da idade, tenha perdido capacidades funcionais devido a acidentes, cirurgias, doenças, ou mesmo eventuais perdas de função associadas ao envelhecimento (Sheets & Rubino, 2005). Neste contexto, a maximização

da função, a promoção da independência e a manutenção ou melhoramento da qualidade de vida do indivíduo constituem prioridades (Kane, 1994). É reconhecido, no entanto, que nem sempre é possível a recuperação da totalidade da função afectada (Sheets & Rubino, 2005).

As áreas de intervenção da reabilitação são múltiplas. Podem passar pela medicina física, terapia física, terapia ocupacional, terapia da fala, suporte nutricional e serviços ao nível da saúde mental.

O programa de reabilitação estabelecido para o utente deverá ser individualizado, definir os objectivos a atingir e determinar o tipo e intensidade do tratamento a executar, sendo as dimensões biológicas, psicológicas e sociais consideradas determinantes para a reabilitação (Sheets & Rubino, 2005).

Não obstante, os aspectos relacionados com o estado cognitivo, designadamente défices cognitivos, parecem ter um efeito negativo no processo de reabilitação, limitando o sucesso do mesmo (Brummel-Smith, 2000).

O serviço de reabilitação desenvolvido no domicílio tem vindo a desenvolver-se consideravelmente (Wade, 1998). Paralelamente, o SAD tem vindo a integrá-lo nos serviços disponibilizados.

Um estudo longitudinal, realizado por Kane & Penrod (1993, citado por Kane, 1999a), refere que os idosos que utilizam serviços domiciliários de longa duração valorizam a reabilitação das funções perdidas, considerando como heróis os profissionais ligados à reabilitação.

A reabilitação efectuada no próprio domicílio/ambiente natural do doente parece apresentar grandes benefícios (Cecchi et al., 2005; Sheets & Rubino, 2005), atendendo a que permite: (i) avaliar a capacidade do utente em se mover no próprio domicílio; (ii) determinar alterações a efectuar em termos de barreiras arquitectónicas; (iii) aconselhar sobre as ajudas técnicas mais ajustadas; (iv) evitar a deslocação, sobretudo quando as dificuldades de locomoção são elevadas. Em termos de benefícios da realização da reabilitação no próprio domicílio, Lafferty (1996, citado por Nolan, 2001), acrescenta ainda: (i) o desejo natural do idoso regressar a casa; (ii) a redução do tempo de hospitalização; (iii) os melhores resultados na reabilitação se forem desenvolvidos no domicílio; (iv) a diminuição dos custos.

O estudo de Cecchi et al. (2005), relativo a um modelo de reabilitação intensiva, Post- acute Home Reabilitation, e que se caracteriza como um serviço que procede à reabilitação do doente no próprio domicílio por um determinado período de tempo, implicando um envolvimento activo quer do doente quer da sua família, parece evidenciar resultados muito positivos no utente. Segundo os autores, este tipo de serviço

corresponde às necessidades de reabilitação no período pós-hospitalar, de forma imediata, eficiente e a baixo custos.

A reabilitação é muitas vezes dificultada pela própria atitude da pessoa idosa. Acontece, por vezes, que a pessoa idosa não executa as suas AVD’s, com receio de deixar de beneficiar do apoio dos profissionais. Outros dizem que só executam as tarefas quando deixarem de beneficiar do apoio dos mesmos profissionais. Tal atitude e procedimentos, na perspectiva de Baker et al. (2001), são contraproducentes para uma reabilitação efectiva e eficiente.

A atitude das ajudantes familiares, também não facilita, muitas vezes a reabilitação, atendendo à tendência em substituir o idoso no desenvolvimento de tarefas, seja nos cuidados pessoais seja nas tarefas instrumentais (Baker et al., 2001).

O estudo de Baker et al. (2001) tenta descrever o desenvolvimento de um novo modelo de SAD que integre tratamentos médicos em condições agudas e reabilitação nas doenças crónicas incapacitantes que promovam a melhoria do estado funcional.

Segundo os mesmos autores, no modelo de SAD em funcionamento, existe um conjunto de obstáculos que impedem o alcance da independência funcional do idoso. Este conjunto de obstáculos pode localizar-se a diferentes níveis,

(i) Obstáculos de carácter geral, caracterizados por pouca clareza no

estabelecimento dos objectivos do cuidado; pacientes muito doentes para serem cuidados com os recursos disponíveis e pouca experiência do pessoal para lidar com este tipo de doentes;

(ii) Obstáculos de carácter localizado, ao nível das ajudantes familiares domiciliárias,

sentindo pouca autoridade no sentido de “obrigar” o idoso a tratar do seu auto- cuidado; receio de avaliações negativas por parte do idoso e dos coordenadores;

(iii) Obstáculos relativos ao idoso e aos seus cuidadores, resistência no uso de novas tecnologias de apoio às AVD’s; pouca percepção da perigosidade do sedentarismo; papel da agência encarado como de uma empregada; pouca explicitação acerca dos objectivos do SAD; demora na disponibilização de equipamento técnico e de apoio;

(iv) Obstáculos relativos à política organizacional, tendo em conta a limitação do tempo disponível, já que as visitas a fazer normalmente excedem o tempo necessário à execução das tarefas (Baker et al., 2001).

As soluções para tornar este serviço eficiente em termos de recuperação da independência funcional, passam por vários domínios. É necessária uma definição conjunta do plano de cuidados com o idoso e os seus cuidadores, originando resultados

de optimização da capacidade funcional superiores às situações em que tal não se verifica. É importante manter hábitos no auto-cuidado, ao invés de alterar rotinas, considerando que tal é mais benéfico para o idoso. A intervenção das ajudantes deve apenas ser utilizada nas situações efectivamente necessárias, apesar deste modelo de intervenção nem sempre ser do agrado do idoso, se não forem efectivamente clarificados os seus objectivos.

A necessidade de desenvolver relações multidisciplinares na equipa que possibilite a passagem efectiva de comunicação e que os objectivos da reabilitação estejam clarificados para todas as partes, através da elaboração do registo de progresso do cuidado pessoal, torna-se imperiosa. Trata-se de um projecto que foi elaborado para comprometer os profissionais, sobretudo os médicos, na alteração da cultura do SAD, abandonando a ideia de tratar meramente a doença para se focar na independência funcional (Baker et al., 2001).

Documentos relacionados