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Assim, objetivou-se especificamente:

Descrever a história da formação de Jardim da Penha nas décadas de 1970 e 1980;

Conhecer “lugares de memória” de Jardim da Penha que ajudaram a construir as memórias sociais;

 Identificar e descrever a memória social de Jardim da Penha, construída por três gerações de moradores, sobre as décadas de 1970 e 1980;

 Investigar a construção social das memórias de Jardim da Penha por pessoas que não viveram no período das décadas de 1970 e 1980, mas que tiveram informações dessa época por meio de outros;

Identificar como os moradores de Jardim da Penha representam seu território, a fim de refletir sobre os processos de identificação social urbana.

4 - METODOLOGIA

A metodologia compreendeu a análise qualitativa de três conjuntos de dados diferentes: documentos históricos, entrevistas com informantes-chave que participaram da formação do bairro e entrevistas com três coortes geracionais. Utiliza-se uma abordagem multimétodo, com dois estudos principais: memória histórica (documental e oral) e memória geracional.

A pesquisa histórica teve como propósito descrever a história da formação de Jardim da Penha nas décadas de 1970 e 1980 e conhecer “lugares de memória” do bairro que ajudaram a construir as memórias sociais. Na segunda abordagem metodológica, foram realizadas entrevistas com a focalização de três coortes geracionais, que objetivaram: identificar e descrever a memória social do bairro de Jardim da Penha construída por três gerações de moradores, sobre as décadas de 1970 e 1980; investigar a construção social das memórias do bairro de Jardim da Penha por pessoas que não viveram no período das décadas de 1970 e 1980, mas que tiveram informações dessa época por meio de outros; identificar como os moradores representam o seu território, a fim de refletir sobre os processos de identificação social urbana. A Tabela 1 apresenta o detalhamento metodológico adotado nos dois estudos: Memória Histórica (Documental e Oral) e Memória Geracional.

Este estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Espírito Santo, parecer número 1.534.332 (Apêndice 2), conforme determina a Resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde (Res. 466, 2012) e suas exigências éticas, tais como a participação voluntária, o esclarecimento dos objetivos de pesquisa e dos procedimentos aos participantes, o direito à interrupção

de sua participação sem quaisquer prejuízos, a garantia de anonimato e o oferecimento de apoio psicológico e encaminhamento, se necessário.

Destaca-se ainda que as atividades de entrevista foram realizadas mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice 3), como prevê a resolução. Portanto reitera-se que o referido termo ofereceu subsídios sobre o objetivo da pesquisa, a forma de coleta e o armazenamento dos dados (entrevista, gravação de áudio), garantia do sigilo da identidade dos participantes na divulgação de resultados e a possibilidade de desistência da participação a qualquer momento, entre outras informações.

Tabela 1

Detalhamento dos objetivos e da metodologia dos dois estudos realizados Memória Histórica e Memória Geracional

Estudo Objetivos Metodologia

Fontes e/ou Participantes Procedimentos de coleta e Instrumentos análise dos Técnica de dados ESTUDO 1 Memória Histórica (Documental) - Descrever a história da formação do bairro de Jardim da Penha nas décadas de 1970 e 1980; - Conhecer “lugares de memória” de Jardim da Penha que ajudaram a construir as memórias sociais.

- Jornais da AMJAP de 1984, 1985, 1986, 1987, 1988, 1990 e 1991; - Relatórios dispersos da AMJAP; - Jornais dispersos nos arquivos da AMJAP (Recortes de A Tribuna, A Gazeta);

- Livro de Tombo da Paróquia da Ressurreição do bairro de Goiabeiras de 1968 a 1993; - Livro de Tombo da Comunidade de São Francisco de Assis de 1983 a 1991;

- Reportagens do Jornal A Gazeta publicadas nos anos de 1970, 1971, 1980 e 1985.

Após o levantamento dessas fontes, foi realizada a leitura dos documentos coletados no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo, no arquivo do Jornal "A Gazeta", no Arquivo Público Municipal de Vitória e nas instituições que atuaram na história de formação do bairro: a Igreja Católica e a AMJAP. O Clube 106 não disponibilizou arquivos históricos documentais para a pesquisa. Análise de conteúdo manual ESTUDO 1 Memória Histórica (Oral) - Descrever a história da formação do bairro de Jardim da Penha nas décadas de 1970 e 1980; - Conhecer “lugares de memória” de Jardim da Penha que ajudaram a construir as memórias sociais.

Entrevistas individuais com sete informantes-chave de lideranças que atuaram, nas décadas de 1970 e 1980, em três instituições: Igreja Católica, AMJAP e Clube 106.

Realização de entrevistas com três tipos de roteiro semiestruturado (conforme o eixo temático que orientou a investigação para cada “lugar de memória”). O roteiro foi dividido em três partes:

- perguntas sociodemográficas; - questões abertas semiestruturadas direcionadas ao processo histórico de urbanização de Vitória-ES e do bairro de Jardim da Penha;

- questões abertas semiestruturadas relacionadas, especificamente, a cada instituição (“lugar de memória”). O roteiro 1 é referente ao Clube 106, o roteiro 2 é referente à Igreja Católica e o roteiro 3 é referente à AMJAP. Análise de conteúdo manual ESTUDO 2 Memória Geracional - Identificar e descrever a memória social do bairro de Jardim da Penha construída por três gerações de moradores, sobre as décadas de 1970 e 1980;

- Investigar a construção social das memórias do bairro de Jardim da Penha por pessoas que não viveram no período das décadas de 1970 e 1980, mas que tiveram informações dessa época através de outros; - Identificar como os moradores de Jardim da Penha representam seu território, a fim de refletir sobre os processos de identificação social urbana.

Entrevistas individuais com a focalização de três coortes geracionais: os moradores de Jardim da Penha que viveram o período das primeiras iniciativas de urbanização do bairro quando eram jovens (65 a 80 anos); os que viveram o referido período durante a sua infância, e não participaram plenamente desse período (40 a 55 anos) e aqueles que nasceram após o processo de modernização urbana do bairro e que tiveram contato indireto com os fatos do período estudado (15 a 30 anos).

Realização de entrevistas com roteiro semiestruturado e dividido em três partes: - perguntas sociodemográficas;

- termos de associação livre em que foi solicitado aos participantes que falassem as cinco primeiras expressões ou frases que lhe viessem à cabeça sobre “Jardim da Penha”, “Jardim da Penha antigamente”, “hoje Jardim da Penha é”, “morador de Jardim da Penha é”, “atividades comuns de quem mora em Jardim da Penha”, e, posteriormente, perguntou-se sobre qual dessas expressões ou frases considerava-se a mais importante e o porquê. - questões abertas semiestruturadas sobre as características do bairro de Jardim da Penha no passado e no presente; sobre as características dos moradores do bairro de Jardim da Penha no passado e nos dias de hoje; sobre os elementos descritivos do bairro e dos moradores, elementos visuais e materiais do bairro, elementos sociais e de interação e elementos de gosto e preferência.

Análise de conteúdo manual

Nota.

5 – ESTUDO 1

MEMÓRIAS HISTÓRICAS DOCUMENTAIS E ORAIS DE JARDIM DA PENHA

Este estudo das memórias históricas utilizou documentos históricos e entrevistas qualitativas semiestruturadas como fontes de informação. Com relação às fontes históricas documentais, para Menandro e Souza (2007, p. 154),

tanto a ampliação temática da pesquisa social como a nova perspectiva de compreensão do sujeito ator social contribuíram também para a admissão de que a pesquisa pode se desenvolver sem que indivíduos sejam abordados diretamente (através de entrevistas ou questionários).

Ao apontar a “impossibilidade de voltar no tempo” (Menandro & Souza, 2007, p. 152) e as implicações metodológicas na pesquisa documental, os referidos autores destacam que as diversas fontes de informação podem ser consideradas como indicadores indiretos de comportamentos e, portanto, podem ser utilizadas nas pesquisas em processos psicossociais. A pesquisa documental tem sido utilizada com frequência em estudos em psicologia social.

Segundo Sá (2007, p. 293), "a categoria das 'memórias históricas documentais' é proposta para dar conta daquilo que Jedlowski chama de 'memória social' e que consistiria nos mais variados registros e traços do passado - documentos, em sentido amplo". Conforme mencionado na fundamentação teórica, trata-se de um critério de "mobilização documental" em que o foco maior do psicólogo social é nos processos e nas circunstâncias em que tais "documentos são mobilizados - efetivamente lidos, utilizados, visitados, apreciados ou ainda

simplesmente referidos - por pessoas e grupos sociais contemporâneos" (Sá, 2007, p. 294).

No que tange às memórias históricas orais, na perspectiva da história, elas são consideradas como técnica, disciplina ou método. Em linhas gerais, a história oral pode ser compreendida como método de comprovação empírica obtida por meio da entrevista e baseada na análise da memória individual ou coletiva (Alberti, 2004).

As entrevistas utilizadas na história oral documentam uma versão do passado na medida em que estabelecem relações entre o geral e o particular por meio da comparação de diferentes relatos e, no contexto desta pesquisa, também através das lacunas deixadas pelos documentos (Alberti, 2004). Na psicologia social, essa modalidade de memória histórica é concebida como uma história do tempo presente, cuja “[...] preocupação não é com a preservação dos relatos [...], mas sim com o processo e as circunstâncias segundo os quais tais memórias são construídas, reconstruídas ou atualizadas pelos conjuntos sociais” (Sá, 2015, p. 337).

Tendo em vista tais considerações, justifica-se a utilização do método de pesquisa histórica documental e oral. A seguir, serão apresentados os percursos que delinearam os aspectos metodológicos deste estudo, bem como os instrumentos utilizados e os procedimentos de coleta de dados.