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PERSPECTIVAS COMPARTILHADAS PELAS GERAÇÕES

6.2 RESULTADOS

6.2.1 PERSPECTIVAS COMPARTILHADAS PELAS GERAÇÕES

De modo geral, as três gerações participantes consideraram Jardim da Penha um bairro familiar, que abriga crianças, jovens, adultos, idosos, além de animais de estimação. Famílias tradicionais ou unidas por laços de afinidade, como universitários em repúblicas, habitam antigos condomínios, prédios mais novos ou casas que resistem à expansão imobiliária.

As três gerações abordam em seus discursos que pessoas que mudam para o bairro, em sua maioria, ficam no local por gerações ou partem e retornam mais tarde. Essa particularidade, manter-se em Jardim da Penha por gerações, também pode ser observada na condução de alguns estabelecimentos comerciais que passam de pais para filhos. Tal característica familiar de Jardim da Penha pode ser exemplificada nas falas reproduzidas a seguir.

[Jardim da Penha hoje é] transgeracionalidade, porque eu vejo as famílias ficando mesmo. Tem minha mãe, hoje tem meu irmão, eu e meu irmão somos da mesma geração, só que ele é 13 anos mais novo, eu fico vendo aqui no prédio, tem um casal de quase 90 anos de idade, os filhos deles moraram aqui. Mesmo sendo um bairro muito de universitário, eu acho que ainda tem muita família aqui que tem a história do 106, foram 106 primeiros

moradores, então, principalmente nessa região que eu moro, meu prédio mesmo, é só família. Então, mesmo sendo uma coisa lá de trás, acho que de certa forma [a característica de bairro familiar] se perpetuou. (M7J.22a.f)

Tudo o que me vem da instituição família eu acho que está presente em Jardim da Penha. A infância, o animal de estimação, a terceira idade, essas pessoas vivendo juntas. (M1J.30a.f)

[o que mais chama atenção em Jardim da Penha é] Ter toda faixa etária. Tem de velho a neném e todo mundo anda na rua, passeia, leva cachorro, papagaio, periquito e tudo mais. (M13A.50a.f)

O sistema de todo mundo, é uma família só, porque vários vizinhos falam igual a mim: não saio daqui não. Existe por detrás disso tudo uma harmonia, existe amizade. (M23I.80a.m)

Outros aspectos manifestos em todos os relatos dos participantes, independente da idade, referem-se à insegurança e à violência, os quais, na perspectiva deles, são crescentes e influenciam a dinâmica do bairro e das relações. Esses aspectos são considerados, pelos habitantes de Jardim da Penha, como uma realidade atual que contrasta com a tranquilidade experimentada no passado, especialmente, pelos mais velhos. E o que reitera essa perspectiva é que os moradores reconheceram se tratar de um fenômeno que vem se agravando em razão de questões políticas, econômicas e sociais enfrentadas em âmbito nacional.

Tais constatações são ilustradas nos recortes abaixo descritos.

Era mais seguro, eu percebo muito mais isso agora, dessa falta de segurança e desse medo de andar à noite. Acho que talvez era composto mais por pessoas idosas e agora tem mais gente nova, mais família. (M2J.16a.f)

O número de violência cresceu bastante nos últimos anos. De quando eu cheguei para agora no presente. Foi uma mudança drástica. Eu acho que tem de ser mudada, apesar que o AMJAP já vem tendo uma conquista, até mesmo pela rua da Lama, que já vinha tendo muita violência, muitos eventos clandestinos e eles estão conseguindo isso. Mas eles conseguem para ali e o resto do bairro fica a mercê. (M5J.23a.m)

As ruas à noite me incomodam, que é pouca iluminação. Isso me incomoda. E a violência está crescendo muito dentro do bairro. (M6J.24a.f)

Hoje a gente enfrenta, o bairro cresceu de uma forma, que a gente não conhece quase ninguém. A gente conhece as pessoas das antigas, e a gente enfrenta hoje, infelizmente, problema de segurança, mas acredito que é geral. Assalto o tempo todo no bairro, mas está em todo o Espírito Santo, está geral, está no Brasil. (M16A.45a.f)

[o que mudou em relação ao passado] a segurança hoje eu acho que é menor, que realmente cresceu esse problema; a questão da população de rua, antes não tinha tanto, na década de 90, 80, cresceu muito. (M15A.43a.m)

Antigamente a gente andava, mas não tinha tanto roubo, não tinha tanto assalto. Hoje em dia você não se sente segura, apesar de não ter outras coisas [...] hoje em dia a insegurança é muita. É assalto a qualquer hora. (M28I.65a.f)

Um outro aspecto comum que é compartilhado por duas das três gerações é que, na visão de adultos e idosos entrevistados, o uso excessivo da tecnologia na comunicação, principalmente entre os jovens, e o modo de vida capitalista, que privilegia produção e consumo, têm colaborado para a transformação de hábitos, de comportamentos e de vínculos entre os moradores e o bairro. Sob essa ótica dos idosos e dos adultos, a “multiplicação dos meios de comunicação” (Jodelet, 2002, p. 33) e a “individualização” (Jodelet, 2002, p. 33), somadas ao crescimento populacional, produzem modos de vida que favorecem o individualismo. Estes, por sua vez, promovem uma abstração coletiva que impacta o envolvimento da geração mais nova na busca por soluções de problemas no bairro. Na fala dos participantes, essa desmobilização coletiva da juventude atual foi comparada à juventude das décadas de 1970 e 1980, conforme alguns trechos transcritos das entrevistas expressam.

E a gente vê hoje uma geração mais dispersa, eu falo muito da juventude dentro dos bairros, a gente não está com uma juventude mais unida, mais preocupada com as questões do bairro, isso aí hoje eu brinco com meus amigos, hoje a geração mais nova vive muito de facebook, whatsapp, internet. Eu sou de uma geração que a gente jogava bola na rua, brincava de pique-esconde na rua, que a gente tinha gincana aqui no bairro, e a gente aprendeu a dar valor às coisas do bairro, era uma integração maior. A geração mais nova reclama muito e não se envolve. Mas isso não é uma característica só do bairro, é uma característica da nova geração que tem aí. (M15A.43a.m)

Está todo mundo tão voltado para si mesmo, todo mundo correndo, morador de hoje está mais fechado, mais na dele, vivendo o dia a dia, correndo atrás do dele, interagindo muito menos do que interagia antigamente. Eu, por viver aqui desde que nasci, e ter amigos aqui da mesma época, eu ainda convivo, tenho um círculo de convivência até razoável, mas no geral, a gente vê as pessoas muito isoladas, muito cada um na sua. (M17A.40a.f)

Ainda no que diz respeito às perspectivas compartilhadas pelas três gerações, cabe apontar os lugares importantes, ou considerados relevantes para o bairro, bem como os locais de lazer que são frequentados pelos habitantes e/ou vistos como pontos de encontro das três gerações. É possível observar nas entrevistas que os moradores de Jardim da Penha compartilham sentimentos e percepções de bem-estar em relação ao bairro e seus atrativos. As frequências

absolutas de tais espaços urbanos, expressos nas respostas dos entrevistados, são apresentadas nas Tabelas 6 e 7.

Tabela 6 (continua)

Frequência absoluta (n) dos lugares importantes ou relevantes de Jardim da Penha para o morador

na

Total Jovens Adultos Idosos

Praia de Camburi (mar, orla, calçadão, quiosques) 18 5 6 7

Parque Pedra da Cebola 11 4 3 4

Pracinha do Epab 10 4 4 2

Praças ou "Pracinhas" 8 2 4 2

Rua da Lama 8 4 3 1

Infraestrutura comercial (lojas, supermercado,

farmácia, padaria, salão de beleza, etc.) 7 4 1 2

Feira livre (sábado) 7 1 6 0

Universidade (UFES) 6 3 2 1

Igrejac 6 1 1 4

Bares, "barzinhos" ou "botecos"d 6 1 3 2 Restaurantes ou "locais para comer"e 6 2 3 1

Feirinha da sexta-feira 5 3 2 0

"Minha casa" 3 2 0 1

Escolas 3 0 1 2

Clube dos Oficiais 2 1 1 0

Darwin 2 2 0 0 Shopping Jardins 2 1 1 0 CineJardins 2 2 0 0 Rua do Canalf 2 0 2 0 Posto de Saúde 2 0 0 2 Clube 106 2 0 0 2 Feirinhas 1 0 0 1

Pracinha da Flash Vídeo 1 1 0 0

SESI 1 1 0 0

Região do Epa 1 0 1 0

Tabela 6 (conclusão)

Frequência absoluta (n) dos lugares importantes ou relevantes de Jardim da Penha para o morador

na

Total Jovens Adultos Idosos

Regiões das pontes da Passagem e Airton Senna 1 0 1 0

Ponte da Passagem 1 0 1 0 Café Família 1 0 1 0 Fluente (boate) 1 1 0 0 K1 (quiosque) 1 1 0 0 IBC 1 0 1 0 Nota.

aNúmero de respondentes em relação ao total de moradores pesquisados (N = 30), sendo 10 de cada grupo geracional.

bA "Pracinha do EPA" é chamada, oficialmente, de Praça Regina Frigeri Furno. No discurso dos moradores, está associada a atividades de lazer (popular "feirinha") e também ao intenso comércio da região. Além de "Pracinha do EPA", é também conhecida como "Pracinha da feirinha" ou "Pracinha de Jardim da Penha". cForam referidas apenas igrejas católicas, entre elas: Igreja São Francisco de Assis e Igreja Santa Clara. dEntre os bares declarados estavam: Bar dos Coroas, Bar do Pezão, Biritas e Sofá da Hebe.

eEntre os restaurantes declarados estavam: Partido Alto., Calipe.

fMenção à orla, à vista e aos "primeiros moradores da região do pontal" (M28I.61a.m)

Tabela 7 (continua)

Frequência absoluta (n) dos locais de lazer ou pontos de encontro de JP para o morador

na

Total Jovens Adultos Idosos

Praia de Camburi (mar, orla, calçadão,

quiosques) 19 5 7 7

Praças ou "pracinhas" 18 5 9 4

Bares, "barzinhos" ou "botecos"b 16 4 7 5

Rua da Lama 16 9 5 2

Infraestrutura comercial (lojas, padaria, farmácia, supermercado, salão de beleza, bancos, banca

de revista, etc.) 14 4 6 4

Feirinha de sexta-feira 13 3 6 4

Pracinha do EPAc 12 7 3 2

Igrejad 11 3 3 5

Feira livre (sábado) 11 2 5 4

Shopping Jardins 8 1 4 3

Tabela 7 (conclusão)

Frequência absoluta (n) dos locais de lazer ou pontos de encontro de JP para o morador

na

Total Jovens Adultos Idosos

CineJardins 7 1 4 2

Parque Pedra da Cebola 7 3 3 1

Quadras esportivas nas praças 6 3 2 1

Pracinha do Carone 5 3 1 1

Clube 106 5 1 0 4

Universidade (UFES) 3 1 2 0

Centro de Convivência da Terceira Idade 3 0 0 3

Bocha 1 1 0 0

Pracinha da Flash Vídeo 1 0 0 1

CineMetrópolis 1 1 0 0 Teatro da UFES 1 0 1 0 Colégio Darwin 1 1 0 0 SESI 1 0 0 1 Café Família 1 0 1 0 Fluente (boate) 1 1 0 0 Bolt (boate) 1 1 0 0

Casa de amigos na Rua 8 1 0 0 1

Cescla (Centro religioso) 1 0 0 1

Artesanato 1 0 0 1

Não sabe/Acha que não há 1 0 0 1

Nota.

aNúmero de respondentes em relação ao total de moradores pesquisados (N = 30), sendo 10 de cada grupo geracional.

bEntre os bares declarados estavam: Bar do Pezão, Divino Botequim, Bar da Vavá e Bar da Loira.

cA "Pracinha do EPA" é chamada, oficialmente, de Praça Regina Frigeri Furno. No discurso dos moradores, está associada a atividades de lazer (popular "feirinha") e também ao intenso comércio da região. Além de "Pracinha do Epa", é também conhecida como "Pracinha da feirinha" ou "Pracinha de Jardim da Penha". dForam referidas apenas igrejas católicas, entre elas: Igreja São Francisco de Assis e Igreja Santa Clara. eEntre os restaurantes declarados estavam: Calipe, Partido Alto e Dinnos.