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A pesquisa ocorreu em um grupo de estudos hospedado em um ambiente virtual na internet, e teve como objetivo principal verificar a eficácia de um método de aprendizagem de técnicas de síntese sonora, dentro de um processo colaborativo a distância e com as características de uma comunidade de prática. Paralelamente, também procurou-se saber se a plataforma Moodle é viável como ambiente virtual de aprendizagem para este tipo específico de aplicação. O público-alvo foram músicos, compositores e demais usuários de instrumentos musicais eletrônicos e de softwares para produção musical.

O grupo de estudos criado para a realização da pesquisa não teve qualquer vínculo com outras atividades, tais como cursos ou grupos de usuários. Portanto, o desenvolvimento desse grupo foi absolutamente autônomo, isto é, os participantes não tinham qualquer tipo de compromisso ou obrigação na realização das tarefas propostas, além de seus próprios interesses.

Embora as expectativas demonstradas por alguns dos membros do grupo tenham sido bastante positivas, como se pôde constatar pelas respostas ao primeiro questionário, isso acabou não se confirmando no decorrer da pesquisa. A participação efetiva foi muito baixa, de tal maneira que não se conseguiu desencadear efetivamente qualquer atividade coletiva.

Tratando-se de uma comunidade de prática, e não de um curso on-line, o moderador do grupo fez questão de não assumir uma função hierárquica, e procurou apenas sugerir temas e atividades, evitando assim se caracterizar

efetivamente como tutor ou instrutor. Conforme observado por Wenger (2015, p. 4), esse realmente parece ser um dos maiores desafios para o desenvolvimento de uma comunidade de prática que, apesar da proposta de compartilhamento de conhecimento a partir da autonomia, da informalidade e da eliminação de limites, pode esbarrar em conceitos hierárquicos assumidos previamente pelos participantes. Para evitar a descaracterização da aprendizagem nos conceitos de uma comunidade de prática, o mediador limitou-se a motivar os participantes através dos fóruns, além de oferecer alguns subsídios técnicos.

O fato de não terem acontecido interações entre os participantes, a despeito de suas boas expectativas em relação à proposta do grupo, deixa claro que apenas propor as atividades parece não funcionar. Os participantes precisam de mais estímulos, o que provavelmente não foi produzido de forma suficiente no grupo pesquisado. De acordo com Wenger, McDermott e Snyder (2002, pp. 71- 109), na etapa inicial da comunidade de prática o grande problema é produzir a energia que faça o grupo se agregar, sendo fundamental propor e iniciar atividades que permitam aos membros construírem relacionamentos, confiança e percepção de suas demandas e seus interesses em comum.

Um dos pontos-chave das comunidades de prática é a percepção dos participantes como parceiros dentro do processo de aprendizagem, reconhecendo-se mutuamente como verdadeiros praticantes do tema focado no grupo. E também nesse aspecto não se concretizaram as expectativas apresentadas pelos participantes no primeiro questionário, já que não houve interações suficientes para se desenvolverem parcerias.

O processo colaborativo de aprendizagem subentende a participação de todos, e por isso era de se esperar que as pessoas que concordaram em participar do grupo de estudos desta pesquisa não se limitassem a acessar e observar o ambiente, mas também contribuir para o processo acontecer, postando ideias ou até mesmo tentando esclarecer dúvidas individuais.

Considerando os requisitos específicos para a implantação de uma comunidade de prática, já abordados no item 4.1.2, na opinião de Xin e Feenberg (2006, p. 18), para que as discussões on-line sejam eficientes e realmente produzam resultados é preciso que o mediador perceba com que dinâmica ocorrem as interações dos participantes, e coloque suas observações somente

quando elas de fato forem oportunas, se concentrando em criar as conexões necessárias para as ações conjuntas dos membros do grupo. Conforme Pallof e Pratt (2007, p. 170), as possibilidades de colaboração entre os participantes são ampliadas quando eles interagem mais entre si e menos com o tutor ou mediador. Considerando também o fato do grupo não estar vinculado a qualquer outra atividade ou curso, seu desenvolvimento deveria ser espontâneo, autônomo, e informal, o que, no entanto não ocorreu. O sucesso de uma comunidade de prática em termos de produção de conhecimento está diretamente relacionado à interação de seus membros. No caso desta pesquisa, pode-se especular que as ações promovidas pelo moderador não tenham sido suficientes para produzir os relacionamentos necessários para o desenvolvimento efetivo do processo.

Um fato que não pode ser descartado como uma das causas para a baixa participação é que o grupo iniciou suas atividades em meados de janeiro, um período em que geralmente muitas pessoas estão em férias e afastadas de suas atividades e, portanto, menos propensas a se envolver com as questões do seu cotidiano profissional. Essa situação também foi observada na pesquisa desenvolvida por Méio (2014, p. 115).

É possível, também, que o material de apoio contendo informações conceituais e exemplos, apesar de ter sido elogiado, não tenha sido suficiente – em profundidade e/ou em amplitude – para criar um interesse maior em frequentar o grupo. Talvez tivessem aflorado mais assuntos para debate se houvesse uma variedade maior de informações disponibilizadas dentro do grupo.

A passividade dos participantes também pode ter sido provocada por algum receio de se passar por menos conhecedor e menos competente frente aos demais, sobretudo pelo fato do grupo ter sido criado por um especialista experiente. Esse aspecto é destacado por Fiorio, Da Silva e Ribeiro (2011, p. 1), que afirmam que quando a atenção é centralizada em determinados domínios ou indivíduos, pode-se ter uma redução no poder de compartilhamento de conhecimento, o que torna difícil a formação dinâmica da comunidade de aprendizagem. No presente caso, poderia ter sido aplicada uma breve mudança de estratégia para aguçar o interesse dos demais e, inclusive, estimular a apresentação de questões individuais para que se desencadeassem debates e soluções. Nesse sentido, talvez fosse necessário, ainda na fase inicial do grupo,

adotar algumas táticas genéricas de processos de aprendizagem a distância, com o moderador assumindo uma postura mais proativa, e não apenas atuando de forma reativa às manifestações dos participantes, já que ele, com um conhecimento amplo e profundo da área de atuação, seria mais um recurso educacional, tal qual o conteúdo de apoio que foi disponibilizado no ambiente de aprendizagem (GOHN, 2009, p. 68).

Outra razão para a perda de interesse no grupo pode estar relacionada ao teor das atividades propostas pelo moderador. Sendo esse grupo um processo de aprendizagem baseado na abordagem sociointeracionista, seria recomendável que as ações tivessem uma relação bastante forte com a experiência cotidiana dos seus membros. Esse vínculo pode não ter sido estabelecido de maneira suficientemente forte nas propostas. Para Pallof e Pratt (2007, p.168), o conteúdo do estudo deve estar bem contextualizado com o dia a dia de cada um, de tal forma que quanto maior for a conexão com a experiência real, tanto maior é a identificação e o significado do processo do qual estão participando.

Uma questão a considerar é que todos os participantes foram informados previamente de que estariam fazendo parte de uma pesquisa acadêmica. Talvez isso possa ter influenciado no seu comportamento, criando-lhes ressalvas em participar e se manifestar dentro do grupo. Entretanto, não foi possível confirmar essa situação.

Na opinião de Hartley e Collins-Brown (1999, p.30), existem ainda outras possíveis razões para a relutância das pessoas em participar em fóruns de discussão on-line, tais como falta de espontaneidade, falta de tempo, falta de automotivação, dificuldade de se expressar por escrito, dentre outras.

No entanto, de uma forma geral, pode-se considerar que esta pesquisa foi um ensaio significativo, por ser uma iniciativa aparentemente inédita para se tentar avaliar a real eficácia de um método de aprendizagem baseado no conceito de comunidade de prática no campo da síntese sonora, usando o Moodle como ambiente virtual. As razões para a comunidade não ter se desenvolvido como desejado podem ser diversas, conforme apresentado anteriormente neste capítulo. O fato do grupo investigado na pesquisa não ter conseguido obter sucesso como uma comunidade de prática pode não estar necessariamente associado ao conceito teórico da aprendizagem colaborativa e nem ao objeto central de estudo – a síntese sonora, mas possivelmente à forma como foi

conduzido o processo, assim como a alguns aspectos limitadores encontrados na plataforma adotada para o ambiente virtual, como veremos no item 6.2. Portanto, um dos ensinamentos que se pode obter a partir desta pesquisa é que os aspectos fundamentais do processo de aprendizagem colaborativa precisam ser muito bem delineados e melhor ainda implementados, sobretudo para proporcionar a percepção de pertencimento ao grupo, a integração, o engajamento e a motivação dos participantes para conduzirem juntos o processo. Sem isso, realmente não parece ser possível atingir objetivos concretos e relevantes.