• Nenhum resultado encontrado

Modelo de Cadeia de Impacto

3 OBJETO DE ESTUDO: PROGRAMA SÃO PAULO CONFIA

O objeto de estudo deste trabalho é o Crédito Popular Solidário (São Paulo Confia), uma OSCIP, de parceria público-privada, que conta com as seguintes instituições: PMSP – Prefeitura Municipal de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal do Trabalho (SMT), Santander Banespa, DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos, CIVES – Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania, CUT – Central Única dos Trabalhadores, CGT – Confederação Geral dos Trabalhadores, ITS – Instituto de Tecnologia Social, CAT – Central Autônoma dos Trabalhadores, e SDS – Social Democracia Sindical. O Programa ainda tem convênios firmados com o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal (CEF).

Em 2003, o DIEESE realizou pesquisa quantitativa para identificar o perfil dos clientes de grupos solidários do Programa São Paulo Confia. Apresento abaixo, sinteticamente, os resultados desta pesquisa, os quais me sirvo para descrever o objeto de estudo deste trabalho de doutorado.

Os dados apresentados têm como fonte o relatório técnico de pesquisa intitulado “Informe da Pesquisa com os Clientes da Central de Crédito Popular – São Paulo Confia”, que integra o projeto “Identificação das mudanças ocorridas com os beneficiários dos programas sociais da Prefeitura do Município de São Paulo desenvolvidos pela Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade (SDTS)97, no âmbito do Projeto Desenvolvimento Solidário”, e foi realizado através de Carta de Acordo assinada entre a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) e o DIEESE, no âmbito do Projeto Desenvolvimento Solidário Geração de Renda e Ocupação do Município de São Paulo.

Os dados coletados no relatório demonstram a distribuição dos entrevistados por sexo, e revelam ligeira predominância feminina: 47% são homens e 53% mulheres98. Segundo a pesquisa, as mulheres estão mais presentes nos empreendimentos de comércio (54%) e nos empreendimentos mistos – comércio e produção (57%). Por outro lado, os homens são significativamente mais presentes nos negócios do ramo de serviços (77%). Isso se deve ao

97 A Secretaria Municipal do Trabalho foi criada em 5 de julho de 2001 pela Lei 282/2001. Na época, recebeu o

nome de Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade e a missão de implantar programas voltados à promoção do desenvolvimento econômico com inclusão social. Em janeiro de 2005, o nome foi alterado para Secretaria Municipal do Trabalho, conforme o artigo 4º, inciso X, do Decreto nº 45.683, de 1º de janeiro de 2005.

fato de que os principais segmentos do setor de serviços - construção civil, mecânica e funilaria de carros e transportes – são tradicionalmente realizados por homens. Já no comércio, em que prevalecem atividades relacionadas à alimentação e ao vestuário, a presença da empreendedora feminina é mais marcante.

A média de idade dos clientes dos grupos solidários do São Paulo Confia era, em 2003, de 41,6 anos. Do total de entrevistados, 41% tinha idade entre 36 e 45 anos e 34% tinha 45 anos ou mais.

No que se refere à cor, a pesquisa aplicou dois critérios de auto-declaração: o aberto e o fechado. Na pesquisa fechada, são apresentadas as mesmas alternativas constantes das pesquisas oficiais do IBGE: branca, preta, parda, amarela e indígena. Predominaram os que se declararam pardos (42%), seguidos de perto pelos que se declararam brancos (39%); e apenas 13% declararam-se negros.

A religião católica é predominante (68%), seguida pelos que se declararam protestantes/evangélicos (28%). Quanto ao nível educacional, mais da metade dos entrevistados (61%) não concluiu o primeiro grau, nível atingido apenas por 18% deles.

Além de católico e de instrução baixa, o cliente do São Paulo Confia é migrante do Nordeste (68%), predominantemente baianos (23%) e pernambucanos (14%). Somente 10% são paulistas. No entanto, na média, esses migrantes estão em São Paulo há cerca de 21 anos. A maioria dos entrevistados compõe-se de chefes de família (67%), sendo parte representativa mulheres. Do total de clientes entrevistados, 73% são casados ou vivem em união consensual, sendo que 88% têm em média 3,1 filhos. A renda familiar e os gastos familiares mensais médios dos clientes dos Grupos Solidários do São Paulo Confia eram, no momento da concessão do primeiro empréstimo, de R$ 489 e R$ 470 respectivamente.

Concluindo, com base em cada uma das variáveis analisadas pela pesquisa em 2003, o perfil individual dos clientes do Programa São Paulo Confia não tem sexo claramente predominante, idade entre 36 e 45 anos, são pardos (42%), católicos (68%) e com primeiro grau incompleto (61%). Além disto, estes clientes são nordestinos (68%), vivem em união estável (73%), são chefes de família (67%), com média de 3,1 filhos e renda familiar média mensal de R$ 489.

Após essa pesquisa, em 2003, nenhuma outra foi desenvolvida pelo São Paulo Confia. Em maio de 2006, o Programa contava com 6 unidades implantadas e 16 agentes de crédito. Mais de 46.843 operações de crédito foram realizadas envolvendo cerca de R$ 40 milhões, conforme FIGURA C.2, abaixo.

Figura C.2 – Operações do Programa São Paulo Confia

Fonte: São Paulo Confia, Maio 2006.

No presente estudo, foram retiradas amostras de três das seis unidades existentes do São Paulo Confia: Brasilândia, Heliópolis e Jardim Helena. Essas regiões têm como característica comum o fato de serem bairros de população predominantemente de baixa renda, parte dela vivendo em favelas, e possuírem um índice de desenvolvimento humano relativamente baixo.

Considerada a comunidade com a maior favela de São Paulo, Heliópolis tem mais de 200 mil habitantes e faz parte da sub-prefeitura do Ipiranga, que hoje tem 430 mil habitantes. Na região existem 8.500 empreendimentos, dos quais pouco mais de 60% são compostos por até 4 funcionários. O IDH da região é de 0,549.

Localizada na região norte, a região que compreende a Freguesia do Ó, a Brasilândia tem mais de 390 mil habitantes. Destes, cerca de 260 mil pessoas estão em idade economicamente ativa. Aproximadamente 52 mil pessoas vivem em favelas. O IDH da região é 0,432.

Dados do IBGE de 2004 revelam que existiam pouco mais de 2.000 estabelecimentos registrados nas duas regiões. Quase 70% dos empreendimentos localizados nas duas regiões têm até 4 empregados envolvidos.

Jardim Helena é inserida no distrito administrativo que também contempla São Miguel e Vila Jacuí, cuja população é de quase 380 mil pessoas. No Jardim Helena, a população é de aproximadamente 145 mil pessoas, sendo que 45 mil pessoas vivem em favelas. A população em idade economicamente ativa é de 250 mil pessoas e existem 2.000 empreendimentos registrados. Como observado na Brasilândia, 70% dos empreendimentos localizados nessas regiões tem até 4 funcionários. O IDH do Jardim Helena é de 0,409.

Os clientes ativos, carteira ativa de crédito e percentagem de atraso estão descritos na TABELA C1, abaixo:

Tabela C.1 - Distribuição de Clientes Ativos por Unidade

Unidade Clientes Ativos Carteira Ativa (R$) Atraso (%) Jardim Helena 590 457.036 0,00% Heliópolis 622 396.808 0,00% Brasilandia 597 429.791 0,66%

São Miguel - União de Vila Nova 460 343.944 2,59%

Jardim da Conquista 595 366.923 2,39%

Itaquera 4 119 0,00%

M Boi Mirim 508 280.255 0,00%

Total no mês de maio 2006 3376 2.274.875 0,73%