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Procuramos analisar como o professor, utilizando o texto paradidático denominado “Nosso Universo”, utiliza seu discurso durante a construção de conhecimentos por parte dos seus alunos durante as aulas. Para tanto, estabelecemos elementos que podem propiciar a análise das interações discursivas durante as aulas.

Contudo, seguimos a pesquisa buscando responder uma questão principal: Quais ações e atitudes do professor no contexto das aulas de Física, utilizando o texto paradidático “Nosso Universo”, levam os alunos a avançar para um nível superior de alfabetização científica em Física segundo Penick (1998)?

Consequentemente os seguintes objetivos orientaram a pesquisa:

1. Caracterizar o formato do discurso do professor associando-o ao aprendizado (ou ausência de aprendizado) dos alunos dentro dos parâmetros da alfabetização científica defendida por Penick (1998);

2. Verificar se houve (ou não) avanço de nível hierárquico de alfabetização científica dos alunos, comparando suas opiniões durante as aulas e as avaliações após as aulas;

Para verificar os pontos enunciados acima foram analisados os discursos do professor e de seus alunos durante as aulas de Física.

No discurso do professor foi analisada a capacidade de aproveitar situações de questionamento, a exploração de temas que venham a surgir durante as aulas, o estímulo à procura das respostas dos problemas pelos alunos e a posterior problematização, a explicação do conceito no momento oportuno, entre outros que surgiram durante a análise dos dados.

Para avaliar a potencialidade de surgimento de situações de aprendizagem contidas no texto paradidático, propiciadas pelas ações do professor, consideraremos, como critério, que o aluno tenha avançado seu nível de aprendizagem sobre um conceito, segundo os níveis da alfabetização científica estabelecidos por Penick (1998), quando ele expressar sua opinião durante os fragmentos discursivos e, em fragmentos posteriores ou durante as avaliações pós- aula, sua concepção do conceito em questão tenha aparecido modificada ou tenha sido melhorada em relação ao fragmento anterior.

Para a análise, consideramos alguns pontos mais importantes:

a) Os conceitos físicos apresentados no texto paradidático “Nosso Universo”; b) As características das ações do professor que favoreçam ou não o

entendimento dos conceitos físicos sob o enfoque da alfabetização científica;

c) A participação dos alunos nas interações proporcionadas pelo debate sobre o texto paradidático em questão;

Em resumo, serão analisadas as ações do professor que contribuem para o aprendizado dos conceitos de Física contemplados no texto paradidático Nosso Universo, através dos fragmentos discursivos proferidos durante as aulas e avaliações efetuadas após as atividades.

Algumas considerações quanto a metodologia são necessárias, como se segue abaixo.

2.2. A METODOLOGIA

A pesquisa se enquadra como um estudo de caso, conforme os critérios dos autores Bogdan & Biklen (1999, p.89). Segundo esses autores, o estudo de caso se caracteriza como uma abordagem qualitativa de investigação favorável à compreensão, exploração ou descrição de fatos e contextos complexos que envolvam múltiplos fatores a serem analisados. O local do estudo (sala de aula) constitui a fonte de dados e o pesquisador é o instrumento de obtenção e análise de dados. O foco principal está no processo como tudo ocorre, bem como no produto e no resultado final. Os dados são analisados como acontecimentos particulares, migrando para conclusões com análise global.

A pesquisa é descritiva e considera-se que as análises serão realizadas de forma indutiva. As afirmações e conclusões foram construídas conforme os dados foram sendo agrupados.

Os fragmentos discursivos foram explorados considerando-se as palavras, orações, incluindo as omissões, períodos de silêncio, risadas, exclamações, entonação de voz e gritos.

Conforme já relatado, foram avaliados os fragmentos antes e depois das interações, com o intuito de verificar se houve ou não aprendizado segundo o referencial da alfabetização científica de Penick (1998).

2.3 OS SUJEITOS

As aulas aconteceram em uma escola pública do Estado de São Paulo, tendo participado como sujeitos da pesquisa 14 alunos da 3ª série do ensino de jovens e

adultos (EJA), do período noturno, na faixa etária de 18 a 45. O tempo total do início das aulas até o término foi de um semestre.

Nesta turma havia 40 alunos matriculados, mas como a freqüência era muito flutuante, foi adotado o critério de selecionar os alunos pela regularidade de participação durante as aulas, resultando nos 14 alunos escolhidos, pois a maioria dos outros 26 alunos matriculados não freqüentou com regularidade o curso.

A escolha do professor ocorreu em função de sua formação, pois durante as atividades desta pesquisa ele estava terminando o doutorado em educação. Durante uma conversa antes das atividades o professor mostrou-se aberto para mediar entre o texto “Nosso Universo” e os alunos. A importância desta conversa, anteriormente às atividades, se deu porque durante um ensaio da utilização do texto “Nosso Universo” efetuado por Assis (2005), observando como sujeito um outro professor de ensino médio não engajado em pesquisas na área de educação, resultou na leitura do texto pelos alunos, e a posterior explicação da versão científica pelo professor na seqüência, sem que houvesse um debate ou questionamento entre professor/aluno ou aluno/aluno, para o possível surgimento de opiniões dos alunos. Se assim fosse feito, o único objeto que poderia ser utilizado para a análise dos dados seria a leitura dos alunos, sem qualquer argumentação por parte do professor.

O professor atuante nas interações analisadas pela presente pesquisa não conhecia o texto “Nosso Universo” e nunca havia utilizado tal material em suas aulas.

Com relação ao texto paradidático utilizado durante as atividades, tecemos algumas considerações.