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CENÁRIOS E ESPETÁCULO

OBRAS REALIZADAS NA GESTÃO ARGEMIRO DE FIGUEIREDO

ANO

OBRAS INAUGURADAS

1936 Posto de expurgo de Barreiras. Palácio da Secretaria da Fazenda. Escola de Agronomia de Areia. Alojamento da Colônia Correcional “João Pessoa” em Pindobal. Avenida Epitácio Pessoa. Calçamento da Rua Peregrino de Carvalho. Pavimentação junto ao palácio da Secretaria da Fazenda. Estrada Espírito Santo-Santa Rita.

1937 Melhoramentos técnicos na Imprensa Oficial. Estação de Transmissores e Rádio Difusora da Paraíba. Sanatório “Clifford Beer”. Casa do Estudante. Dez grupos escolares no interior do estado.

1938 Melhoramentos na capital, serviços elétricos, calçamentos, Abrigo de menores. Construção da estrada Ingá-Serra Redonda. Construção dos grupos escolares de Conceição, Piancó e Misericórdia.

1939 Parque Solon de Lucena, pavimentação de ruas. Melhoramentos na Imprensa Oficial. Prédio do Dispensário anti-venéreo. Cozinha Dietética. Serviços elétricos da capital Construção da estrada Jatobá-Piancó.

1940 Horto Florestal da Fazenda Simões Lopes. Granja modelo São Rafael. A Barragem de Buraquinho. Melhoramentos no Parque Solon de Lucena. Construção da Maternidade Darcy Vargas. Vinte e um Grupos escolares. Instituto de Educação. Abrigo de menores “Jesus de Nazaré”. Saneamento de Campina Grande.

Fonte: Jornal A UNIÃO; Revista ILLUSTRAÇÃO; Revista MANAIRA. Quadro elaborado pelo autor.

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No quadro, podemos perceber o quanto Argemiro de Figueiredo procurou investir em obras públicas. Um dado oficial fornecido pela Revista Manaira afirma que, no quinquênio 1935-1940, o governo paraibano gastou 56.421:518$000 em obras, sendo 4.000 contos para o Instituto de Educação e 22 para o saneamento de Campina Grande, obras emblemáticas da propaganda governamental. Algumas obras que demoraram a ser concluídas, eram divulgadas anualmente pela imprensa, quando ainda estavam em fase de construção.

Em 9 de março, Argemiro seria novamente homenageado. Desta feita, tratava-se do seu aniversário natalício, mais um momento bastante utilizado em favor de um poder político personalizado. Os chefes políticos locais já estavam com a pena pronta para mandar redigir mais telegramas. De todos os municípios, chegavam congratulações, as quais eram publicadas pelo jornal oficial.

Pelo que noticiou este periódico, a intenção do governo era minimizar a grandiosidade do espetáculo ressaltando a sua simplicidade, como um momento em que o governo podia prestar contas ao seu povo. A programação envolvia alvorada diante do Palácio, missa, desfiles, aposição do retrato do governante em repartições públicas, retretas, almoço no Palácio e inaugurações de obras. Embora o governo falasse de simplicidade, não era o que, de fato, ocorria por ocasião do 25 de fevereiro e do 9 de março. A cada ano, a festa tomava maiores proporções, tanto no tocante ao incremento da programação como da aquisição de novas técnicas de difusão do evento.

Em 1939, por exemplo, as comemorações do aniversário do governo tiveram início no dia 23, quando foi instalado o I Congresso dos Prefeitos da Paraíba. O interventor recomendava a cada prefeito trazer suas teses sobre o município que governava a fim de fossem discutidas e encaminhadas naquele fórum estadual. Tal congresso ocorreu no momento em que o presidente Vargas criou o Dia do Município, numa nítida busca de unidade nacional, interagindo com as unidades administrativas do poder local, tidas como “célula primária da formação estatal”. Argemiro fizera com muita habilidade a lição de casa, recebeu os chefes políticos municipais na capital paraibana, encontro que culminou com um grande banquete no Clube Astréia. O jornal A União contava com uma coluna intitulada “Vida Municipal”, que trazia notícias dos vários municípios paraibanos, inclusive das festividades neles realizadas, em cujas programações eram apostos os retratos de Vargas e Argemiro nas respectivas prefeituras.

Argemiro foi um ator político que cultivou muito a relação com as bases municipais, “era um homem do interior, quer dizer, tanto ou quanto matuto e sem traquejo social. Homem da sua casa, da fazenda, do seu trabalho, não gostava de rua, de clube ou de festas. Só saía do Palácio para atender a compromissos oficiais”. (MELO, 1998, p. 53)

No dia 17 de novembro de 1938, sete dias após o espetáculo do Estado Novo, lá estava a cidade novamente em festa para receber Argemiro de Figueiredo, que chegava de São Paulo. As “classes conservadoras” e “operárias” foram receber o interventor em Recife. José Mariz, na condição de interino no cargo, foi encontrá-lo em Alhandra, num percurso vantajosamente teatralizado, desde Goiana, Cupissúra, Alhandra, Açaís, Mata Redonda, Gramame e Cruz das Armas. Na Praça João Pessoa, muito desfile e discurso para receber Argemiro, com vinda de operários das cidades de Campina Grande, Santa Rita e Cabedelo. Os caciques das oligarquias paraibanas já estavam hospedados na capital para a festa. Mais uma vez, o comércio fechava as portas e as repartições públicas davam ponto facultativo. (Jornal A UNIÃO, 17 nov.1938)

O modelo de inspiração dos recursos do teatro para o palco da política carregava consigo aquilo que o sociólogo Marcel Mauss denominou de sociologia da espera. O exemplo maior talvez possa ser a pesada maquinaria discursiva e espetaular montada por Goebbels na Alemanha nazista. As grandes manifestações de Nurenberg iam recebendo a multidão no decorrer de todo o dia, sendo que o último a entrar no estádio era o próprio chefe de Estado que fazia o uso do microfone diante de uma população cansada, à espera do ídolo.

Evidentemente que no caso da Paraíba não chegava a essa dimensão. Mas o que gostaria de ressaltar, é justamente essa prática da espera do ídolo, bastante recorrente na

cultura política paraibana do pós-1930.

Interessante notar que todas as viagens realizadas pelo interventor a São Paulo, Rio de Janeiro e pelo interior da Paraíba eram sempre ritualizadas e espetacularizadas. A cerimônia começava desde a trasmissão do cargo ao substituto interino até o regresso do governante à capital paraibana, numa nítida alusão de busca por legitimidade e popularidade. Quando estava na Região Sudeste, a imprensa oficial se encarregava de noticiar, diariamente, a agenda do governante paraibano e publicar discursos e entrevistas realizados na imprensa nacional. Nesse particular, a propaganda engrandecia o chefe e reforçava a paraibanidade, como no trecho seguinte, publicado pelo Jornal O Globo: “Diante de obras e fatos como êsses, pode-se dizer que a Paraíba tem um governo

verdadeiramente empreendedor; capaz de corresponder às mais legítimas causas do interesse público, cooperando para o engrandecimento do heróico Estado Nordestino”. (Jornal A UNIÃO, 1 dez.1938). Divulgava-se uma imagem paraibana como “Estado Vanguardeiro” em “marcha a passos largos”; Terra do “grande João Pessoa” e da “heróica ressistência de Princesa”, estado pequenino, mas gigante desde os tempos de André Vidal de Negreiros. Essa pequena-grande Paraíba, pelas mãos do seu interventor, ajudava o Brasil de Getúlio a caminhar nos rumos do “progresso”. Esse discurso procurava tirar proveito para o estado paraibano nas fatias do bolo distribuído pelo Estado Nacional.

2.2.2- O espetáculo de Ruy Carneiro (1940-1945)

Ruy Carneiro assumiu o governo paraibano em 17 de agosto de 1940, após demissão do interventor Argemiro de Figueiredo41. Como era de praxe na cultura política do espetáculo, sua chegada e posse no cargo foram imensamente ritualizadas. A multidão foi receber o novo chefe no campo da Imbirimbeira, de onde veio o cortejo cívico em direção ao Palácio da Redenção. As primeiras atividades do novo interventor foram assinar o termo de posse, discursar para a população da sacada do palácio e visitar o monumento de João Pessoa e o túmulo de Antenor Navarro. Essa visita buscava legitimidade para um governo que se iniciava e cujo respaldo simbólico repousava na aura do “grande presidente”. Discursar ao pé da estátua de João Pessoa era uma prática associada a rezar diante dos santos ou adorar o altar do divino. Por coincidência ou não, posteriormente, recebeu em Palácio o arcebispo D. Moisés Coelho, num gesto significativo para compreendermos as ligações estreitas entre o Estado e a Igreja Católica no contexto da Era Vargas.

Com Ruy Carneiro, entretanto, a data dos festejos do aniversário do governo foi alterada para o dia 16 de agosto, em virtude de ter sido o mês em que o mesmo tomara posse no governo paraibano após a queda de Argemiro. Não muito diferente dos dias de hoje, onde o governo que assume o poder, leva um tempo falando em “arrumar a casa” “desarrumada” pelo seu antecessor. Com Ruy Carneiro não foi diferente. Nas comemorações do primeiro ano de governo, em 1941, acusou uma dívida de 19.000: 000$000, deixada por Argemiro com o caixa do Estado em torno de 900 contos de réis. Após 1942, com a entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, o

discurso ruísta vai, aos poucos, enfatizando seu lado

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democrático. A revista Manaira, ao cobrir as festas do 4º aniversário do governo, trouxe um artigo intitulado “Governo e Democracia”. Descreve o interventor como um democrata “de formação”, “não chegou nunca o Sr. Ruy Carneiro a compreender a causa ou as substâncias que geraram, no passado, o tipo do capitão-mor”. (Revista Manaira, ago- set.1944) Insiste o periódico que aquele governante está ao lado dos que “desejam ser livres”. O artigo foi escrito no âmbito das contradições da política brasileira, que combatia lá fora um regime que se assemelhava ao próprio regime vigente no país. Ao falar de Democracia e liberdade, se reporta à aproximação do Brasil com os países “democráticos”, liderados pelos Estados Unidos.

A programação das comemorações do 16 de agosto seguia praticamente a mesma linha do seu antecessor: alvorada, desfiles, revista às tropas, retretas e inaugurações de obras. Nos meios de comunicação e nas escolas, faziam-se preleções biográficas sobre o interventor ressaltando as “grandezas” do passado do estadista e as suas realizações presentes no comando do governo paraibano. Quatro dias depois, Ruy Carneiro era homenageado mais uma vez, em decorrência de seu aniversário natalício.

QUADRO V