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A escolha das técnicas mais adequadas de coleta dos dados é fundamental para o êxito da pesquisa social. Entre a diversidade de possibilidades existentes em termos de técnicas destaca-se, para um conjunto expressivo de pesquisadores, a observação. Para Gil (2009, p.100) “A observação constitui elemento fundamental para a pesquisa”.

Considerada como a fonte mais comum para obtenção dos dados, “um dos três mais importantes componentes da investigação qualitativa” segundo afirmam Strauss e Corbin (1990 apud Vasilachis de Gialdino, 2006, p.29), a técnica de observação é destacada por um conjunto expressivo de cientistas sociais, independente da perspectiva teórica utilizada na pesquisa da realidade social.

No entanto, é sabido que as decisões metodológicas encontram-se geralmente ligadas a reflexões epistemológicas que não podem ser ignoradas pelos pesquisadores. Para Guba e Lincoln, segundo Vasilachis de Gialdino (2006, p.43), “as questões de método são secundárias às dos paradigmas, os quais são como sistema básico de crenças que guiam o investigador não somente nas questões de método senão também ontológica e epistemologicamente”. Nesta linha de raciocínio9

, a técnica de observação se inscreve numa perspectiva qualitativa de produzir conhecimento.

Para Angrosino (2009, p.74), “o papel-chave da observação na pesquisa social foi reconhecido há muito tempo. (...) Contudo, a observação no âmbito da pesquisa é um processo consideravelmente mais sistemático e formal”. Para esse autor, esta técnica pode ser definida como o “ato de perceber um fenômeno e registrá-lo com propósitos científicos” (ANGROSINO, 2009, p.74).

Reforçando seu estatuto de legitimidade, Gil (2009, p.100) afirma que, quando da utilização exclusiva da observação para obtenção de dados e por estar presente em outros momentos da pesquisa, ela chega a ser considerada como método de investigação, para além de uma simples técnica de pesquisa.

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Dosse (1993) ao abordar o tema da ambição cientifica do estruturalismo destaca, por exemplo, a perspectiva de Lévi-Strauss e a primazia da observação na realização de suas pesquisas, considerando o fato que para este reconhecido antropólogo, esta técnica vinha sempre em primeiro lugar, anterior a toda construção lógica, a toda conceitualização.

Utilizada com o objetivo de adquirir conhecimentos necessários para o cotidiano, conforme nos coloca o mesmo autor supracitado, a observação deixa de ser uma simples utilização dos sentidos tornando-se um procedimento cientifico, à medida que serve a um objetivo formulado de pesquisa e é sistematicamente planejada.

Segundo Gil (2009), dentre as vantagens da observação estão, a possibilidade de obtenção de elementos para definição dos problemas de pesquisa e o favorecimento na construção de hipóteses.

Cabe destacar o fato de que a observação, segundo Angrosino (2009, p.74), “pressupõe algum tipo de contato com as pessoas e coisas que são observadas. (...) O observador tem assim, um maior ou menor grau de envolvimento com aquilo que está observando”.

Gil (2009) apresenta uma tipologia para a técnica, a partir dos meios utilizados e segundo o grau de participação do observador, podendo ser classificada como: estruturada ou não-estruturada; e participante ou não participante. Segundo o autor “como a observação participante, por sua própria natureza, tende a adotar formas não estruturadas, pode-se adotar a seguinte classificação, que combina os dois critérios considerados: observação simples; participante e sistemática” (GIL, 2009, p. 101).

Por sua vez, Gold (1985) referenciado por Angrosino (2009) apresenta uma tipologia considerada clássica dos papéis do pesquisador, distinguindo quatro categorias: “de observador invisível; de observador-como-participante; o pesquisador que é um participante-como observador e quando o pesquisador é um participante totalmente envolvido” (ANGROSINO, 2009 p. 74, 75).

Segundo a classificação apresentada pelos autores supracitados, pode-se classificar a observação realizada como fonte de dados na presente pesquisa como uma combinação da observação simples, visto seu caráter exploratório e que nortearam os itens a serem observados, e de observação participante, também denominada ativa para Gil (2009).

Gil (2009) ressalta que no tipo de observação simples é importante que o pesquisador tenha conhecimentos prévios acerca do grupo que pretende observar. Neste ponto é importante destacar o que Giddens (1989) nos coloca ao propor a teoria da estruturação, onde um ponto de partida hermenêutico é

aceito na medida em que se reconhece que a descrição de atividades humanas requer familiaridade com as formas de vida expressas naquelas atividades.

Por sua vez Becker (1999) em seu trabalho clássico, quando se utiliza como método a observação participante, procura compreender uma organização específica.

Normalmente os sociólogos usam este método quando estão especialmente interessados em compreender uma organização específica ou um problema substantivo, em vez de demonstrar relações entre variáveis abstratamente definidas. Eles se esforçam para dar um sentido teórico a suas pesquisas, mas presumem que a

priori não conhecem bastante sobre a organização para identificar

problemas e hipótese relevantes, e que precisam descobri-los no decorrer de sua pesquisa (BECKER, 1999, p. 48).

Se considerarmos as categorias de Gold (1985) citadas por Angrosino (2009), podemos caracterizar a observação realizada como “participante-como- observador” tendo em vista que a pesquisadora que realizou a observação participa, com frequência, desde 2003, do caso estudado. Segundo Gold (1985) em palavras de Angrosino (2009, p. 75),

O pesquisador que é um participante-como-observador está mais completamente integrado à vida do grupo e mais envolvido com as pessoas; ele é igualmente um amigo e um pesquisador neutro. No entanto suas atividades de pesquisa ainda são reconhecidas.

Com relação à observação participante, Gil (2009, p.103) aponta que neste tipo de metodologia, “se chega ao conhecimento da vida de um grupo a partir do interior dele mesmo” e tem como vantagens o fato de que possibilita: “o acesso a dados que a comunidade ou grupo considera de domínio privado e captar as palavras de esclarecimento que acompanham o comportamento dos observados” (GIL, 2009, p.104).

Segundo Becker (1999, p. 47), “o observador participante coleta dados através de sua participação na vida cotidiana do grupo ou organização que estuda”.

Pelas suas características, a observação participante constitui-se numa importante estratégia metodológica, amplamente utilizada na realização da pesquisa apresentada nesta dissertação como forma de coleta e tratamento dos dados.