• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 3. POR RITMOS NUNCA DANTES NAVEGADOS

3.4. Instrumentos, métodos e procedimentos de recolha de dados

3.4.2. Observação direta e vídeo gravação

Ao longo da nossa vida sentimo-nos curiosos relativamente ao que nos rodeia, utilizando os nossos olhos e os nossos ouvidos para apreendermos e compreendermos o real. Numa investigação científica, contudo, não podemos estar dependentes apenas dos

59

nossos sentidos, sendo necessário “sistematizar a observação” (Pardal & Correia, 1995, p. 50), ou seja, trabalhar cientificamente essa informação.

Um primeiro passo numa observação é o posicionamento do investigador face ao que observa e a seleção do grau de estruturação da observação, em função dos seus objetivos. Assim, numa fase inicial, adotámos uma postura de observadoras não participantes, recorrendo a uma observação de tipo estruturada, ou seja, recorremos ao Sistema de Acompanhamento das Crianças (SAC), um instrumento utilizado para apoiar a prática pedagógica em contextos pré-escolares. O recurso ao mesmo facilita a relação entre a prática de observação, de avaliação e elaboração curricular, tendo o educador um papel preponderante para a diferenciação pedagógica e de inclusão (Portugal & Laevers, 2010).

Procurámos, deste modo, conhecer as crianças, no sentido de perceber quais estariam disponíveis para participar no nosso estudo. As crianças foram observadas tendo em conta o seu bem-estar e o seu nível de implicação, aspetos como a partilha de brinquedos com os amigos, o tempo de brincadeira com outras crianças, comportamentos discriminatórios relativamente a crianças com outras características físicas ou de sexo diferente e, ainda, atitudes de curiosidade face a outras línguas e culturas.

Numa segunda fase, na qual iniciámos as nossas intervenções da Prática Pedagógica Supervisionada, optámos por uma observação não estruturada de tipo participante, o que nos permitiu viver as diferentes situações e comportamentos das crianças, conhecendo a realidade do que era estudado (Pardal & Correia, 1995; Quivy & Van Campenhoudt, 1992). Durante este período, participámos na vida coletiva do grupo de crianças, nomeadamente em atividades de sala propostas pela educadora, nas rotinas diárias, fazendo companhia às crianças nos momentos de brincadeiras na manta. Esta aproximação ao grupo melhorou a relação de confiança que estabelecemos com as crianças e permitiu-nos recolher informações mais precisas a partir do interior.

Numa terceira fase, na qual implementámos o nosso projeto e os testes de CF e de DA, considerámos que a observação participante poderia ter algumas limitações, dado o nosso papel como investigadoras, dinamizadoras e responsáveis pela aplicação dos TCFDA. Realizando o registo de algumas observações, verificámos que, para além de registos incompletos, tínhamos uma reduzida capacidade para nos recordarmos de tudo o que acontecera no momento. Como sabemos, não devemos confiar unicamente nas nossas recordações, pois a nossa memória, sendo seletiva, elimina ou deturpa dados que no momento não consideramos importantes.

60

Com a preocupação de ultrapassar estas limitações, que poderiam comprometer a nossa investigação, procurámos técnicas que nos ajudassem a sermos mais rigorosas na investigação e que melhorassem a validade e subjetividade implícita no processo de análise. Assim, recorremos à gravação vídeo e áudio das sessões de SDLC que nos permitiu aceder, com maior rigor, às situações e aos comportamentos que se davam no momento, bem como captar toda a integridade da forma e do conteúdo de comunicação, nomeadamente as interações dos participantes. Estas gravações foram, posteriormente, transcritas e sujeitas a uma análise de conteúdo, que descreveremos no próximo capítulo.

Síntese

Tendo definido a ideia de pesquisa, aprofundada com leituras sobre o tema, o terceiro capítulo procurou apresentar a questão de investigação, os objetivos, a metodologia e os instrumentos de recolha de dados utilizados. Assim, o nosso estudo pretendeu avaliar e compreender o papel da abordagem SDLC no desenvolvimento da CF de crianças em idade pré-escolar. Para dar resposta aos nossos objetivos, recorremos a uma metodologia mais abrangente, de tipo misto. Este enfoque, simultaneamente qualitativo e quantitativo da pesquisa, visou assegurar a validade dos resultados referentes aos TCFDA, sem esquecer as vozes dos participantes no projeto educativo, através das sessões vídeo gravadas.

Neste capítulo procurámos ainda contextualizar o nosso estudo, justificando a sua pertinência e inserindo-o curricularmente, tendo em conta a legislação da educação pré- escolar, nomeadamente as OCEPE e as Metas de Aprendizagem. A consulta e a análise destes documentos permitiu-nos destacar os domínios e as metas que considerámos mais pertinentes abordar no nosso estudo, compreendendo a adequabilidade das mesmas em contexto pré-escolar, sem esquecer as necessidades e motivações de cada criança.

O grupo com o qual desenvolvemos as sessões de SDLC foi também caracterizado neste capítulo, no qual indicámos o número de crianças envolvidas no projeto, as suas idades e ainda alguns aspetos referentes às culturas presentes no contexto educativo.

Num outro ponto deste capítulo apresentámos as sessões de SDLC que realizámos junto do GE e que, para além de visarem desenvolver capacidades de DA e CF, procuraram respeitar os ritmos de cada criança, as suas motivações, desenvolvendo aspetos linguísticos, sociais e culturais adequados a este período da sua vida.

61

No que diz respeito aos instrumentos de recolha de dados, tivemos em conta para a sua seleção as nossas questões e objetivos de investigação. Neste sentido, recorremos a testes de CF e de DA para avaliar estas capacidades antes e após as sessões de SDLC e gravámos as quatro sessões que implementámos junto do GE recorrendo a uma câmara de vídeo e a um gravador digital. A escolha destes instrumentos justificou-se ainda pela necessidade de não limitar os resultados a dados quantitativos alcançados através da aplicação de provas fonológicas. Para não desvalorizar dados que seriam igualmente importantes na compreensão dos desempenhos das crianças e das atividades de SDLC mais adequadas ao desenvolvimento das capacidades em análise, optámos por utilizar instrumentos de natureza qualitativa que nos ajudaram a recolher os dados que não poderiam ser quantificados.

No próximo capítulo iremos dar conta do percurso de análise dos dados que empreendemos em busca de respostas para as nossas questões.

62

CAPÍTULO 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS