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OBSERVAÇÃO: fotografia e gravação/filmagem

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

9.6 COLETA DE DADOS: contexto e dificuldades

9.6.2 OBSERVAÇÃO: fotografia e gravação/filmagem

Ao realizarmos nossas observações nesta pesquisa, tivemos o cuidado de capturar não apenas as imagens e falas dos nossos sujeitos, mas também gestos e expressões que pudessem servir de elementos esclarecedores para nossas análises e conclusões. Ocorrências no trajeto da pesquisa, reações dos sujeitos ou de pessoas a eles envolvidos, nossos sentimentos, expectativas, novas idéias surgidas também foram elementos a compor o nosso processo de observação.

Sobre a questão em relevo (LÜDKE; ANDRÉ, 1986) concordam que o conteúdo das observações deve contemplar uma parte descritiva e uma parte mais reflexiva. A primeira contemplando o registro detalhado do que ocorre no campo, onde se incluiriam aspectos como descrição dos sujeitos, de locais, de eventos especiais e de atividades; também componentes do observador e reconstrução de diálogos. A segunda, e mais reflexiva, envolveria as observações pessoais do pesquisador, durante a fase da coleta: novas ideias que surgem; problemas encontrados e a forma de resolvê-los; dilemas éticos e conflitos; expectativas e conjecturas do observador e sua evolução durante o estudo; esclarecimento de pontos confusos, e que precisam ser mais bem explorados.

9.6.2.1 A OBSERVAÇÃO DA ESCOLA X

A escola X foi a primeira a visitar o Espaço Ciência. A visita ao museu ocorreu no dia 4/9/08. A escola chegou pontualmente às 8h, conforme previsto em agenda. Como ocorre habitualmente, os alunos receberam do funcionário da recepção esclarecimentos gerais sobre

101 a instituição e uma noção sobre o conceito de interatividade adotado pelo museu. O monitor se apresentou, junto com a equipe da pesquisa, que aproveitou para agradecer a participação dos alunos, fazendo referência à colaboração destes nos primeiros testes realizados. Após orientação de como se conduzirem no espaço e dos cuidados que deviam observar para evitar acidentes, os alunos dirigiram-se ao Anfiteatro. Lá, assistiram a um pequeno show da ciência, uma das atividades do projeto social da instituição, que através do teatro aborda conceitos da ciência, de forma lúdica e bem-humorada, estimulando os visitantes que chegam ao museu nos primeiros horários do dia.

O show apresentado aos alunos ‘Tudo numa folha de papel’, explora de maneira divertida alguns conteúdos da Física. Integra uma série de experimentos realizados com a participação do público, tendo como elemento central a utilização do papel. A partir deste simples material, uma boa dose de humor e interação com o público, o espetáculo demonstra diversas possibilidades para abordar conceitos envolvendo a percepção. É realizado em duas versões: uma com o Mágico, “O Grande Kandinsc” explorando o universo dos artistas circenses. A outra versão, com a dupla Mateus e Catirina trazendo uma abordagem do teatro popular para o show. Outras peças como ‘Falando das estrelas’, ‘Zorra do Manguezal’, ‘Pequenas estórias da lama’, ‘Odeio insetos’, ‘O sonho de Ícaro’, e ‘Águas do Velho Chico’ são apresentadas ao público, como resultado da atividade do Mundo Mangue, projeto social do museu com adolescentes, que trabalha a divulgação de temas científicos e de educação ambiental, utilizando como ferramenta metodológica a linguagem teatral.

Durante a apresentação do teatro, tivemos já a oportunidade de identificar uma aluna que pelos interesses iniciais demonstrados já poderia ser o sujeito da Lembrança Estimulada. O grupo foi dividido em duas partes: um com 25 alunos (nossos sujeitos), que na última hora agregou mais duas alunas, passando assim a totalizar 27 alunos, a pedido da professora; este foi filmado durante toda a visita. E o outro, com 19 alunos, que realizou sua visita seguindo a rotina habitual do museu, independentemente do nosso grupo experimental. Transcorreram-se 15 minutos entre a acolhida inicial e o show da ciência.

Os primeiros momentos de acolhida à escola X foram de grande expectativa, pois um dos monitores escalado para acompanhar a visita não compareceu no horário acertado. Foi necessário improvisar o atendimento à outra parte do grupo, pois até então outros monitores não se apresentaram. O ocorrido não atingiu o grupo da pesquisa, mas lamentavelmente comprometeu o atendimento dos demais alunos, que foram assistidos por um monitor de apoio, ainda muito inexperiente na instituição.

102 O grupo experimental foi levado ao Pavilhão pelo monitor que denominamos de “monitor A”, e passou a ser filmado por Alan Felipe, ex-coordenador da Área de Física do Museu, que convidamos para assessorar o estudo (nesse momento havia deixado a coordenação para assumir atividades fora do Espaço Ciência). A visita foi fotografada por mim. Nessa área da exposição, diferentemente do que havíamos definido inicialmente, identificamos no grupo uma aluna bem mais curiosa, questionando o monitor de diversas formas. Esta demonstrou se adequar melhor à situação. Mudamos nosso foco de filmagem e de fotografia e discretamente alertamos o monitor, que passou a instigá-la no transcurso da visita.

A aluna manteve-se bastante participativa, interagindo sempre com o monitor e colegas. Importante foi observar como alguns alunos se sentiam inclinados a uma discussão com seus pares, na medida em que o monitor os provocava com situações-problema (envolvendo o cotidiano dos alunos). Apesar de percebermos a intenção do monitor em questionar o grupo e trazer algumas situações-problema, predominou de sua parte uma postura muito expositiva, o que pode ser observado através da filmagem, nos seus minutos iniciais (1’35’’).

Na área do pavilhão, os alunos se entusiasmaram principalmente com a gaiola de Faraday e com o gerador de Van der Graff. Pareciam não querer se dirigir mais a outros experimentos. Nessa área do pavilhão, preocupamo-nos um pouco com algumas questões levantadas pelo monitor em torno da gaiola de Faraday. Algumas informações nos soaram inadequadas, com alguns erros conceituais, fato também constatado pelo cinegrafista, que além desta função, colaborava com a pesquisa, nos esclarecendo sobre os conceitos relacionados à Física. O fato nos trouxe algumas inquietações, o que nos levou ao final da manhã a adotar outras medidas com relação aos dados coletados, como veremos logo adiante. Os alunos mostraram-se bastante interessados também pelas bicicletas na área de energia: conversaram muito, trocaram experiências pessoais. A incursão pela área de ótica foi um pouco atribulada, pois a área estava bastante quente, sem refrigeração adequada. Considere-se, inclusive, o fato de ser uma área bastante estreita, onde naturalmente os alunos se comprimem. Nessa área, os alunos mais escutaram do que interagiram.

As visitas ao museu foram muito intensas nesse dia, provocando algumas dispersões no grupo, inclusive na nossa aluna-alvo, que se mostrou um pouco agitada com a presença de garotos que iam chegando de outras escolas. Pudemos observar em alguns momentos que independentemente da influência de outros grupos presentes, parte do grupo se manteve

103 disperso, particularmente na área de Movimento, uma dispersão muito provavelmente relacionada ao tipo de estímulo oferecido por esse espaço. Ora se acomodavam no gramado do parque, ora buscavam outros interesses, distanciando-se do monitor, que de vez em quando, ajudado pela professora da turma, solicitava a sua reaproximação dos demais. A despeito dessas dispersões, a maioria nos pareceu interessada. Não observamos alteração significativa no comportamento do grupo diante das câmeras, fato que talvez se justifique por termos esclarecido previamente que a filmagem não tinha qualquer relação com ‘aparecer na televisão’. A sessão de filmagem e registro por fotografia durou 58’10’’.

A visita se completaria no local da maquete da hidroelétrica, mas por distração do monitor, passamos direto por essa área, já de volta para a recepção. Despedimo-nos da escola, já acertando nosso retorno a esta para o dia 9/9/08, quando aplicaríamos o segundo teste e entrevistaríamos a aluna da LE.

Ao final da manhã com a escola X, reunidos com o cinegrafista e assessor da pesquisa, diante do que havíamos constatado a respeito das informações inadequadas, prestadas pelo monitor sobre os conhecimentos sugeridos pela gaiola de Faraday, e por conta de informações significativas que não foram abordadas na área de ótica (reflexão, absorção e decomposição da luz), importantes para o teste seguinte, decidimos que os dados daquela coleta ficariam arquivados para um estudo posterior, vez que temíamos comprometimento das respostas dos alunos no segundo teste e na entrevista da LE.

9.6.2.2 A OBSERVAÇÃO DA ESCOLA Y

A escola Y chegou ao Espaço Ciência às 10h15 do dia 4/9/08. Recebeu as informações e orientações habituais da equipe de recepção, estabeleceu os primeiros contatos com a equipe da pesquisa, que retomou os seus propósitos e agradecimentos, aos moldes do que aconteceu com a escola anterior, mas não se envolveu com a equipe do teatro. Segundo as normas do museu, quando a escola se atrasa, não é possível recompensá-la das perdas da programação. A professora veio acompanhada de 27 alunos, quando esperávamos 44. Por conta do número reduzido de estudantes, mantivemos todos num único grupo.

Iniciamos a fotografia e filmagem pelo pavilhão, querendo identificar nos primeiros quinze minutos quem seria nosso sujeito na LE. Da mesma maneira como aconteceu com a escola X, fizemos opção por um determinado aluno, que logo foi substituído por outro: mais

104 interativo, mais curioso no momento; o monitor foi avisado sobre a nossa escolha, com a missão de estimulá-lo ainda mais. Era visível o entusiasmo da escola. No início identificamos certa timidez do grupo ao se aproximar dos experimentos, mas percebia-se a motivação e euforia da maioria. A escola foi acompanhada por um outro monitor, entre os que habitualmente atendem mais nesse roteiro, pelo cinegrafista, e por mim, que fotografei o momento.

No Pavilhão, nossa primeira área visitada, assim como aconteceu com a escola anterior, e como costuma acontecer com a maioria dos visitantes (segundo nos asseguram os monitores), os experimentos da gaiola de Faraday e do gerador de Van der Graff foram os que maior fascínio exerceram sobre os alunos. Todos queriam interagir principalmente com o experimento da gaiola. Apesar da motivação dos alunos, observamos que para alguns os interesses estavam mais voltados para o inusitado do experimento do que para as informações que estes suscitavam com a intervenção dos monitores. Diríamos até que os alunos pareciam ‘deslumbrados’ com o que viam. A visita manteve o mesmo ritmo na área das energias alternativas. No caso do espaço da ótica, visitado antes deste último, percebemos uma certa agitação e dispersão dos alunos, justificada pela temperatura alta do ambiente. Os alunos interagiram bem menos nesse local.

Ao ser levado para a área de movimento, o grupo revelou igual animação para conhecer os novos experimentos. A professora comentou que era sempre uma grande alegria para os meninos realizar atividades fora da escola, uma vez que as limitações próprias de sua condição social e econômica restringiam suas saídas ao entorno da casa. Os alunos interagiram bastante com os experimentos que envolviam roldanas e gangorra. O monitor teve o cuidado de sempre agregar os alunos e retomar os conceitos trabalhados em cada experimento. Apesar de em alguns momentos ter assumido uma postura bastante expositiva, contrariando a concepção do Espaço Ciência, que espera do monitor uma ação marcada pela problematização, ainda assim, o monitor trouxe situações interessantes para o grupo, sempre buscando a sua atenção, como é possível observar pela transcrição da visita31.

O contato com a usina hidrelétrica aconteceu em meio ao cansaço dos alunos, que já enfrentavam o sol bastante quente das 11h30, e praticamente não resultou em interações que merecessem registros para a nossa pesquisa. O monitor liberara o grupo, confundindo o roteiro dessa visita com outro que costuma fazer até essa área; foi difícil juntar todos outra vez, a pedido da pesquisadora. O momento foi marcado por uma certa dispersão e interesse

105 mais restrito dos que se encontravam mais próximos ao monitor. Em meio a outros grupos que se despediam de suas visitas ao Espaço Ciência, mais e mais os alunos se dirigiam à saída. Não houve registro do momento; a filmadora havia sido desligada; a bateria apresentou falhas por alguns momentos, apesar de todos os nossos cuidados para prevenir os problemas.

A visita encerrou-se às 12h10, com os agradecimentos do monitor, e convocação para novas visitas ao museu. Ficou agendada com a escola a nossa volta para o dia nove do mês de setembro de 2008, data para aplicação do 2º teste e entrevista com o sujeito da LE. Mais uma vez acreditamos que a filmagem e a fotografia não provocaram inibições expressivas no grupo. A filmagem ocupou o tempo de 50’ e 33’’.