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3.4 Instrumentos e procedimentos de coleta de dados

3.4.2 Observação participante

A observação é certamente uma das mais importantes e mais antigas fontes de investigação qualitativa em educação, mostrando-nos que sua aceitação, estruturação e consolidação como instrumento de coleta de dados de natureza naturalista liga-se ao fato de que não basta apenas olhar e sim saber ver, identificar e descrever acontecimentos, pessoas, ações, objetos, os diversos tipos de interações e processos humanos em um determinado contexto. Como serão as anotações cuidadosas e detalhadas que irão constituir os dados brutos das observações, é preciso considerar que sua qualidade dependerá em grande parte, nesse caso, da habilidade do observador.

A observação como instrumento ou técnica de coleta de dados exige, por conseguinte, certo tempo de convivência, pois somente o tempo passado com os sujeitos fará essa relação tornar-se informal, permitindo que eles fiquem mais à vontade e o investigador possa, assim, encorajá-los a falar o que desejam e fazer-lhe certas confidências. Na realidade, o que caracterizará essa técnica de observação será o fato de o investigador se obrigar a lhes dar pistas de que não utilizará seus dados para desmerecê-los ou estigmatizá-los, obtendo, assim, sua confiança. É exatamente como nos dizem Bogdan e Biklen (1994, p. 113):

Se, por um lado, o investigador entra no mundo do sujeito, por outro, continua a estar do lado de fora. Registra de forma não intrusiva o que vai acontecendo e recolhe, simultaneamente, outros dados descritivos. Tenta aprender algo através do sujeito, embora não tente necessariamente ser como ele. Pode participar nas suas atividades, embora de forma limitada e sem competir com o objetivo de obter prestígio ou estatuto. Aprende o modo de pensar do sujeito, mas não pensa do mesmo modo. É empático e, simultaneamente, reflexivo.

Desse modo, levando em conta as filiações teóricas e metodológicas apontadas por essa investigação, faz-se necessário discutir que, sob a perspectiva fenomenológica, a utilização da técnica de observação se deve à possibilidade de obter informações que permitam refletir a riqueza das percepções pessoais dos indivíduos, já que seu principal objeto

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de estudo é a essência das coisas, por meio da compreensão dos fatos, por aproximação sucessiva e confrontos.

Para efeitos de nossos estudos, tomamos como referência a observação participante, levando em conta a ótica do observador como um membro integrante da ação e também, por influenciar o que observa graças à sua participação. Também como nos diz Vianna (2003, p. 52):

A observação participante deve ser entendida como um processo: o pesquisador deve ser cada vez mais um participante e obter acesso ao campo de atuação e às pessoas. A observação deve, aos poucos, se tornar cada vez mais concreta e centrada em aspectos que são essenciais para responder às questões da pesquisa. Assim, conforme a perspectiva de Spradley (1980), a observação participante distingue três fases:

. Observação descritiva - o observador adapta-se ao campo de estudo e faz descrições não específicas, que se destinam a dar uma idéia geral da complexidade do campo e a desenvolver, simultaneamente, perguntas concretas para a pesquisa, abrindo novas perspectivas para o trabalho;

. Observação centrada - a perspectiva se estreita em relação ao processo e aos problemas mais essenciais para as questões da pesquisa; e

. Observação seletiva – ao se aproximar o fim da pesquisa, a coleta de dados centra- se em novas questões e exemplos para os tipos de práticas e processos encontrados na segunda fase da observação.

O outro fato é que na observação participante a proximidade entre pesquisador e pesquisado pode possibilitar a obtenção da percepção das pessoas e expressões por intermédio de sentimentos, pensamentos e crenças. Acrescente-se a esses elementos a possibilidade de levantar os conhecimentos tácitos que, por serem de natureza pessoal, muitas vezes são difíceis de serem articulados pelos indivíduos, mas que podem certamente ser revelados ao longo das ações dos mesmos. Por fim, considere-se, ainda, a colocação de Lüdke e André, (1996, p. 29), que destacam mais uma vez o compromisso que ambas as partes terão que acordar:

O “observador como participante” é um papel em que a identidade do pesquisador e os objetivos do estudo são revelados ao grupo pesquisado desde o início. Nessa posição, o pesquisador pode ter acesso a uma gama de informações, até mesmo confidenciais, pedindo cooperação ao grupo. Contudo terá, em geral, que aceitar o controle do grupo sobre o que será ou não tornado público pela pesquisa.

Embasados pelas exposições teóricas acima descritas, relatamos o período da nossa observação, que ocorreu em três escolas (Ver item 3.3 - cenários e contextos: nossas escolas públicas), em razão dos recortes do estudo no tocante a professoras e professores com mais e menos tempo de serviço. O período de observação foi de 18/3/2008 a 25/6/2008, com semanas alternadas entre as turmas das professoras, que ficaram concentradas em uma mesma escola, e os professores selecionados, em escolas diferentes. A seguir apresentaremos um

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quadro demonstrativo por professor e professora das séries e quantidades de aulas assistidas, por mês.

Número de aulas assistidas no mês em cada série Total Nome do(a) professor (a)

Março Abril Maio Junho

Prof. Adriano M. da Silva –

E.E.E.F.M. “Carlos Drummond de Andrade” 8º A - 2 aulas 8º A - 4 aulas 8º B - 1 aula 8º A - 4 aulas 8º B - 2 aulas 8º A – 2 aulas 15 Aulas

Prof. Marco P. Andrade – E.E.E.F. “Maria Comandolli Lira”. - 6º A - 1 aula 6º B - 2 aulas 7º A - 1 aula 7º B - 1 aula 8º A - 1 aula 8º B - 1 aula 9º A - 2 aulas 7º B – 2 aulas 8º A - 1 aula 8º B - 1 aula 9º A - 2 aulas 7º B - 1 aula 8º B - 1 aula 9º A - 1 aula 18 aulas

Profa. Mariana A. da Costa – E.E.E.F.M “Cel. Aluízio Pinheiro Ferreira”

6º A - 2 aulas 7º A - 2 aulas

7º B - 4 aulas 6º A - 2 aulas 7º B - 2 aulas 7º C – 1 aula

6º A - 4 aulas 7º B - 1 aula

7º C - 1 aula 19 aulas Profa. Solange M. Borges –

E.E.E.F.M. “Cel. Aluízio Pinheiro Ferreira” 6º B - 2 aulas 6º B - 2 aulas 6º C - 2 aulas 9º C - 1 aula 6º B - 2 aulas 6º C - 4 aulas 9º B - 2 aulas 9º A - 2 aulas 6º B - 2 aulas 19 aulas TOTAL 71 aulas

Quadro 5 – Número de aulas assistidas em cada série por mês

Fonte: Quadro elaborado com base nas aulas que o autor deste trabalho observou no período compreendido

entre 18 de março e 25 de junho de 2008.

Assim, a quantidade de aulas assistidas era proporcional às sequências didáticas desenvolvidas pelos professores entre uma e outra aula, ou então na mesma série, permitindo verificar, ao mesmo tempo, os conhecimentos/saberes que estavam em jogo e a possibilidade das repetições das aulas dadas pelos professores que possuíam a mesma série. A observação procurou, também, auxiliar e atender ao convite do professor diante de um tema, situação- problema, atividade que ia oferecer ou atender a um pedido de sugestão. A mesma coisa aconteceu com a escola que nos convidava para participar de reuniões de trabalho e/ou eventos.

Destaque-se, finalmente, que se privilegiou assistir aulas do professor no mesmo dia numa mesma série para que pudéssemos averiguar até que ponto o docente reproduz o mesmo conteúdo da mesma forma, sem levar em conta as diferenças entre seus alunos.