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Observações da dinâmica de preparação do texto coletivo dos estudantes para

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CAPÍTULO 4 O CONSELHO DE CLASSE A PARTIR DE DIFERENTES OLHARES

4.3 O que as observações revelam sobre a organização e o funcionamento do

4.3.1 Observações da dinâmica de preparação do texto coletivo dos estudantes para

a) A primeira observação da dinâmica de preparação do texto coletivo dos estudantes para o 3º conselho de acompanhamento pedagógico (último conselho que tem a presença de estudantes) foi feita em uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental II, a qual transcorreu da seguinte forma:

No início, a técnica educacional/psicóloga do SOE pediu aos estudantes que fizessem a escrita dos textos sobre cada disciplina para que posteriormente fosse construído um único texto coletivo.

A técnica educacional/psicóloga escreveu o nome de todas disciplinas da turma no quadro branco. Os estudantes se candidatavam a escrever sobre determinada disciplina a partir de seus interesses pessoais, de modo que sobraram algumas no quadro branco. Essa atividade teve a orientação da técnica para que fosse realizada em duplas ou trios.

Conforme o término da escrita de alguns pequenos textos sobre determinadas disciplinas, foi solicitado aos estudantes que escrevessem sobre as disciplinas que faltavam ser contempladas. Isso foi realizado sem contestação.

Quando terminaram, foi feita uma leitura para o grande grupo onde todos podiam intervir com sugestões para retirar ou acrescentar algo nos pequenos textos. Os aspectos mais destacados pelos alunos sobre os professores correspondiam à relação do professor com a turma e à sua metodologia.

Como não deu tempo de concluir, devido ao término da aula, ficou acertado para que nos encontros seguintes com o SOE a turma escrevesse um grande texto, com todas as disciplinas juntas.

Importante destacar que não observamos intervenção alguma da técnica educacional/psicóloga quanto ao conteúdo dos pequenos textos. Em todo momento a turma ficou livre durante o andamento dessa atividade. Observamos que a turma participou bem. Com ressalvas de poucos alunos que insistiam em sair da sala, mas de modo geral, a turma demonstrou compreender a atividade, realizando-a sem objeções. Demonstraram respeito com os professores, procurando palavras adequadas para colocarem suas opiniões e sugestões.

b) A segunda observação da dinâmica de preparação do texto coletivo dos estudantes para o 3º conselho de acompanhamento pedagógico (último conselho com a presença de estudantes) foi feita em uma turma do 3º ano do Ensino Médio, na qual destacamos que:

Houve uma certa dificuldade da técnica educacional/psicóloga em iniciar a atividade pois os estudantes do 3º ano estavam envolvidos com um trabalho que consistia na gravação de um filme audiovisual de curta metragem. Devido ao prazo de entrega dessa tarefa estar próximo, muitos estudantes se encontravam fora da sala.

Foi sugerido pela técnica à turma, ao invés de concentrar o texto nas queixas e nas reclamações que poderiam existir, a possibilidade de fazerem um texto com uma dinâmica diferente, já que o conselho de classe que viria seria o último que eles iriam participar, uma vez que estavam saindo do colégio.

A turma expressou que já havia pensado nisso – na construção de um texto coletivo com agradecimentos e homenagens aos docentes.

A partir desse entendimento coletivo, os estudantes se reuniram. Observamos um momento de debate entre eles sobre o que escrever acerca de determinado docente. Surgiu a intenção de se fazer críticas ao docente e elogios aos estagiários, um estudante falou: “- Os alunos agradecem por jogar pelada na hora da aula”, e um outro completou: “- A gente finge que aprende, ele finge que ensina e tá tudo de boa”. Depois de uma breve discussão, decidiram colocar no texto: “A turma está satisfeita

com a relação com o professor e com as aulas”.

Nesse sentido nos questionamos: se a participação dos estudantes é um dos momentos para resolver determinados incômodos entre professores e estudantes por que não trazer essa questão no texto coletivo? Seria talvez para evitar desgaste no conselho de classe já que estava proposto fazer um texto com um formato de despedida com elogios e agradecimentos? Ou talvez seria porque essa queixa já tinha

sido feita em conselhos de classe anteriores e não havia incentivado mudança nenhuma?

Essas questões são interessantes quando pensamos no quanto o conselho de classe em geral tem sido um momento desgastante e ineficaz. Pereira (2004, p. 189) já afirmou o quanto essas reuniões se resumem para professores como “uma tarefa rotineira, aborrecedora, ineficiente e sem função avaliativa”. Imaginemos, então, como um conselho de classe podem ser desmotivante e frustrante para os estudantes quando suas colocações não são consideradas ou quando não geram modificações que venham a favorecer a sua aprendizagem.

Podemos pensar ainda na relação de poder e autoridade entre docentes e estudantes que existe na sala de aula e que se mantém no conselho de classe. Embora, estes últimos tenham presença garantida neste espaço, isso ainda não estabelece de forma efetiva uma relação horizontal, o que demonstra uma compreensão de que a avaliação apenas diz respeito ao estudante seja em relação à sua aprendizagem, seja a seu comportamento e atitudes, de forma que apenas ele é quem precisa mudar. Dalben (2004) afirma que conselho de classe reflete a relação de sala de aula que existe entre docente e estudante, de modo que ela não muda dentro desse espaço coletivo de avaliação, o que tende a gerar nos estudantes um certo descrédito e desestímulo quanto à sua participação:

Entretanto, a relação professor x aluno não se altera durante a discussão do Conselho de Classe. Se o professor é rígido na sala de aula, ele é rígido no Conselho, e suas concepções pedagógicas e políticas estão enraizadas na sua postura perante seu trabalho. Dessa forma, o máximo que o professor coloca é que “vai pensar no assunto, mas...”, e justifica com uma série de argumentos a “necessidade de ter mais responsabilidade e respeito...”. Nesse contexto, tanto os alunos quanto os professores participantes não têm como estimular o debate, o assunto termina e tudo fica do mesmo jeito (DALBEN, 2004, p. 67).

Considerando que essa situação é bem frequente no conselho de classe, é possível pensar na atitude dos estudantes em optar por não colocar no texto coletivo a situação que tanto os desagradavam em relação à prática do professor.

Os aspectos mais apontados pela turma no momento da aula de preparação para o conselho de classe foram relativos à metodologia dos docentes (aulas diversificadas, descontraídas), a relação dos mesmo com a turma e à sua forma de fazer a avaliação das aprendizagens: “- Diferentes formas de avaliação que não

Foi observado que nem todos, dentre os que estavam presentes, participaram dessa atividade, nem todos falaram, a tarefa da escrita ficou restrita a estudante que estava no computador e aos estudantes que estavam próximos a ela. A orientadora sempre buscava chamar os estudantes mais distantes, perguntando: “- O que vocês

acham? Vocês concordam?”, eles afirmavam que sim, sem nenhuma outra colocação.

Terminado o tempo, foi acordada entre a orientadora e a turma a continuação do texto nas aulas seguintes, uma vez que ficam disponibilizadas 3 (três) aulas para a preparação do texto coletivo para o conselho de classe, e que essa aula tinha sido a primeira. Não acompanhamos as aulas seguintes por inviabilidade de horário.

Destacamos que nas duas observações referentes à preparação das turmas do 9º ano e do 3º ano para o conselho de classe, não observamos por parte dos estudantes nenhuma estranheza ou incômodo com a nossa presença, o que demonstra que os mesmos estão acostumados com a dinâmica do colégio em se constituir para além do ensino, como um espaço de formação docente e de pesquisa.

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