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3 PROBLEMA DE INVESTIGAÇÃO

4.4 Análise dos Dados

4.4.1 Observações sobre as Reuniões do IGESP

Inicialmente serão abordadas as observações acerca das reuniões do IGESP. A narrativa que se segue privilegiou os papéis vivenciados por todos que compõem a mesa de avaliação do modelo. Deve-se esclarecer que de 2005 até o início de 2009 foram observadas várias reuniões de diferentes AISP. Ao longo desse período verificou-se mudanças no funcionamento das mesmas. Quando da implantação do modelo, as reuniões com as 24 AISP eram mensais, posteriormente se tornaram trimestrais e a partir de 2009 são semestrais. Essas reuniões ocorrem a partir da elaboração, pela SEDS, em comum acordo com a 1ª RISP, de um cronograma estabelecido no início de cada ano. As reuniões acontecem em um espaço específico que não pertence nem à PMMG nem à Polícia Civil e são coordenadas pela Secretaria de Estado de Defesa Social, pelo Comandante da 1ª Região da PM e pelo Chefe do 1º Departamento de Polícia Civil, responsáveis pela segurança da cidade de Belo Horizonte. O representante da SEDS é quem abre as reuniões e passa logo em seguida a palavra para os representantes da AISP. Estes são respectivamente o comandante de uma Companhia da PM e um Delegado de Polícia. Esses representantes apresentam os resultados alcançados no período pela área integrada (as metas são sempre determinadas na reunião anterior). Normalmente quem inicia a apresentação é o representante da PMMG, mostrando um mapa com a localização da AISP, o número de policiais militares existentes, número de viaturas, ações desenvolvidas na área em relação a gangues, tráfico de drogas, furto de veículos, armas apreendidas, etc. O representante da Polícia Civil também apresenta a Delegacia sob sua responsabilidade mostrando o número de policiais e o número de viaturas disponíveis para o trabalho. Apresenta também o número de inquéritos instaurados, inquéritos remetidos à justiça e todas as demais atividades cartoriais inerentes à polícia judiciária.

Um fato interessante e que merece destaque, ocorreu em 2008 quando a coordenadora da SEDS, responsável pela 1ª RISP, à época, se atrasou muito para a reunião e os representantes da ACISP (Batalhão da PM e Delegacia Seccional)- que naquele dia representavam os gestores da RISP - iniciaram a apresentação sem a presença dessa coordenadora, que ao chegar se integrou ao grupo desculpando-se pelo atraso. Aqui, pode-se

levantar a hipótese de que, dentre outras coisas, naquele momento o papel da SEDS não parecia primordial para aquele grupo, bem como apontava para uma não relação de subordinação para com a mesma.

Em relação à coordenação da SEDS, verificou-se também que, se no início do processo era o Secretário-Adjunto quem coordenava a mesa do IGESP, após um determinado período essa coordenação passa a ser exercida por diferentes pessoas, o que a nosso ver é prejudicial ao processo, tanto que na revisão metodológica para 2009 fica estabelecida uma coordenação fixa para a 1ª RISP. Deve-se apontar que o processo de integração é novo e como tal necessita de um mediador que crie vínculos de confiança com as organizações. Verificam-se também, constantes mudanças na condução das Delegacias e Companhias de Polícia, bem como nos Batalhões e Delegacias Seccionais. As constantes mudanças, tanto na mediação, quanto nas companhias e delegacias, dificultam a criação desses vínculos entre os integrantes das organizações policiais. No que se refere às mudanças na coordenação, além da dificuldade no vínculo, traz também desconfianças, pois as demandas por eles apresentadas no IGESP acabavam ficando sempre sem retorno. As demandas, na maioria das vezes, estavam relacionadas a questões de infra-estrutura e pessoal. Outro fato a destacar, é que muitos dos mediadores da SEDS, ao longo desse período, não têm conhecimento suficiente na área de segurança pública, o que pode trazer certo embaraço, pois em alguma medida os profissionais de segurança pública que ali estão debatendo sobre seus dados, em alguma medida “testam” os interlocutores da Secretaria, mesmo que de forma velada e isso se reflete mais à frente em termos da credibilidade e do sucesso do modelo.

As metas a serem cumpridas pelas 24 AISP são estabelecidas atualmente (em 2005 as metas eram estabelecidas pela SEDS) pelo Comandante da 1ª Região de Polícia Militar para as unidades da PM e pelo Chefe do 1º Departamento de Polícia Civil para as Delegacias em Belo Horizonte. Estas metas dizem respeito a ações específicas para cada área da cidade no sentido de diminuírem os índices de criminalidade na Capital. São estabelecidas também metas relacionadas às atividades com a comunidade através das reuniões dos Conselhos de Segurança Pública e atuações conjuntas entre a Polícia Militar e a Polícia Civil.

Logo após a apresentação dos resultados da AISP pelo comandante da Companhia e pelo Delegado a palavra volta ao mediador/coordenador da Secretaria que pode tanto fazer alguma consideração ou questionamento acerca da apresentação ou passar a palavra ao comandante da 1ª Região da PM e ao Chefe do 1º Departamento. Estes, por sua vez, passam a palavra ao comandante do Batalhão e ao chefe da Delegacia Seccional aos quais os integrantes da AISP são subordinados. Em 2005, no início do processo de Integração as

reuniões do IGESP eram denominadas pelos integrantes das AISP como “pelourinho”. Essa denominação demonstrava o sentimento recorrente entre os policiais civis e militares em relação à forma como os questionamentos eram feitos. Como as reuniões do IGESP tomam por base o processo de gestão por resultados que já havia sido implementado pela PMMG antes mesmo do início da Integração, acredita-se que a denominação “pelourinho” foi trazida pelos oficiais da PM e incorporados pelos delegados da Polícia Civil.

Ao final das intervenções dos responsáveis pela ACISP e RISP, caso haja necessidade de participação de representantes de outros órgãos, tais como a Prefeitura ou de outras instituições do Sistema de Defesa Social (Ministério Público e Judiciário), a estas são dadas a palavra. Cabe aqui ressaltar que os representantes do Ministério Público e do Judiciário são convidados a participarem das reuniões do IGESP, e que o Executivo não tem poder de impor suas participações. Assim, embora o IGESP venha ocorrendo desde 2005, o Judiciário passa somente a participar efetivamente dessas reuniões em 2009, representado por uma juíza da Vara da Infância e Juventude e uma juíza da Vara de Execuções Criminais. A mesa também é composta por representantes das unidades especializadas das duas organizações policiais. Interessante apontar que com a implantação do IGESP, as unidades de área (Companhias e Delegacias Distritais) passam a ter lugar de destaque no modelo e assim as unidades especializadas “saem” um pouco do foco. O que acabou, no nosso entendimento, causando um “certo descompromisso” das unidades especializadas com o IGESP, bem como percebe-se uma insatisfação nas unidades especializadas das duas polícias. Isso fica claro quando pelo lado da PMMG, nas reuniões do IGESP, o Comando Especializado é representado, na mesa, por um oficial subalterno (tenente) sem poder de decisão e quando uma delegada, chefe de uma das delegacias especializadas da Polícia Civil diz que nunca foi convidada a participar das reuniões do IGESP. Essa mesma delegada disse que embora nunca tenha sido convidada a participar de nada, estava ali convidando a todos, PMMG e PCMG a tomarem um café na sua delegacia. Segundo essa mesma delegada, ela e sua delegacia, “estão alheios ao IGESP e que os cachorros do canil da Polícia Civil são mais integrados do que as pessoas, já que nem seus próprios colegas, eles conhecem”. Sobre essa fala, um delegado que participou da pesquisa revelou que antes de se pensar em integrar a Polícia Civil e a Polícia Militar, necessário seria integrar os policiais civis, dentro da própria organização, pois uns se sentem mais policiais do que outros. O que se verifica, a partir dessas observações, é que as unidades especializadas parecem ter sido sempre mais alheias à dinâmica da organização, no caso específico da Polícia Civil e assim, se mantiveram fechadas em si mesmas, sob a justificativa de que trabalham com dados sigilosos. Essa situação parece se repetir pelo lado da PMMG, já que até

hoje, pertencer às unidades especializadas não “é coisa” para qualquer policial militar. A este policial, não basta apenas demonstrar desejo em participar desta ou daquela unidade de elite, pois dentre aqueles que desejam ainda cabe um árduo processo de seleção e treinamento, bem como a aceitação do grupo.

No que se refere à preparação das reuniões do IGESP, é realizada uma reunião prévia entre a AISP e a coordenação da SEDS para que a apresentação seja feita com foco nas questões mais importantes, tais como o movimento da criminalidade violenta no período. Desde o início do processo de integração em 2005, existe um documento gerencial de trabalho (DOGESP) que orienta o levantamento de dados para as reuniões. As questões apresentadas no documento são relativas a dados quantitativos que versam sobre as atividades criminais ocorridas nas áreas, a qualificação das investigações relacionadas às atividades que foram descritas nos levantamentos quantitativos, os mecanismos de interação comunitária e os problemas relacionados à correição do trabalho policial. Embora a SEDS sempre destaque a importância do preenchimento do DOGESP, esse documento nunca foi plenamente seguido pelas duas organizações policiais, e, este fato, vem sendo sempre assunto destacado nas reuniões anuais de avaliação do IGESP. Pode-se levantar a hipótese que, o preenchimento integral dos itens contidos no DOGESP, possibilite a verificação de que o movimento da criminalidade não está sendo plenamente mapeado e trabalhado pelas duas organizações.

Quando da implementação do IGESP, podia-se verificar que as Companhias da PM confeccionavam as apresentações e a Polícia Civil apenas complementava com os dados que lhes cabiam. Ainda hoje, embora seja esperado que as AISP desenvolvam em conjunto suas apresentações, verifica-se que elas são, na maioria das vezes, realizadas em separado. Sabe-se que o modelo denominado “polícia de resultados”, implementado na PMMG, serviu de base para o processo de integração da gestão operacional.

Um dos pontos cobrados no DOGESP e que também é cobrado nas reuniões do IGESP, refere-se à existência de operações conjuntas entre as duas polícias, em suas áreas de atuação. Verificou-se por meio de contatos com delegados e comandantes de companhia que essas operações não têm uma freqüência determinada. Isto depende da interação entre os responsáveis pelas unidades, pois enquanto algumas AISP desenvolvem seguidamente operações conjuntas, outras se restringem a uma única operação dentro do período de avaliação. Um ponto destacado entre policiais civis e militares das ACISP (área de coordenação) é que muitos deles só se encontram nas reuniões do IGESP. Essa constatação parece apontar para limitações ainda presentes nas áreas de coordenação, compostas pelos

comandantes de batalhão da PM e as delegacias seccionais, no que diz respeito às ações em favor da Integração.

As reuniões do IGESP são consideradas, especialmente pela SEDS, como um espaço de “prestação de contas”, de verificação dos resultados obtidos em determinado período, e assim, não é esperado que ali seja um espaço para solicitações de qualquer espécie, e que as reuniões se transformem em “muro de lamentações”, onde as companhias e as delegacias “chorem” e “exponham” suas deficiências estruturais e de pessoal. Mas segundo os representantes das AISP, especialmente os delegados, não há outro lugar para se colocar suas deficiências e necessidades, já que eles têm metas a cumprir. Muitos representantes das AISP deixam claro que são cobrados, mas que não lhes são dadas as condições necessárias para tal. Essa situação é recorrente nas reuniões do IGESP, desde 2005, quando da implantação do projeto. Embora a Secretaria aponte avanços em relação às necessidades estruturais das duas organizações, as queixas continuam presentes. Cabe aqui ressaltar que muitas das Companhias e Delegacias visitadas realmente não possuem estruturas adequadas para funcionamento.

Ao final de cada ano, é feita uma classificação e as AISP que cumprem suas metas recebem uma premiação em dinheiro e esse prêmio é revertido em favor da Companhia e da Delegacia. Os prêmios são entregues em uma solenidade com a presença de autoridades civis e militares do Estado e conta também com a presença do governador ou de seu representante.