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Obstáculos

No documento 2009IditeDemartini (páginas 44-46)

2 CONTRIBUIÇÕES PARA A PESQUISA

2.7 Noções da didática da matemática

2.7.3 Obstáculos

O tema obstáculo vem despertando muita atenção e, ao mesmo tempo, tem provocado muitas discussões. De acordo com Igliori, o tema incitou maior atenção nos últimos vinte anos, sustentado pelos estudos realizados “pela primeira vez, em 1938 com o epistemólogo francês Gaston de Bachelard” (p. 98). Brousseau foi um dos primeiros a tratar da questão “como se dá o processo de construção do conhecimento pelos estudantes”. (IGLIORI, 1999, p. 99).

Segundo Igliori (1999), é possível identificar algumas causas para os erros apresentados pelos alunos, estudadas na “teoria dos obstáculos” de Brousseau, o qual identificou três diferentes tipos de obstáculos de aprendizagem:

- Os de origem ontogênica, que são aqueles que se processam a partir de limitações de ordem do tipo neuro fisiológicas entre outras, do sujeito, no momento de seu desenvolvimento;

- Os de ordem didática que dependem somente das escolhas realizadas para um sistema educativo;

- E os de ordem epistemológica, que são aqueles dos quais não se pode nem se deve escapar, pois são constitutivos do conhecimento visado. (IGLIORI, 1999, p. 101).

Como o estudo se desenvolve no âmbito educacional, vamos nos limitar aos obstáculos de ordem epistemológica e aos de ordem didática.

De acordo com Brousseau,

[...] a noção de obstáculo epistemológico como sendo aquele obstáculo ligado à resistência de um saber mal-adaptado, no sentido de Bachelard, e o vê como um meio de interpretar alguns dos erros recorrentes e não aleatórios, cometidos pelos estudantes, quando lhes são ensinados alguns tópicos de Matemática. (apud IGLIORI, 1999, p. 99).

Igliori afirma que o conhecimento adquirido sobre um determinado conteúdo, num momento, mostra-se eficiente, correto, porém, em outro, poderá representar uma dificuldade para compreender outros conceitos. Por exemplo, o conhecimento sobre a ordem numérica e o processo para realizar as operações entre números naturais podem se tornar obstáculos

epistemológicos para o aluno ao estudar o conjunto dos números racionais. Em geral, até a 5ª série o aluno trabalha com operações e situações que envolvem o conjunto dos números naturais. Assim, ele aprende que nesse conjunto todo número é maior que qualquer antecessor e que não é possível a divisão na situação em que o dividendo é menor que o divisor, o que é possível no conjunto dos números racionais.

Portanto, é fundamental que o professor esteja consciente da necessidade de esclarecer para o aluno que relações e operações possíveis para um determinado conjunto numérico podem não sê-lo para outro, e, também, de situar historicamente o aluno, mostrando-lhe que, como afirma Caraça (2005), o surgimento de um conjunto numérico se dá pelo fato de um determinado conjunto não dar conta de resolver novas situações.

Acredita-se que dessa forma o professor estará contribuindo para que o aluno avance na sua aprendizagem. Assim, tendo clareza daquilo que está realizando, evitará que o conhecimento assimilado pelo aluno se cristalize como verdade única, tornando-se um obstáculo para um novo conhecimento. Ao abordar obstáculos didáticos, Igliori (1999) destaca que se configuram a partir das escolhas das estratégias de ensino adotadas pelo professor. Portanto, os obstáculos didáticos têm origem no planejamento de atividades, bem como no trabalho que é desenvolvido na sala de aula.

De acordo com Grando, Brousseau acredita que não há como evitar o surgimento de obstáculos cognitivos, “que um obstáculo se manifesta através de erros” e que “são os erros [por exemplo, a retenção de um conhecimento como verdadeiro para qualquer situação] que se constituem em obstáculos”. (GRANDO, 1995, p. 110). Brousseau crê que o reconhecimento e a identificação de obstáculos servirão como suporte essencial para o estudo e a elaboração de propostas didáticas.

Miranda, em seus estudos, destaca:

Embora caminhemos para três décadas do surgimento da expressão “obstáculo didático”, ainda é escassa a literatura referente a este tema e, como não poderia ser diferente, não se encontram disponíveis, na literatura pesquisada, registros sobre o que caracteriza um obstáculo didático e como estudá-lo. O que há, e nisso se baseiam todos os autores, é um certo consenso entre os interessados em estudar tais obstáculos sobre a íntima relação entre a existência de erros e os obstáculos, em particular o obstáculo didático. (2007, p. 23, grifo do autor).

estão muito próximos um do outro e que os obstáculos se estruturam a partir de erros. O autor sinaliza que, apesar de existirem poucos estudos relacionados a obstáculos didáticos, as práticas de abordagem do conhecimento adotadas e as interações que acontecem em sala de aula poderão produzir erros, que, por sua vez, irão desencadear obstáculos de aprendizagem.

Acredita-se que estar atento e provocar motivos que impulsionem o aluno na busca de resolução de problemas é fundamental, mas é necessário também que, associadas a isso, haja a análise, a observação e as adaptações necessárias para cada situação vivenciada no processo de ensino-aprendizagem. É neste sentido que os estudiosos alertam que os educadores precisam estar sempre vigilantes.

Apesar de os teóricos estabelecerem distinção clara entre as duas formas de obstáculos, referindo-se aos epistemológicos como sendo o resultado de um conhecimento fixado e que encontra dificuldades em se ajustar a um novo saber, e aos didáticos como aqueles relacionados à prática do professor, é possível inferir que não há uma separação evidente entre ambos, ou seja, os obstáculos epistemológicos podem se configurar como didáticos dependendo da forma como os conteúdos são desenvolvidos na sala de aula. É imprescindível que o professor esteja sempre atento às interpretações e conclusões dos alunos, haja vista que os obstáculos se manifestam num meio onde interagem aluno, saber e professor.

No documento 2009IditeDemartini (páginas 44-46)