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D OCUMENTO W52 – R ESUMO DAS PROPOSTAS APRESENTADAS 1 r egistro para vinhos e bebidas espirituosas

O Secretariado da OMC deverá registrar a notificação da indicação geográfica. Os elementos da notificação serão ainda discutidos. Os membros deverão atentar ao registro para fazer a proteção de marcas e indicações geográficas de acordo com seus procedimentos domésticos. O registro deve ser considerado evidência prima facie de que o membro cumpriu com a definição de indicação geográfica presente no artigo 22.1. Autoridades domésticas podem considerar a exceção do artigo 24.6 apenas se esta for substancial.

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2. Disclosure de fontes de materiais genéticos ou associados com

conhecimento tradicional, cuja definição será acordada na aplicação de patentes.

Processos de patentes não serão completados sem esse requisito. 3. extensão da aplicação doartigo23 para indicações geográficas de todos os produtos.

Aplicação do procedimento de registro e extensão das exceções do artigo 24 também a todos os produtos, não só a vinhos e destilados como o é atualmente.

Por fim, tratamento especial e diferenciado deve ser parte da negociação dos três itens acima, e ações para países em desenvolvimento e para países de menor desenvolvimento relativo (least developed countries –LDCs).

O tema indicações geográficas apareceu como uma grande sur-

presa entre as propostas brasileiras31. Foi a única proposta apresentada

pelo Brasil no grupo W52 e, por diversas peculiaridades, acredita-se que não seja um tema propositivo na agenda brasileira. Primeira- mente pelo país não possuir nenhum produto expressivo que requeira tal demanda em um fórum multilateral, com exceção da cachaça, que já é protegida por ser um destilado. Segundo, a demanda de indicações geográficas vem sendo patrocinada e defendida prin- cipalmente pela União Europeia com o propósito de estender as indicações para produtos além de destilados e vinhos, como, por exemplo: queijos, azeites, temperos e outros – vê-se que a UE é a principal interessada nessa proposta por conta de indicações geo- gráficas aparecer em todos os APCs analisados assinados pelo bloco. Terceira peculiaridade deste tema é que, em relatório apresentado

pelo Chairman do Comitê de Negociações do TRIPS 32, o Brasil

coloca a proposta de indicações geográficas como um acordo mul- tilateral dirigido apenas para vinhos e destilados, ao contrário da UE, que deseja estender a proteção a todos os produtos conforme

relatório apresentado na reunião Ministerial de Hong Kong33. Por

fim, na mesma proposta que o Brasil se junta com a UE para a defesa de indicações geográficas, há também a proposição da inter- pretação conjunta do acordo TRIPS com a CBD.

Estes aspectos nos levam a cogitar que a apresentação de uma proposta conjunta possa ser mais um alinhamento político para manter indicações geográficas e interpretação conjunta do TRIPS e CBD na mesa de negociação do que uma questão ofensiva para o país na Rodada Doha, principalmente por conta de o apoio político de certos países ser importante para que certas questões continuem sendo negociadas. Importante ressaltar esse ponto, pois, já que no

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sistema da OMC é necessário o single undertaking34, muitos países se alinham politicamente para que seus temas continuem na mesa e para que possam fazer uma barganha política. Isso significaria dizer que, já que o tema de indicações geográficas é de extrema importância para a UE, e para o Brasil é importante a questão de patenteabilidade de plantas, animais, microorganismos e conhecimento tradicional; e, já que a concessão destes temas pode não apresentar perdas econômicas para ambos, seria possível que os países fizessem essa troca política para que as negociações avançassem e se chegasse a um consenso final nas modificações do acordo TRIPS. Isso significaria que, apesar de patrocinadores conjuntos da proposta de indicações geográficas junto à OMC, para o Brasil, a questão de indicações geográficas serve mais como objeto de barganha política para conseguir avanços em um tópico que realmente lhe interesse do que um tema propositivo em sua agenda.

No mesmo relatório da reunião Ministerial de Hong Kong, já citado, apresenta-se a posição de diversos países no tema de indicações geográficas, que consolida as propostas de acordo multilateral de indicações geográficas, revelando como cada país se posicionou com relação a cada artigo do acordo. A grande diferença entre os posi- cionamentos nesse documento – sem contar algumas formalidades de como se dará a notificação das indicações geográficas, sobre as quais os países divergem – é a questão de estender a proteção das indicações geográficas a todos os produtos. O Brasil se posiciona contra, concordando apenas com um acordo para vinhos e destilados – que significa manter o que já vem sendo regulado no TRIPS, apenas formalizando um sistema de notificação e registro das indi- cações geográficas na OMC –, junto com Cingapura, Cuba e Austrália, Canadá, Chile, EUA, México, Japão, África do Sul e Nova Zelândia, que negociam como grupo (Joint Proposal Group). Enquanto UE, Suíça, Turquia, China, Índia e países africanos (African Group) se posicionam em favor da extensão das indicações a todos os produtos. Interessante notar que apesar de a Índia não inovar em nada em seus acordos está apoiando um avanço na proteção de PI. A China, por outro lado, já colocou em seus acordos o tema e vem apresentando o mesmo posicionamento junto à OMC.

Como estamos tratando das negociações em PI com foco em Brasil, é importante lembrar que foram retomadas em 2010 as nego- ciações de um APC entre EU- MERCOSUL. Seria um tema de extrema importância para o bloco e o Brasil deve considerar os efeitos internos de uma liberalização na área. A esse respeito, há artigo 04

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indícios de que o tema não traria repercussões negativas interna-

mente por conta de uma liberalização35, já que alguns produtos

continuariam a ser protegidos, a exemplo da cachaça brasileira, e o Brasil não é grande inovador neste quesito.

Ainda nesse sentido, o Brasil também deve considerar uma possível barganha política no tema de indicações geográficas por patenteabi- lidade de recursos naturais e proteção de conhecimentos tradicionais, protegidos na Convenção de Biodiversidade. Já que o tema de indi- cações geográficas não causaria danos internos, poderia valer de moeda de troca para um tema realmente importante para o Brasil.

Se por um lado o tema pode não trazer grandes prejuízos ao país, importante pensar nos parceiros do Brasil do MERCOSUL, princi- palmente a Argentina, que possui produção significante de vinhos.

A alta regulação da UE no tema deve ser levada em consideração e com cuidado pelo Brasil e países do MERCOSUL, principalmente, pelos acordos da UE estabelerecem alto nível de proteção, por exemplo, proibindo o uso do nome mesmo que indicado com expressões “tipo” e “estilo”. Com isso, não seria possível fabricar um vinho espumante e rotulá-lo como vinho espumante tipo Champagne por conta do tipo de restrição que a UE vem exigindo nos seus acordos. Como exemplo da alta exigência requerida pela EU, essa, em acordo com o México, listou cerca de duzentos itens que deveriam seguir os critérios apre- sentados acima. No acordo com a Coreia do Sul, as indicações geográficas foram estendidas a todos os produtos. Ainda, em caso de

conflito com marcas, prevalecerá sempre indicações geográficas36.

Portanto, embora o tema de indicações geográficas possa servir de ponto de barganha para o Brasil frente a outros temas de maior interesse para o país, deve-se pensar nos efeitos para a indústria afetada e possíveis efeitos colaterais antes de apoiar uma liberalização efetiva.

3.2 CONVENÇÃO DE BIODIVERSIDADE (CBD)

Se, por um lado, o tema de indicações geográficas possui pouca rele- vância para o país, por outro, a CBD e sua incorporação no TRIPS é o grande tema da agenda propositiva brasileira em PI.

A CBD tem três principais focos: a conservação da diversidade biológica, o uso sustentável desta e a divisão equitativa e justa dos

benefícios advindos da utilização dos recursos genéticos37.

Esse tema tem grande importância para o país dada a extensa fauna e flora do Brasil, a diversidade de produtos nas florestas tropi- cais, os conhecimentos e técnicas indígenas e, principalmente, pelo problema que o país enfrenta de biopirataria.

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Além da proposta apresentada acima, W52, que defende o dis-

closure na patenteabilidade de plantas, animais e microorganismos e

de conhecimento tradicional, para que o país de origem possa ter acesso aos benefícios da patenteabilidade desses recursos, conside- ra-se que a principal proposta apresentada pelo Brasil é o documento

W59, apresentado em 19 de abril de 201138, juntamente com China,

Colômbia, Equador, Índia, Indonésia, Quênia (em nome do African

Group), Mauricius (em nome do ACP Group), Peru e Tailândia,

explicando como se dará o disclosure. QUADRO II:

ARTIGO 29 BIS – DIVULGAÇÃO (DISCLOSURE) DE ORIGEM