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A ocupação do cibespaço como espaço (público) de ação e de expressão do novo

CAPÍTULO 3: APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS DADOS

3.3 A ESTRATÉGIA DOS DIÁRIOS DE CLASSE VIRTUAIS: O

3.3.1 A ocupação do cibespaço como espaço (público) de ação e de expressão do novo

pelo Norte da África, reconhecidos mundialmente como a “Primavera Árabe”, o Occupy Wall Street em 2011 nos Estados Unidos, e as inúmeras manifestações que eclodiram no Brasil entre junho e setembro de 2013, resguardadas as particularidades e contextos de cada um desses movimentos, são significativos exemplos de que a Internet pode ser desde uma brecha dentro de um regime ditatorial até mais um “lugar” a ser ocupado do ponto de vista instrumental – no uso de seus recursos para marcar ajuntamentos, divulgar eventos e organizar tarefas – e do ponto de vista experiencial, como território coletivo de expressão e mobilização.

São acontecimentos relevantes para uma nova organização mundial que não pode se furtar ao poder resultante da democratização do acesso à internet, que de partida pluraliza discussões e expande o alcance das mesmas. Ao se articularem, por exemplo, com o conjunto de manifestações sociais que aconteceram no Brasil, os Diários de Classe Virtuais revelaram ser conscientes dessa nova dinâmica social. Durante esse período, alguns dos diários se dedicaram a reforçar a participação prioritária dos adolescentes e jovens nos protestos, ao mesmo tempo em que se esforçaram para situar a educação e a precariedade da escola pública dentro da ampla pauta de reivindicação.

E diante dos constantes questionamentos e desconfianças direcionados às juventudes e suas ações efetivas, refletiram sobre o papel da Internet naquele cenário e a importância de suas contribuições por meio dela:

Figura 11: convocação do D2 para as manifestações brasileiras de 2013

Figuras 12 e 13: Postagens do D3 sobre as manifestações de 2013

Fonte: www.facebook.com

Todos os diários enxergam a si mesmos como importantes canais de transformação e entendem ser possível mudar o cenário a partir do envolvimento de todos. Na compreensão deles, os problemas precisam ser percebidos pela sociedade, precisam vir à tona por meio de uma fiscalização contínua evidenciada também no ciberespaço, por isso se apresentam como veículos para esse fim.

Hoje podemos ter uma certeza, a pressão nos políticos funciona. Quando comecei o Diário e começou a repercussão, logo a prefeitura veio e reformou a escola, vários outros Diários também tiverem seus resultados. Bastou uma semana de manifestações e já ocorreram mudanças, baixou as passagens, votaram contra PEC 37, estão votando mais recursos para educação e saúde.

Os políticos estão todos falando de pactos[...]. Funcionou ou não funcionou a pressão popular? São vitórias do povo que saiu em manifestações, mostrando todos seus descontentamentos, um tapa na cara de todos que diziam que os movimentos não tinham lideranças, não tinham objetivo e não dariam em nada. Já reparou como mudou a timeline do seu Facebook? Todo mundo falando em política, se interessando pela situação atual do Brasil, todo mundo mais ligado no que está acontecendo. Tudo isso também serviu para provar de vez a força das redes sociais. Essa frase a seguir não é minha, mas acredito que representa bem o momento. “É uma ilusão achar que o povo esta dormindo, ele esta no computador, esta na rede, esta em permanente mobilização. A praça hoje é virtual, é on-line e é permanente”. Senador Cristovam Buarque. (D1, 26 de junho de 2013).

O envolvimento evocado nas páginas abrange seus administradores e o público que com elas interage. Vai desde o desenrolar de ações exclusivas do âmbito da internet – como acessar as páginas frequentemente, divulgar seus conteúdos por meio dos recursos da própria rede social: "curtir", "compartilhar", "comentar" ou "linkar" seus conteúdos com outros sites – até participar nas ruas, escolas ou em qualquer outro ponto geográfico de manifestações, consultas públicas, protestos e eventos que tenham sido divulgados e organizados nas redes. É um novo formato de organização juvenil que se amplia com a ocupação do ciberespaço e suas tecnologias.

Castells (2009) observa que as transformações que ocorreram no âmbito da comunicação também alteraram a política, o fazer político. Isso não significa dizer que os meios de comunicação passaram a ser estratégicos apenas na contemporaneidade, mas a relação/uso destes com a construção do poder por meio da homogeneização da opinião pública foi significativamente alterada quando a Internet e todo o maquinário (computadores, smartphones, tablets) que auxiliou na sua expansão permitiu o surgimento de novos espaços de comunicação. Esses ambientes pluralizam e horizontalizam a comunicação. Com isso, em maior ou menor grau, as massas encontram brechas para também participarem desse jogo.

Ao se conscientizarem de que as peças do jogo podem ser organizadas de diversas formas nesse novo tabuleiro, as juventudes fazem uso da internet para promover discussões e se posicionarem publicamente. Quando os responsáveis pelos diários assim procedem, convidam para esse debate a sociedade em geral e suas muitas instituições, estudantes de outras escolas e a própria escola. As novas práticas decorrentes dessas transformações muitas vezes se mostram desvinculadas de uma compreensão de política institucionalizada pela organização do Estado. São outras regras, novas maneiras de jogar a sociedade, como vemos em Simmel (2006). São insatisfações que não cabem, muitas vezes, nem no tempo e nem nos programas dos partidos políticos ou dos movimentos sociais clássicos.

Há um claro empenho, portanto, por parte desses adolescentes e jovens em conquistar o âmbito público. Buscam ter o direito ao exercício da atividade política em seu sentido mais abrangente, quando este lhes garante a voz, a participação igualitária nas decisões de cunho coletivo. Essa afirmação, porém, implica em algumas considerações.

Quando distingue o espaço público do espaço privado, Hannah Arendt (2008) situa tudo o que é ligado às necessidades biológicas vitais do ser humano – inclusive o esforço desempenhado pelo homem para o atendimento e manutenção da vida ou mesmo para produzir artefatos – como sendo próprio da esfera privada, ou seja, uma esfera mediada pela sobrevivência e regida por imperativos e interesses particulares.

Ao propor a separação dessas esferas, a pensadora não promove uma hierarquização entre elas, pois são igualmente importantes para a constituição do ser. Mas é apenas no espaço público que Arendt compreende ser possível discutir, refletir e contribuir sobre o que pertence ao coletivo, ao que é comum a todos os homens e ainda afirmar a singularidade de cada indivíduo. Ao espaço público cabe a liberdade, por meio do agir e do falar (ação e discurso), pontos altos da humanidade: “A acção é uma actividade comunicacional mediada pela linguagem da pluralidade de opiniões no confronto político e efectivada através da retórica”. (ANTUNES, 2004, p.2).

No contexto de movimentos ou iniciativas como as dos Diários de Classe Virtuais destacamos especialmente a ação, na concepção arendtiana, como importante elemento para a leitura desses fenômenos, por ser a ação essencialmente política e plural, além de ser efetivamente possível apenas entre homens.

Assim compreendido, é na intersubjetividade do mundo humano, na livre expressão das opiniões e no exercício da persuasão em uma arena de sociabilidades públicas, que os homens aperfeiçoam tanto a si mesmos como ao espaço público: "O mundo no qual transcorre a vita activa consiste em coisas produzidas pelas atividades humanas; mas, constantemente, as coisas que devem sua existência exclusivamente aos homens também condicionam os seus autores humanos". (ARENDT, 2008, p. 17).

Você sente orgulho do seu país? Não. Pois, como eu vou ter orgulho de um país que dá mais valor a festas do que as coisas públicas? Um país onde a política não é feita com cunho ao bem da população, mas sim pensado com intenções particulares, tradicionais da nossa marca, [...] onde as pessoas só querem tirar vantagem em tudo. Onde temos como presidente do senado uma pessoa condenada, e a mesma faz parte de um conselho de ética. Eu me pergunto meus caros, como uma pessoa como essa tem ética? Além desse, temos muitos condenados sentados nos locais onde deveriam estar pessoas

dedicadas ao bem COLETIVO, que lutassem pelo POVO, junto com o povo e para o povo. Um país onde as escolas públicas encontram-se sucateadas, velhas e atrasadas no tempo. Onde os professores não são valorizados e os custos para a educação são visualizados como gastos, quando não se é utilizado para superfaturamentos e desvios. Hoje, e não só hoje, as pessoas saem da escola sem realmente aprender. A escola hoje é vista como uma fábrica de pessoas alienadas [...] Eu vejo que é mais importante coisas públicas boas ao invés de estádios de futebol.

Eu teria orgulho de um país onde o povo acordasse para a vida e fosse menos comodista, que soubesse votar corretamente ao invés de venderem seu voto. Um país onde a educação, saúde, transporte público entre outras coisas públicas fossem de qualidade. Um país onde a justiça fosse para todos e que no julgamento o poder aquisitivo fosse ignorado totalmente. Tudo o que estamos colhendo e sofrendo hoje é consequência do nosso voto e de nossa irresponsabilidade quando ignoramos as discussões e o afinco às coisas públicas para termos tempo de ir ver a novela ou assistir o futebol. Nosso país pode ser bom, basta esquecermos a estupidez humana e agir com união, como diria os Anonymous, unidos por um e divididos por zero.

Vamos nos unir e nos tornar a Geração Coca-Cola que o Legião Urbana cantava, parar essa Roda-Viva que Chico Buarque cantou. Nós podemos se pensarmos no coletivo. Tudo pode ser diferente se você pensar e agir diferente. (D5, 13 de fevereiro de 2013).

É por meio do agir coletivo que a sociedade é recriada, inovada, revista. Em decorrência desse entendimento, é possível interpretar que ao criarem os Diários de Classe, os adolescentes e jovens estão em pleno exercício da ação, sobretudo ao expressarem um desejo do que está ausente. Ao lutarem por soluções efetivas e transformadoras se reconhecem e se colocam como ativos sujeitos de direitos, responsabilizam autoridades públicas e aprimoram seus argumentos no intuito de agrupar novos agentes.

Há uma confluência de interesses pela ação política. Desse modo, é possível afirmar que a indignação, o questionamento da realidade e o compromisso de melhorá-la os movem. Para Mendonça (2007), em consonância com Arendt, quando iniciativas como essas irrompem na vida social elas introduzem algo novo, sugerem novos quadros de interpretação da realidade e acabam por promover reflexões tanto sobre o passado como sobre o futuro.

Como é possível observar, o elemento ‘novidade’ compõe de maneira contundente esse viés interpretativo e se faz presente tanto no espaço ocupado pelos diários de classe – o ciberespaço – como na reinvenção dos métodos de reivindicação pelas novas gerações.

Cada vez mais assimilado pelas juventudes, o ciberespaço, como discutimos anteriormente, mais do que ampliou a noção tradicional de espaço e seus limites. No presente, ele acrescenta um novo conjunto de percursos, representa trilhas alternativas e fluidas que multiplicam as formas de ser e estar na contemporaneidade. (ALCANTARA Jr., 2005).

À medida que adolescentes e jovens navegam, redimensionam, para além das relações e posições sociais hierárquicas, questões culturais, econômicas, sociais e políticas. É devido, sobretudo, ao caráter livre, colaborativo, interconectado e não-proprietário da internet – que pauta, dentre outros fatores, as subjetividades e as sociabilidades contemporâneas – que experiências ciberativistas, como são os Diários de Classe Virtuais, se tornam possíveis. (SEGURADO et al., 2013; SIBÍLIA, 2012a).

Muitos são os que despolitizam o ciberativismo a partir de um anacronismo histórico e social fundamentado em experiências de reivindicação e protesto que, em muitos elementos, não condizem com as atuais. Mais do que lançar um juízo de valor a respeito de quais práticas são mais efetivas, há que se despertar para a multiplicidade de canais e discursos possibilitados, além do importante amadurecimento individual e coletivo dos sujeitos envolvidos.

Atores críticos podem revelar novos mundos sociais e formas de interação ao buscarem desestabilizar elementos das redes tácitas de significação que os cercam. [...] Se os códigos culturais naturalizam construções sociais, movimentos podem desconstruí-las, criando um contexto em que novos valores e práticas sejam vistos como possíveis. (MENDONÇA, 2007, p.127).

Em muitos casos, até mais importante que os resultados em si, são os acontecimentos que se tornam possíveis a partir desse novo desenho sócio-espacial. Seja delimitado fisicamente ou virtualmente, o espaço público vivenciado coletivamente e ocupado ativamente é o único palco que possibilita a transformação. Contudo, é de uma negligência contextual sem medida subestimar o poder da ação no ciberespaço e de práticas integradas que passam por ele, principalmente quando são encabeçadas pelas juventudes.

Esse cenário que favorece experiências como a dos Diários de Classe Virtuais coloca as juventudes envolvidas em condição de protagonismo, uma vez que oportuniza a elas cada vez mais condições para o exercício espontâneo da cidadania e consequente participação política, mesmo que esses conceitos, ao menos teoricamente, estejam em construção durante essa fase da vida e exijam certo grau de vivência para sua compreensão. O fato de aspirarem esse lugar e iniciarem a busca não torna esses sujeitos plenamente capazes e conscientes. Esperar que o simples fato de estar na rede e em rede torne adolescentes e jovens conectados cidadãos prontos, conscientes de si e dos outros, capazes de viver em sociedade e de se posicionarem de maneira consistente é minimizar, senão desprezar e empobrecer a complexa teia de relações que os tornam seres sociais condicionados e condicionantes.

Mas, na prática, tal engajamento e os resultados decorrentes destas experiências revelam que eles têm condições de se apropriarem desses conceitos e, diante do aprofundamento e da complexidade das questões colocadas, desenvolverem a capacidade de aperfeiçoá-los. Porém, essa deve ser uma costura com outros espaços e com muitos outros agentes.

As novas gerações evidenciam, para Hannah Arendt (2008), a constante possibilidade do inédito, do novo. Ao revisitar a concepção de natalidade em Santo Agostinho, a autora confere a esse princípio um caráter diferente do biológico. O nascimento é, para ela, a capacidade reinventiva da própria condição humana, a garantia da pluralidade, pois mesmo sendo todos caracterizados por essa condição, nenhum sujeito foi, é ou será igual a outro. Cada um é único, singular. Ao se inserir no mundo, conviver e negociar com os diferentes, o ser humano experimenta de um segundo nascimento, o político. “É com palavras e atos que nos inserimos no mundo humano; e esta inserção é como um segundo nascimento, no qual confirmamos e assumimos o fato original e singular do nosso aparecimento físico original”. (p.189).

O homem se revela aos seus pares por meio do agir e do falar, comunica a si próprio superando as diferenças e necessidades explicitamente físicas. Para Arendt, ao garantir no espaço público o surgimento e a permanência de corpos políticos, a ação revela-se intimamente ligada à condição humana da natalidade, que se consolida como sua base, pois segundo a autora, os homens não lograriam êxito em seus processos de compreensão de si mesmo e do outro se não fossem iguais. Ao mesmo tempo em que não necessitariam da ação e do discurso para dialogarem se não fossem diferentes um do outro. Há uma capacidade inaugural e imprevisível no agir e ela é fruto do permanente milagre do nascimento de novos e singulares indivíduos.

O novo sempre acontece à revelia da esmagadora força das leis estatísticas e de sua probabilidade que, para fins práticos e cotidianos, equivale à certeza; assim, o novo sempre surge sob o disfarce do milagre. O fato de que o homem é capaz de agir significa que se pode esperar dele o inesperado, que ele é capaz de realizar o infinitamente improvável. E isto, por sua vez, só é possível porque cada homem é singular, de sorte que, a cada nascimento, vem ao mundo algo singularmente novo. Desse alguém que é singular, pode- se dizer, com certeza, que antes dele não havia ninguém. (ARENDT, 2008, p.191).

O agir político só é possível se considerados esses dois elementos intrínsecos à natalidade: a igualdade e a singularidade. Portanto, para a autora, se o novo é efetivado pela

ação, no ato de iniciar, a pluralidade é efetivada no discurso, quando este permite ao homem distinguir-se dos demais, entre os demais. Essa associação política que se dá entre homens constitui-se, portanto, no poder de transformar a realidade. “O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam” (ARENDT, 2008, p.212).

Ter a ousadia de abrir-se ao novo é uma característica presente nas juventudes, de maneira geral. E, se aproximamos um pouco mais a lupa da análise, podemos reconhecê-la explicitamente no agir de adolescentes e jovens em experiências de contestação possibilitadas pela web. Motivados por uma causa comum, sujeitos diferentes tornam-se parceiros em condição de igualdade e criam um espaço de compreensão. Cada vez que criam um diário de classe virtual, se organizam e se manifestam publicamente dentro e fora do ciberespaço, agem em um contexto de interação pública e nascem politicamente.

Não acredito que vcs estão satisfeitos com isso, não podem se conformar, se forem esperar alguém fazer algo, esperem sentados. A hora é agora, curtam, compartilhem essa pagina. A escola é pública, de todos, é de vc, minha, do seu filho... Apoiem essa página, por favor, afinal, é pra todos. (D6, 12 de setembro de 2012).

A continuidade da ação política se dá por meio dos novos e constantes nascimentos, que aperfeiçoam e garantem a constante revisão do espaço coletivo. “A ação seria um luxo desnecessário, uma caprichosa interferência com as leis gerais do comportamento, se os homens não passassem de repetições interminavelmente reproduzíveis do mesmo modelo, todas dotadas da mesma natureza e essência”. (ARENDT, 2008, p.16). Portanto, a natalidade é a garantia de revisão do mundo. Em cada novo ser há mudança em potencial, há novidade de vida, há o começo de uma nova história. Tal pressuposto se apresenta como uma maneira de mudar as coisas, construir uma nova ordem política e social, um outro jeito de fazer educação, de fazer surgir novas formas de sociabilidade, de viver na contemporaneidade e de redescrever nossa subjetividade: “nascer significa lançar-se em uma série de ações que são capazes de transformar o mundo”. (OLIVEIRA, 2011, p.83).

A Internet e as RSIs os empoderam quando lhes permitem ocupar lugares de fala. Nota-se que, dificilmente aos 13, 14, 20 anos um adolescente ou jovem teria nos canais de comunicação tradicionais a abertura e o espaço de expressão para questionar a condição da sua escola. E se toda a abertura explicitada promovida pelos meios de comunicação contemporâneos for identificada como maior liberdade de expressão e manifestação, esse cenário tende a estimular cada vez mais a reflexão sobre que escola as juventudes querem frequentar e passar grande parte do seu dia.

A maturidade do jovem em relação à rede, porém, não se dá de forma automática e não nasce apenas da autonomia, ela é sem dúvida um elemento. No processo de observação dos Diários de Classe Virtuais explicitou-se que esse é um processo de aprendizado e conscientização que envolve outros atores, como os pais, a própria escola, os professores. Quando esses sujeitos se furtam ao papel formador tornam permanente o risco à liberdade de expressão, à atuação e às responsabilidades sobre o que é dito, veiculado, criado ou transformado.

3.3.2 O sufocamento da natalidade impresso na incompreensão e na ausência do adulto responsável

Começamos essa pesquisa refletindo sobre o poder transformador do tempo sobre a História. Naquele momento, destacamos quão significativo fora o papel da técnica nos acontecimentos do século XX e desenvolvemos um diálogo sobre o acirramento dessas experiências ao longo de toda a pesquisa.

É pertinente, portanto, no momento em que tratamos dos conflitos instalados com a criação dos Diários de Classe a partir da colocação pública de suas reivindicações, compartilhar da visão de Hans Jonas (2006) quando este observa que há uma falência dos imperativos éticos tradicionais, que passam a ser instrumentos deslocados e insuficientes para guiar nossos olhares e reflexões a respeito dos possíveis resultados negativos ou dos desafios que os novos tempos trazem, sobretudo, tempos profundamente demarcados pela relação do homem com a tecnologia. De acordo com o autor, transformações ocorridas nas nossas capacidades promoveram mudanças no agir humano.

Comunicar-se por meio da internet é uma realidade crescente não só para as juventudes. Mas, como pudemos observar, elas reinventam constantemente os caminhos de expressão inclusive na própria internet e fazem até mesmo de redes sociais, muito mais voltadas ao entretenimento, lugar de indignação e protesto. Nesse universo, a matéria bruta dos estudantes é a opinião, que alcança uma dimensão maior cada vez que é compartilhada. A partir dessa tendência comunicativa, muitos elementos se alteraram a ponto de não guardar