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CAPÍTULO 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.1. Estudo 1

5.1.6. Oficina de Promoção da Saúde

Compareceram à Oficina apenas três dos cinco ACSs que foram entrevistados: a ACS 2, a ACS 3 e o ACS 5.

Nesta atividade em grupo, os participantes foram convidados a realizar alguns exercícios. O primeiro referiu-se à associação livre de palavras sobre o termo “Promoção da Saúde”, onde houve o registro das palavras que emergiram no grupo. Em seguida, foi solicitado aos participantes que escrevessem em tiras de papel exemplos de atuação em promoção da saúde. Estes exemplos foram discutidos sob o prisma da Política Nacional de Promoção da Saúde, apresentada pela coordenadora da oficina, com ênfase para os eixos norteadores desta política. E, por fim, após conhecer a política e a diferença entre promoção e prevenção, foi proposta uma reflexão para a construção coletiva do conceito de promoção da saúde e até que ponto os exemplos descritos a priori realmente representavam ações em promoção da saúde. A descrição passo a passo da Oficina encontra-se no Anexo C.

5.1.6.1. Repertórios de Palavras Associadas à Promoção da Saúde

Na oficina foram obtidas 41 associações com o termo promoção da saúde, com três repetições. O formulário desta atividade encontra-se no Anexo F. Estes vocábulos ou repertórios foram classificados em três eixos de análise, cujo resultado está representado na Tabela 4.

Tabela 4 - Palavras associadas ao termo Promoção da Saúde

Eixos de Análise Total

Foco na atuação e estrutura dos serviços 21 (51%)

Foco na saúde 17 (42%)

Foco na doença 3 (7%)

No eixo “Foco na atuação e estrutura dos serviços”, foram classificados os repertórios relacionados ao âmbito profissional do ACS, ou seja, às ações que costumam realizar ao promover saúde, bem como, ao que é necessário oferecer aos profissionais para que realmente consigam desenvolver atividades de promoção da saúde.

Estes dados são condizentes com as definições dos ACSs, tanto nas entrevistas individuais, quanto na Oficina, quando associam promoção da saúde a orientações e informações que o profissional destina aos usuários e à comunidade em geral. No entanto, novos vocábulos surgiram na associação, como relacionamento, acolhimento, educação, entrosamento da equipe, que, de certa forma refletem a importância da comunicação. O que leva ao entendimento de que o trabalho de promover a saúde está pautado na necessidade de haver um bom relacionamento entre profissional e usuário, para que este se sinta acolhido e seguro para aderir às estratégias propostas pelo ACS.

Outra questão que é possível refletir com os vocábulos neste eixo é a premência de respaldo aos profissionais, quando fazem alusão às seguintes palavras: cursos técnicos, profissional qualificado, instalações e qualidade do serviço prestado.

Os participantes deste estudo comentaram sobre a falta de apoio profissional, tanto no que se refere à falta de capacitação e formação continuada, quanto à exígua estrutura dos serviços. Eles afirmam que o usuário apenas ficará satisfeito se houver viabilidade e qualidade nos serviços prestados.

No eixo “Foco na saúde”, os vocábulos descritos foram classificados neste eixo por estarem associados à prevenção primária, dimensão que compreende ações de promoção da saúde e de proteção específica, como apontam Leavell e Clarck (1976).

Por um lado, incluem repertórios sobre medidas básicas de higiene, tirar o lixo, cortar as unhas, lavar as mãos e escovar os dentes, associados ao que os autores referem como proteção específica. E por outro, associações como esporte, lazer, bem-estar físico e mental, caminhar, ter boa alimentação, coadunam com a visão integrada de saúde revelada pelos ACSs, e se relacionam com a dimensão de promoção da saúde apontada pelos autores, que incluem ações de recreação e bom padrão de nutrição, ajustado às fases do desenvolvimento da vida das pessoas.

Já no eixo “Foco na doença”, as associações refletem as dimensões de prevenção secundária, pois as palavras suscitadas remetem ao momento em que a doença já está instalada, como adesão, tratamento e cuidados específicos. Não caracterizando a dimensão da prevenção relacionada à promoção, pois nesta situação procura-se diagnosticar e tratar precocemente para não haver comprometimentos maiores à saúde da pessoa, ou mesmo, limitar a invalidez nos casos em que o estágio da doença está consideravelmente avançado (Leavell & Clarck, 1976).

5.1.6.2. Construção Coletiva do Conceito de Promoção da Saúde

As definições iniciais sobre promoção da saúde da Oficina convergiram com aquelas comunicadas nas entrevistas individuais. Três casos foram abordados pelo grupo, sendo que um

deles é bastante ilustrativo. Trata-se de um paciente idoso que era internado frequentemente, pois a pressão não estava controlada e não tomava suas medicações na quantidade e horário adequados. O ACS 5 passou, então, a intensificar as visitas domiciliares para ensinar a identificação dos remédios através de métodos simples (discriminação dos comprimidos por cor e separação em vasilhames) e orientar o cumprimento dos horários prescritos. De acordo com o ACS, atualmente, o paciente não tem recorrido às emergências hospitalares e ganhou qualidade de vida. O profissional está satisfeito e a família do paciente encontra-se mais tranquila. Para o ACS, ainda “falta conseguir introduzir o paciente ao grupo de atividades físicas”.

Seguem-se os comentários dos participantes da Oficina a respeito deste caso (ver Quadro 5).

Quadro 5 - Discussão de um caso ilustrativo de atuação em promoção da saúde durante a Oficina.

Participante Comentários reproduzidos

Coordenadora da Oficina Então esse exemplo, a gente consegue associar a qual tipo de estratégia?

ACS 5 Na promoção e na prevenção, porque digamos, ele não tomava a medicação correta e, além disso, já estamos visando um outro tipo de bem-estar pra ele, tentando introduzir ele no grupo de atividades físicas.

Coordenadora da Oficina Tá, mas você não conseguiu isso ainda.

ACS 5 Não, ainda não. Eu tô me esforçando o máximo, e fazer com que ele parasse de frequentar as UTIs e as emergências da vida, fazer com que ele tomasse e identificasse os remédios já é uma grande conquista. Coordenadora da Oficina Tá, então vamos pensar... O paciente já tem uma doença instalada, ele

tem hipertensão e diabetes. Então, a estratégia desenvolvida foi com relação à utilização de remédios. De acordo com o que discutimos, podemos entender que nos deparamos com uma estratégia de quê?

ACS 5 É promoção.

ACS 2 É prevenção.

ACS 3 É complicado.

ACS 2 Ele tá prevenindo pra que ele não morra.

ACS 5 Peraí. É prevenção, você tem razão, o foco era a doença.

O trecho reconstituído revela mudança do conceito inicial sobre promoção, em especial, para o relator do caso. Possivelmente, como promoção e prevenção dão ênfase ao cuidado, e não à cura, os profissionais têm dificuldade em distingui-las.

Marcondes (2004) argumenta que qualquer mudança visando à melhoria da saúde pode estar associada à promoção da mesma, dependendo dos objetivos fixados para as estratégias adotadas pelo profissional. Desta maneira, é crucial ponderar se as ações visam controlar ou reduzir determinada doença (prevenção) ou enfatizar a qualidade de vida das pessoas, fomentando a capacidade dos usuários para identificar necessidades individuais e coletivas (promoção).

Durante a atividade grupal, os participantes paulatinamente reconheceram que a maioria das atividades realizadas era orientada para a prevenção de doenças. Exemplo:

ACS 2: então tudo que a gente faz, por exemplo, com as crianças com o CD (Crescimento e Desenvolvimento) vai cair na parte de prevenção.

ACS 2: E assim, quando a gente manda vim fazer o teste do pezinho até o 7º dia? É o quê?

Coordenadora: Você está prevenindo doença. Todas essas estratégias como vacinação, testes, exames.

ACS 2: Então com as gestantes também, que tem que fazer pré-natal...

Ao longo da Oficina, os ACSs concluíram que a intensidade e o ritmo da rotina de trabalho a que são submetidos (ex.: preenchimento de formulários, atividades prescritas junto à comunidade) fazem com que priorizem a prevenção de doenças, em detrimento da promoção da saúde.

No momento do encerramento, os participantes avaliaram a atividade da seguinte maneira: ACS 5: Foi bom ver essas diretrizes aqui, porque agora a gente pode tá chegando na coordenação e tá discutindo o que a gente pode tá fazendo pra iniciar um trabalho nestes eixos. Pra tá nos dando respaldo do posto de saúde pra que a gente entre na comunidade e possa tá fazendo a diferença nestes aspectos. A redução de acidentes de trânsito, a gente pode tá indo nas escolas, tá dando palestras pras crianças mesmo, de como tá se prevenindo nos acidentes em uma cidade que cresceu, digamos, cresceu de uma hora pra outra [...].

ACS 3: Minha visão mudou com certeza, e agora eu vou atrás de mais coisa pra poder me aprofundar no assunto.

ACS 2: Agora eu vou pra comunidade com outra visão.

ACS 5: Agora sim, a gente tem o conhecimento pra tá cobrando dos coordenadores, pra que desenvolvam ou tragam políticas pra dentro do posto. Pra que a gente possa ter pra onde mandar, pra onde encaminhar. Porque tudo tem um direcionamento e tem que ter um respaldo [...].

Em síntese, esta atividade suscitou reflexões sobre promoção e prevenção, contribuindo para a familiarização dos ACSs com a PNPS. Os participantes refletiram sobre os objetivos de suas intervenções junto à comunidade, procurando distinguir promoção e prevenção. Ao conhecer melhor a PNPS, discutiram estratégias que cumprissem os eixos recomendados pela política.

Contudo, chama-se atenção para o fato de que mesmo após a apropriação da diferença entre os termos realizada pelos participantes, eles ainda resgatam argumentos que sinalizam a confusão entre promoção e prevenção, quando apontam ações de promoção da saúde baseadas apenas na transmissão de informações, como proferir palestras. Permanecendo as confusões presentes na dimensão prática para além da conceitual.