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Capítulo III – Desenho do estudo

3.3. Oficina de escrita

Na oficina de escrita, os momentos de conexão pessoal formam uma matriz, a partir da qual tudo o mais desenvolve-se. As crianças escrevem sobre o que está vivo, sobre o que é vital e real para elas – e sua escrita torna-se o currículo. Seus professores escutam, orientam e guia. (Calkins, 1989, p. 21)

Segundo Eira (2019, p. 60), a oficina de escrita é uma estratégia didática que surgiu nos Estados Unidos da América com os chamados “writing workshops” (Calkins, 1989) e se estendeu, entre outras, à pedagogia espanhola “talleres de escritura” (Cassany, 1990). Cassany descreve os “talleres de escritura” afirmando que:

básicamente, se propone un tema y los alumnos se pasan todo el tiempo de clase escribiendo sobre él. El papel del profesor consiste en orientar y asesorar el trabajo del alumno: decirle cómo puede trabajar, qué técnicas puede utilizar, leer sus borradores y mostrarle los errores o los puntos flojos, etc.(Cassany, 1990, p. 74)

Como já foi referido, é na instituição escolar que o aluno deve aprender a escrever e, neste sentido, tal como afirma Hedge, os professores devem encorajar os seus discentes a realizarem um processo de planificação, organização, textualização e revisão.

Na pedagogia da escrita portuguesa, encontramos Vilas-Boas (2003b, p. 36) que afirma que “as oficinas de escrita são conjuntos ou sequências de aulas durante as quais só se escreve” e estas têm o objetivo de “permitir o desenvolvimento nos alunos das várias etapas conducentes ao domínio da textualização: planificação, redação, valorização dos rascunhos através da correção acompanhada durante a reescrita contínua”.

O tempo consagrado para a realização de uma oficina de escrita é variável, no sentido em que está dependente de fatores como a idade, o número de alunos, o tipo de erro(s)

ou de texto(s) que se vai trabalhar. No que diz respeito ao tema, este deve ser do interesse do aluno e o professor deve auxiliar o mesmo a melhorar o seu texto, quando necessário.

De forma a alcançar os objetivos que determinei para o meu PIA, isto é, desenvolver o gosto pela escrita, melhorar a produção textual através da escrita por fases e desenvolver a cidadania ativa no 8.º ano de escolaridade, recorri à estratégia didática “oficina de escrita”. Com esta, pretendia atingir o objetivo do ensino da escrita de “incutir nos estudantes a prática da escrita enquanto movimento recursivo, que os obrigará a que se socorram dos vários subprocessos da escrita como processo cognitivo, com vista a melhorarem as versões dos seus textos” (Pinto, 2013, p. 358). Para além disso, há também que considerar que a oficina de escrita tem como uma das principais vantagens a possibilidade do professor poder acompanhar, incentivar, dialogar e colaborar com cada um dos seus discentes, ao longo da realização da mesma.

Num primeiro momento de uma oficina de escrita, é fornecido aos alunos as informações sobre a duração da atividade e do seu modo de funcionamento. Durante a realização da oficina de escrita e tendo por base Vilas-Boas, os momentos de escrita são intercalados com “entrevistas” que consistem num diálogo entre o docente e cada discente com o intuito de o aluno verbalizar o que está a fazer e o professor fazer-lhe questões que o auxiliem na elaboração do texto. Por outras palavras, o professor e o aluno leem o texto em conjunto e comentam-no, ajudando o aluno a prosseguir com a tarefa. (Vilas-Boas, 2003b, p. 37). Neste diálogo, o docente consegue prestar um acompanhamento individualizado a cada aluno, respeitando as suas especificidades e auxiliando-o a ultrapassar as suas dificuldades. O professor deve fornecer sugestões ao aluno em vez de imposições, uma vez que se espera que o aluno tenha uma voz ativa neste diálogo e seja ativo na construção do seu texto, isto é, que ocupe um papel central enquanto sujeito da sua aprendizagem. Neste sentido, enquanto autor do texto, o produto final deve estar de acordo com os gostos e o estilo de escrita de cada aluno, respeitando assim as suas diferenças e preferências.

É importante referir que o docente deve ensinar, aos seus discentes, estratégias que contribuam para melhorar o processo de escrita. Na etapa da planificação, o professor

deve dirigir questões ao aluno, individualmente, com o objetivo de fomentar a criação de ideias para o texto, por exemplo. Na etapa da textualização, o docente pode procurar desbloquear o aluno, sugerindo formas de escrever as suas ideias, por exemplo. Na etapa de revisão, o docente pode sugerir algumas reformulações aos textos dos alunos. Importa não esquecer que nem todos os alunos necessitam da mesma atenção e que é impossível acompanhar todos os alunos a todo o momento, o que implica que o professor saiba gerir a sua atenção, conseguindo auxiliar todos os alunos a superar as suas dificuldades. A experiência mostra que as indicações orais que o professor vai fazendo não são, geralmente, suficientes, ou seja, os alunos esquecem-nas e chamam de novo o professor. Para que assim não suceda, o docente deve recorre a indicações escritas, necessariamente curtas, claras e objetivas. Como sabemos, quando os alunos encontram sentido nas propostas de escrita, escrevem com gosto, pelo que o professor deve procurar propor atividades de escrita com temas apelativos e adequados aos mesmos. Cabe ao professor levar o aluno a envolver-se neste processo, contribuindo para o sucesso da sua aprendizagem e não esqueçamos, ainda, que os elogios do professor ao longo do processo são fulcrais para manter o aluno motivado.

A avaliação da oficina de escrita é realizada com base em todo o processo de escrita e não apenas sobre o produto final, assim como defende Cassany (2005). Deste modo, pretende-se avaliar a progressão do aluno durante a oficina e o seu processo de aprendizagem.

Em suma, a oficina de escrita caracteriza-se por ser uma aula viva. Para que tal suceda, tentei que as mesmas tivessem em conta as especificidades dos alunos do 8.ºD, tanto no momento da criação da OE, como durante a sua implementação, onde imperou uma contínua interação professor-aluno, assim como defende Vilas-Boas (2003).

De seguida, passarei a refletir sobre a importância e pertinência do feedback oral e escrito, com principal destaque para o feedback escrito fornecido aos textos dos alunos e em que medida este contribui para a melhoria da aprendizagem no geral e na escrita em particular.

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