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3 CULICÍDEOS

3.5 OFICINAS DE CAPACITAÇÃO

As oficinas de conhecimento para os fiscais de saúde e agentes da Vigilância Epidemiológica da Fundação Área Costeira do Município de Itapema/SC tiveram como resultados as capacitações dos fiscais para atuarem em diversas modalidades, tanto teóricas quanto práticas, em laboratório e em campo. Na parte teórica (Figura 3.19), em laboratório, foram introduzidos conceitos sobre a biologia de imaturos e adultos dos insetos Culicidae (mosquitos), Simuliidae (borrachudos), Phlebotominae (frebótis/mosquito-palha) e Triatominae (barbeiros). Os assuntos abordados envolveram: quantidade de ovos por postura, potenciais criadouros naturais e artificiais de ovos e larvas, habitats das formas maduras e imaturas, alimentação destas, controle populacional biológico e químico de larvas e adultos, e também o risco de doenças transmitidas por esses insetos.

Figura 3.19 - Oficina teórica sobre insetos com os fiscais de saúde e agentes da Vigilância Epidemiológica da Fundação Área Costeira do Município de Itapema/SC, realizada no Laboratório IV do MIP/UFSC, no dia 20/11/2009, Florianópolis/SC, Brasil

Fonte: NEAmb UFSC, 2009

Na parte prática, em laboratório, ensinou-se como montar uma coleção entomológica, desde o processo de alfinetar os insetos até os procedimentos de conservação do material em laboratório, conforme descrito anteriormente no item 3.3 “MONTAGEM DO MATERIAL ENTOMOLÓGICO”. As identificações de Culicidae (Fig. 20) foram feitas conforme descrito anteriormente na subseção 3.2.5 Identificação dos culicidae coletados. Os participantes das oficinas conseguiram identificar adultos de diversos gêneros, e também alguns mosquitos, tais como: Ae. albopictus, Ae. aegypti, Oc. Scapularis, An. cruzii e Ps.

Ferox - os quais são vetores de doenças humanas. Foram também realizadas as identificações

de gêneros de Triatominae, por meio da observação da inserção das antenas na cabeça, e também suas diferentes formas de alimentação, conforme o formato e comprimento do aparelho bucal. Os gêneros identificados, pela maneira anteriormente descrita, incluem:

Rhodnius spp., Triatoma spp. e Panstrongylus spp. Já os borrachudos (Simuliidae), foram

Figura 3.20 - Oficina prática de identificação de insetos com os fiscais de saúde e agentes da Vigilância Epidemiológica da Fundação Área Costeira do Município de Itapema/SC, realizada no Laboratório IV do MIP/UFSC, no dia 20 de novembro de 2009, Florianópolis/SC, Brasil

Fonte: NEAmb UFSC, 2009

Na parte prática, na saída a campo, foi realizada uma saída a campo na UCAD, no município de Florianópolis/SC. Nela, foram analisados os diferentes habitats de formas imaturas de culicídeos, tais como: poças d’água no chão, ocos de árvores, internódios de bambus (Figura 3.21), imbricações foliares de bromélias (Figura 3.22) e em inflorescências da planta Heliconia spp (Figura 3.23). Foram ensinadas técnicas de coleta dessas formas imaturas, as quais envolvem a sucção de água parada dos criadouros supracitados, para uma posterior análise dos ovos e larvas desses insetos, inclusive com a possibilidade de averiguar possíveis agentes infecciosos nas larvas e adultos coletados em laboratório. Ensinaram-se também métodos de coleta de adultos de mosquitos antropozoofílicos, por meio de coleta por tubo de sucção de Castro, armadilha luminosa CDC e armadilha do tipo Shannon.

No término do curso, foram fornecidas apostilas de identificação de gêneros de Culicidae (APÊNDICE A), uma para cada participante das oficinas. Também foram doados outros materiais, como por elo, livros em formato digital pertinentes ao trabalho cotidiano dos

fiscais de saúde e dos agentes da Vigilância Epidemiológica. Foram também fornecidos certificados de participação para todos os técnicos envolvidos.

Figuara 3.21- Demonstração de local com possível criação de culicídeos em bambus, UCAD, Florianópolis/SC, Brasil

Fonte: NEAmb UFSC, 2009

Figura 3.22 - Demonstração de local com possível criação de culicídeos em bromélias, UCAD, Florianópolis/SC, Brasil

Figura 3.23 - Agente da Vigilância Epidemiológica vasculhando flores da planta Heliconia sp. em busca de imaturos de culicídeos, UCAD, Florianópolis/SC, Brasil

Fonte: NEAmb UFSC, 2009

A oficina de conhecimento da fauna de culicídeos para a comunidade de Itapema (Figura 3.24) teve como resultados alguns conhecimentos adquiridos pelos participantes acerca da biologia dos mosquitos: locais de criação de ovos e larvas (Figura 3.25), como bromélias, poças d’água e também reservatórios artificiais como latas, pneus e caixas d’água; técnicas de coletas de adultos, como por tubo de sucção de castro ou mesmo com aspirador de pó comum; formas de proteção contra as picadas, como mosquiteiros e também repelentes naturais e industriais. A saída foi realizada numa trilha localizada em Itapema, no bairro Sertãozinho, no dia 24 de outubro de 2009, e teve duração de oito horas.

Figura 3.24 - Participantes das oficinas de conhecimento destinadas à comunidade de Itapema/SC, Brasil Fonte: NEAmb UFSC, 2009

Figura 3.25 - Oficina de conhecimento da fauna de culicídeos e da flora local para a comunidade de Itapema/SC, Brasil

CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Nesta parte final do capítulo são apresentadas as observações e recomendações decorrentes dos fatos observados.

As áreas de risco para a saúde pública envolvem praticamente todos os ambientes estudados, tanto na Praia Grossa quanto em São Paulinho. Esse fato é evidenciado porque observou-se que a distribuição dos mosquitos não se restringe às áreas de estudo, pois esses animais possuem uma grande capacidade de dispersão. Além disso, os criadouros de mosquitos são muito diversificados, portanto, onde houver a distribuição de bromélias ou de coleções d’água, por exemplo, pode haver representantes dessa família de insetos.

Na Praia Grossa, a grande abundância de espécimes do mosquito Ochlerotatus

scapularis nos ambientes de floresta ombrófila densa e também de restinga indica que esses

ambientes já foram bastante modificados por decorrência de atividades humanas, fato evidenciado pelo número razoável de casas, e também por testemunho direto de uso pela população para fins diversos, como piqueniques e outras atividades de lazer. Além disso, a equipe responsável pelo levantamento florístico classificou o estádio de regeneração da restinga como inicial e médio, e inicial, médio e avançado (este último, à medida que se segue um gradiente de altitude crescente) para floresta ombrófila densa, indicando que esta é uma área já bastante modificada.

Em São Paulinho, o grande número de espécimes de Anopheles cruzii coletados sugere que este é um ambiente ainda bem preservado de floresta, o que é corroborado pela equipe responsável pelo levantamento florístico, que classificou os estádios de regeneração da floresta ombrófila densa em médio e avançado. Além disso, nessa localidade foi registrada uma nova ocorrência de Ochlerotatus fluviatilis para o leste de Santa Catarina. Com todas essas evidências, julga-se que esta é uma área de relevante interesse ecológico, tanto para estudos sobre mosquitos quanto para a fauna e flora em geral. Dessa forma, faz-se necessária a preservação máxima desse ambiente, pois é possível que nele existam espécies endêmicas de animais e plantas.

Recomenda-se que a sede da futura UC seja construída na área de São Paulinho, no local mais afastado possível do interior da floresta ombrófila densa. Dessa forma, o início da trilha (próximo ao ponto 7 - ver Figura 3. 6) faz-se um local apropriado para a instalação da sede, devido à baixa abundância de mosquitos coletados nesse local, o que minimizaria a probabilidade de uma possível aproximação dos culicídeos com os seres humanos nesse local e, com isso, o risco da ocorrência de doenças.

A compra de um ou mais aparelhos para a identificação de imaturos e adultos de culicídeos na sede da UC se faz indispensável. Para tal função, sugere-se o microscópio estereoscópico da marca LEICA MZ6. O microscópio deverá ser mantido em sala com baixa umidade e protegido da poeira.

Também se faz necessária a aquisição de um ou mais microscópios ópticos, para que se tornem possíveis as análises de sangue provenientes de pessoas com suspeita de infecção por plasmódios (como, por exemplo, os da malária ou da Doença de Chagas) na própria sede da UC. Uma opção é o microscópio óptico da marca LABOVAL 4. Ambos os microscópios deverão ser mantidos em sala com baixa umidade e protegidos da poeira.

Quando a sede da UC já estiver instalada, e se as áreas de São Paulinho e da Praia Grossa forem locais abertos para a visitação de turistas, seria recomendável a formulação de um questionário destinado a cada um dos visitantes dessas áreas. No questionário, deverão ser incluídas perguntas sobre a origem do turista e se este apresenta algum sintoma de mal-estar, além de verificar se esteve recentemente em área malarígena. Se a resposta for negativa, a pessoa estará apta à visitação. Caso a resposta seja positiva, o visitante deverá indicar quais sintomas está sentindo, e também qual região visitou recentemente. Dessa forma, podem ser realizados exames de sangue, pelo método da gota espessa e também pelo método do esfregaço, no microscópio óptico na própria sede da UC, realizados pelo agente de saúde devidamente contratado. Com o auxílio desses exames, o risco de um surto de malária será minimizado, principalmente na área de São Paulinho, onde o mosquito An. cruzii se faz presente em grande quantidade.

Recomenda-se a contratação de funcionários qualificados para a manutenção da futura UC em Itapema, que possam atuar para eliminar possíveis epidemias de doenças causadas por insetos, desde que possuam treinamento e aparelhagem adequados para exercer tal função. A equipe da Vigilância Epidemiológica do município de Itapema está capacitada para realizar esse tipo de trabalho, principalmente após o treinamento de doze horas fornecido pela equipe responsável por esse estudo.

É necessário que os trabalhos da vigilância epidemiológica sejam continuamente realizados, averiguando sempre se há vulnerabilidade e susceptibilidade de novos surtos de doenças na região. Dessa forma, tornam-se possíveis ações e diagnósticos rápidos para eventuais tratamentos na rede de serviços de saúde.

Recomenda-se a produção de material educativo e informativo para a distribuição no município (escolas e população em geral), e também como apoio para o trabalho da equipe da Vigilância Epidemiológica de Itapema.

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