• Nenhum resultado encontrado

6 LUTA CONTRA A TUBERCULOSE EM PORTUGAL Anos

OMS/DGS 1995/

DGS 2000 N° estirpes estudadas 1105 494 Resistência total 17,8 11,7 Resist, primária a H 7,7 8,1 Resist, primária a R 1,9 2,8

Resist, adquirida total 39,2 10,2

Resist, adquirida H 31,1 11,9

Resist, adquirida R 20,9 8,5

Multirresistência primária 1,8 1,8

Multirresistência adquirida 20,9 5,1

Tabela 2 - Resultados das resistências aos antibacilares

Legenda:

H- Isoniozida R- Rifampicina

Esse estudo foi coordenado pela Direcção Geral de Saúde e concluiu-se o seguinte:

- A resistência aos fármacos em Portugal é considerável, sendo elevada a Multi-resistência Primária e ainda maior a Resistência Adquirida34 conforme demonstra a tabela 2.

O elevado índice de tuberculose resistente evidenciado neste estudo nacional apontava para a necessidade de melhorar a execução do Programa Nacional de Tuberculose, no sentido de aumentar a taxa de cura dos doentes positivos em baciloscopias, que é a principal fonte de manutenção da doença na comunidade.

A investigação também concluiu que há dois grupos com elevado número de casos de TBMR: os toxicodependentes e os detidos.

Como controlar as evidências

Na sequência da preocupação suscitada pelo fenómeno da tuberculose, particularmente a TBMR entre os detidos, foi implementada orientação nos serviços prisionais, no sentido de serem rastreados, do ponto de vista clínico e radiológico todos os detidos à entrada na prisão.

Também têm funcionado programas de saúde que permitem a toma directa dos antibióticos"34 nos programas de Metadona e nas prisões.

Com estas medidas, pretende-se aumentar as taxas de cura destes doentes. A taxa de cura total dos doentes de tuberculose no ano 2000 foi de 80%.34

A Tuberculose e a SIDA em Portugal

Outro fenómeno epidemiológico difícil de controlar por não se ter ainda descoberto vacina para o evitar, ou tratamento eficaz, é a SIDA.

Portugal é o país da União Europeia mais afectado pela SIDA. Os doentes, infectados pelo VIH com imunodeficiência e já com infecções oportunistas nos seus antecedentes, são extremamente vulneráveis à infecção por tuberculose.

Dados publicados pela DGS , mostram um número significativo de casos de tuberculose se concentra nos indivíduos com toxicodependência e nos doentes de SIDA, muitas vezes coincidentes: no ano de 2000, 14,8% dos doentes toxicodependentes apresentavam tuberculose e SIDA.39

34 Antunes, Maria de Lourdes - Tuberculose em Portugal, Acta Médica Portuguesa, 1995; 559-61 36 Pina, Jaime - A Tuberculose e os problemas actuais, Mundo Médico, 1999, 3:36-38

Entre o passado e o presente

A tuberculose é uma das doenças que mais curiosidade manifestou ao longo dos tempos. Nela se envolveram médicos, cientistas, filósofos, escritores e a população em geral.

Não foi fácil para estes grupos compreenderem os verdadeiros meandros desta doença dada a escassez de informação e de meios para a desvendar e combater.

Estamos no século XXI e ainda não se conseguiu erradicar a tuberculose mesmo com os meios técnicos e terapêuticos que estão ao nosso alcance. Pelo contrário, os números actuais de doentes com tuberculose, associados aos contornos que a doença tomou, voltam a ser preocupantes para todos aqueles que estão atentos aos fenómenos epidemiológicos, nomeadamente a tudo o que se passa à volta da tuberculose.

Esta doença continua a levantar graves problemas de saúde pública apesar de ter passado mais de um século desde a descoberta do bacilo da tuberculose graças aos estudos de Robert Koch. Este cientista surpreendeu a comunidade científica do seu tempo, quando anunciou que tinha descoberto o bacilo responsável pela tuberculose. Pela primeira vez a relação causa e efeito entre os micróbios e a doença foi incontestavelmente demonstrado.

Também os estudos de Pasteur, outro grande vulto da história da bacteriologia, associados aos de Robert Koch, permitiram criar as bases da bacteriologia moderna, reunindo assim, as condições que permitiram controlar a «peste branca», assim chamada a tuberculose, dado o elevado número de mortes que ela causou no século XIX e princípios do século XX.

Outro marco histórico do combate à tuberculose foi a descoberta por Albert Calmette e Camille Guerin, em 1930 da vacina (B.C.G.) como forma de evitar formas graves da infecção. Mais tarde em meados do século XX a descoberta dos antibióticos anti-bacilares.

Actualmente ninguém pode ficar indiferente perante o real panorama da tuberculose em Portugal e no mundo, dadas as perspectivas eufóricas desencadeadas nas décadas de sessenta e setenta do século XX terem considerado, a tuberculose como uma doença brevemente irradiada da face da Terra. Infelizmente isso não se verificou, antes pelo contrário o número de mortes por tuberculose é muito elevado a nível mundial, e os países que há poucas décadas atrás tinham índices de incidência muito baixos, como os Estados Unidos e os países europeus desenvolvidos, presentemente estão a braços com o fenómeno de multi-resistência que está a preocupar a O. M. S. e a comunidade científica.

Com a evolução da cura da tuberculose os doentes deixaram de ser tratados nos sanatórios passando o tratamento a ser feito em regime ambulatório, desactivando-se as estruturas especializadas no tratamento e controlo da tuberculose.

Também foi ganha a batalha contra o tempo na cura da tuberculose. Ainda na década de setenta os doentes com esta patologia tinham pela sua frente dois anos de tratamento. Presentemente são necessários apenas seis meses para tratar a doença. Esta vitória temporal deve-se aos novos medicamentos introduzidos nos esquemas de tratamento da tuberculose.

Instalou-se assim, um optimismo exagerado em termos epidemiológicos e a tuberculose deixou de ser uma preocupação prioritária nos países desenvolvidos.

A bandeira da vitória sobre a tuberculose foi hasteada de forma desmedida, exibindo-se um prematuro triunfalismo com consequências desastrosas.

Em algumas faculdades os professores deixaram de falar com tanta insistência na tuberculose e os jovens médicos não foram sensibilizados para esta patologia.40 De certa forma,

passou-se a mensagem aos técnicos de saúde, e à população em geral, que a tuberculose era uma doença do passado com os seus dias contados.

Por outro lado, as infra-estruturas criadas na lógica do combate à tuberculose deixaram de ser prioritárias e fez-se uma política de redução de despesas, desmantelando-se serviços vocacionados para o combate à tuberculose.

A população deixou de ser informado sobre o real panorama da tuberculose, podendo-se afirmar que esta doença deixou de ter tempo de antena.

Os dados da Direcção Geral de Saúde dizem que mais de seis mil portugueses, todos os anos são confrontados com a tuberculose, constituindo um número despropositado em relação aos meios preventivos e de tratamento que dispomos.

A década de oitenta do século XX trouxe ao conhecimento de todos, a existência de uma nova doença que é a SIDA, e para a qual ainda não existe uma vacina como forma de a evitar ou um tratamento eficaz. Hoje sabemos que a tuberculose e a SIDA formaram uma parelha diabólica e as duas doenças infecciosas andam quase sempre associadas.

Assim, pode-se afirmar que a taxa de infecção por tuberculose da população portuguesa vitimada com SIDA, é na ordem de 70 a 75%.

António, Ramalho de Almeida -A Tuberculose: Doença do Passado, do Presente e do Futuro. Laboratórios Bial, Porto 1995

Por outro lado a convergência da SIDA e da tuberculose criaram resistências aos fármacos anti-bacilares, por incompetência imunológica nestes doentes, associada a má adesão aos tratamentos constitui um grave problema em termos saúde pública.40

O panorama português não é caso único. A ligação das duas infecções, SIDA e tuberculose, tem-se feito sentir em todo o mundo em especial no Continente Africano e na Ásia.

Não obstante a tuberculose ser uma doença conhecida desde a antiguidade, sendo referida por Hipocrates e Galeno, ainda hoje, muitos séculos depois é um grande problema para a Humanidade.

Documentos relacionados