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3.3. Aspectos quantitativos e qualitativos: perfil estatístico

3.3.2. Onde estão?

A Região Sudeste do Brasil, de acordo com os dados do IBGE, é a grande concentradora das instituições do Terceiro Sector. Ali se encontram 44% dessas instituições, sendo que dois estados desta região, São Paulo (21%) e Minas Gerais (13%), reúnem um terço das organizações existentes em todo o Território Nacional.

GRÁFICO 1.2: DISTRIBUIÇÃODA POPULAÇÃOPOR REGIÃO, EM 2002

Fonte: Cadastro Geral de Empresas /IBGE -2002 - Elaboração: Própria – 2007.

Ressalta, no entanto, que esses percentuais guardam semelhança com a distribuição da população brasileira: com efeito, 43% dos residentes no País estão no Sudeste, sendo um terço localizado nos dois estados acima mencionados (Tabela 1.3 – Anexo III). Merece destaque a menor participação relativa das organizações do Norte e do Nordeste em relação à proporção de suas populações. Com efeito, as duas regiões abrigam 4% e 22% das organizações sem fins lucrativos, respectivamente; esses percentuais são inferiores aos observados para os habitantes dessas regiões, quais sejam 8% e 28%, respectivamente. No Centro-Oeste verifica-se um número percentual menor de instituições do Terceiro Sector (6,58%), porém compatível com proporção populacional (6,96%), diferentemente do Norte e Nordeste.

GRÁFICO 1.3: DISTRIBUIÇÃODAS ENTIDADESDO TERCEIRO SECTORSEGUNDOAS GRANDES REGIÕESDA FEDERAÇÃO - BRASIL – 2002 4,25% 22,22% 6,58% 43,92% 23,04% Norte Nordeste Centro-Oeste Sudeste Sul

Fonte: Cadastro Geral de Empresas /IBGE -2002 - Elaboração: Própria – 2007. Número de Instituições: 275.895.

A densidade associativa medida pelo número de associações existentes por grupo de mil habitantes nos revela um padrão na dispersão geográfica das organizações do Terceiro Sector no Brasil. A Figura 1.2 revela uma maior densidade de organizações no Sul do país, com a ocorrência de 2,4 instituções por cada grupo de mil habitantes, seguido pela região Sudeste com a ocorrência de 1,6 das instituições por mil habitantes. O Norte é a região com menor densidade associativa. Tal dispersão no caso brasileiro demonstra uma coincidência entre a variável desenvolvimento económico e a densidade associativa, uma vez que as regiões mais desenvolvidas do Brasil – Sul e Sudeste – são também as que apresentam o maior número de instituições por mil habitantes. No entanto, os índices brasileiros da densidade associativa por região, não revelam nehuma diferença esmagadora entre as mesmas, ao contrário do que seria de se esperar de acordo com a teoria do capital social de Putnam.

Numa análise preliminar, parece que o caso brasileiro tende a seguir o padrão verificado por Salamon e descrito no Yearbook 2003, onde se verifica que o fator desenvolvimento e poder político económico correlacionam com o número de instituições. No entanto, cabe analisar também se essas áreas não seriam também maiores produtoras de capital social, o

que de acordo com a doutrina de Putnam, explicaria o maior número de instituições nessas regiões.

FIGURA 1.2: DENSIDADEDONÚMERODEORGANIZAÇÕESDOTERCEIROSECTORNO BRASIL

Fonte: Cadastro Geral de Empresas /IBGE -2002 Elaboração Própria – 2007.

A figura 1.3 abaixo mostra a distribuição do PIB dos Estados em relação ao PIB do Brasil. É nítido o maior peso económico dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro que faz com que a região Sudeste tenha o maior PIB dentre as regiões brasileiras. Ressalta, entretanto, que apesar de a região Sudeste apresentar maior PIB que a região Sul, a densidade associativa nesta última é maior que a verificada no Sudeste. Isso prova que a variável económica isoladamente não pode explicar o nível de desenvolvimento das instituições do Terceiro Sector – e no caso da região Sul do Brasil – Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná – é bem possível que isto esteja correlacionado com a maior circulação de capital social.

Com efeito, o Brasil desponta como um dos países de maior desigualdade sócio- económica no mundo. O conhecimento de como as desigualdades se expressam no território brasileiro é um fator chave para a construção de uma política nacional de desenvolvimento. Estudos do IBGE demonstram que as Regiões Norte e Nordeste, por exemplo, apresentam índices de educação e PIBs per capita mais baixos que a média nacional, enquanto que as Regiões Sudeste e Sul apresentam índices superiores. Estes números mostram o extremo contraste existente entre as regiões brasileiras no que diz respeito à sua qualidade de vida, bem como nos revela que estruturas produtivas e ao conjunto de situações sociais, históricas e políticas marcaram o desenvolvimento de cada região de forma bastante diferenciada.

Existe consenso em vários estudos que diferenças na dotação de capital humano, capital físico e capital social contribuem significantemente para explicar as diferenças regionais. A experiência da gestão pública de Porto Alegre tem sido colocada como um exemplo bem sucedido de governança municipal. O êxito do Orçamento participativo na região Sul do Brasil, indica, em diversos estudos sobre o assunto, que essa região brasileira apresenta uma sociedade mais homogênea, mais igualitária e que é mais favorável à geração de capital social. Este contexto é uma condição para o sucesso das experiências de gestão municipal das quais Porto Alegre é tomada, inclusive, como referência internacional. 72

Mas, infelizmente, Porto Alegre não é o Brasil. Essa é a grande questão, porque no Brasil existem mais de cinco mil municípios com uma variedade enorme de situações, de tamanho, de densidade demográfica e de características locais em relação às suas elites políticas.

72 Neste sentido: Ver a obra de KRISCHKE, Paulo J. "Cultura política: Convergências e diferenças em Porto

FIGURA 1.3: DISTRIBUIÇÃODO PIB DOS ESTADOSEMREALAÇÃOAO PIB DO BRASIL

Fonte: IBGE, 2001.

Nas regiões Sul, Sudeste e, pelo menos em parte do Centro-Oeste, os estoques de capital social parecem ser mais altos que no Norte e no Nordeste, por exemplo. A resposta que decorre naturalmente das evidências só pode ser uma: o viés oligárquico da história institucional nordestina e nortista marcou profundamente o desenvolvimento destas regiões. No caso do Nordeste em especial, onde existem numerosos estudos no Brasil acerca dos padrões de desenvolvimento da região, parece não haver dúvida de que ‘as condições físico-climáticas que predominam na região Nordeste podem, relativamente, dificultar a vida, exigir maior empenho e maior racionalidade na gestão dos recursos naturais em geral e da água, em particular, mas não podem ser responsabilizadas pelo quadro de pobreza amplamente manipulado e sofridamente tolerado. Destarte, o que mais falta no semi-árido do Nordeste brasileiro não é água, mas determinado padrão cultural que agregue confiança

e melhore a eficiência das organizações públicas e privadas envolvidas no negócio da água” (Rebouças, 1997:128). Pode ser mera coincidência, mas essa constatação de falta de um ‘padrão cultural que agregue confiança e melhore a eficiência das organizações públicas e privadas’ tem tudo a ver com a tese central do trabalho de Putnam sobre o processo de desenvolvimento; uma tese derivada de ampla pesquisa sobre contraste entre o norte e o sul da Itália.

O que parece estar claro, entretanto, é o fato de que uma cultura cívica e participativa envolve um processo de geração de normas e comportamentos participativos, coletivos e cooperativos e com elevados estoques de confiança interpessoal. As iniciativas cívicas de formação de grupos de preservação de folclore, a participação da população em grupos de arte, clubes de serviços e associações esportivas e filantrópicas parecem ser maiores naquelas do que nesta região. Isso significa dizer que se identificam alguns padrões atitudinais e associativos da cultura política na região Sul do Brasil que não se registram nas demais regiões do Brasil. Uma evidência marcante desta possível diferença de estoques está no vigor do movimento cooperativista historicamente verificado no Sul do Brasil, no seu processo de colonização e forte presença dos imigrantes europeus. No entanto, lembramos que o IBGE não computou as Cooperativas na sua base de dados.