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De acordo com a classificação proposta pelo estudo da Universidade Johns Hopkins, as fontes de receita do Terceiro Sector se agrupam em três categorias:

a) receita de geração própria: pagamentos por vendas de bens e serviços prestados pela instituição e pagamentos de membros (anuidades, etc);

78Atualmente, as estimativas indicam que o terceiro sector no Brasil já represente 5% do Produto Interno

Bruto (PIB) nacional, de acordo com dados recentes de um estudo preliminar ainda não divulgado, que cruza dados de 2002 da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio), do arquivo do Imposto de Renda de Pessoas Jurídicas e SIAFI (Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal).

b) receitas provenientes de filantropia: incluem doações individuais e de empresas;

c) receitas provenientes de financiamento estatal: subvenções, isenções fiscais, pagamentos de contratos e convênios realizados pelo Estado.

O gráfico abaixo ilustra as fontes de receitas do Terceiro Sector e uma constatação surpreendente é que ele depende, majoritariamente, de recursos próprios e do governo, nos países pesquisados. Na realidade, os recursos próprios, com cerca de 53% das contribuições, se constitui na mais importante fonte de renda para o sector. Em seguida, vem o sector público com aproximadamente 35% e finalmente vem a filantropia (de empresas e famílias) que apresentam doações em torno de 12%.

GRÁFICO 1.11: REPRESENTAÇÃODASFONTESDEFINANCIAMENTODOTERCEIROSECTORMUNDIAL

Fonte: Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project, 2003. 34 países analisados, excluindo-se da análise Egito e Marrocos.

Obviamente esse gráfico não reflete a realidade de cada país ou região individualmente. O Gráfico 1.12 demonstra que a fonte de receita dominante no Terceiro Sector brasileiro são os recebimentos pelos serviços prestados. Esta fonte representa 73,8% de todo financiamento do Terceiro Sector brasileiro, sendo uma parcela disso proveniente do pagamento de taxas por serviços prestados por hospitais e instituições de educação.

Entretanto, tais dados devem ser avaliados com cautela e é justamente isso que faremos adiante.

Em contraste, de acordo com os dados da Johns Hopkins a filantropia privada e o sector público asseguram partes bem menores quando analisamos o financiamento do Terceiro Sector no Brasil. Assim, temos uma participação de 10,7% da filantropia privada e uma participação de 15,5% do sector público.

GRÁFICO 1.12 REPRESENTAÇÃODASFONTESDEFINANCIAMENTODOTERCEIROSECTORBRASILEIRO

Fonte: Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project, 2003.

Com efeito, a filantropia privada não é a fonte principal de receita para o Terceiro Sector de nenhum dos países analisados. Quando muito, alguns países de forma pontual, apresentavam índices superiores à média geral dos 34 países analisados, como África do Sul, Roménia e Paquistão, que apresentaram, 24,2%, 26,5%, 42,9%, respectivamente. Esses índices podem ser explicados para esses países, tendo em vista o cenário de guerras, graves distúrbios sociais e extrema pobreza. 79

79 Neste quesito foram analisados pela pesquisa Johns Hopkins Comparative Nonprofit Project, somente 34

No Brasil essas doações correspondem a 10,7% da receita total do Terceiro Sector acima da média verificada para os países desenvolvidos (7,2%) e significativamente mais baixa que a média verificada para os países em desenvolvimento (17,2%), mas ligeiramente superior à média da América latina (10,3%), e finalmente, menor do que a média geral dos 34 países analisados (12,5%).

GRÁFICO 1.13: FONTEDEINGRESSODERECEITANOTERCEIROSECTOR. BRASIL, AMÉRICA LATINA, PAÍSES DESENVOLVIDOS, PAÍSES

EM DESENVOLVIMENTO, 34 PAÍSES

Fonte: Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project, 2003.

De acordo com os dados da Universidade Johns Hopkins, enquanto a estrutura de renda do Terceiro Sector no Brasil e na América Latina se baseia proritariamente na auto-receita ou auto-financiamento, tal não ocorre em outros lugares do mundo. De forma bastante diversa, nos países desenvolvidos a média de auto-financiamento do Terceiro Sector é de 44,6%, isso porque, nesses países, o Estado aparece igualmente como um importante financiador do Terceiro Sector, com média de investimento na ordem de 48,2%, como podemos observar tanto no Gráfico 1.13 acima, como na Tabela 1 adiante. Entretanto, vale ressaltar que não existe um padrão para esses blocos, existindo tanto países que tem o Terceiro Sector financiado prioritariamente pelo Estado, como Áustria (50,4%), França (57,8%), Alemanha (64,3%) Irlanda (77,2%), Países Baixos (59%), Reino Unido (46,7%) e Africa do Sul (44,2%), como países que, apesar de apresentarem alto índice de

investimento estatal, ainda têm como fonte principal de financiamento o auto- financiamento, como por exemplo os EUA, que apresentam 30,5 % de financiamento estatal, 12,9% de filantropia privada e 56,6% de recursos próprios do Terceiro Sector.

No entanto, todos esses dados merecem uma leitura crítica rigorosa, nomeadamente, quanto ao fato da principal fonte de financiamento do Terceiro Sector no Brasil, na América Latina e nos Países em Desenvolvimento ser oriunda de suas próprias receitas, mediante o pagamento de serviços prestados, merecendo tais dados uma avaliação de forma desagregada. Não podemos descartar que esses dados apresentam uma distorção que foi tratada de forma simplista pelos estudiosos da Johns Hopkins, pois não revelam a realidade destes países.

Sabemos que no interior desses dados foram computadas as instituições de saúde e educação, que obviamente elevam esse índice, pois são as campeãs na venda direta de serviços e de ocupação de mão de obra assalariada. Se grande parte do pessoal ocupado assalariado se encontra em hospitais, faculdades ou universidades privadas e grande parte da auto-receita do Terceiro Sector provêem destas organizações, faz sentido perguntar o que têm a ver essas instituições, ou a grande maioria delas, com os valores do associativismo voluntário ou com a mobilização da sociedade.

Portanto, teríamos que considerar nos seus devidos termos qual o verdadeiro significado desta alta taxa de auto-receita verificada no Terceiro Sector no Brasil e nos demais países em desenvolvimento. Será mesmo que o Estado é realmente um modesto financiador do Terceiro Sector nestes países? Não seriam estes números artificiais, levando-se em conta que essas duas categorias de instituição (saúde e educação) se situam numa zona de aparente ambigüidade, onde a maioria das instituições comportam-se segundo a lógica do mercado, cobrando caro e gerando lucros indiretos para seus mantenedores?

Esse padrão é verificado não só no Brasil e em outros países da América do Sul, como Argentina, Bolívia e Chile, como também em países europeus como Portugal, em que já é visível a proliferação de instituições de ensino sob o escudo das entidades não lucrativas. É difícil delimitar essas áreas de forma inequívoca e a equipe da Johns Hopkins não enfrentou esse problema. Por isso, na composição desse índice, não surpreenderia encontrar muitas vezes verdadeiras empresas disfarçadas, protegidas pelos meandros legislativos que autorizam seu funcionamento sob o formato de instituição sem finalidade lucrativa.

TABELA 1: FONTESDEFINANCIAMENTODOTERCEIROSECTOR, COM E SEMOSVOLUNTÁRIOS, EM 34 PAÍSES

Fonte: Johns Hopkins Comparative Nonprofit Sector Project, 2003.

Os dados estatísticos demonstram algo que vai além da dimensão da solidariedade e da dimensão cívica e participativa que a actividade do voluntariado expressa. A análise de Salamon procura demonstrar o significado económico do voluntariado. Quando a equipe da

Johns Hopkins University quantifica o ‘valor econômico do esforço voluntário’ (Tabela 1) percebemos que há um incremento significativo dos valores referentes ao Terceiro Sector.

É legitima a preocupação em avaliar o contributo do voluntariado para a economia global dos países, todavia é preciso cautela na forma desta quantificação que pode, em última análise, exagerar o valor econômico do Terceiro Sector.