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No sentido de sustentar as estratégias de ensino selecionadas ao longo do percurso e de forma a promover um ensino baseado na qualidade e em aprendizagens significativas, serve o presente capítulo para caracterizar e descrever os contextos educativos onde a mestrada realizou a sua Prática Educativa Supervisionada (PES).

Desta forma, e contra todas as expectativas, o agrupamento de escolas escolhido foi o Agrupamento de Escolas do Cerco (AEC). As ideias pré concebidas sobre uma realidade desconhecida tornaram aquilo que se esperava um desafio num desafio ainda maior, isto porque, para além de se desconstruir a ideia de um local de ensino apenas com aspetos negativos, houve ainda um trabalho maior de cariz pessoal que se prendeu com o facto de se perceber que muitas das vezes o maior problema não está nos alunos mas sim nas dificuldades que as ideias pré concebidas podem criar. Contudo, e após a intervenção no contexto, importa repensar este agrupamento com alguma precaução, relativizando os aspetos menos positivos como algo que pode, efetivamente, fortalecer a prática.

Deste modo, o presente capítulo serve para dar a conhecer o meio, o que passa inevitavelmente pela caracterização, quer do agrupamento (AEC), quer das escolas - Escola EB/JI do Falcão e Escola Básica e Secundária do Cerco - onde decorreu a prática pedagógica e também das turmas em que houve participação direta por parte da mestranda. Assim, para a caracterização mais detalhada do contexto, a formanda recorreu aos documentos fundamentais do agrupamento, principalmente ao Projeto Educativo.

Procura-se assim demonstrar que um professor deve ser conhecedor do meio onde está incluído de modo a adequar as estratégias às necessidades das turmas, com o objetivo de ter sempre em atenção o contexto social e com o propósito de colocar os alunos e as suas necessidades em primeiro plano.

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3.1.

A

GRUPAMENTO DE

E

SCOLAS DO

C

ERCO

O AEC, localizado na freguesia de Campanhã e situado na parte mais ocidental da cidade do Porto, foi formado em julho de 2013 e foram contabilizados no ano letivo de 2013/2014, 2283 alunos, dos quais 279 estão divididos pelas escolas pertencentes ao agrupamento no Pré-escolar, 719 alunos pertencem ao 1ºCEB, 392 fazem parte do 2ºCEB, 22 alunos pertencem aos cursos vocacionais do 2ºCEB, 431 é o número de alunos presentes no 3º Ciclo, 48 alunos fazem parte de cursos vocacionais do 3º CEB, 16 alunos encontram-se no Programa Integrado de Educação e Formação (PIEF), 39 alunos encontram-se em Cursos de Educação e Formação (CEF) e 332 frequentam o Ensino Secundário. Deste agrupamento fazem parte a Escola Básica e Secundária do Cerco (sede do agrupamento), a Escola Básica e Jardim de Infância da Sra. de Campanhã, a Escola Básica e Jardim de Infância de S.

Roque da Lameira, a Escola Básica e Jardim de Infância da Corujeira, a Escola Básica e Jardim de Infância do Lagarteiro, a Escola Básica e Jardim de Infância do Cerco e a Escola Básica e Jardim de Infância do Falcão. Encontra-se integrado no terceiro programa de Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP3)1. Para conferir ao agrupamento mais qualidade e eficácia, verifica-se o envolvimento em diferentes projetos educativos, tais como o projeto Incluir para Emergir (no 1.º Ciclo), o projeto Turma Ninho (no 2.º Ciclo) que tem como objetivo melhorar o desempenho escolar dos alunos e desloca temporariamente os alunos da turma de origem para o Ninho que retomam às suas turmas à medida que superam as suas dificuldades, o projeto Aula + (no

1 O despacho normativo divulgado pelo Ministro de Educação a 25 de setembro de 2012 criou o Terceiro Programa de Territorialização de Políticas Educativas de Intervenção Prioritária (TEIP3) que surge no seguimento do Programa TEIP2 e também de medidas que visam apoiar populações carenciadas que vão de encontro às necessidades e às expectativas dos alunos. O TEIP3 retoma o Programa dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritária estabelecido pelo Despacho nº 147-B/ME/96, de 1 de agosto.

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3.º Ciclo), o projeto Espaço de Preparação de Exames (no 3.º Ciclo e Ensino Secundário), o projeto Ação Tutorial, o projeto Ser Saudável no Cerco, o projeto Provedoria do Aluno e o projeto Cercando uma Cultura Relacional e de Escola.

O AEC dispõe igualmente de ofertas formativas diversificadas (Percursos Curriculares Alternativos, PIEF´s, Cursos Vocacionais, CEF´s e Cursos Profissionais), entre outros.

O agrupamento encontra-se inserido numa área sócio-económica carenciada, onde 20% da população não tem qualquer grau de escolaridade e com uma taxa de desemprego que ronda os 13,7%. Desta forma, o processo educativo dos alunos é naturalmente afetado pelas condições de vida, o que resulta num grande insucesso escolar.

Uma vez que a maior parte dos alunos destas escolas são provenientes de bairros sociais, é também objetivo do agrupamento promover, ainda que de uma forma lenta e progressiva, o aumento no nível sociocultural da área envolvente. O facto de os agregados familiares serem cada vez mais desestruturados, ou seja, famílias monoparentais ou entidades tutelares2 associadas a outros elementos da família (avós, tios ou outros) faz com que o insucesso escolar se deva sobretudo ao desinteresse das famílias pela educação, nomeadamente pelo facto de tutelares dos alunos possuírem baixa escolaridade, sendo que cerca de 30% tem o 1º ciclo do ensino básico e menos de 10% atingiu ao 3º ciclo de escolaridade; a uma situação profissional considerada complicada devido à precariedade de empregos (e também com empregos atípicos) e ao facto de os rendimentos económicos serem, na maior parte das vezes, muito baixos (abaixo do salário mínimo nacional), com uma grande parte das famílias dependentes de subsídios e do Rendimento Social de Inserção (RSI).

2Indivíduo que detém a tutela/guarda legal de um aluno.

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De ressalvar ainda que o agrupamento luta para conseguir que a escola chegue até à família e que de tudo faz para que sejam presença assídua e interessada no envolvimento dos seus educandos na escola.

3.2.

E

SCOLA

EB1/JI

DO

F

ALCÃO

A escola EB1/JI do Falcão localiza-se no coração do bairro do Falcão. Sofreu a última intervenção em 2007 e o ambiente em redor é considerado pouco problemático. A escola possui quatro salas para a educação pré-escolar e sete salas para o 1º ciclo divididas em dois pisos. Tem uma biblioteca, um refeitório, um polivalente, um espaço exterior onde funciona o recreio e as aulas de Educação Física e inclui uma unidade de apoio especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdocegueira congénita que, no ano letivo de 2014/2015, contou apenas com três alunos. O facto de o edifício estar estrategicamente localizado, perto da Via de Cintura Interna, faz com que seja a escola do 1º CEB com mais alunos de todo o agrupamento, contando no total com 231 alunos. Existem quatro professores que lecionam Atividades de Enriquecimento Curricular: Expressão Musical, Expressão Plástica e Educação Física; seis docentes que lecionam no 1º CEB e quatro docentes pertencentes ao Pré-escolar e ainda quatro profissionais não docentes permanentes. De referir ainda que as salas onde funcionam o 1º e 2º Ano de escolaridade não são tão desenvolvidas ao nível das tecnologias, pois apenas possuem um computador, contrariamente às restantes salas onde existe um quadro interativo em cada uma.

O facto de na sala onde decorreu a PES não existir equipamentos adequados tornou o caminho da formanda mais complicado para inserir as tecnologias nas aulas, contudo foi feito sempre um esforço no sentido de arranjar meios para conseguir incorporar ao longo da prática uma maior envolvência dos alunos com as tecnologias, nomeadamente ao nível visual e de áudio. De ressalvar que

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um dos pontos mais positivos da sala é a luz natural, devido às grandes janelas envidraçadas que permitem que não seja necessário, na maior parte das vezes, luz artificial.

3.2.1.

Caracterização da turma 2ºA

A turma em análise é a única turma do 2º ano existente na escola e tem 23 sendo que 16 são do sexo feminino e sete do sexo masculino. A média de idades é de sete anos e existem três alunos sinalizados como alunos NEE devido a dificuldades de aprendizagem, ou seja, apresentam um atraso ao nível da aprendizagem em relação aos restantes, e um aluno que faz parte da unidade de apoio especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdocegueira congénita mas que não faz parte da turma em todo o tempo letivo. Os três alunos beneficiam de apoio individualizado e um deles não transitou no ano anterior mas frequenta a turma. Uma grande parte das famílias do 2ªA recebe apoios dos Serviços de Ação Social, o que denuncia dificuldades económicas.

Num cômputo geral, a turma é assídua e pontual, existindo casos isolados que não o são. A turma, apesar de ter um comportamento razoável, revela atitudes inadequadas na presença de docentes das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s), como falta de respeito pelo professor e agressões aos colegas. Em alguns casos, foi precisa a intervenção da docente titular e foram registados alguns casos de racismo entre elementos da turma.

Contudo, existe um enorme respeito pela professora titular e nota-se que são alunos que necessitam de muita atenção.

Por terem transitado para o 2º ano o principal objetivo da docente desenvolveu-se no sentido de incutir autonomia nos alunos isto porque vinham habituados a serem pouco autónomos nos trabalhos realizados. O cumprimento de regras de conduta, bem como o desenvolvimento da

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responsabilidade foram igualmente passos que fizeram parte do percurso escolar. Apesar de tudo, num cômputo geral revelam-se alunos interessados, com vontade de aprender, participativos e o com um bom aproveitamento escolar.

No âmbito dos projetos, entre outros, a turma está incluída no projeto da horta da escola, onde quinzenalmente colhem legumes para consumo próprio e também num projeto associado com a unidade de apoio especializado para a educação de alunos com multideficiência e surdocegueira congénita, que teve como mote a inclusão do aluno que faz parte da Unidade na turma.

3.3.

E

SCOLA

B

ÁSICA E

S

ECUNDÁRIA DO

C

ERCO

A escola onde se desenvolveu a Prática Educativa Supervisionada no 2º CEB foi a Escola Básica e Secundária do Cerco que, como já foi referido anteriormente, é sede do agrupamento. A mesma sofreu uma intervenção pela Parque Escolar que a deu como concluída no ano letivo de 2010/2011 e, por ser uma requalificação tão recente, a escola é detentora de excelentes condições.

Relativamente às infraestruturas, é importante referir que existem quatro pavilhões independentes situados no lado Poente que albergam os espaços letivos: salas de aulas, laboratórios e espaços oficinais; é também onde estão concentrados os serviços administrativos e as áreas sociais, como o bar. Na continuação dos pavilhões existentes no lado Nascente foram construídos dois volumes onde se instalaram os espaços desportivos.

Nesta escola decorreu a PES com a turma do 5º A, na área curricular de Português, na turma do 5º C, na área curricular de Matemática e Ciências Naturais e na turma do 5º F, na área curricular de História e Geografia de Portugal. O facto da logística da Prática Educativa Supervisionada ter acontecido em três turmas distintas prendeu-se com a existência de incompatibilidade de horários.

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As salas de aula onde decorreu a prática revelaram-se espaçosas e com amplas janelas o que faz com que sejam dotadas de bastante luz natural. Um ponto a frisar é que todas as salas possuem quadros interativos, o que torna a logística da aula mais fácil. Também de frisar que o mobiliário das salas é novo e o facto de não possuírem muitos materiais pendurados nas paredes tornam-nas em espaços serenos, estáveis e sem fontes de distração.

3.3.1.

Caracterização da turma 5ºA

A turma onde se desenvolveu a Prática Educativa Supervisionada na área curricular de Português é constituída por 20 alunos sendo que 11 são do sexo masculino e nove do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 11 e 12 anos. De referir ainda que existem três alunos sinalizados como alunos com necessidades educativas especiais (NEE) que apresentam limitações ao nível da linguagem, dificuldade em manter a atenção, por isso, beneficiam de adequações curriculares, reforço e acompanhamento específico por um docente de Educação Especial que os acompanha por vezes na realização de testes. Outros três alunos fazem parte do Ninho e desta forma não participam nas aulas de Português. Estes estudantes fazem parte de um modelo de aprendizagem que visa apoiar alunos que evidenciem dificuldades de aprendizagem onde, através de um ensino mais individualizado, é possível respeitar o ritmo de cada um, acompanhando sempre a turma de origem durante o ano letivo. Os elementos da turma provêm de um meio socioeconómico e sociocultural muito frágil, sendo que 13 alunos são subsidiados com escalão A. O aproveitamento geral da turma é mediano, existindo naturalmente elementos que se destacam mais. Relativamente ao comportamento, revela-se uma turma desconcentrada, irrequieta e com pouco cumprimento de regras dentro e fora da sala de aula, sendo esse um dos fatores mais limitadores da aprendizagem. A turma está inscrita no projeto Cercool,

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que premeia a turma de cada ciclo que tiver melhor comportamento, incluindo a assiduidade e também a pontualidade. Os alunos nutrem um grande respeito pela professora titular, que também é diretora de turma, uma vez que esta se mostra sempre atenta aos problemas pessoais dos mesmos bem como pronta a resolver problemas que possam existir dentro da escola.

3.3.2.

Caracterização da turma 5ºC

As áreas curriculares de Matemática e Ciências Naturais da Prática Educativa Supervisionada foram desenvolvidas na turma do 5ºA, constituída por 15 alunos com idades compreendidas entre os 11 e 12 anos. Nove elementos são do sexo feminino e seis do sexo masculino, existindo duas alunas do sexo feminino que estão representados no quadro de honra da escola. A turma arrecadou, no ano letivo de 2014/2015, o prémio da turma com o melhor comportamento (Cercool) do 2ºCEB porque, apesar de existirem alunos perturbadores dentro da sala de aula, fora dela não geram qualquer tipo de problema. Existem ainda dois alunos sinalizados com NEE com dificuldades de aprendizagem, que beneficiam de um lugar privilegiado na sala e de apoio individualizado às diferentes áreas curriculares. Existe uma boa relação com a professora titular, também diretora de turma e professora de ambas as áreas, uma vez que os alunos, por não terem um comportamento difícil, se moldam à personalidade forte da mesma. Uma grande maioria da turma não têm entidades tutelares participativas na correspondência entre escola-família, demonstrando por vezes desinteresse no acompanhamento dos seus educandos. Existindo por isso uma parte da turma que acaba também por demonstrar bastante desinteresse pela escola e pelas atividades escolares contribuindo por isso para um fraco aproveitamento escolar principalmente ao nível da Matemática. Perceciona-se um aproveitamento ligeiramente melhor

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na área de Ciências Naturais, demonstrado pela curiosidade dos alunos, que ainda assim não vai de encontro ao esperado.

3.3.3.

Caracterização da turma 5ºF

Nesta turma realizou-se a PES na área de História e Geografia de Portugal.

Constituída por 19 alunos com idades compreendidas entre os 11 e 12 anos, esta turma, maioritariamente constituída por elementos masculinos, 12 contra sete elementos do sexto feminino, apresenta um aproveitamento à disciplina bastante razoável, existindo naturalmente alunos que apresentam algumas dificuldades ao nível da aprendizagem causada pela instabilidade pessoal emocional que depois se reflete ao nível do aproveitamento. É uma turma que, apesar dos fracos hábitos de estudo, se enaltece por uma qualidade, a curiosidade.

Pelo facto de existirem alunos com dificuldade na concentração, e de forma a colmatar lacunas que existam na aprendizagem, nomeadamente a carência de hábitos de estudo, os mesmos frequentam o estudo acompanhado.

Alguns dos alunos, devido à falta de pontualidade, estão incluídos no serviço de ação tutorial e os dois alunos sinalizados com NEE ao nível da dificuldade de aprendizagem estão abrangidos por um Plano Educativo Individual e beneficiam de um acompanhamento individualizado às áreas curriculares em que apresentam maior dificuldade. De forma a fomentar o espírito de trabalho, algumas estratégias utilizadas são o reforço positivo de comportamento adequados e a envolvência dos alunos no Projeto Cercool. A relação com a professora titular é de uma extrema cumplicidade o que favorece na maior parte das vezes o bom ambiente em sala de aula.

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