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Ontologia de causação e agentividade

SUMÁRIO

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

1.1 O FENÔMENO LINGUÍSTICO: O HOMEM E O MUNDO

1.1.1.4 Ontologia de causação e agentividade

Nesta seção do trabalho, trataremos das noções de condicionalidade, causalidade, agentividade, intencionalidade e potestade no processo linguístico- ontológico, que tem como esteio todo sistema cognitivo-perceptual do indivíduo em sua experiência no mundo. Givón (1973b; 2012) propõe que as noções listadas são derivadas da primeira dimensão ordenada: tempo, apresentada na seção 1.2.1 deste capítulo.

1.1.1.4.1 De sequência no tempo para condicionalidade

A noção de condicionalidade11 está intimamente ligada à repetição de mais de uma ocorrência, mas não apresenta ligação com a noção de sequência temporal. No tempo, essa noção pode ser explicada quando listados, pelo menos, dois eventos a e b, quando b ocorre sempre depois de a. Neste caso, pode-se afirmar que b implica

a, mas não o contrário, já que a é condição para que b ocorra. Da mesma forma, ter

ocorrido a não é fato necessário para que b ocorra, uma vez que a é certo e ocorrido, mas b é incerto e possível. Tal conclusão é fruto de uma experiência intuitiva, que tem por base a frequência de ocorrências, e não por pura sequencialidade temporal, conforme já foi afirmado anteriormente. Para Givón (2012), essa noção analisada na teoria dos conjuntos corresponderia a b está incluso em a, mas nunca o contrário, o que nos obriga dizer que b é subconjunto de

a, que, por sua vez, é superconjunto de b.

Levando em consideração o quesito de certo-incerto e passado-futuro, a é certo e passado, enquanto b é incerto e futuro. Nas línguas naturais, esse fato é

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traduzido estruturalmente quando o passado é o aspecto principal de verdade e certeza, já o futuro é aspecto de incerteza ou dúvida (cf. GIVÓN, 1973b).

1.1.1.4.2 De condicionalidade para causalidade

A noção de causalidade não se reduz a uma relação condicional de dois eventos sequenciados, mas exige uma explicação cognitiva, pois somente a ideia de certeza-incerteza ou passado-futuro não daria conta desta nova noção. Observe a explicação12 para isto:

a) Condição: Se b ocorreu, a deve ter ocorrido antes.

b) Precondição: Portanto, a ocorrência de a é uma precondição necessária para a ocorrência de b.

c) Causação: Portanto, a é a causa de b.

Surge aqui a percepção de dependência versus existência independente, na qual, deve-se levar em conta:

Se b não pode nunca aparecer sem que a apareça primeiro, então enquanto a parece ser independente da ocorrência de b, b é sempre dependente da ocorrência de a. (Essa observação é fortalecida se nunca se observa qualquer outro evento x que também ocorra sempre antes de b.) Logo, a deve ser a causa de b.

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Para o autor desse mesmo postulado, a noção de cadeias causais precisa ser observada, se, por exemplo, não ao evento b, mas ao evento a ocorre sempre um outro evento, que pode ser entendido como y. Neste caso, y implica a, que implica

b. Teríamos, portanto, y como causa anterior de a, bem como causa final de b; para a resta ser causa mediadora de b. Isso, segundo Givón (2012), é sistematicamente

estruturado nas línguas humanas, pois é fruto da experiência cognitiva do homem com o seu meio (GIVÓN, 1975d, 2001, 2012; WITTGENSTEIN, 2010; ZIPF, 1965). Enfim, a relação causal entre dois eventos emerge, podendo um ocorrer sem qualquer antecedência aparente e o outro sempre o seguindo.

1.1.1.4.3 De causalidade para agentividade

As expressões causativas, nas línguas naturais, compreendem sempre uma relação estabelecida entre evento causa e um evento resultado (VENDLER, 1967). Veja-se em

(14) a) Porque Adriano viajou, Mariana permaneceu em casa.

b) A viagem de Adriano causou-induziu a permanência de Mariana em casa.

É mais comum que estruturas como em (14a) aconteçam nas línguas naturais, diferentemente da compactação ocorrida em (14b). Se analisado este último exemplo, observa-se que o sujeito agente do evento descrito pelo único da sentença é desempenhado por um argumento nominal ‘A viagem de Adriano’. Esse sujeito é entendido como agente da cadeia causal, uma vez que ele apresentava controle, agentividade volicional, e responsabilidade em causar mudança no estado no universo, portanto o elemento causa assume o caráter de agente, algo perfeitamente factível e recorrente em línguas naturais. Isso apenas corrobora com tudo o que fora mencionado sobre o agente anteriormente sobre as características de consciência e ação sob volição própria (cf. GIVÓN, 1975d).

Retomando agora a reflexão de condicionalidade para causalidade, em que haja dois eventos a e b, sendo a causa de b, levando em consideração sequencial temporal que a vem antes de b. Conjecturamos agora que o evento a tem por sujeito

agente um participante humano consciente. Podemos, então, dizer que a é a explicação externa da causa de b, mas não podemos indicar uma mesma causa externa para a, por isso, conclui Givón (cf. 2012, p. 433) que “onde não se pode observar causa externa, mesmo assim ocorra uma mudança no estado do universo, então, uma causa interna deve estar em funcionamento. Isto é, pelo menos algum participante na mudança deve ser um agente, capaz de ação volicional” (adaptado). Retomando a hipótese, concluímos que o sujeito agente em a concretizou o evento propositalmente, já que é capaz de ação volicional por iniciativa própria, sem qualquer estímulo externo, possuindo motivação interna própria.

Lembrando os critérios experienciais para agentes, podemos dizer que estes apresentam certo poder para agir e modificar um estado no universo. Pode-se ainda salientar o caráter causativo dos agentes, quando a/o causa/evento é capaz de alterar alguma característica do resultado/evento. Observando essa relação em associação à teoria dos conjuntos, a/o causa/evento, por ser precedente, ocuparia lugar de superconjunto (genus), dentro do qual estaria alocado o resultado/evento, que seria um subconjunto (membros). O esquema representativo a seguir elucida o exposto.

Esquema representativo 03 Superconjuntos e subconjuntos

Fonte: Adaptado de Givón, 2012, p. 434-435.

O superconjunto não pode ser menor que os seus membros, isso leva a entender que as entidades que apresentam maior tamanho detêm também maior poder. Nossa experiência cognitivo-perceptual é conduzida pelo critério da generalização, que, por conseguinte, determina que todos os membros (subconjuntos) devem conformar-se com esta regra. Em suma, tamanho, generalidade e poder caminham juntos (cf. GIVÓN, 2012, p. 435). Subconjuntos/membros ou subespécie da causa Superconjunto ou genus